sábado, 30 de janeiro de 2021

*CARTA ABERTA PARA TODOS OS CONFINADOS

 


CARÍSSIMOS: Ultimamente tenho pensado nas limitações que nos impõem os tempos atuais. A rapidez das comunicações nas redes sociais nos obriga a entender de imediato as mensagens que nos chegam a todo o momento. Nem sempre o nosso cérebro se encontra pronto para contestar as opiniões alheias que carecem de certo tempo para serem digeridas. Desta forma, somos levados a contemporizar alguns fatos para uma melhor reflexão.

O avanço acelerado da tecnologia não nos permite acompanhar as mudanças instantâneas do dia a dia, nem sequer consolidar o aprendizado que nos foi imposto em exíguo espaço de tempo. Mais ainda quando estamos aferrados a antigos costumes superados com a passagem de tantos anos, provocando-nos uma nostalgia inadequada à adaptação no convívio com as mentes mais jovens e, portanto, mais suscetíveis para melhor aproveitamento dessa evolução.

Assim ficamos propensos a desabafar muitos fatos irrelevantes que expõem nossas carências de índole pessoal em decorrência de um isolamento a que somos submetidos nesta era pandêmica. Praticamente isolados do mundo exterior, passamos a conversar com as paredes e os pensamentos nos chegam aos borbotões de modo a conviver com nossas lembranças. Uma consciência crítica começa a nos acometer, trazendo à tona toda aquela negatividade submersa no esquecimento.

Então me vem aquela sensação de estar percorrendo o “corredor polonês” da minha vida em que me jogam acusações de tudo aquilo que fiz de errado até aqui. E sou levado a suprimir as boas recordações para me reabilitar a partir deste instante, tornando-me uma criatura amargurada e incapaz de pensar em amenidades que poderia transmitir aos meus próximos. Falta-me certo discernimento para enxergar o que se passa a meu redor se considerado o privilégio de estar vivo.

Quantos planos foram deixados de lado na impossibilidade de realiza-los, embora continuemos alimentando esses sonhos repletos da esperança de retomada no tempo perdido. Enquanto isso, ficamos andando em círculo, na busca de uma melhor perspectiva que nos permita caminhar na direção de nossos mais puros ideais. Na realidade, estamos sendo submetidos a uma provação para resistir honrosamente às tentações de nossas fraquezas ante as dificuldades existenciais.

E assim somos lançados a um tempo futuro, completamente deslocados do presente em que vivemos. Ainda carregamos as marcas de uma época passada de difícil adaptação à turbulência dos dias atuais, Hoje somos exigidos a pensar com um raciocínio mais intuitivo, procurando descobrir e até adivinhar a essência do conhecimento existente na base das tentativas para compreender uma linguagem oculta na lógica de uma interpretação casual.

José Alberto de Souza.

4 comentários:

Unknown disse...

Reflexões magníficas e oportunas que demonstram o talento e sensibilidade do caríssimo amigo. Que Deus continue te iluminando e protegendo para nos brindar com grandiosa produção literária.

Sérgio Reggio

Anônimo disse...

Meu caro Souza,

Não te martirizes demasiadamente com o passado. Lembranças, más e boas, só as têm quem viveu e muito! A novíssima geração ainda só dispõe do presente e nele interage como fizemos em épocas bem mais distantes. Os que sobreviverem também terão de prestar contas ao seu passado. Oxalá não tenham muito do que se arrepender....

Tens uma bela e rica herança para deixar aos teus descendentes. Dignidade, acima de tudo!

Este período de obrigatório confinamento pode ser um convite a coisa muito boas, como reler os livros que nos cativaram, corrigir, escrever, comunicar-se com os amigos pelo telefone ou pela internet, como fazes, e brindá-los com os textos primorosos que sabes produzir.

Abraço solidário do também confinado....

Cabeda

Zinaida disse...

Querido amigo Souza.
Gratidão pela carta, um belo convite à reflexão. Identifiquei-me com teus questionamentos. Junto com o que mal fiz, vejo quantos bens pratiquei assim como tu, disto sou testemunha.
A visão da estrada fica abnubilada pelo confinamento com certeza. Mas este também trouxe a beleza da carta a nós dirigida.
Parabéns por mais essa linda criação com que nos brindaste. Saudações e um carinhoso abraço virtual da
Zinaida

Átila Resem disse...

Parabéns, parabéns, tio Zé. Estou impressionado com a lucidez, domínio, total harmonia em tuas conjecturas. Nos brinda com esta excelente explanação, muito bem redigida, texto que relata com clareza e propriedade o funcionamento de nossa sociedade. Este eu vou imprimir e plastificar.

Beijo dos sobrinhos....