Grata surpresa! Recebemos carta de
Portugal, dos Açores. Assinada por um nome consagrado da nossa literatura: LuizAntonio de Assis Brasil. Letra a letra, digerimos as palavras vagarosamente a
fim de prolongar o sabor da crônica gostosa. Detalhista, ele nos faz relato de
sua atual estadia naquele arquipélago, em Ponta Delgada, a capital sediada na
ilha de São Miguel. Desse primor de correspondência, extraímos alguns trechos para
repartir com os leitores de A FONTE a honrosa exclusividade.
O impulso de continuar lendo Assis
Brasil é tão intenso que nos desperta a curiosidade para o seu livro de
estreia, escrito em 1976 – “Um Quarto de Légua em Quadro” – que trata
justamente da saga da colonização açoriana em terras gaúchas.
Nos três cadernos que compõem o diário
do médico Dr. Gaspar de Froes, podemos sentir a trajetória dos ilhéus desde sua
chegada à antiga Vila do Desterro (Ilha de Santa Catarina), até sua instalação
no Porto dos Casais, que deu origem à capital do Estado do Rio Grande do Sul.
A sacrificada travessia marítima
(maligna, mal de Luanda, febres), a estada provisória no Desterro e depois na
Vila do Rio Grande, a demarcação das fronteiras acertada pelo Tratado de Madri
entre Portugal e Espanha, a precariedade do arranchamento no Morro de Santana,
tudo inquieta o narrador que se identifica com a sua gente através de um
sentimento generalizado de frustração: o descaso com a sorte desses colonos
consequente da indiferença dos planejadores da ocupação dos vazios geográficos
da América do Sul.
A realidade da pesquisa histórica se entremeia com a
ficção do drama íntimo de personagens comuns, conformados em sobreviver num
meio estranho e inóspito. Enfim, o autor reconstitui um dos tantos momentos
cruciais nos vários deslocamentos daqueles milhares de adultos e crianças
trazidos dos Açores – “tocados de lá para cá como gado manso”.
(Publicado em A Fonte, Jornal de Integração de Santo Antônio da Patrulha e Litoral Norte, na 2ª quinzena de Março de 1992, Ano I, Nº 1).
(Publicado em A Fonte, Jornal de Integração de Santo Antônio da Patrulha e Litoral Norte, na 2ª quinzena de Março de 1992, Ano I, Nº 1).
2 comentários:
Este texto levou-me, novamente, à Porto Alegre. Vi-me naqueles descampado imenso de grama verdinha e lá no meio um monumento que me assustou, a princípio não entendi, pois não conhecia a história. Hoje sei o que representa o largo dos açorianos, são os primeiros 60 casais que povoaram as margens do Guaiba, o irmão distante do nosso Poti. Um abraço, grande amigo e poeta das águas doces.
Marco Aurélio Vasconcellos escreveu:
Pelos motivos que já te exteriorizei no meu último e-mail, aguçou-se agora minha curiosidade de ler o romance do ilustre e festejado Assis Brasil, o que vou fazê-lo, oxalá sem delongas. Apenas para ilustrar: como é sabido e mencionado no livro, os primeiros açorianos saídos do arquipélago vieram ter na Ilha do Desterro (hoje Ilha de Santa Catarina), especificamente no lugar que hoje se denomina RIBEIRÃO DA ILHA. Ali existe ainda, devidamente reformado e bem cuidado, um seleto casario, na sua maior parte de apenas um piso, hoje habitado, na sua expressiva maioria, por afro-descendentes. Tudo gente boa e muito prestativa. Creio até que, em tempos remotos, aquele conglomerado se denominava Freguesia do Ribeirão da Ilha, onde, inclusive, há uma bela Igreja (provavelmente construída pelos açorianos) que fica numa parte alta, dominando o povoamento ali estabelecido. Esse lugar merece ser conhecido. Faz frente para o continente e o mar ali é calmo. Pela rua que margeia o mar se chega ao Sul da ilha, onde há uma praia (da Caieira), de onde se vislumbra o Farol dos Naufragados.
Abraço imenso, caro Souza, mormente agora que fui devidamente instruído sobre a forma de como postar um comentário.
Em 16 de julho de 2015
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