terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Mais um boêmio chega no Além...

Temos o gaiteiro Paulo Barbosa,
os seus dedos pesados de camponês,
mas delicados na poética prosa
com minúsculos botões, a polidez...
Ontem, de manhã cedo, fomos surpreendidos por mensagem do Glênio Reis, comunicando o falecimento do nosso querido amigo Paulo Ercílio Barbosa, músico, antigo integrante do Regional do Clube do Choro de Porto Alegre, do qual foi fundador como ainda o seria do Museu da Imagem e do Som de nossa Capital. Deixa a prantear-lhe a ausência sua esposa Dª. Tereza e os filhos Sandra, Fábio, Gerson e Fabiane, além de seis netos. O seu enterro ocorreu, às 10 horas, no Cemitério João XXIII, com grande acompanhamento de familiares e amigos que lá se fizeram presentes, entre os quais seus companheiros do CCPA - Miriam e Arthur Sampaio, Enio Casanova, Luiz Fonseca, Luiz Palmeira, André Rocha, João Madruga, Soleno Almeida e Raul Flores e esposa.
Paulo Ercílio Barbosa (18.09.1932 - 27.12.2009) é mais um nome que inscrevemos na galeria das nossas eternas saudades onde já se encontram gravados os de Alcides Gonçalves, Jessé Silva, Johnson, Paulo Santos, Cláudio Braga, Francisco Campos, Osmar Gonçalves, Geraldo Majela, Jorge Costa, Zeno Azevedo, José Dorneles, Geraldo Santos, Waldyr Justi e outros tantos que tivemos oportunidade de conhecer desde os inesquecíveis encontros das segundas-feiras no Centro Ítalo Brasileiro – CIB, década de 80, ali na Rua João Telles, bairro Bonfim.
Acometido por moléstia degenerativa, ultimamente o nosso saudoso Barbosa já não tinha mais ânimo para freqüentar as reuniões e saraus a que sempre era requisitado para demonstrar seu virtuosismo na gaita-ponto, chegando ao ponto de seu filho Gerson (violão 7 cordas) e o sobrinho Elias (bandolim e cavaquinho) muito insistirem para tocar juntos, inclusive com planos de gravar um CD para resgate da sua obra, na qual se destacavam os choros Solfejando, Insensata e Ponto a Ponto.
O grande violonista Jessé Silva costumava elogiar a postura de interpretação do Barbosa com seu instrumento musical – ele sabe puxar um choro – o que constatamos através dos 2 discos gravados pelo Clube do Choro. Além desses registros, esse festejado músico ainda participou do projeto Por Amor á Música, editado sob a chancela do Fumproarte, solando e acompanhando composições de Paulo Sarmento Filho (Saltitante e Choro Azul), Alcides Gonçalves (Minha Seresta e Pardo Velho), Jorge Machado (Meu Recado e Amor Tem Prazo), Jayme Lubianca (Nasce uma Canção e Porto dos Casais), Francisco Campos (O Patriarca), Antoninho Gonçalves (Sabiá Moreno) e Jessé Silva (Meu Pensamento).
Formado em Administração de Empresas pela UFRGS – chegou a empresar o zagueiro Ari Ercílio, seu irmão, quando este atuou na dupla Grenal - era funcionário aposentado da CEEE – Companhia Estadual de Energia Elétrica e dedicava-se à música por puro diletantismo. Ele nos contava que seu pai tocava o mesmo instrumento e que na ausência deste exercitava de ouvido as tecias do acordeom às escondidas com a conivência da sua mãe, até que um dia esta falou para seu pai – tu precisa ver, o guri está tocando direitinho. E o pai – não acredito, quero ver – e daí em diante passou a ser o seu maior incentivador.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

A minha gana é fazer um show por lá

O título foi extraído de uma confissão do amigo Marco Aurélio Vasconcellos, cantor e compositor de notável expressão no cancioneiro gaúcho, que foi reproduzida ao final da postagem Chiru Bueno das Charlas, publicada em 29/10/2008 aqui em nosso blogue. E para nossa surpresa agora recebemos comunicação sobre o lançamento do CD Da Mesma Raiz, em que o Marco Aurélio interpreta Martim Cesar, Paulo Timm e Alessandro Gonçalves, os quais vem mostrando a sua produção musical em vários eventos e espetáculos do Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina. O resultado desse desempenho poderá ser conferido no show que deverá acontecer na próxima terça-feira, dia 22/12/2009, às 21 horas, no Teatro Esperança de Jaguarão, contando com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura e transmissão ao vivo pela RadioCom 104.5 FM e site www.radiocom.org.br.
Portanto, fazemos aqui o registro de mais uma parceria desses talentosos conterrâneos, que já têm realizado excelentes performances em várias representações artísticas, tais como Caminhos de Si, Maria Conceição Canta e Canções de Armar e Desarmar, além de várias premiações nos festivais de música nativista do nosso Estado. Sem dúvida, uma iniciativa que merece ser prestigiada por todos jaguarenses.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

DESVIO DE ROTA


Sexta-feira, bolso forrado pelo salário recém obtido, despista os companheiros do chope no final da tarde, um programa diferente, na rua seu olhar naquela mulher despercebida entre a multidão, mesmo ela correspondendo prossegue no seu rumo, na dúvida retrocede no caminho andado, novamente visível a seus olhos a segue discreto à distância, volta e meia dá uma paradinha e confere sua aparência no reflexo das vitrinas, acintura o abdômen, ergue a calça quase caída e coloca por dentro a camisa solta, contém a rebelião dos cabelos sobreviventes, as mãos espalmadas e umedecidas por cuspidinha providencial, aquela sillhueta some da sua vista mas logo ali bem ao seu alcance ela se volta olhando para trás e sorrindo amistosa, reconhece a cor marrom-alaranjado do pacote que ela leva junto do peito, se reanima de um só fôlego, apressa seu passo e a deixa para trás a uma prudente distância, entretanto fica no aguardo de sua passagem na esquina mais adiante, ela chega naquele ponto de espera, discreta o saúda, ele nem consegue mexer o queixo caído sem reflexo suficiente para o gesto involuntário de esconder com a mão sua boca escancarada, assim ela cruza de relance em condições dele se recompor e sair daquele estado de catalepsia, ela dobra naquela esquina e ele retoma o caminho, ali perto uma fila de pessoas aguarda embarque numa condução para o bairro, ela em último lugar, ele chega de mansinho, passos curtos e cruzados, ombros caídos para diante, braços gingando, algo lhe sussura, voz anasalada quase fanhosa, ela se assusta, no contra-golpe um joelhaço nos testículos, depois entra na camionete e ele se encolhe do lado de fora, a máquina arranca.