segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A PASSARELA DO CONSUMISMO

“Não mandem flores” é uma frase bastante comum que aparece em alguns convites de enterro divulgados na imprensa. Dizem que se deve destinar os gastos dessas gentilezas às instituições de caridade. Muita gente tem a convicção de que as flores não devem ser arrancadas, pois estão enfeitando jardins e caramanchões. Até mesmo os românticos são criticados pela sua propensão de homenagear suas amadas com artísticos ramalhetes. Se todos pensassem assim, o que seria da floricultura e daqueles que vivem dessa atividade. Mais um problema social?
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E lá se foi o Natal com a sua febre de consumismo, com o tremendo estresse que provoca nas pessoas condicionadas na troca de presentes que ocorrem nas reuniões com familiares e amigos. O décimo terceiro salário injeta renda no mercado para movimentar uma economia que se manteve estável no restante do ano. Nos jornais, os classificados apregoam as vagas oferecidas para empregos temporários. A publicidade volta-se criativa visando o aumento das vendas nas lojas. Desta forma, somos bombardeados pela oferta de tantos produtos supérfluos.
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Escolher um presente já é uma tarefa deveras espinhosa para quem se coloca numa posição de querer agradar, ficando na dependência de atingir o seu intento. Que o digam aqueles que recebem um brinde nem sempre necessário, muitas vezes repassado em outras ocasiões, alimentando assim o ciclo dessas trocas. Por que não se institui uma campanha de doações dessas novas roupas e alimentos que vão atulhar os nossos armários, quando há carência dos mesmos em outras prateleiras? Será que é tão difícil de conciliar essa tendência ao desperdício com algum sorriso sincero de gratidão?
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E ainda tem aquelas visitas que não dispensam trazer alguma “lembrancinha” toda vez que chegam a nossa casa, como se não bastasse o prazer de recebê-las. Ou então aquelas vizinhas que copiam os filmes americanos, trazendo alguma torta para o chá da tarde. A propósito, lembro-me de um primo que foi visitar um conhecido e, na saída, este quis lhe obsequiar com uma lata de Marrom Glacê que tinha recebido de outro convidado, pois nessa casa ninguém gostava da guloseima. Só que não se deu conta de estar devolvendo o presente justo a quem lhe havia ofertado.
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Ficamos sabendo há pouco que o carro modelo Corolla é um dos mais caros circulando nas ruas e estradas do nosso país, cujo preço ultrapassa os cem mil reais no mercado nacional, o dobro do custo médio no exterior. Tem gente que se queixa da carga tributária que não chega a impedir a desenfreada demanda para veículos de qualquer espécie, os quais vem atravancando as nossas principais vias de circulação e pressionando uma crescente dívida pública para atender os gastos com a infra-estrutura necessária. E pelo visto parece que essa ostentação se torna cada vez mais contagiosa.
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A mobilidade social é um fato indiscutível que vem ocorrendo numa evolução impressionante, gerando novas expectativas graças às novas tecnologias disponíveis e ao marketing desenvolvido para dar sustentabilidade a esse processo. O “ter” tem-se tornado mais importante do que o “ser”, muitas vezes a custa do crédito facilitado através das financeiras, pouco interessando a capacidade de pagamento dos mutuários. E vão desfilando na passarela do consumismo celulares, computadores, eletrônicos, carros último tipo, toda engrenagem que move o mercado.
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Enquanto isso, presenciamos nas ruas do nosso bairro, dezenas de sem-teto nos atacando para obter a migalha de uma “moedinha” sobrando em nosso bolso e vão juntando uma a uma para depositar essa “féria” nas farmácias, padarias, lojas e bares necessitados de troco. Noite avançada, alguns somem das nossas vistas quando não se acomodam entre jornais e caixas de papelão, debaixo de alguma marquise para se abrigar das intempéries. E esta legião de excluídos sempre acorre a “Sopa dos Pobres” de alguma instituição filantrópica, em busca da sua única alimentação diária.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Vergara Marques sempre agregador

O nosso conterrâneo Luiz Carlos Vergara Marques que se notabilizou pela criação do programa Turfe & Boa Música na extinta Rádio Itaí, costuma promover todos os meses um encontro dos veteranos radialistas que atuaram nas principais emissoras do nosso Estado. Grande agregador, ele convoca toda a Velha Guarda para relembrar os bons tempos da época áurea da nossa radiofonia, quando saúda um a um todos os presentes, salientando da sua importância como referenciais dos meios midiáticos.
Atendendo honroso convite de Vergara Marques, em companhia de Hunder Everto Corrêa, outro jaguarense ilustre, comparecemos nessa emocionante confraternização e pudemos testemunhar esse exemplo de união e de ideais consolidados na experiência classista de cada um dos seus integrantes, depoimentos imprescindíveis ao balisamento das novas gerações de comunicadores que dão continuidade a essa extraordinária jornada em busca de uma melhor dignidade profissional.
Nesta última terça-feira dia 14, tradicional restaurante Forno & Fogão, ao lado do glorioso Estádio dos Eucalitos na rua Silveiro, tivemos oportunidade de conhecer e cumprimentar grandes personalidades do antigo rádio gaúcho, tais como Salomão Ainhorn, Pedro Amaro, Batista Filho, Sergio Bechelli, Vanize Brown, Beatriz Correa, Arnaldo da Costa Filho, Sergio Dillenbourg, Marisa Fernandes, Lauro Hagemann, Lucio Hagemann, Cleomar Pereira Lima, Cláudio Medina, Leo Pagano, Elisabeth Passos, Antonio Carlos Porto, Antonio Carlos Resende, Aldo Rosito, Rocco Rosito, Sergio Schüller e outros mais.
Muito dessa gente tem aqui chegado oriunda do nosso Interior, em cujas emissoras e jornais ganharam formação para se desinibir e aprender a falar em público, exercitando a oratória e a escrita e consequentemente adquirindo mobilidade social em sua árdua carreira. Eram os conhecidos “bicos” de que se dispunha na época para arranjar uma renda extra afim de custear estudos e até atender caprichos próprios como pagar o cinema ou o guaraná para a namorada, normalmente dependurados na conta dos pais.
Luiz Carlos Vergara Marques, há duas décadas estacionado nos 64 - resultados de uma providencial amnésia – foi um dos que descobriu a sua vocação, graças a um concurso de oratória promovido pelo Grêmio Literário Castro Alves, no Ginásio IPA de Jaguarão. Em sua primeira tentativa, traído por excessiva timidez, teve de encarar tremendo fiasco. Por isso mesmo resolveu se empenhar no aprimoramento do seu desempenho até o próximo concurso, quando então atingiu o seu propósito e se revelou como brilhante locutor, cujo vozeirão conserva até hoje.
Em Porto Alegre, não lhe foi difícil percorrer todas as rádios locais, onde deixou passagem marcante, notadamente na emissora do Edifício do Relógio (Chaves Barcelos), no Largo do Medeiros, a qual alavancou com a notável audiência do seu programa Turfe & Boa Música, que se caracterizava por preencher com espaços melodiosos ininterruptos o intervalo entre um páreo e outro do Hipódromo, o que não acontecia nas outras emissoras, interrompendo a programação normal para irradiação daqueles páreos. E o nosso herói não ficou só nisso, chegando a narrar em plena Gávea vários Grandes Prêmios do Brasil.
Aposentado como Diretor da Rádio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ai está o nosso Vergara abrilhantando almoços e jantares e, por puro diletantismo, tirando sua casquinha como apresentador oficial de muitos Bailes das Debutantes, como tem ocorrido em sua terra, onde é bastante requisitado nessa função.