Está ali no Blog do Wenceslau – “Meu saudosista predileto” – quando na realidade procuro desenvolver um texto memorialístico, baseando-me em fatos passados que me ocorrem no momento, cujas lembranças ainda permanecem frescas no subconsciente, sem a necessidade de exercitar a imaginação. Busco testemunhar algumas histórias que vivenciei através desta passagem ainda não concluída pelo nosso planeta. Dos contatos estabelecidos com aqueles vultos que me impressionaram pela sua nobreza e vontade de contribuir com o desenvolvimento pleno de nossa sociedade.
Até me julgo demasiadamente conservador ao constatar as tradições desaparecendo à revelia de todos aqueles que esperam sua continuidade. Ou então quando elas são mantidas pelo desejo da comunidade como é o caso do Café Aquarius, de Pelotas, recentemente “imortalizado” pelo poder público. Suas dependências, resguardadas de outras finalidades que venham a conflitar com a sua velha utilização como “ponto de encontro”, resistem à especulação imobiliária para que gerações vindouras usufruam do hábito saudável de agregar pessoas num espaço comum.
Aqui, no Menino Deus, meu bairro, situa-se um dos bares mais tradicionais da Avenida José de Alencar, JA Lanches, onde se reúne democraticamente a qualquer hora do dia ou da noite, até com mesas na calçada, uma clientela de faixa etária heterogênea. E constato estarrecido que seu proprietário, após sete anos com o mesmo nome no capacho de entrada, em razão de ampliar suas instalações, achou por bem mudar a denominação do estabelecimento, para meu gosto nada afirmativa se comparada à anterior. E, como protesto, neguei-me a aceitar tranquilamente essa “arbitrariedade”.
Outro nome bastante sugestivo era o do antigo “Botequim”, também aqui do bairro, cujo dono resolveu alterá-lo devido estarem surgindo nas redondezas vários “butecos”. Porém, pura e simplesmente Botequim, discordo que por aqui ainda seja uma designação comum, apesar de evocar épocas da antiga cultura lusitana. Pode ser que muitos nem venham a ligar para o ocorrido, afinal esses proprietários têm se esmerado em caprichar nas instalações e atendimentos, o que importa mais na realidade. Agora, se me perguntarem como se passaram a chamar, vou dizer que desconheço.
Evidente que progresso e desenvolvimento de agrupamentos urbanos determinam começo e fim de ciclos visuais em nossas andanças através do cotidiano. E precisamos mudar as penas para dar asas ao mito liberal de aceitação a novos tempos, saudando aqueles melhoramentos que se fazem necessários ao nosso bem estar. Cada estabelecimento comercial mantém-se com dificuldade frente às oscilações de mercado. E essas crises muitas vezes obrigam a encerrar suas atividades, dando lugar a modernas e eficientes lojas que trazem consigo letreiros mais identificados com a futura clientela.
Sem querer, descobri um novo bar bem em frente ao JA, anunciando um “suculento mocotó às quartas e aos sábados”, e resolvi conferir a oferta. Associando a denominação Bar e Restaurante do Portuga a um velho conhecido, constatei que o estabelecimento já tinha percorrido vários endereços sem abandonar o antigo apelido de seu dono, Paulo Amorim, conhecidíssimo empresário de jogadores de futebol e agregador dos “boleiros” nos encontros fora das quatro linhas. Nem preciso falar da minha satisfação de rever a mesma marca sempre ostentada em toda peregrinação do Portuga por diferentes locais.
Finalmente, acuso uma “aberração”, no bom sentido, em plena Rua da Praia, onde se instalou a nova “Loja Renner” adotando o Memorial da Livraria do Globo.
3 comentários:
Meu caro José Alberto de Souza, é com alegria que o vejo emprestando sua preciosa verve em prol da memória e da preservação dos nomes Butequi, Buteco, Bodega, entre outros. O Rio Grande do Sul é conhecido como a Terra das Tradições, e o Poeta das Águas Doces com sua sensibilidade histórica não poderia ficar alheio a isso. Por sinal, foi através de uma BODEGA que nos tornamos amigos! Abraços.
Raimundo Candido
Abraços, Souza
Vamos ficando só na saudade dos velhos nomes...
Querido Souza,
tens toda a razão nessa observação. Cá no Rio de Janeiro, a terra mais cheia deles, agora é tudo falso, arremedo de boteco. Botequim é coisa do passado, do nosso passado. Mas eles existem, é só procurar. Em alguma quebrada inimaginável, ali está ele, intocado, com um bolinho de bacalhau nunca dantes.
Quanto à Renner e Livraria do Globo, sem comentários.
grande abraço
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