Ele
não nasceu no morro.
Nasceu
em Santiago, região da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul. Nada a ver com
samba. Mas incorporou em sua mente a poética dos morros cariocas de uma época
mágica em que a pobreza das favelas era cantada de forma lírica em versos musicados,
que desciam para a cidade grande aonde iam alegrar as ruas e os salões da velha
Capital da República. Era o Rio Antigo, alegre, festivo e até ingênuo na forma
de cantar os seus costumes. E a alma do nosso Túlio Piva foi impregnada daquele
Rio de Janeiro tão diferente do de hoje.
E
o que há de mais belo na obra e no pensamento do autor de Pandeiro de Prata é a
sua fidelidade ao samba tradicional, ou de raiz - como se queira dizer - com
comovida paixão. Em “Morro e Asfalto”, samba que Túlio gravou junto com Eneida
Martins, no ano de 1977, para a antiga gravadora Chantecler, ele diz:
“Enquanto
houver violão, cavaquinho e madrugada,
Uma
lua no fundo da noite debruçada,
Enquanto
houver um pandeiro batendo e um tamborim,
O
nosso samba vai continuar assim
Histórias
de morro,
Morro
e asfalto,
Improviso
de bambas cantando
Partido
alto”.
Túlio
não se conformava que o samba tivesse seu espaço ocupado por outros gêneros
musicais. Que houvesse a concorrência, sim, mas nunca a substituição. Chegou
até a admitir a bossa nova, quando compôs para Elis gravar “Silêncio” que
dizia:
Mas
para ele, a troca do samba pelo rock na programação das rádios soava como soa
para qualquer cidadão brasileiro, hoje, a transformação do cenário poético dos
morros cariocas em território de guerra de quadrilhas. Ou seja, o terror!
A
bem da verdade, Túlio Piva também compôs outros gêneros, como sambas-canção,
marchas carnavalescas, marchas-rancho, choros e até músicas tradicionalistas.
Mas foi o samba a sua verdadeira identidade musical, a sua marca, com “Tem Que
Ter Mulata”, o seu maior sucesso, gravado inclusive no exterior, além de “Gente
da Noite”, de imensa popularidade regional, e “Pandeiro de Prata”. Este último
classificado em primeiro lugar no Festival Sul Brasileiro da Canção, em 1969.
Túlio
nos deixou uma vasta obra, com mais de trezentas composições. Muitas ainda
inéditas para o grande público, mas que poderão ser resgatadas e conhecidas
agora, graças à iniciativa de seu neto, Rodrigo Piva, talentoso compositor e
intérprete, que produziu um excelente CD
book intitulado “Pra Ser Samba Brasileiro”, contendo dois discos com 39 músicas
gravadas, além do livro com poemas e crônicas de autoria do velho sambista.
GUILHERME
BRAGA.
6 comentários:
Em 2005, foi homenageado, nos 90 anos de seu nascimento, pelos netos Rodrigo Piva e Rogério Piva com o projeto "Túlio Piva - Pra ser samba brasileiro" que resultou num CD duplo que reuniu os quatro LPs lançados pelo compositor, além de um livro com poemas e aforismos. O lançamento do CD-book "Túlio Piva - Pra ser samba braliseiro" aconteceu no Teatro Renascença, em Porto Alegre com um show que contou com as preesenças do conjunto musical formado por Rogério Piva, no bandolim, Chico Camargo, no cavaquinho, Luiz Sebastião, no violão de sete cordas, e Giovani Berti e Eduardo Costa na percussão, além dos cantores Ana Maria Bolzoni, Guilherme Braga e Eneida Martins, a intérprete favorita do compositor. Na ocasião foram interpretadas, entre outras músicas os sucessos "Gente da noite", "Pandeiro de prata" e "Tem que ter mulata".
Compositor e....farmacêutico (Farmácia Piva, Rua dos Andradas)
Certa feita, estive na sua farmácia para aviar uma receita do Dr. Mazzei, encontrando lá o escritor Érico Veríssimo que tinha regressado de uma de suas viagens e fazia relato de suas impressões provavelmente dos Estados Unidos, onde costumava visitar sua filha Clarisse, ali residente. Sem dúvida, a Farmácia Piva era um dos pontos de encontro de intelectuais, na época...
Convivi um bom pedaço com Túlio Piva, nas minhas constantes viagens a Porto Alegre, graças ao nosso comum amigo e também meu compadre, Jessé Silva.
Num inesperado sábado, logo pela manhã, apareceu em minha casa Túlio em companhia de sua esposa, aqui em São Paulo. Veio só para dar uma passadinha, cumprimentar. Amarrei-o no pé da cadeira. Almoçou, jantou e foi "simbora" de madrugada. (Não quis ficar para dormir).
Chamei gente da música e cantamos um bocado. Zé Festa do trombone o surpreendeu com os contracantos que fez. Nelsinho do cavaquinho ele já conhecia, mas não tão de perto para ficar encantado. Ele pôs uma música numa letra minha, mas não gravei. Foi-se, no ar.
Minhas invejas (no plural mesmo), ao bom Guilherme Braga pelo texto que escreveu sobre o Túlio e repeteco de admiração a José Alberto de Souza, por resgatar gente tão importante.
Baitabracito, Beijo, Bença e Tchau, aqui do velho amigo,
Aguinaldo Loyo Bechelli
Sempre ligado , hem, José Alberto de Souza! Parabéns!!!!
Amigo José Alberto vc.é um verdadeiro garimpeiro de pedras preciosas de nossa cultura.
clovis , o bispo
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