Julinho ensaia com Aroldo Dias em
Jaguarão e logo se põe a dedilhar o pinho altissonante daquele. Era bem a
“baixaria” que vinha sonhando executar desde os seus dez anos, idade na qual
nascia para o violão. Daí o seu desejo de ficar com o instrumento do Aroldo, em
troca dava o seu Del Vecchio, com fio e tomadas para caixa de som, super
incrementado, levava tudo. Mas o outro, cantor profissional, não podia
prescindir da sua ferramenta de trabalho.
Estávamos ali presenciando o
“cambalacho”, Newton Silva, Luiz Carlos Silveira e eu, entreolhávamo-nos telepaticamente
entendidos – Julinho está precisando de um violão mais à altura do seu talento
– e fingíamos ignorar o “drama”, no fundo nos acumpliciávamos a fim de aprontar
alguma para o querido amigo.
Em Porto Alegre, Eulálio Delmar Faria e
eu nos desincumbíamos da missão de procurar Aroldo Dias e conferir as
características do seu Rei dos Violões caixa alta, surdo, sonante, bom de
graves, bem ao estilo Júlio Cunha. Dali procurávamos o artesão Breno, no
Partenon, transversal à direita da Avenida Bento Gonçalves, uma rua que sobe o
morro em frente da torre do Supermercado Carrefour, casinha verde com aberturas
pintadas de vermelho, nº 489, nem me lembro do nome da rua. Lá chegando, éramos
recebidos em meio a violões, cavaquinhos, banjos, bandolins, surdos, mudos e
falantes. Breno ficava sabendo das nossas pretensões e nos mostrava a sua
especialidade. Eulálio experimentava (não tem outro?), tocando e comparando e
chegava à sua conclusão: “Este é o mais semelhando ao do Aroldo, mas aquele
sete cordas se presta mais para Julinho exercitar sua criatividade”.
Negócio feito, dirigiamo-nos a Jaguarão
e combinávamos reunir um grupo de amigos na Churrascaria Rafa – Luiz Carlos
Silveira, Eulálio Delmar Faria, Newton Silva, Anysio Resem, Paulo Sabbado,
Alvanir Freitas e eu. Júlio não sabia de nada, o pretexto era de oferecer um
assado para Eulálio, seu velho companheiro de seresta, ele não devia deixar de
comparecer.
Após comes e bebes, dava-se início aos
trabalhos: “Julinho, os teus amigos aqui reunidos gostariam de te oferecer
através de Luiz Carlos uma pequena lembrança, traduzindo toda admiração e
apreço pela tua pessoa” – e o portador passava a suas mãos o violão encapado
que o garçom vinha trazendo e dizia ser este mais completo e adequado ao seu
desenvolvimento artístico.
Pego de surpresa, mal atinava em
desencapar o objeto, o homenageado vê bem o que há de diferente neste violão
(sete cordas), qual a marca (Julio Cunha, 10/02/1990), olha só que bordões. Na
sua humildade, Julinho dizia que em seus 53 anos bem vividos jamais tinha
recebido um presente igual aquele. Enquanto isso, sentíamo-nos honrados por
representar outro tanto de seus amigos que gostariam de estarem ali presentes,
apesar da noite chuvosa.
(Matéria publicada em
24/02/1990, no jornal “A Fôlha” de Jaguarão).
7 comentários:
Mais uma bela prova de que "quem tem um amigo tem tudo".
Grande abraço.
Kie
É a tua cara, Souza.Grande abraço.
Parabens pelas tuas conquistas e tuas amizades.
Desejo progresso e muito sucesso.Felicidades e um forte abraço
A cidade heróica tem mil histórias para serem contadas e a maior parte delas se encontra armazenada na memória iluminada e inesgotável do nosso querido Poeta das Águas Doces, que nos deleita com seus apreciados textos.
Forte abraço, meu caro Souza
Jaguarão já me retumba no peito como um caixa de vilão. Fiquei com vontade de participar deste grupo!
Um abraço poeta!
Linda reportagem.
Bons tempos do Conjunto do Julinho, meu vizinho.
Grande abraço.
Meu caro amigo:
Guardo ainda as fotos e o recorte do jornal no presente ao Julinho.
Achei este texto muito bem escrito.
Se nosso querido mestre Jorge Abel o visse ia ficar orgulhoso.
Abraços do velho Eulálio.
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