Heitor Saldanha
(A Hora Evarista, pag. 107)
Acordo-me outra idade e me renovo.
Sou minha antiguidade que festeja.
Acordo-me no ser que desaprovo:
abisbo-me de ver sem que outro veja.
Atingido de ser, lutoflutuo
pela luta de ser que em mim resiste,
e no descontinuar me continuo
que do meu alegrar me faço triste.
Já sou a sonolência de outra espera
onde dorme a consciência que nos gera
de onde nos chega o bem mais depurado.
Distendido e liberto me imagino
escutando a linguagem do menino
que vos fala por mim do outro lado.
5.2 T E M P O - I R A - T U R A
Heitor Saldanha
(A Hora Evarista - 1974, pag. 17)
Reler os meus poemas
me angustia
e no entanto insisto
no dilaceramento da matéria
arado
irado
contra o vento
apertarei o silêncio
as letras
as melodias
até que chegue a expressão
do verso que necessito
ou mesmo não necessito
exploro o pulso da forma
para poder deformá-la
e passo
sou minha ultrapassagem
Um comentário:
Hoje, 27 de junho, a quinta postagem do Especial de HS, excepcionalmente, trará um poema 5.1 e um poema 5.2, juntos, para o leitor constatar como o poeta era bom em diferentes estilos e métricas...
Nossa decisão de divulgar um grãozinho da obra de HS, resumida na "Hora Evarista", resume-se em mostrar aos leitores a atualidade da bela poesia do Poeta, com intenção de estimular leitura e conhecimento da obra.
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