Pois ele ficou sabendo que o Xisto, dono da barbearia na esquina da Barão com a Júlio, estava para se aposentar, pretendendo alugar o ponto. Por sinal, corredor de passagem quase obrigatório dos uruguaios que vinham da Ponte, demandando às lojas da Quinze ou dirigindo-se à Praça, onde passavam o tempo até a hora de embarque no carro-motor. Então enxergou o seu futuro, nada o demoveria da idéia, nenhum apelo que o sensibilizasse, nem mesmo a Pátria esperando que cumprisse o seu dever.
Um capitalzinho daqui, outro dali, foi sortindo a loja de eletrodomésticos. No almoxarifado do quartel, conquistara um bom relacionamento com os fornecedores, o que lhe facilitou bastante o crédito nas outras praças. E ele ainda foi até São Paulo para conhecer os grandes magazines de lá. Na ocasião, acabou descobrindo o último lançamento da indústria fonográfica – uma High Fidelity importada. Impressionado pela extraordinária sonoridade do aparelho, dispôs-se a contatar a representação do fabricante no Brasil a fim de vendê-lo em sua loja. Assim, apresentou o cadastro ao gerente de vendas da firma importadora, que o julgou como neófito no ramo e, portanto, só faria o negócio com pagamento à vista.
Preço caríssimo, não tinha condições de adquirir a mercadoria, o Osvaldo fez todas as propostas possíveis, todas rejeitadas. Mesmo assim, permaneceu grudado no sujeito, insistindo. E o gerente de vendas já não sabia mais o que fazer para despachar o Osvaldo, quando se lembrou: tinha em estoque uma Hi-Fi com defeito imperceptível, mas só podia faturar para demonstração. Não importa, eu dou jeito – não é que o Osvaldo acabou valendo-se da sua experiência como estagiário no serviço de radiocomunicações do Exército.
Recebida a encomenda, o Osvaldo pôde providenciar a inauguração da sua loja, em grande estilo. O móvel, em jacarandá, parecia tudo – cômoda, armário, balcão – menos eletrola, a tampa discreta escondendo o toca-discos; colocou-o no lugar de honra que merecia. Junto, vieram aquelas caixas estereofônicas enormes – até então nunca se vira nada igual – e ele as dispôs camufladas em posições estratégicas. Antes, porém, trancou-se por dentro da loja, vedando com massa de vidro todas as frestas de janelas e portas; testou o equipamento bem baixinho para que ninguém ouvisse. Aí fechou os olhos e não acreditou: a voz da Isaurinha Garcia cantando ali bem a seu lado e, ao longe, mais suaves, os acordes da maravilhosa orquestra de Sílvio Mazuca.
(Pausa para os comerciais – não desligue não para não perder o próximo segmento desse emo-cio-nan-te seriado).
Um comentário:
Caro José Alberto, gostei muito da luta do Osvaldo, da insistencia e da curiosidade que norteiam os vencedores. Parabéns.
Aguardo o após os comerciais.
Um abraço.
Hunder.
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