Matéria da ZH veiculada em outubro de 2004 |
Entrei no elevador com duas garotas vestidas
para festa. Ambas com aproximadamente 20 anos de idade. Sorriram e eu disse:
estive numa festa comemorando 40 anos de formatura. Só tinha velhos. Elas riram
e ambas disseram: que bacana.
As 9 h da noite entrei no Salão da Sociedade
Germânia onde seria realizado o jantar de comemoração. Pareceu-me uma chegada
ao futuro.
Meus colegas estavam todos em avançada idade.
Pareceu-me ser o único jovem.
Não havia estranhos. Eu conhecia a todos. Uns
mais, outros menos.
“Os homens de mais de 60 anos pensam
conhecer-se a todos, entre si.”
Avancei ao fundo do salão e vislumbrei olhos e
braços em minha direção. Minutos de convivência inseriram-me no contexto.
Quarenta anos de separação não modificaram a
relação de profunda ligação. Não perdemos a intimidade.
Chegaram-se um a um, vários colegas da turma
civil de 1965. Sem perguntas desnecessárias, ou comentários críticos.
Alguém trouxe ao assunto a 1º Febic e a viagem
à Europa dela decorrente.
Lembrei a uns e relatei a outros detalhes
pouco conhecidos do evento, como a ida de uma equipe de vendedores da feira a
São Paulo e Rio, formado pelo Renaux Cunha, Mario Brasiliense, Tabajara Ricardo
Pinto, este não colega mas meu parceiro de outras lides, e eu. Fomos de ônibus
a São Paulo e sem aviso ou autorização, nos hospedamos na Casa do Estudante. Lembrei-me
do encontro e da tentativa de contratação de Caio de Alcântara Machado, criador
da Fenit, em seu escritório. Dos encontros e desencontros em São Paulo. Das
visitas às indústrias. No Rio de Janeiro, o hotel de ultima categoria na Praça
Mauá, onde ficamos hospedados; as noites em Copacabana na antiga Av. Atlântica.
O sucesso da missão
Uma sucessão de aventuras de lunáticos quase
imberbes.
A 1º Febic foi uma façanha de um grupo.
Surgiu-me a ideia. O Flavio teve brilhante
desempenho comercial. Mas jamais seria o que foi sem o trabalho coletivo.
E cada um dos participantes contribuiu com ideias, suor e dedicação,
representados pela logotipia e cartaz idealizados pelo Mario Brasiliense.
A 1º Febic ocorrida há mais de 40 anos foi uma
lição para a vida.
Recentemente li uma entrevista com o
jornalista Gay Talese que escreveu um livro sobre o New York Times.
Afirmou que “do que lê em jornais acredita apenas nos resultados
esportivos”. Lembrei-me da Febic. Inventamos o evento.
Fizemos crer que a Escola da Engenharia o
tenha organizado. Tivemos no papel o apoio de entidades governamentais voltados
à indústria. Fizemo-la ser inaugurada pelo Ministro da Indústria e Comercio e
pelo Governador Ildo Meneghetti. Na verdade - independentemente dos
diversos discursos usados para cada ocasião - captávamos recursos para ir à
Europa. Subsidiariamente a feira trouxe benefícios à engenharia, à Escola, aos
estudantes que nos sucederam e principalmente aos integrantes da AECI-65,
pelos ensinamentos, experiências e resultados do trabalho. Tanto ali como na
viagem que a sucederia.
Cabe especial lembrança do Diretor
Professor Leiseigneur de Faria que contribuiu de forma decisiva, cedendo
o espaço da Escola de Engenharia, e por sua tolerância no decorrer do preparo e
realização da feira. Convenhamos: bagunçamos a escola por dois ou três meses.
Também aos inesquecíveis Eládio Petrucci e Adamastor Urriath pelo apoio e
cessão do espaço do departamento para os escritórios da feira, e demais
professores do curso.
A 1º Febic foi a demonstração da capacidade de
uma geração em criar objetivo, métodos, planejamento e consegui-los. Sua
historia pode servir de inspiração a nossos filhos e netos, quando
a questão for busca dos objetivos.
Quando eleito presidente da AECI-65 com a
função de viabilizar a viagem do grupo à Europa, visitei o Mata-borrão prédio
público provisório construído na esquina da Borges de Medeiros com a Andrade
Neves, onde fica hoje o prédio da Caixa Estadual. Havia lá uma exposição não me
lembro do que. Pensei em fazer uma feira para arrecadar fundos para nossa
viagem. A ideia me veio à noite, na cama. Na manhã seguinte falei aos
companheiros da AECI. Com a discussão o embrião deu margem a planos e metas.
A ideia final foi utilizar os espaços da Escola
de Engenharia e fazer uma feira industrial. Fez-se uma comissão organizadora e
deu no que deu.
Voltando à festa de confraternização no
Germânia, cumpre registrar as notadas ausências dos que por motivos próprios
não compareceram. E os que se foram prematuramente, donde destaco o Francisco
Duarte Junior, o nenê. Que figura, que ausência.
As imagens que a maioria tem deles são as
gravadas há 40 anos, imortalizadas na foto da formatura.
O Carlos Alberto Rosito um dos mais
entusiastas organizadores do jantar não me conheceu de pronto quando da minha
chegada. Seus olhos ficaram velhos.
O Michelena e outros incansáveis aglutinadores
merecem mais do que aplausos. São heróis.
A minha sensação de intimidade e alegria foi
anterior a qualquer taça de vinho ingerida.
Não foi um encontro nostálgico. Foram momentos
alegres de descontração. Uma reunião de valentes remanescentes de uma geração
já fora do “prazo de garantia”.
Ficou a expectativa de novos encontros mais
restritos. Prometi manter contato e o faço. Sei das dificuldades, mas afinal, o
que temos a perder?
Ao final entrei no carro para retornar a casa e
pensei: as meninas do elevador tem razão. Foi bacana.
Hélio da Conceição Fernandes Costa.
7 comentários:
Caro Rosito,
Em nossa festa comprometi-me com colegas do Curso Civil a manter contato.
Faço-o agora com o texto relativo ao evento.
Apreciaria que retransmitisses aos colegas que por ventura não estejam na listagem a qual estou enviando.
Um abraço,
Hélio Fernandes Costa
Ótimo o texto do Hélio.
Parabens
José Alberto,
muito bom o texto e belas lembranças,
inesquecíveis para ti.
Parabens. Hunder
Oi Souza!
Parabéns mais uma vez. Eu viajo com os teus textos.
Como sempre, não consegui publicar meus comentários.
De qualquer forma, quero me declarar fã da tua escrita. Obrigada.
Abração
Parabéns, caro Souza!
Pelo recente aniversário inclusive!
65 Foi o ano em que nasci!
Repasso os "confetis" recebidos ao colega Hélio da Conceição Fernandes Costa que assina o texto acima reproduzido.
Muito bom texto e inspirador para as novas gerações que parecem ter envelhecido mais que a turma de 65.
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