Porto Alegre Bairro Menino Deus no tempo das chácaras |
O apelo que fiz, numa destas minhas
crônicas avulsas, por gente que pudesse compartilhar das minhas lembranças mais
remotas do bairro Menino Deus, teve bom resultado. As crônicas em si, que eu
dirijo ao restrito público dos meus filhos, netos e amigos próximos, teriam o
destino dos natimortos, se não fosse a gentileza de meu conterrâneo e vizinho
José Alberto de Souza, que habitualmente as reproduz em seu blog, e do colega
Antônio Goulart, que, nesse caso transcreveu minhas reminiscências nas colunas
do “Almanaque Gaúcho” em Zero Hora.
Mostrando que memórias emocionadas não
são privativas deste octogenário, escreveu-me o Engenheiro Roberto Difini,
colega do Curso Científico do Colégio Anchieta em 1945, para acrescentar
lembranças muito vivas daquele velho Menino Deus que ambos conhecemos na
infância.
Mas as lembranças dele me induziram a
espichar o assunto, pois evocaram uma imagem perdida e esquecida da Rua José de
Alencar, que muito importa relembrar: a Vila Esmeralda, sede de uma grande
chácara que fazia fundos na Rua Costa, pertencia aos avós maternos do Roberto,
João Pereira da Costa e sua esposa, casal que eu conheci e ainda conservo na
memória. Assinalada por uma grande figueira e por um magnífico portão de
acesso, o imóvel estaria hoje preservado como relíquia do patrimônio, não só do
bairro, como da própria cidade de Porto Alegre. Ali estava um dos últimos
exemplares de sede de chácara, com fisionomia autenticamente rural. Outros
imóveis que resistiram à ânsia demolitória, como o solar de Lopo Gonçalves, na
Rua João Alfredo, ou o sobrado da Rua Paraíso, no Morro de Santa Teresa, têm o
estilo de residências urbanas.
João Pereira da Costa fora comerciante
visceralmente urbano, dono da joalheria Esmeralda, na Rua de Bragança, mas sua
chácara no Menino Deus conservava as características de um estabelecimento
rural, quase se diria uma sede de estância. Creio que, já no início da década
de 1980, um de nossos prefeitos nomeados, do período ditatorial, talvez o
Thompson Flores, concebeu abrir a Rua Múcio Teixeira até a José de Alencar,
disso resultando a desapropriação e demolição da Vila Esmeralda, com seu
centenário e estilizado portal, mais o magnífico arvoredo. Parece que se
tratava de um projeto urbanístico antigo, repetidamente adiado. Tudo para abrir
uma radial tortuosa e estreita, que mais adiante se interrompe. Em lugar da
chácara, numa esquina movimentada, está uma prosaica e insossa agência da Caixa
Econômica. Atentado modernizante, que hoje, com melhor consciência
patrimonialista e ambiental, talvez não se consumasse.
Imagino não sermos
apenas nós, eu e o Roberto Difini, que lamentamos a perda da Vila Esmeralda no
ambiente do Menino Deus.
5 comentários:
A rua Múcio Teixeira era interrompida pelo riacho Ipiranga até 1990, quando foi construída a ponte que passou a ligar os bairros Menino Deus e Cidade Baixa, durante a administração do Prefeito Olívio Dutra; Entre a Avenida Ipiranga e Rua Marcílio Dias, existia um terreno que foi desapropriado para dar continuidade à Rua Múcio Teixeira, em que se situava uma Igreja Metodista na Marcílio e, ao lado desse templo religioso, havia uma entrada para um vilarejo ocupado com vários chalés de madeira, onde residiam vários biscateiros, um deles me “quebrava o galho” como eletricista. Hoje temos a rua asfaltada e quardada na Avenida Ipiranga por um depósito da Ultragás numa das esquinas e pelo Posto Ipiranga na outra.
Adorei Seu Souza! Como sempre parabéns! Como posso fazer para colocá-la no Face do bairro? O sr me autoriza? Bjus saudosos!!!! 😘
Caro José Alberto, conheci a referida rua nos anos de 1960 e até os anos l976 era interrompida na José de Alencar.Lembro-me que estava cercada e eu quando descia da condução, na José de Alencar, cortava por essa cerca para chegar à Rua Ccosta, onde eu residia. São lembranças de uma época em que o Menino Deus era um Bairro pacato e sem comércio algum. Apenas um armaze´m açougue , uma fruteira e a lavanderia dos Japoneses na esquina da J. de Alencar com a Oscar Bitencourt.Depois do Shhoping a explosão, assaltos e desastres.
Na dúvida, resolvi dar uma passada na Rua Marcílio Dias para saber ao certo onde se situava a Igreja Metodista naquele logradouro, o que me foi esclarecido pelo proprietário da Mecânica Antares, ainda existente no mesmo local de vinte anos atrás, quando era seu cliente. Ele me disse que essa igreja deu lugar a um prédio de apartamentos e ficava na boca da Rua Baronesa de Gravataí e não na Múcio Teixeira como referido.
Devo salientar a importância daquela ponte sobre o riacho Ipiranga, de vez que para chegar na continuação da Múcio Teixeira, anteriormente só era possível alcançar através ou da Avenida Praia de Belas ou da Avenida Getúlio Vargas. Passei nessa ponte logo que foi inaugurada e tive a sensação de estar “invadindo um outro país”, no caso o bairro Cidade Baixa...
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