sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

O dilema de um inconsciente: desempenho ou desemprego?

Administração, marketing, psicologia, economia, política, literatura, o guri tinha empilhado toda essa formação cultural – afinal não ajudava mesmo – para negociar no sebo; em vão os pedidos do pai de mais empenho para superar a fase adversa.
Pensando no filho, desempregado desde a obtenção do diploma, Valdemar começa mais um dia de gerente de banco, enquanto decide com o funcionário da cobrança quais os títulos deverá encaminhar ao Cartório.
Mal escuta a história que o outro lhe conta, a choradeira do empresário suplicando para segurar a execução da dívida por mais alguns dias, a ameaça de demissões, um problema social para a comunidade.
Valdemar nem está ali, lembra do encontro com o amigo no supermercado, quando este dizia para não se culpar:
“A nossa juventude está sem rumo... estuda tantos anos e não tem acesso ao mercado de trabalho... em qualquer lugar onde se encontre bares noturnos, a magrinhagem aglomera nas calçadas, invade o leito das ruas e interrompe o trânsito... pura ociosidade e falta de perspectiva.”
O rapaz da cobrança acentua na reincidência do devedor que nunca cumpre esquemas de pagamento, tantas vezes combinado.
Valdemar não consegue desligar-se do filho: um empurrãozinho, alguém que lhe desse uma força, mas como, se não gosta de ficar devendo favores?
O outro fica aguardando uma decisão, deixa que o silêncio traga Valdemar de volta à realidade - então este, possesso, vocifera:
- Aquele desgraçado é um caso perdido, continua com a mania de chantagear a gente com questões sociais e ainda tenta nos subornar com uísque paraguaio, falta de empenho, bota no pau!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Copa de Literatura Brasileira: participando da Mesa Redonda

Em Música Perdida, senti a maldição do talento em que o potencial do indivíduo deixa de ser exercido em sua plenitude, justamente pelo receio de encarar a inveja e a agressividade dos medíocres, um tema tão atual que parece retratar metaforicamente este Brasil tão vilipendiado e explorado pelos aproveitadores de ocasião.
Nesse sentido, a aproximação de Mendanha com o Padre José Maurício não deixou de ser um freio nas aspirações do jóvem e talentoso maestro, influenciando-o negativamente.
Assim, também encaro as críticas contundentes expostas acima, tanto para um obra como para a outra.
Parabenizo aos finalistas desta primeira edição da Copa de Literatura e faço votos que sigam trilhando os caminhos a que se propuseram, aprimorando sempre a sua arte de escrever.
José Alberto de Souza comentou em 03/12/2007, às 10:51 am.
José Alberto de Souza, você falou sobre o Música Perdida o que eu não estava encontrando palavras para falar. Obrigada. Foi isso o que mais me impressionou no livro: há um talento que por ser tão imenso é a todo momento freado, desviado.
E claro que essa final serve muito para pensar que, sim, até certo ponto literatura pode ser questão de gosto. Argumentos existem para tudo, basta escolher os que mais lhe parecem justos.
Olívia comentou em 03/12/2007, às 4:08 pm.
Olívia, é isso aí, o grande mérito dessa obra está na leitura das entrelinhas que você percebeu muito bem e sentiu da mesma forma que nós sentimos.
Grato pela deferência a meu comentário.
José Alberto de Souza comentou em 03/12/2007, às 4:55 pm.
Lendo as resenhas dos jurados acima, comecei a desconfiar de que alguns estariam torcendo para que as obras que arbitraram individualmente chegassem à final da Copa, o que constatei nas opiniões emitidas por oito dos julgadores, os quais pareceu-me que choraram pelo leite derramado.
Cito apenas Renata Miloni, Jefferson Maleski, André Gazola e Jonas Lopes como exceções, imbuídos pelo espírito olímpico de que o essencial é competir, pela elegância com que aceitaram a eliminação das obras que passaram pelo seu respectivo crivo.
Que me perdoem as sumidades que desfilaram nessa Mesa Redonda se cometo a audácia de externar esta minha opinião de leitor comum.
Fã de carteirinha do Mestre Assis Brasil, já tenho lido e apreciado grande parte da sua obra e, como disse a colega Sabrina Schneider, a última trilogia desse autor reflete uma guinada na sua trajetória de escritor, agora publicando livros com capítulos mais curtos e que prendem o leitor até o final da obra, não lhe permitindo a interrupção na leitura, quer dizer, parece que descobriu o caminho das pedras.
De outra parte, apesar das críticas contundentes à imensidão das páginas do livro do outro concorrente, tal motivo apenas despertou-me o interesse em conhecer essa obra.
José Alberto de Souza comentou em 09/12/2007, às 12:39 pm.
Que pena eu ter tomado conhecimento dessa interessante competição após sua final (li pequena matéria no Prosa & Verso, de O Globo, em 08/12/2007).
Eu estava pensando em comprar o livro da A.M.Gonçalves para ler nas férias, mas, pelo que li nos vereditos dos jurados na final, acho melhor mesmo é ficar com o Assis Brasil, pois tenho apenas vinte dias de férias, e seu livro parece mais adeequado ao tempo que dispensarei à leitura.
Espero acompanhar cada jogo da próxima Copa, que tenho certeza que acontecerá.
Geraldo Rodrigues Pereira comentou em 09/12/2007, às 10:09 pm.
Geraldo, Música Perdida é um livro que prende o leitor da primeira à última página - eu não consegui interromper a leitura, que flui muito bem, capítulos curtos, não é cansativa, e no fim fica-se com aquela sensação de quero mais e inquieto dando asas à imaginação como se a gente quisesse completar a escrita.
Embora seja um livro de poucas páginas, parece-me que equivale a um registro de mil folhas caso se considere a história oculta nas entrelinhas.
Você vai ter que ler e reler essa obra umas vinte vezes para preencher o tempo de suas férias!
José Alberto de Souza comentou em 10/12/2007. às 12:26 pm.
Perfeito o que você disse, José.
Renata Miloni comentou em 10/12/2007, às 12:32 pm.
Renata, a sua concordância muito me honra e gratifica.
Aliás, gostaria de levar ao conhecimento do Geraldo, a observação da colega Sabrina Schneider sobre a contenção do texto em Música Perdida, que vem sendo adotada pelo autor em suas três últimas obras, as quais compõem uma trilogia de histórias diferentes de uma mesma época.
Assim, gostaria de lhe recomendar para suas férias, também, as outras duas: O Pintor de Retratos e A Margem Imóvel do Rio.
Eu se tivesse que levar comigo alguns livros para uma ilha deserta, tranquilamente levaria esses três.
José Alberto de Souza comentou em 10/12/2007, às 12:55 pm.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Assis Brasil: o grande vencedor da I Copa de Literatura Brasileira

De 03/09/2007 a 03/12/2007, desdobrou-se a I Copa de Literatura Brasileira, evento organizado por Lucas Murtinho, que contou com o apoio das editoras Companhia das Letras, LPM, Objetiva, Record, Rocco e Submarino.
O certame foi realizado no sistema mata-mata, típico de algumas competições esportivas, com eliminatórias nas fases oitavas, quartas, semifinais e final.
Portanto, inscreveram-se 16 concorrentes, a saber: Daniel Galera (Mãos de Cavalo), Cíntia Moscovich (Por Que Sou Gorda, Mamãe?), Antonio Fernando Borges (Memorial de Buenos Aires), Carlos Heitor Cony (O Adiantado da Hora), Michel Laub (O Segundo Tempo), Luiz Antonio de Assis Brasil (Música Perdida), Sérgio Rodrigues (As Sementes de Flowerville), Adriana Lunardi (Corpo Estranho), André Sant'Anna (O Paraíso É Bem Bacana), Flávio Braga (O Que Contei a Zveiter Sobre Sexo), Luiz Vilela (Bóris e Dóris), Antônio Torres (Pelo Fundo da Agulha), André Gazola (O Movimento Pendular), Roberto Pompeu de Toledo (Leda), Moacyr Scliar (Os Vendilhões do Templo) e Ana Maria Gonçalves (Um Defeito de Cor).
Na primeira fase, as contendas de cada dupla foram arbitradas individualmente pelos jurados
Renata Miloni, Jefferson Maleski, Olivia Maia, Doutor Plausível, Antônio Marcos Pereira, Eduardo Carvalho, André Gazola e Bruno Garschagen, passando nesta peneirada inicial as obras de Ana Maria Gonçalves, Cíntia Moscovich, Antônio Fernando Borges, Roberto Pompeu de Toledo, Luiz Antonio de Assis Brasil, Luiz Vilela, Sérgio Rodrigues e André Sant'Anna.
Na fase seguinte, também julgando individualmente cada obra, os jurados Leandro Oliveira, Marco Polli, Rafael Rodrigues e Jonas Lopes aprovaram os livros de autoria de Ana Maria Gonçalves, Roberto Pompeu de Toledo, Luiz Antonio de Assis Brasil e Sérgio Rodrigues.
Nas semifinais, os jurados Simone Campos e Luiz Biajoni apontaram os autores Ana Maria Gonçalves e Luiz Antonio de Assis Brasil como aptos a disputar a final da I Copa da Literatura Brasileira.
Comparecendo a totalidade dos jurados e mais Lucas Murtinho para a votação da obra escolhida, sob tremenda polêmica, terminaram acusando a vitória de Música Perdida (Luiz Antonio de Assis Brasil) pelo escore de 9 votos pró e 6 contra.
No sítio http://copadeliteratura.com/final/jogo15, também foi colocada, para votação popular, a pergunta "O resultado da final da Copa foi justo?" que atualmente marca 76% (44 votos) para "com certeza".
Também aberta ao público, a Mesa Redonda ensejou-nos a postagem de nosso comentário, que mereceu réplica da jurada Olívia.
Vale a pena acessar o portal da Copa da Literatura Brasileira a fim de verificar tais detalhes.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Reconhecimento mundial para Ivo Ladislau e nacional para Cléa Gomes

Desde o último dia 5/12/2007, encontra-se em nosso Estado, o Sr. Carlos Manoel Martins do Vale César, presidente do Governo Regional dos Açores, que aqui veio para inaugurar a Casa dos Açores do RS, bem como para abertura do Congresso Mundial das Casas dos Açores.
Neste sábado, dia 08/12/2007, está sendo programada a entrega da Medalha de Mérito do Conselho Mundial das Casas dos Açores ao pesquisador e compositor litorâneo Ivo Ladislau Janicsek.
Assim, pela primeira vez, será homenageada uma personalidade do Rio Grande do Sul com essa láurea cunhada pela Assembléia Legislativa dos Açores e destinada a premiar, a cada ano, todas aquelas pessoas que se destacam na preservação e resgate da cultura açoriana.
Há mais de vinte anos, esse consagrado letrista vem desenvolvendo um trabalho de pesquisa e resgate na região litorânea do nosso Estado, de grande importância para o conhecimento da herança açoriana espalhada no mundo inteiro.
Como núcleo inicial, contou com a parceria do compositor Carlos Catuype e da cantora Cléa Gomes, aos quais vieram agrupar-se, entre outros, Rodrigo Munari, Renato Júnior, Mário Tressoldi, reforçado ainda pelos Cantadores do Litoral, vindo a tornar-se referência fundamental na captação da influência afro-açoriana no Litoral Norte Gaúcho.
Desse modo, nota-se na obra de Ivo Ladislau um esforço de integração no contexto universal da cultura luso-brasileira, como bem o demonstra a canção Galpão Açoriano, vencedora da Linha de Manifestação Riograndense da 33ª. Califórnia da Canção Nativa.
Essa canção encontra-se gravada no CD Comunidades II, que ainda tem a participação de cantores e músicos açorianos, entre eles Zeca Medeiros, Susana Coelho, Luís Bettencourt e Pedro Coelho, além de Tânia Silva, cantora canadense de origem açoriana.
De outra parte, ainda temos a registrar que a cantora Cléa Gomes vem de se classificar entre as cinco vencedoras do projeto Talentos da Maturidade, patrocinado pelo Banco Real, interpretando Anitas (Ivo Ladislau/Catuype), devendo estar presente em Brasília, no próximo dia 11/12/2007, para receber o prêmio a que fez jus.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Zadir Prata ******* O CASÓRIO ( I ) **** A Folha (Jaguarão) - 03/12/88

O mês de dezembro de um dos últimos anos da década de 30 transcorria calorento, mas dentro da normalidade costumeira, sem nenhuma semelhança com os alterados tempos atuais, fustigados pelo denominado efeito estufa.
Em determinada casa do interior de um dos distritos deste município, um ritmo acelerado dominava todas as atividades – das paredes ao chão, das árvores ao galinheiro, tudo era limpo e retocado e nenhum descuido poderia ser notado pelos mais exigentes fiscalizadores.
E também não era para menos: mais uns doze dias e haveria o casamento de Aurélia, uma prenda bem aprumada, com Genésio, guapo ginete, ex-cabo do Regimento de Cavalaria, melenudo muito apreciado pelas demais moças casadoiras das redondezas, que não podiam ou não queriam compreender os motivos que levaram o galã à escolha feita.
Dia após dia, a azafama caseira sempre crescendo, e chegou o sábado tão esperado para início e término da festividade. Às três horas da tarde – o casório seria às cinco -, os ternos de brim impecavelmente duros de tão engomados e os vestidos rodados de cores berrantes já enchiam salas e tomavam conta das sombras das árvores do terreiro.
Entre uma e outra roda de chimarrão, as conversas estavam animadas e normalmente giravam em torno do Estado Novo, recém criado, e das esperanças de melhorias sociais e econômicas que traria.
Pouco antes das cinco, suspendendo uma polvadeira soberba, surgiu o fordeco que trazia as autoridades da cidade para concretização do sonho de muitos – dos noivos, dos pais, do restante da família e dos convidados, pois havia muita comida e muita bebida para serem consumidas...
O fordeco chegou e era dirigido pelo próprio Vierinha, dono da melhor garagem de Jaguarão, gaúcho bom, um grande coração, excelente amigo.
O suspense era total – todos se aproximaram do automóvel e se empertigaram para as saudações ao Senhor Juiz e respectivo Escrivão.
Parada a máquina saltaram: o Senhor Juiz, Cantalício Resem, figura ímpar de honestidade e justiça, um desses varões impolutos que, neste vale de lágrimas em que vivemos, vem escasseando de século para século, e o Escrivão, Francisco Nogueira Júnior, o seu Chiquinho, amigo de todos e para todas as ocasiões, honesto e criterioso, um padrão de cidadão-exemplo.
(continua na próxima postagem)

Zadir Prata ****** O CASÓRIO ( II ) **** A Folha (Jaguarão) - 03/12/88

Tomadas as providências para o início da cerimônia, um oh geral ecoou quando a noiva apareceu sorridente e com sua graça peculiar para juntar-se ao noivo que, qual uma estaltua, mantinha-se tão empertigado que parecia ter engolido um poste telegráfico.
O Escrivão iniciou as leituras dos atos, todos os presentes estavam sérios, circunspectos e só se ouvia o zunzum de umas moscas que teimosamente circulavam entre as pessoas, mimosamente levando uns petelecos se ousavam pousar nas testas, faces ou cabelos de qualquer um.
De repente, e foi de repente mesmo, pois ninguém esperava o sucedido, o Escrivão, após um discreto sinal do Juiz, cabisbaixo, fechou o livrão preto e, juntamente com aquela autoridade, em passos rápidos saiu em direção ao fordeco, onde logo se acomodaram.
A confusão criada foi enorme: uns ficaram em casa imobilizados, outros correram para o fordeco, enquanto outros ainda prestavam os socorros compatíveis à Dª. Tércia, mãe da noiva, atacada por violenta falta de ar: seu Prisco, corria para lá, corria para cá, fazia que ia mas não ia, até que seu Floro, subprefeito do Distrito, fazendo valer sua autoridade, pedia calma a todos e disse que ia falar com o Senhor Juiz.
O Juiz, com calma e delicadeza, explicou que o casamento não poderia ser realizado, uma vez que, terminadas as leituras competentes, ele (juiz), ao perguntar aos noivos se estavam conformes, a noiva respondera que sim, mas o noivo dissera que não a referida pergunta; acrescentou que foi repetida mais duas vezes e mais duas vezes a negativa foi dita pelo nubente.
Assim sendo, diz o Sr. Cantalício, o casamento... – mas não pode terminar a frase, pois o noivo pediu permissão e falou:
- Entendi o Senhor perguntar se eu estava com fome e respondi que não, mesmo porque aprendi com meu pai desde criança que homem deve comer pouco no dia do casamento e não tem fome.
Tudo explicado voltou a calma.
O casamento foi realizado e como em toda história que se preza, vamos ao fecho – o casal viveu muitos anos e foi muito feliz.
Como em filmes e novelas de TV, exceto os nomes do Senhor Juiz, do Senhor Escrivão e do Vieirinha (José Dalberto de Souza), os demais nomes são fictícios e qualquer semelhança é mera coincidência.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Vamos combinar o próximo piquenique lá no outro plano?

Há muito, muito tempo, eu nem tinha nascido, fôra a minha tia (a que tem a criança no colo), Maria José, irmã de meu pai José Dalberto (ausente).
Há muito tempo, tinha partido a minha mãe Maria Francisca, nem cheguei a conhecê-la.
Algum tempo depois, foi a vez da avó Delfina, a qual tinha tomado emprestado, mãe de Cantalício e Modesto.
E o tempo passando, acabou levando o tio Modesto (de chapéu e lenço no pescoço).
Passado um certo tempo, aconteceu a perda da minha tia, segunda mãe, Florisbela, também irmã do meu pai.
Mais algum tempo e lá se vai o seu esposo, tio Cantalício, meu pai substituto.
E, neste último fim de semana, mais duas perdas afetivas – a do meu primo Anysio (no plano mais elevado, em cima dum cavalo) e da minha prima Hilda (ali ao lado da minha mãe).
Hilda era filha de Maria José e Joaquim Mello (na ocasião ausente), viúva do General Ociran Sebastião de Almeida e mãe de Luiz Fernando, Eduardo Ubirajara e Regina, afora os netos e bisnetos (?), há muito radicados no Rio de Janeiro; vaidosa, esbanjava classe e vitalidade até ser atingida por moléstia degenerativa.
Quanto a Anysio de Souza Resem, 85 anos, irmão de criação, filho de meus tios Florisbela e Cantalício Resem, viúvo de Lecy que gerou-lhe os filhos José Augusto, Lia e Luiz Augusto (considerando-se ainda a descendência dos netos); e também de Mirnaloy, em segundas núpcias, de cuja união deixou os filhos Anysio Filho e Quênia, eu teria muito mais a dizer devido a um convívio familiar mais frequente e prolongado.
Um abnegado acima de tudo, com profíqua atuação durante anos na comunidade jaguarense, ora como provedor na Santa Casa de Caridade e na Associação Protetora dos Desvalidos, ora como presidente da Associação Comercial e, posteriormente, da Associação dos Aposentados de Jaguarão, dedicando-se de corpo e alma na gestão dessas instituições, a ponto de prejudicar os próprios negócios.
Benjamim da família, optou pela permanência na cidade natal a fim de dar assistência a seus genitores, já aposentados, e assumir a propriedade da Livraria e Tipografia A Miscelânea, além de dar continuidade á publicação do jornal “A Folha”, tradicional semanário da cidade, herdando o idealismo de Cantalício e Florisbela no espírito pioneiro de tais empreendimentos.
Para mim, ficaram as doces lembranças do companheirismo sadio, quando nossas idades superavam a barreira da diferença acentuada, no diálogo franco, nos conselhos abertos, nas discussões acaloradas, na colaboração recíproca aos problemas alheios.
Como esquecer aquelas vezes em que, ainda garotinho, e ele já moço taludo e namorador, insistia eu para que me levasse nas noites de segunda-feira ao Cine Theatro Esperança para assistir aos seriados do Tom Mix e, já na outra semana, era ele quem vinha me perguntar se eu não ia ver a continuação do folhetim?
A criança de colo, Lucy, próxima de atingir oitenta, e a menina com chapéu na mão, Nilza, quase chegando aos noventa, irmãs do Anysio, estão ai como testemunhas daquele piquenique na chácara do tio Cantalício.

domingo, 25 de novembro de 2007

Como exercer a missão de educar?

Em 1956, estávamos no curso científico do Colégio Estadual Júlio de Castilhos, em Porto Alegre e, num dos intervalos entre dois períodos de aula, aguardávamos a chegada da professora de Desenho, discutindo sobre a mais rentável das profissões liberais.
Eis que a nossa mestra, Olga Paraguaçu, surge desapercebidamente, inteirando-se do teor da nossa polêmica e, para calar-nos a boca de uma vez por todas, sentencia do alto da sua cátedra - explorar um rendez-vous é muito mais negócio, vocês nem precisam estudar!
Decorrido meio século, ainda vivenciamos nos dias atuais a mesma mentalidade daquela época e a escola pública está aí formando alunos que só pensam no benefício próprio, sem oferecer nada em troca aos contribuintes que lhes custearam os estudos.
Em 1988, esteve em Porto Alegre a Doutora Pilar Quera Colomina, coordenadora do programa educacional implantado na Espanha - Vivendo Valores na Educação - para mostrar o mesmo a docentes da rede pública estadual.
Na ocasião enfatizou que, apesar de se ter a tecnologia à disposição e convivendo-se com uma gama imensa de informações, ainda não foram equacionadas questões primárias de relações humanas.
Para tanto, propunha-se uma reflexão na Escola sobre valores universais, tais como amor, felicidade, honestidade, humildade, liberdade, paz, respeito, responsabilidade, simplicidade, tolerância e unidade.
Infelizmente, nos dias de hoje, deparamo-nos com a dura realidade do descaso de nossos homens públicos na questão de serem alocados maiores recursos para investimentos em áreas altamente prioritárias como a saúde e a educação.
Dói-nos saber que os parlamentares brasileiros são os mais caros do mundo, chegando ao cúmulo de obterem, cada um, remuneração equivalente ao total acumulado de salários médios de 688 professores.
O exemplo que vem de cima é acachapante, de total desinteresse pelo bem público, desencantando ainda mais aqueles que batalham por condições mais dignas para exercerem a sua árdua missão no magistério.
Às vezes, o conhecimento intuitivo de muitas pessoas iletradas e bem intencionadas demonstra muito mais prudência face ao total despreparo de muitos bacharéis e diplomados, tão ignorantes no trato com as mais simples necessidades humanísticas.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Música de afro-descendentes em evidência

João Pernambuco, Jefferson Lima, Paulinho DiCasa, Kako Xavier, Mário DuLeodado e Dão Ribeiro, a linha de ataque no campo do Musicanto.
Prece e Canção, maçambique com letra de Hércules Grecco, recentemente falecido, e música de João B. Filho e João Pernambuco, foi a grande vencedora do 22º Musicanto de Santa Rosa, consagrada pelo júri e pelo público que aplaudiu em pé a apresentação de Kako Xavier e Tribu Maçambiqueira com o palco transformado numa autêntica festa do mar.
Também em 1994, outro maçambique Senhora Rainha (Ivo Ladislau/Beto Bollo) e em 1995, o quicumbi Maçacaia (Ivo Ladislau/Luiz Carlos Martins/Beto Bollo) já haviam levantado o caneco nas 12ª. e 13ª. edições desse Musicanto, ambas interpretadas pela cantora Loma (com Kako Xavier, nessa última), lídimas expressões da música afro-litorânea.
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Acontece amanhã, dia 21/11/2007, a apresentação do espetáculo Porto Alegre, Meu Canto No Mundo, com sopapo e voz de Giba Giba no Solar dos Câmara (Duque de Caxias,936), às 18h30min, além da participação da cantora Maria Lúcia e a banda formada por Marco Farias (teclado, violão e voz), Edu Nascimento (percussão e voz) e Filipe Narciso (baixo e voz).
Um dos grandes expoentes da cultura negra no Estado, o pelotense Giba Giba tem recebido várias honrarias devido a sua notável atuação no resgate da influência dos afro-descendentes em nossa civilização, contribuindo assim para a eliminação do preconceito racial e para a recuperação da auto-estima de uma etnia oprimida em alguns séculos da nossa História.
Entrada franca, como se não bastasse a oportunidade de assistir e prestigiar o nosso Gibão.
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Já nesta próxima quinta-feira, dia 22/11/2007, ás 20 horas, na Usina do Gasômetro (sala 504),
o nosso amigo Marco Farias volta à cena para acompanhar no piano, junto com o baterista Flávio da Costa, a cantora Calé/Helena Machado, num espetáculo que toma como ponto focal a construção da identidade através de ações afirmativas sobre a memória recriada da escravidão, sobretudo a memória. sobretudo a memória de resistência, de orgulho, de dignidade e de riqueza cultural da etnia negra.
Montagem do repertório inspirada nos Griôs Mandingas, um dos grupos étnicos africanos guardiãos, propõe-se a mesclar essas peças tradicionais com a música popular mais atualizada de sonoridade afro-brasileira, assinadas por Baden Powell, Milton Nascimento, Gonzaguinha, Jackson do Pandeiro, Paulinho da Viola e Vissungos, ao lado de Tom Jobim, Chico Buarque, Caetano Velos e, indo mais fundo, Lamartine Babo, Noel Rosa e Assis Valente.
Na data em que se comemora o Dia do Músico, vale a pena conferir esse retorno às raízes.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Quando é que a nossa OSPA executará esta peça musical?









Ultimamente, temos recebido algumas mensagens em nosso computador de divulgação turística de nossa Capital. Não resta dúvida de que se trata de peças publicitárias bem elaboradas e de muito bom gosto, que enchem de orgulho as pessoas que as recebem. Porém, o fundo musical Porto Alegre É Demais, interpretado pela primeira-dama Dª. Isabela, passa-nos a impressão de que o meu caro xará, o prefeito Fogaça, está tirando proveito da sua situação como alcaide do nosso município. Bastava um pouquinho mais de imaginação para se dourar essa pílula.
A Companhia Zaffari ainda hoje tem a venda em todas caixas de seus supermercados aquele CD com título homônimo da canção do nosso prefeito, puxando o desfile de belíssimas músicas de compositores locais, exaltando as belezas de Porto Alegre. Também o pesquisador Henrique Mann já nos legou o seu projeto do CD Porto Alegre Boêmia - Um Século de Canções, em dois volumes, amostragem que bem representa o meio musical bastante inspirado da noite porto-alegrense.
Até parece que nos pretendem impingir uma canção-símbolo para a Capital sul-riograndense, quando na realidade existem várias melodias em condições que nada ficam devendo umas às outras. Até pouco tempo atrás, existia entre nós um consenso de opiniões apontando Alto da Bronze (Paulo Coelho e Plauto Azambuja), Porto dos Casais (Jayme Lubianca) e Rua da Praia (Alberto do Canto) como as músicas mais representativas do nosso cancioneiro.
Que se faça, pois, um passeio através da nossa geografia musical mostrando em vídeo atrações turísticas que vem sendo desvendadas com as composições de vários de nossos autores.
Para visualisar em tamanho maior, clicar na ilustração.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

10 de novembro de 1922

Jessé Silva (violonista/compositor), Waldir Justi (poeta/compositor), Orlando Johnson Silva (composi/cantor), Rubens Santos (composi/cantor), Lucival Rabello (intelectual), Jayme Lewgoy Lubianca (poeta/compositor), Joaquim Oliveira, o Quinzinho (poeta/compositor) e Dario Dallegrave (pandeirista) podem ser considerados os principais integrantes dessa tropa de elite da música popular do Rio Grande do Sul e ai estão reunidos numa das confrarias do restaurante do C.I.B. - Centro Ítalo Brasileiro - que se situava na rua João Telles, do bairro Bonfim.
De cada um deles e de outros tantos, ainda guardo as melhores recordações do tempo em que costumava frequentar aquela tradicional casa de encontro da boêmia porto-alegrense.
Tomara que eu consiga estender-me sobre cada um dos mesmos, salientando a sua importância no cenário artístico da nossa capital.
Mas hoje devo deter-me nessa legenda que inscreveu o antigo nome de Porto Alegre na geografia musical do Brasil.
Eí-lo por aí batalhando para poupar a sua rica existência na convalescença de inesperada moléstia que recentemente o manteve hospitalizado em período de observação.
Graças a Deus, nada de mais grave foi constatado em seu estado de saúde, além do físico debilitado pelos medicamentos ingeridos.
Conserva ainda aquele astral típico da sua personalidade, com a mente jóvem e sempre pronta a desfrutar as benesses que a vida lhe proporciona.
Tive oportunidade de ser orientado, através da sua experiência de pessoa aberta e bem relacionada em nosso meio cultural, no projeto Por Amor à Música, onde resgatamos composições de Alcides & Antoninho Gonçalves, Francisco Campos, Guilherme Braga, Jessé Silva, Jorge Machado e Paulo Sarmento Filho, relegadas ao ostracismo.
Inclusive, tive a honra de intimar-lhe para que fizesse de viva voz a sua interpretação da música de sua autoria, símbolo da nossa Capital - Porto dos Casais.
É sempre bom lembrar coisas passadas,
rever os lampiões, os ancestrais.
Singrando no Guaíba, apareceram
os velhos fundadores, coloniais.
Chegaram tão alegres, alegres por demais.
Fundaram esse porto dos casais,
é porto "Porto Alegre", antigo dos casais,
saudade dos tempos que não vem mais,
não vem mais... não vem mais... não vem mais...
Sou, pois, testemunha do seu carisma e influência como chave que abria todas as portas para termos as melhores condições de executar o nosso trabalho de captação fonográfica.
Jayme Lewgoy Lubianca atinge nesta data a invejável marca de 85 anos bem rodados e cuidadosamente dirigidos na estrada sinuosa do destino.
Parabens, ilustre confrade, e pronto restabelecimento para que possamos continuar usufruindo desses bons fluidos emanados com a tua eterna alegria de viver!

domingo, 4 de novembro de 2007

GREI MÍSTICA* comemora niver

****** UM GRUPO DE CONSELHEIROS GREMISTAS ******
(apenas o octagenário teve peito para vestir a camiseta - te cuida, Tcheco!) *** Para não dizerem que este não é um espaço democrático e para que não hajam dúvidas, o blogueiro esclarece que é colorado... de quatro costados! *** E estamos conversados.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Nossa Rosinha no Jô Soares: cadê?

Terça-feira passada, aqueles que compareceram ao Foyer Nobre do Theatro São Pedro para assistir a apresentação de Norma Duval ao ensejo do lançamento do primeiro disco em sua trepidante carreira artística, viveram uma noite inesquecível.
Espetáculo intimista, com a chegada do público bem antes de começar, notava-se a presença da cantora recebendo e saudando a todos seus amigos e admiradores com a sua notória simpatia.
Coube ao destacado instrumentista e ator de Tangos e Tragédias, Hique Gómez, a tarefa de proceder a abertura da cena, ocasião em que detalhou a importância que Norma Duval representou para a sua carreira desde a época em que iniciou a parceria de música ao vivo na Cantina D'Itália, a qual perdurou durante um bom tempo.
Gómez então declarou que, nessa época, conseguiu assimilar muito do seu gosto pela música popular graças a essa longa convivência melódica com La Duval.
E chamou Norminha Duval para o aplauso delirante da platéia, numa entrada triunfal antecipando todas as emoções que estavam reservadas aos presentes.
A cantora demonstrava de todas maneiras a sua imensa alegria de compartilhar com todos mais essa conquista pessoal - sorria, distribuia beijos, conversava com o auditório e interpretava nas cordas de seu querido violão a riqueza do seu repertório bem escolhido.
Até o mestre Glênio teve direito de ser saudado com o parabens pra você alusivo à recente passagem dos seus oitenta anos, entoada por um público vibrante e participativo.
Inclusive, Norminha chegou a cantar e tocar apenas uma vez, mostrando a versatilidade do seu talento.
Para finalizar, Hique Gómez subiu ao palco e reviveu com seu bandolim, em dupla com o violão mágico de La Duval, a época marcante da Cantina D'Itália, provocando a participação das palmas marcadas do auditório que também chegou a fazer coro na execução da imortal criação de Pixinguinha - Carinhoso - sob a batuta magistral do maestro Glênio Reis.
Aplaudidíssima de pé pelo público, Norminha emocionava-se com a repercussão do seu trabalho que a essa altura dos acontecimentos deve estar ocasionando uma dorzinha de cotovelo no impoluto Jô Soares...

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Antes tarde do que nunca

Conheci Norma Duval quando fui assistir apresentação de 3 Ases de Ouro e 3 Cadeiras Vazias, na Sala Radamés Gnatalli do Auditório Araújo Viana, que protagonizava juntamente com o meu velho amigo e seresteiro Ademar Sílvio e mais outro cantor e compositor, cujo nome não me ocorre no momento.
Tratava-se de projeto patrocinado pela Coordenação da Música da Secretaria Municipal de Cultura e levado à cena mensalmente, domingo pela manhã, destinando-se a revelar as composições próprias e inéditas de artistas pouco conhecidos do público em geral - o chapéu que lhes servia, colocavam na cabeça...
Posteriormente, procurei a Norminha no Café Majestic, da Casa de Cultura Mário Quintana, a fim de transmitir-lhe convite de Glênio Reis para se apresentar no seu programa Sem Fronteiras, da Rádio Gaúcha.
Foi então que tive oportunidade de travar conhecimento com a simpatia e fino trato dessa artista, a qual demonstrou todo o seu contentamento para rever o antigo colega dos tempos em que se iniciava nos programas de rádio locais.
Assim, ela chegou aos estúdios da Rádio Gaúcha, envolvendo o professor Glênio com a sua alegria contagiante em memorável encontro.
Depois, ainda fui honrado com seus gentís convites em várias de suas apresentações, tais como a vez em que participou de espetáculo, acompanhando o cantor Gerson de Souza, no programa Seresta na Casa, no mezanino da CCMQ e, inclusive, fiz-me presente em show no Solar dos Câmara, cuja participação ficou comprometida, estando impossibilitada de atuar com o braço engessado devido a acidente na véspera, mesmo assim não deixando de comparecer para apoiar seus colegas Hique Gómez e os componentes do conjunto Bem Brasil.
Amanhã, dia 30/10/2007, estamos combinados o professor Glênio e eu para assistirmos o lançamento do CD O Violão Brasileiro de Norminha Duval, às 20 horas, no Foyer Nobre do Theatro São Pedro (entrada franca), reforçando a turma do gargarejo que lá deve comparecer para abraçar e saudar mais esta conquista da nossa Rosinha de Valença dos Pampas.
O que descobrimos da Norma Cadaval, talento precoce apresentando-se menina ainda no Clube do Guri, de Ary Rego, na Rádio Farroupilha, com a orquestra do maestro Salvador Campanella, não está no gibi!
Contemplada com bolsa de estudos, aos 15 anos de idade, foi estudar violão clássico em Barcelona, na Espanha, onde adquiriu seu estilo flamenco de tocar.
Em sua trajetória artística, após seu retorno, contam-se passagens pelas principais emissoras de Porto Alegre na ocasião, logo depois seguindo para São Paulo, onde chegou a atuar nas TV Excelsior e Tupi, com participação no programa Concertos para a Juventude, com a orquestra do maestro Herlon Chaves, bem como do afamado Um Instante Maestro, com Flávio Cavalcanti.
Para cuidar de sua genitora adoentada, teve de voltar para Porto Alegre e enfrentar o mercado artístico restrito, chegando mesmo a fazer faxina (lavou as escadarias do Tribunal de Justiça), além de se formar em Arquitetura, executando alguns projetos, entre os quais a casa de veraneio de Leonel Brizola, em Tramandaí.
Ninguém poderia imaginar esse diamante que temos em mão, esquecido por aí numa das gavetas da nossa indiferença. Muito mais, teríamos a falar sobre a fera que se esconde naquele corpinho frágil que se vai dando bem com seu travesseiro.
Portanto, vamos deixar para aqueles interessados em conhecer melhor a vida atribulada dessa grande artista, a indicação para que acessem
Vale a pena - tem até vídeo - não deixem de ver.

sábado, 27 de outubro de 2007

Delírios oníricos


Ali estávamos, apenas tu e eu, quando inesperadamente no recinto foi introduzido
e colocado sobre pedestais um suntuoso esquife, logo depois os candelabros postavam-se de atalaia
e também duas poltronas com assento de palhinha que nos indicaram para sentar
e ficamos ali recebendo equivocadas condolências, enquanto uma névoa seca subia do chão ao teto
e aromáticas fragâncias impregnavam o ambiente, as pessoas chegando, demonstravam seu sentimento
e nós sempre impassíveis a representar os papéis que nos foram destinados: tu - o de prendada viúva
e eu, quem poderia conceber tão esdrúxula idéia? - o de primeiro pretendente!
Tendo em vista algumas mensagens que nos foram enviadas com críticas e apreciações sobre algumas postagens deste blog, solicitamos a todos aqueles que nos quiserem honrar com seus comentários para que o façam clicando no ícone abaixo disponível para esse fim.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

24 de outubro de 1927

Hoje o nosso patrono Glênio Reis completa 80 anos bem vividos, de vez que vem dando o melhor de si em prol da comunicação no Rio Grande do Sul.
Batalhador incansável, faça frio ou faça calor, ai está ele diante do microfone, dando forma ao seu programa Sem Fronteiras, da Rádio Gaúcha, nas noites de sábado.
Obstinado, teima em resistir aos rigores dos tempos modernos, resgatando os valores esquecidos e perdidos na poeira do ostracismo.
Ainda é o arauto a que acorrem as legiões de ouvintes renegados na programação da maioria das nossas emissoras que não percebem o clamor dessas massas quando buscam a sua identificação com os mais autênticos valores da nossa cultura musical.
E ele está ali lutando pelo seu espaço que se comprime, que se desloca, ao sabor dos interesses comerciais do momento.
Apelando à fidelidade dos seus ouvintes para que o acompanhem nessas jornadas imprevisíveis através dos horários que lhe são colocados à disposição.
A juventude, a fortaleza da sua mente, supera qualquer obstáculo, físico ou mental, no propósito de se fazer sempre presente à demanda de sua audiência.
Parabéns, ilustre patrono e patrimônio vivo de tantas gerações que testemunharam o exemplo inconteste da sua sabedoria e desprendimento.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

...e os fumantes falam que não têm pressa de morrer!

******** “O cigarro é uma maneira disfarçada de suspirar” - Mário Quintana (foto de Liane Neves).
Nos dias de hoje, fala-se muito do politicamente correto e notamos uma mudança de atitude no esforço de conscientização pública acerca dos malefícios do tabagismo.
Compare-se os atuais filmes no cinema e novelas de televisão, quanta diferença em relação ao que era apresentado antigamente.
Aquelas vamps glamourizadas de vestidos colantes, maquiagem retocada e a indefectível piteira entre os dedos realçados pelas unhas cuidadosamente pintadas, em colóquios sedutores com aqueles galãs, cabeleiras brilhosas, gravatinha borboleta, terno trespassado, acendendo cigarro com o isqueiro zip e a fumaça tornando mais noir esse clima ambiental.
Sinal dos tempos, aí está o patrulhamento ostensivo por toda parte, proibido fumar aqui, proibido fumar ali, até inventaram o fumódromo para evitar que não fumantes aspirem o ar viciado das salas comuns.
Agora mesmo tivemos a polêmica da fiscalização que tentou interditar o Bar Tuim, reduto tradicional de fumantes ali na ladeira da General Câmara, estabelecimento de uma porta só com espaço reduzido, justamente por não confinar a freguesia habitual.
Nas carteiras de cigarro, a advertência do Ministério da Saúde e ilustrações mostrando as conseqüências do abuso no tabagismo.
Enquanto isso – dois pesos, duas medidas – os nossos governantes são capazes de saudar até com banda de música quando as multinacionais fumageiras anunciam a ampliação da capacidade produtiva ou a instalação de novas unidades industriais.
Ai entra a ganância pela geração de mais impostos e empregos, sem levar em conta o custo-benefício do que isso representa em despesas de internação e tratamentos nos hospitais da rede pública para doentes afetados pelo vício, que ultrapassam quaisquer valores arrecadados.
E o contrabando de cigarros, para pior dos pecados cigarrillas brasileñas?
Acredito que exista uma evolução com essa mentalidade em tempos de politicamente correto, apesar de uma grande incoerência de princípios.

domingo, 21 de outubro de 2007

Os médicos dizem que o fumo é morte lenta...

Paulo Santana, fumante inveterado, em sua coluna da Zero Hora de 19/10/2007, transcreve crônica que o estudante de Jornalismo Lucas Barroso fez para um sítio da Unisinos, sobre a causa do falecimento do ator Paulo Autran, 85 anos, em decorrência de câncer e enfisema pulmonar.
Esse grande artista de nossos palcos ainda chegou a acender o derradeiro cigarrinho antes de falecer e deixou um apelo aos jovens, alertando sobre os danos desse vício que veio a lhe custar a própria vida.
Barroso ainda faz as suas estimativas sobre o efeito cumulativo do tabaco durante o período de 62 anos em que Autran fumou – quase uma tonelada (novecentos e poucos quilos) de erva queimada, 72 km de canudos enfileirados (distância de Porto Alegre a Taquara) e por ai vai em suas considerações.
Isto que o nosso saudoso Paulinho apenas fumava duas carteiras por dia, que me parece representar a média nacional nos dias de hoje. Vejam só: duas carteiras são 40 cigarros que, acredito sejam consumidos em 16 horas diárias, resultando em 2,5 unidades/hora ou um cigarro a cada 24 minutos.
Agora, o que não chegou a ser interpretado nesse último recado à mocidade, é que atualmente existe uma demanda crescente para o fumo e o álcool, afora aquelas drogas clandestinas, entre os adolescentes, os quais começam a se viciar em tenra idade.
Depois, quando se vêem forçados pela necessidade, já não conseguem dar um basta em tais abusos.
Lembro-me dos meus tempos de moleque, quando a gente entrava em qualquer bar e comprava o cigarro avulso para fumar escondido com a turma.
Ainda bem que não cheguei a cair no vício e logo deixei de entregar os meus trocados para esses comerciantes que não tinham o mínimo escrúpulo de vender o produto maldito para menores de idade.
Assim, faz sentido a mensagem que o nosso querido Paulo Autran transmitiu para os moços.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

*** O índio Pedro Caranguejo, que foi levado na lábia de um posseiro


O vento arrebenta no concreto das paredes.
Olhos repuxados, pele curtida, a cisma de Pedro Caranguejo.
Acaba de chegar com a mulher e os filhos no ônibus que veio de Nonoai.
Palhas trançadas, desenhos primitivos, os badulaques da viagem. Negócio para sobreviver.
Acocorado, junta e desmancha tocos de cigarro, a enrodilhar os restos de fumo em qualquer pedaço de papel.
Depois teima em acender o canudo de tabaco, pedindo fogo aos raros passantes.
As crianças amontoam-se tirando calor da mãe - uma tremedeira só - e disputam com a mercadoria o abrigo da lona remendada.
Pedro arrasta-se na plataforma, nevoeiro adentro, passa pela tabacaria, a lanchonete, a farmácia, que ainda resistem à espera de retardatários. Frente ao guichê, a vontade de voltar.
Para cortar lenha no mato, cuidar do roçado de milho e mandioca, pegar algum jundiá na beira do riacho.
Mais um dos evacuados da Reserva, as pernas frouxas o desiludem.
Floresta espremida em capões na planície verde, maquinário trucidando a terra.
A taturana imprevista, haja defensivo nela, água cada vez mais suja, ruim de se beber até com fervura, a recomendação da gente do Posto. Passos perdidos, vai levando.
A conversa do vereador, ele deu as passagens, promessas de uma vida melhor para sua família.
Artesanato indígena no calçadão da Rua da Praia, garantia, dava dinheiro às pampas.
Encara o restaurante fechando, sobras de churrasco numa bandeja de plástico.
Pedro Caranguejo aquece-se na crença do retorno.

O que essa gurizada medonha não anda aprontando

Estou recebendo hoje mensagem do nosso patrono Glênio Reis, que me convida para assistir o espetáculo de estréia da dupla de talentosos garotos Pedro Franco (bandolim), 16 anos, e Max dos Santos (violão 7 cordas), 17 anos, recentemente contratados pela Branco Produções.
Com a participação de outro jóvem, Sessé, na percussão, estes novos profissionais estarão se apresentando amanhã, dia 17/10/2007, às 21 horas, no Teatro São Pedro, desta Capital. Após, às 20h30min, dia 18 vindouro, será a vez dos pelotenses assistirem a mesma performance no Conservatório de Música da UFPES; dia 19, em Pedro Osório, no Clube Piratini e, no próximo dia 20, às 20h30min, repetem a dose no Teatro Municipal de Rio Grande.
O professor Glênio chama-nos a atenção pelo fato dessa gurizada estar começando aonde não chegou até hoje muita gente boa. De minha parte, já tenho assistido algumas palhinhas que eles andaram aprontando na noite porto-alegrense, tais como no Mercado Del Puerto e Clube do Chôro, e não vou perder mais essa oportunidade de conferir o virtuosismo dos gurís, que recomendo a todos aqueles apreciadores da nossa mais genuína música popular.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Um parceiro que não espera o santo baixar

Grande instrumentista, solista de cavaquinho, também compositor, o meu parceiro Admar Rodrigues teve o seu tempo consagrado na noite porto-alegrense. Conheci-o nas reuniões das segundas-feira no restaurante do Centro Italo Brasileiro, ponto de encontro dos músicos que folgavam nesse dia da semana e ali acorriam como única oportunidade de tocarem juntos, misturando estilos e tendências. O Alberto Garrido que passou pela antiga Rádio Difusora dessa nossa Capital, havia ganho o pomposo título de Diretor Artístico da casa e costumava fazer a apresentação dos cantores e músicos, dizendo que não se teria rendimento suficiente para pagar o cachê dos mesmos, face a alta concentração não só de novos talentos, como também de astros e estrelas do passado. Assim, costumavam apresentar-se ali nomes famosos como Guilherme Braga, Alcides Gonçalves, Paulinho Sarmento, Rubens Santos, Aroldo Dias, Jessé Silva, Paulo Santos, Jorge Machado, Orlando Johnson Silva, Zeno Azevedo, Waldyr Justi, Paulo Ercílio Barbosa, Jayme Lewgoy Lubianca e outros tantos.
Nosso convívio vem-se estreitando através de várias reuniões musicais, muitas delas provocadas pelo violonista Jorge Machado, além de encontros com o professor Floriano Rosalino, também violonista, e os cantores e compositores Guilherma Braga e João Ceará Campelo, no Café Marula. Pois o Ceará veio a ser o responsável pelo surgimento da nossa parceria, quando sugeriu-me que procurasse o Admarzinho para colocar música em algumas letras de minha autoria, uma delas - Menina Felicidade - chegou a participar de um dos Festivais de Música de Porto Alegre.
Gente, o Baixinho nunca espera o santo baixar e vai traçando o que lhe vem pela frente, uma pena que não lhes possa mostrar a melodia que fez para Um Rosto na Multidão.
Para mim / você sempre vai ser / um rosto na multidão, / pura ilusão, / que de repente pode aparecer.
Numa busca desesperada, / devo confundir pessoas e lugares, / em tantos olhares, posso distinguir / a realidade disfarçada / das minhas miragens.
Quando você andar / através de outras paragens, / os seus passos também / estarei imaginando / como se caminhassem / me procurando.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Quando passou por mim a História encilhada

O povo gaúcho saiu às ruas empunhando faixas e repetiu num coro monumental o nome de Jango Goulart.****************** Jango chegou com um sorriso irradiando otimismo.********** *********** Em Montevidéu os primeiros abraços dos amigos.
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Enquanto o vice-presidente João Goulart visitava a China, a convite do governo desse país, em Brasília, a 25/08/1961, Jânio Quadros renunciava a Presidência da República. Na época, de modo sarcástico, o povo brasileiro tinha inventado a chapa híbrida Jan-Jan, como querendo provocar a anarquia generalizada. Não deu outra. O imprevisível homem da vassoura, numa daquelas suas crises existenciais, ficou a ver fantasmas por toda parte, assustando-se com o peso da responsabilidade que lhe fora delegada através de maciça votação, e deixou a nação entregue a sanha dos aproveitadores do momento. A confusão tomou corpo com a resistência dos militares à posse de Jango na mais alta investidura republicana, impedindo até o regresso à sua pátria. Graças ao movimento da Legalidade, liderado pelo governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, seu cunhado, foi possível a sua entrada no Brasil, via Montevidéu, chegando em Porto Alegre no dia 5 de setembro de 1961.
Na ocasião, eu cursava o 1º. ano de Engenharia da UFRGS, ficando alguns dias com as aulas suspensas, enquanto a balbúrdia corria solta em Porto Alegre e os boatos fervilhavam por todos os cantos. Pairava no ar a ameaça de bombardeio ao Palácio Piratini. O governador Brizola já tinha se entrincheirado - até instalara bateria anti-aérea na cobertura - e distribuia armas para a população resistir aos ataques malogrados, além de improvisar nos porões palacianos o estúdio confiscado da Rádio Guaíba para as retransmissões da Rede da Legalidade.
Foi um tempo de come-bebe-dorme na Pensão Familiar Ludwig, onde eu morava, localizada na rua Andrade Neves, nas proximidades do famoso mata-borrão, construção de madeira da antiga Caixa Econômica Estadual, ali na esquina com a avenida Borges de Medeiros, a qual vinha sendo utilizada como centro de alistamento de voluntários da Campanha da Legalidade. Então, uma amiga pediu-me para acompanhá-la naquele local, onde pretendia inscrever-se no corpo de enfermagem. Assim que ela concretizou o seu intento, sugeriu que eu também me alistasse; desconversei, disse que tinha muita gente, eu passava depois, terminei tirando o corpo fora. Quando saimos dali, ficamos apreciando os exercícios de órdem unida que um sargentão reformado passava para um grupo de recrutas - no meu pelotão, eu não vou admitir nenhum covarde e ai daquele que der no pé, vai ter que se haver comigo! - gritava em altos brados para conseguir ser ouvido, sobrepondo-se ao som estridente do alto-falante ali instalado que arremetia com o Hino Riograndense. Bancos fechados, peladura geral, o nosso lazer consistia em subir a ladeira da General Câmara, em direção à Praça da Matriz e se misturar com o povão que desafiava as bombas prometidas.