Da esquerda para a direita: Bráulio de Castro, Raimundo Prates, Noite Ilusrtrada, Luiz Américo, Túlio Piva e Jorge Costa. |
“De passagem pelo Rio de Janeiro,
frequentei poucas casas noturnas, mas em São Paulo fui assíduo nas de
qualidade, chiques ou simples. Há que enaltecer: Arabesque. João Sebastião Bar.
Vogue. Baiuca. Catedral do Samba. Igrejinha. Telecoteco da Paróquia. Viva
Maria. O Jogral. Regine. Siroco. L’abissant. La Fontaine. Nick Bar. Terceiro
Whisky. Ponto de Encontro. Open The Door e Rosa Amarela, na Galeria Metrópole.
Em algumas eu era mais manjado e dava canja com meus instrumentos de percussão.
Bom cliente. Ninguém pagava a minha conta. Eu sim, com prazer, convidei muitos
artistas, intelectuais, durangos, a sentar na minha mesa. Alguns eu já levava
na algibeira.”
De São Paulo, recebo quinzenalmente a publicação
“Zingamocho/Coisas e Lousas”, gentilmente enviada pelo cronista Aguinaldo Loyo
Bechelli, fruto de suas observações do cotidiano, de onde extrai o parágrafo
acima transcrito. O que esse amigo escreveu me fez rememorar uma casa do Largo
do Arouche, em São Paulo, com nome bastante sugestivo – PENA D’OURO –, onde
Gislaine e eu comparecemos numa tarde de sábado a convite do saudoso Jorge
Costa, autor do sucesso nacional “Triste Madrugada”, que ali se apresentava.
Muito bem recebidos pelo simpático compositor e
demais frequentadores com uma salva de palmas ao ser anunciada a presença de um
casal de Porto Alegre, que ali estava prestigiando o espetáculo, colocamo-nos
inteiramente à vontade em agradável convívio. Mais ainda quando Jorge Costa e
seu fiel escudeiro, o violonista Sergipe, sentaram à nossa mesa para um descontraído
bate-papo, testemunhando a combinação deles a fim de animar o Carnaval em um
dos hotéis de Águas de Lindóia. Chamava atenção no recinto lotado o chapéu de
peão boiadeiro de um dos presentes.
De repente, a companheira desse cidadão veio até
onde estávamos e tirou da cabeça do Jorge seu tradicional boné branco e saiu a
arrecadar gorjetas nas mesas do salão, voltando logo após para lhe entregar uma
féria repleta de cédulas e moedas. Ficamos admirados quando assistimos “seu”
Costa repartindo religiosamente, cédula a cédula, moeda a moeda, a quantia ali
depositada e destinando exata metade a seu parceiro Sergipe. Era o que
colhiam através de inesperado e voluntário “couvert artístico” da assistência
como reconhecimento daquele maravilhoso show vespertino.
Em outra ida a São Paulo, tive oportunidade de
almoçar com Jorge Costa, privando de algumas de suas confidências, entre as
quais sua constatação de que morava no local errado, pois melhor seria residir
no Rio de Janeiro, onde aconteceriam melhores contatos com artistas e
intérpretes para divulgar as suas composições musicais. Este fato obrigava-o a
contínuas viagens ao Rio, nem sempre bem sucedidas face ao desencontro com
aqueles, muitas vezes ausentes pelos compromissos assumidos em shows e
excursões por todo país. E as despesas de estadia não lhe compensavam qualquer
espera.
Procurei-o à tarde, após encerrar seu expediente no
escritório da SBACEM, situado na Barão de Itapetininga, dali nos dirigindo a um
bar do Largo do Paissandu, onde encontramos um conhecido do Lupinho, e depois
seguindo até outro ponto em que costumava se reunir com um grupo de amigos, entre
eles o compositor Luiz Felipe. Então nos foi revelada a solidariedade existente
naquela confraria, todos mostrando sua preocupação quando um de seus membros
deixava de comparecer ao “hapy hour”, imediatamente buscando informações sobre
essa baixa.
Nesta ocasião, Luiz Felipe contou que sua esposa financiou e produziu a
fita K7 “Meu Testamento” de Lúcio Cardim, que este distribuiu entre seus amigos
e que se difundiu pelo Brasil afora através de inúmeras cópias efetuadas na
legião de seus admiradores. Essa senhora recebia fidalgamente os convidados de
seu marido para almoços e jantares em sua residência, além de patrocinar eventos
beneficentes que sempre contavam com graciosas apresentações de famosos
artistas do círculo de amizades de Luiz Felipe, uma única vez negada
participação de conhecida celebridade devido exigência de “cachê” pela sua
empresária.
2 comentários:
Muito grato, bom José Alberto, por citar texto meu sobre o nosso saudoso amigo Jorge Costa. Tive inúmeras passagens com ele, frequentador assíduo da minha casa e tocatas noites afora. Levei-o à Porto Alegre para inaugurar o Bar Carinhoso do amigo Flavio Pinto Soares.
De certa feita, fomos à Igreja de S,Senhora da Aparecida para eu batizar um filho dele. Tinha muitos bares no caminho de São Paulo até Aparecida do Norte. Saímos de manhã e chegamos à tarde, numa viagem que não demoraria duas horas. O padre não quis batizar porque não levamos certidão de casamento, cursinho pro batismo e outras exigências. Ofereci uma nota preta para o famoso jeitinho, mas o padre era "carola" nem "petroleiro". Não topou. Jorge Costa então apelou: "Se o senhor não batizar agora, a gente vai pra Umbanda."
Poeta das águas doces do Sul, cada texto que leio de sua lavra atesta o requinte intelectual e o refinamento da alma da grande figura que você é. Um abraço.
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