CARÍSSIMOS:
Ultimamente tenho pensado nas limitações que nos impõem os tempos atuais. A
rapidez das comunicações nas redes sociais nos obriga a entender de imediato as
mensagens que nos chegam a todo o momento. Nem sempre o nosso cérebro se
encontra pronto para contestar as opiniões alheias que carecem de certo tempo
para serem digeridas. Desta forma, somos levados a contemporizar alguns fatos
para uma melhor reflexão.
O avanço acelerado da tecnologia não
nos permite acompanhar as mudanças instantâneas do dia a dia, nem sequer
consolidar o aprendizado que nos foi imposto em exíguo espaço de tempo. Mais
ainda quando estamos aferrados a antigos costumes superados com a passagem de
tantos anos, provocando-nos uma nostalgia inadequada à adaptação no convívio
com as mentes mais jovens e, portanto, mais suscetíveis para melhor
aproveitamento dessa evolução.
Assim ficamos propensos a desabafar muitos
fatos irrelevantes que expõem nossas carências de índole pessoal em decorrência
de um isolamento a que somos submetidos nesta era pandêmica. Praticamente
isolados do mundo exterior, passamos a conversar com as paredes e os
pensamentos nos chegam aos borbotões de modo a conviver com nossas lembranças.
Uma consciência crítica começa a nos acometer, trazendo à tona toda aquela
negatividade submersa no esquecimento.
Então me vem aquela sensação de estar
percorrendo o “corredor polonês” da minha vida em que me jogam acusações de
tudo aquilo que fiz de errado até aqui. E sou levado a suprimir as boas
recordações para me reabilitar a partir deste instante, tornando-me uma
criatura amargurada e incapaz de pensar em amenidades que poderia transmitir
aos meus próximos. Falta-me certo discernimento para enxergar o que se passa a
meu redor se considerado o privilégio de estar vivo.
Quantos planos foram deixados de lado
na impossibilidade de realiza-los, embora continuemos alimentando esses sonhos
repletos da esperança de retomada no tempo perdido. Enquanto isso, ficamos
andando em círculo, na busca de uma melhor perspectiva que nos permita caminhar
na direção de nossos mais puros ideais. Na realidade, estamos sendo submetidos
a uma provação para resistir honrosamente às tentações de nossas fraquezas ante
as dificuldades existenciais.
E assim somos lançados a um tempo
futuro, completamente deslocados do presente em que vivemos. Ainda carregamos
as marcas de uma época passada de difícil adaptação à turbulência dos dias
atuais, Hoje somos exigidos a pensar com um raciocínio mais intuitivo,
procurando descobrir e até adivinhar a essência do conhecimento existente na
base das tentativas para compreender uma linguagem oculta na lógica de uma
interpretação casual.
José Alberto de Souza.
4 comentários:
Reflexões magníficas e oportunas que demonstram o talento e sensibilidade do caríssimo amigo. Que Deus continue te iluminando e protegendo para nos brindar com grandiosa produção literária.
Sérgio Reggio
Meu caro Souza,
Não te martirizes demasiadamente com o passado. Lembranças, más e boas, só as têm quem viveu e muito! A novíssima geração ainda só dispõe do presente e nele interage como fizemos em épocas bem mais distantes. Os que sobreviverem também terão de prestar contas ao seu passado. Oxalá não tenham muito do que se arrepender....
Tens uma bela e rica herança para deixar aos teus descendentes. Dignidade, acima de tudo!
Este período de obrigatório confinamento pode ser um convite a coisa muito boas, como reler os livros que nos cativaram, corrigir, escrever, comunicar-se com os amigos pelo telefone ou pela internet, como fazes, e brindá-los com os textos primorosos que sabes produzir.
Abraço solidário do também confinado....
Cabeda
Querido amigo Souza.
Gratidão pela carta, um belo convite à reflexão. Identifiquei-me com teus questionamentos. Junto com o que mal fiz, vejo quantos bens pratiquei assim como tu, disto sou testemunha.
A visão da estrada fica abnubilada pelo confinamento com certeza. Mas este também trouxe a beleza da carta a nós dirigida.
Parabéns por mais essa linda criação com que nos brindaste. Saudações e um carinhoso abraço virtual da
Zinaida
Parabéns, parabéns, tio Zé. Estou impressionado com a lucidez, domínio, total harmonia em tuas conjecturas. Nos brinda com esta excelente explanação, muito bem redigida, texto que relata com clareza e propriedade o funcionamento de nossa sociedade. Este eu vou imprimir e plastificar.
Beijo dos sobrinhos....
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