Concluído o ginasial e prestes a cursar o científico no Colégio Estadual Júlio de Castilhos, em Porto Alegre, meu tio Cantalício informou-me que o meu padrinho Dr. Alfredo de Mello Tinocco estava me oferecendo uma carta de recomendação para ser entregue ao deputado Dr. Poty Medeiros. Orgulhoso, agradeci a gentileza e declinei da mesma por não julgá-la necessária.
Chegando à Capital, fui acolhido na residência de Lucy, Hidalgo e Dª. Olga, mãe dele. Ali, passei a levar uma vida calma e equilibrada entre o lazer e o estudo.
Até que, uma noite, contemplando o retrato da minha mãe, falecida aos treze dias do meu nascimento, na tentativa infrutífera de me lembrar do seu rosto, sentado à mesa da sala, dei um soco nesta para me inspirar:
Como o cego/ ante a luz que lhe restaura
a visão perdida...
Como o surdo/ ante o som que lhe propaga
a melodia da vida...
Como o mudo/ ante a ocasião de murmurar
a palavra refletida...
Assim eu/ oxalá pudesse/ tornar a minha mente
a imagem esquecida
no momento em que,/ na encruzilhada da vida,
nos separamos/ eu e minha mãe querida.
Enviei esse texto para meu tio Cantalício, em Jaguarão e ele me escreveu:
Amar aos dezoito anos/ e ser poeta, mulher,
é desvendar os arcanos/ que não os desvenda quaisquer.