1968 - Abertura do Carnaval do cinquentenário de Catanduvas-SP em baile realizado no Clube dos 300. Na foto o compositor Jorge Cosra, a Rainha do Carnaval Amália Marangoni e o cantor Wilson Simonal. |
Oriundo das Alagoas, a pequenina
e simpática terra dos marechais, de lá saindo como expedicionário – “Graças a
Deus, não embarquei para a Itália, me escapei de uma”! – e radicado há mais de
34 anos na São Paulo da Garoa, Jorge
Costa é uma dessas criaturas predestinadas a encarar grandes desafios. É
bem provável que o Senhor lhe tenha poupado de sentir na própria pele os
horrores apocalípticos de uma convulsão mundial, reservando-lhe uma missão mais
nobre. Truncada a carreira na caserna, nem por isso deixou por menos o destino
de seus conterrâneos, galgando através do talento e do carisma que lhe são
peculiares, a mais alta patente da nossa genuína música popular, qual seja, a
de Marechal do Samba.
Cidadão do Brasil, Jorge Costa veio dar com os costados
aqui pelos pampas e, na sua meteórica passagem entre nós, foi “sequestrado” por
Jessé Silva, o “magnífico” do violão
e seu particular amigo, que o colocou em contato com o “xará” Jorge Machado,
outro de nossos grandes violonistas. Isto no fim de uma manhã ensolarada do
sábado 9 de agosto de 1986, só poderia resultar num churrasquinho amigo.
Telefona para o Admar do Cavaquinho, disposto a bancar a recepção, e estava
formado o pagode.
Cidadão do Brasil é isso mesmo,
não precisa ensaiar e se faz entender facilmente, pois a linguagem é a mesma,
ainda mais através da comunicação fluente de Jorge Costa, identificando-se na grande capacidade de improvisação,
na competência e na versatilidade dos talentosos músicos gaúchos Jorge Machado
e Jessé Silva (violões), Admar
Rodrigues (cavaquinho), Geraldo Majela
(timba), Aroldo Dias e Cláudio Braga
(cantores).
Jorge
Costa é uma satisfação e um privilégio
continuar privando do seu convívio. Que esse salutar intercâmbio prossiga, pois
esta batalha não podemos perder. Índio, negro e português, estas são as raízes
reais da nossa mais autêntica cultura musical, o resto é enxerto. Volte sempre,
um abraço e até de repente. (Jorge Costa no pagode do Xará / J.A.S.)
Antes de falecer em 1995, Jorge Costa
ainda esteve em Porto Alegre em outras oportunidades, nas quais não deixava de
procurar seus amigos aqui residentes, chegando a ser contratado para longa
temporada na Boate Carinhoso, de Flávio Pinto Soares, que lhe proporcionava
hospedagem num apartamento situado nas proximidades do seu famoso cartório da Ladeira.
Inclusive Jorge chegou a comemorar seu aniversário de 70 anos naquela afamada
casa noturno, deixando gravada essa apresentação em fita cassete e me brindando
gentilmente com uma cópia referente ao acontecimento.
Quando ouvi “Triste Madrugada” pela
primeira vez, logo me ocorreu Haroldo Lobo: - “Eu fiz serenata pra ela/ Cantei
uma linda canção/ Ela não veio à janela/ Quebrei meu violão”. E eis que o destino
me reserva ser apresentado a Jorge Costa (“Triste madrugada foi aquela/ Em que
perdi meu violão/ Não fiz serenata pra ela/ E nem cantei uma linda canção”).
Atrevi-me apontar essa coincidência nas duas letras, ao que ele me esclareceu como
se nada tivesse a ver, revelando a fonte de inspiração após encontro com Chico
Buarque de Holanda num bar da Galeria Metrópole, em São Paulo.
Na saída, aproveitou carona
em taxi com Chico e foi prolongando o papo até que, lá pelo meio da viagem, essa
celebridade deu-se conta que tinha esquecido naquela Galeria seu inestimável
violão, e decidiu voltar ao local para recuperar o valioso instrumento. Mas
cadê? Lá ninguém viu, ninguém sabia... Quase clareando o dia, na volta para sua
casa em Taboão da Serra, estalo na cachola de Costa: “Ora, vejam só, nesta
madrugada Chico perde mais um de seus violões, sabe que isto dá samba...” E nem
poderia dar outra, pronta, Triste Madrugada virou sucesso nacional em 1967.
Um comentário:
Estranho, bom José Alberto, você não ter me citado no seu último comentário sobre o nosso saudoso amigo Jorge Costa. Por favor reveja esse e-mail que na ocasião enviei, em resposta a sua publicação.
Enfatizo: quem levou Jorge Costa para inaugurar o Bar Carinhoso, do amigo Flavio Pinto Soares fui eu. Também era meu compadre o exímio violonista Jessé Silva, a quem apresentei Jorge Costa.
Baitabracito aqui do amigo e admirador,
Aguinaldo Loyo Bechelli
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