Da minha janela, com vista para o Rio
Mampituba e o Passo de Torres, descortino à esquerda a moderna ponte
rodoviária, sólida, de concreto e plenamente confiável, pelo menos para
veículos leves. Mas, olhando à direita, vejo a ponte pênsil, uma estrutura
balouçante, que não me animo a utilizar em minhas caminhadas, mesmo se vou a
curtas distâncias. Usei-a apenas uma vez e me arrependi. Jovens na idade das
brincadeiras inconvenientes pulavam sobre a ponte, fazendo-a balançar
perigosamente, pondo em risco a segurança dos velhinhos que se animavam a
utilizá-la. Há um cartaz condenando essa prática imprudente, mas duvido que
seja obedecido pela garotada. Vejo a ponte pênsil muito utilizada, inclusive
por ciclistas e, em certas horas, suspeito que receba excesso de
frequentadores.
No mesmo local, parece que existiu
outrora outra ponte pênsil, bem mais precária, das qual possuo um pequeno
quadro a óleo, de pintor local, que adquiri de um vendedor de rua, na Prainha, faz
alguns anos. Era a única via de transporte a pé enxuto sobre o Mampituba. O certo é que, em 1984, por iniciativa das
duas prefeituras interessadas, a de Torres e a da cidade catarinense que a
defronta, construiu-se a ponte atual, mais sólida, mais forte, com uma
estrutura de cabos de aço, tabuado firme e guardas laterais de arame grosso.
Parecia obra definitiva, para durar muitos anos e assegurar a glória de seus
construtores.
O entusiasmo trouxe multidão de gaúchos
e catarinenses à sua inauguração, superlotou-se o equipamento, e, justo no instante
em que o vigário preparava a sua bênção, a ponte cedeu ao peso dos que a
celebravam, jogando no rio o padre, os prefeitos e as autoridades todas,
felizmente sem vítimas ou outras consequências, afora o susto e o inesperado
banho.
O episódio caricato inspirou a “Décima
da Ponte”, que Guido Muri incluiu em seu livro de “Remembranças de Torres”: “As
comitivas chegaram,/ Uma era a catarina,/ Outra, do nosso torrão./ De cada
lado, povo olhando/ E foguetes estrondando,/ Cada qual com seu prefeito/ E o povo
satisfeito/ Espera a inauguração.//
E continua mais adiante, o
poeta-cronista: “Também as autoridades,/ Era um grupo em cada ponta/ Pra no
meio se encontrar/ E a pênsil inaugurar./ Muita gente em cada bando/ E mal
estavam chegando/ Foram n’água despencar.// Uns nadaram muito pouco/ E à velha
ponte chegaram./ Pra outros foi só um banho/ E na pele nenhum lanho./ Do padre,
a água benzida/ É a única coisa perdida/ Nesse mergulho tamanho.//
Com esse lance de
ópera bufa, que é de 33 anos atrás, inaugurou-se a ponte pênsil. Um dos motivos
para não transitar por ela com muita tranquilidade.
Um comentário:
Importante remembrança. Infelizmente não conheci a velha ponte. Mas agora parece que tudo vai ficar bem. Um abraço José Alberto. Hunder
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