Para
mim, é sempre motivo de satisfação saber que existem pessoas como Agilmar
Machado e Vilarino Wolff valorizando a sua passagem aqui por Porto Alegre e
descobrindo encantos numa metrópole que pode ser destituída de atrativos
turísticos, mas que tem de sobra o calor humano da sua gente hospitaleira. Pois
eles me fizeram lembrar outro personagem da noite porto-alegrense que, talvez,
tenham conhecido em suas andanças por aqui – nosso grande seresteiro Ademar
Sílvio.
Indivíduo
culto e educado, há alguns anos venho privando da sua amizade e testemunhando o
seu grande valor como artista desprendido que, até pouco tempo atrás,
perambulava pelos bares e casas noturnas da nossa Capital. No seu dizer, assim
procedia mais por gosto que por dinheiro – “este quando aparece no bolso do
cantor liquefaz-se muito rapidamente por ser pouco para matar muita sede”.
Tanta
lealdade costuma dedicar a seus amigos e companheiros que não hesita em
deslocar-se de um extremo a outro de Porto Alegre, quase cem quilômetros gastos
na ida e volta, utilizando-se de várias linhas de transporte coletivo, saindo
da sua residência situada na Zona Norte até chegar a Belém Novo, onde é sempre
esperado para a reunião musical com a turma de Jorge Machado, normalmente se
prolongando da hora do almoço até a janta.
Numa
dessas oportunidades, esse nosso personagem não havia comparecido então,
encontrava-me no bar do Getúlio, naquele bairro da Zona Sul, e escutava uma pessoa
pregando a elaboração de um abaixo-assinado de todos os moradores daquele
bairro para que o Ademar ali fixasse o seu domicílio, pois sentiam muito a sua
ausência, impossibilitados de ouvir a sua palavra fluente de emérito contador
de causos. Não é que esse companheiro de mesa dizia-se impressionado com certa
aula de aviação na qual o Ademar esparramou todo o seu conhecimento da época em
que tirava o seu brevê, pilotando o teco-teco Biguá!
Nesse
convívio fraterno, ficamos sabendo da tremenda versatilidade desse vulto
notável da nossa cultura popular, atestando a sua capacidade como conhecedor
profundo da obra de Catulo da Paixão Cearense e intérprete inesquecível de Por
Um Beijo – Vai, Meu Amor, Ao Campo Santo – Ontem Ao Luar, que o consagraram em
suas apresentações na boate Chão de Estrelas.
Na
VII Califórnia da Canção Nativa de Uruguaiana (1977), impõe-se o elemento negro que
vence na linha de Manifestação Rio-grandense, a canção Colorada (Aparício da
Silva Rillo/Mário Bárbara Dornelles), com seu timbre de voz grave alcança a
força necessária para reviver uma época violenta da história gaúcha, tempo de
degolas nas revoluções.
Revelou-se
ainda como sambista de raiz ao enfrentar pela primeira vez um desfile de
escolas, defendendo pela Academia Praiana, o samba enredo Exaltação à Janaina (José
Gomes), que lhe exigiu 45 minutos cantando sem parar.
Mais
ainda teríamos a falar dessa criatura – Ademar Hilário da Silva, de batismo –
cujo nome artístico foi-lhe sugerido por Demóstenes Gonzáles, porém, encerramos aqui lembrando sua faceta de
compositor, já tendo gravadas duas faixas com música e letra de sua autoria
intituladas Eu Te Adoro e Por Causa Daquela Mulher, no CD demo Fundo de Gaveta. - (See more at: http://www.carosouvintes.org.br/a-musica-que-vem-do-sul-4/#sthash.Y4PVKkQs.dpuf)