Dona
Mimi, esposa do Coronel Ataliba, salientava-se em sociedade como guardiã dos bons costumes e da
conduta familiar, admirável pelo carisma e desprendimento nas campanhas comunitárias.
Não era de se estranhar, pois, aparecesse com frequência na coluna social do
hebdomadário local em clichê destacado com a legenda: “Mimi e Ataliba
Pereira esbanjando sua proverbial elegância”. Sempre apoiando o marido na
política e nos negócios, não se constrangia de arregimentar um grupo de
senhoras para recorrer todas as tardes, no período eleitoral, aquelas
“casas-luzinha-vermelha”, conduzindo a plataforma da Aliança Popular que tinha
o Coronel como patrono. Nessas ocasiões, costumava impressionar o mulherio,
expondo um programa de creches e casamentos incentivados para as “operárias da
periferia suburbana”.
O diabo é
que o velho Ataliba andava meio mal acostumado com a “tolerância” de sua mulher,
muitas vezes flagrando-o e fazendo o maior dos escarcéus, nem se contam as
“amiguinhas” despachadas por ela e socorridas em postos médicos das redondezas à
custa do dito cujo para não responder processo por lesões corporais. Todo dia
avisada do expediente se prolongando com a desculpa de convocarem assembleia
(estatuto sendo alterado, integralização de capitais e outras coisitas mais),
Dona Mimi mal desconfiava das chegadas do marido lá no “Naitandei”.
Marli
conhecia bem o “furacão Mimi”, o suficiente para pressentir uma tremenda
catástrofe vindo por ai. Há tempos, ela prevenia Janete para evitar o “enrabixamento”
do cliente abonado, a exigir exclusividade nos seus serviços. Mas esta
colaboradora da casa nem ligava para essas advertências, estimulando inda mais
a fogosidade restante do coroa. O negócio já estava andando longe demais e a
“chefona” se precavia de alguma represália da “matriz”, afinal a casa era de
respeito, não admitindo qualquer arranhão em seu patrimônio. Mas essa de Janete
acompanhar o Coronel até a estância para ver a esquila, agora sim, passava dos
limites, pois se sabe lá como a mulher do capataz se portaria, se era confiável
ou dessas “bocas de jacaré”, pior ainda se íntima de Dona Mimi.
E para
complicar as coisas, aquela chuva sem parar há mais de três dias encharcando as
estradas de chão batido, era bem capaz de impedir a passagem pelo arroio, na volta para a cidade.
E eles no maior descuido como pombinhos predestinados à caçarola. “Meu Deus do
Céu, atentai para que Dona Mimi não os importune”, porém, Marli deixava de ser
atendida em suas preces, estando o Senhor surdo para escutá-las: o chofer de
praça Costinha veio lhe contar que saiu em auto atola-desatola até desistir,
deixando a passageira num rancho, onde ela conseguiu um carro de bois para
continuar a viagem. A matrona já não aguentava mais de saudades do seu
“Libinha” e tinha resolvido encarar uma maneira de ir lá na estância.
Dois dias
depois.
Janete
não tinha saído das casas e o Coronel passara fora o tempo todo empenhado no
serviço da esquila. Já havia anoitecido quando chegou de volta, sem reparar
Janete esfregando o chão da cozinha, foi direto ao banheiro se recompor no
capricho, dali saindo apurado para o quarto, onde o esperava a romântica Mimi:
- Que
amorzinho esta filha do capataz! Tão prestativa, não achas, querido?
8 comentários:
Uma história bem gauchesca poeta João Alberto. Um enredo de se sair nos hebdomadários de Jaguarão do Sul ou nas Ribeiras do Rio Poti. Um abraço.
Raimundo Cândido
Muito boa, meu caro Souza.
Essas coisas aconteciam e ainda acontecem.
Abç.
Marco
Simplesmente formidável!
Grande abraço.
Amigo Souza,
Muito bom o texto, como de costume.
Abraço.
Uma palavra só para a narrativa: genial. Abraços. Wenceslau.
Obrigado, José Alberto.
Muito lindo. Um abraço.
Bem fiel a "outros tempos". Lembro-me de um fazendeiro lá da terrinha que numa dessas "gauchadas" ficou na cama para sempre...
Muito boa! Continuas brilhando em teus contos e "causos". Parabéns amigo SOUZA.
Fraternalmente,
Teixeira
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