sábado, 29 de novembro de 2008

>>>>>>>> A Roleta dos Autógrafos na Feira do Livro de Porto Alegre (*)

(*) Artigo publicado no Jornal Escola
IIIª Lâmina,
de Carazinho e Passo Fundo
(Ano 01
- Número 04 -
Dezembro de 1997).
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Como disse o Laury Maciel, pena que venha a ressaca do fim e que dure um longo ano. Assim, terminou mais uma Feira do Livro, a 43ª, da Praça da Alfândega, em Porto Alegre. Foram dezessete dias de uma festa só, uma quermesse cultural coroada por um fim de semans com sol primaveril, como compensação às diabruras do Menino lá do Pacífico.
E mais um patrono juntou-se à galeria dos notáveis, tais como Moacyr Scliar, Maria Dinorah, Luiz Fernando Veríssimo e Lya Luft, os quais ainda continuam bem lépidos e no ápice de suas produções literárias. Ficou a pontinha de saudade, o gostinho de ser majestade num curto espaço de tempo. Este ano, a Câmara Riograndense do Livro parece que resolveu botar na chuva um cidadão que, em épocas anteriores, costumava circular na Feira timidamente disfarçado para evitar o assédio dos admiradores. Pois é, Luiz Antonio de Assis Brasil teve que mostrar a cara e o fez de maneira desenvolta e cortês, como legítimo representante da refinada confraria de nossos escritores.
Nas sessões de autógrafos, fizeram-se presentes algumas centenas de autores, tentando não só expandir suas inquietações literárias como também obter o reconhecimento da crítica e da mídia nem sempre generosas, já que ignoraram 2/3 desses lançamentos, conforme se pode constatar através das coberturas jornalísticas do evento. Mais impiedosa ainda a repercussão entre o público leitor, peneirando aqueles que se fizeram merecedores de sua preferência: Concerto Campestre e Breviário das Terras do Brasil (L.A.Assis Brasil), Os Cadernos de Dom Rigoberto (Vargas Llosa), Freak Brothers (Gilbert Shelton), Topless (Marta Medeiros), E Nas Coxilhas Não Vai Nada (J.Zanota Vieira), Aline e Seus Dois Namorados (Adão Iturrusgai), O Manual do Guerreiro da Luz (Paulo Coelho), A Lei do Amor (Laura Esquivel), em ficção; A Cabeça de Gumercindo Saraiva (Tabajara Ruas e Elmar Bones), A Rua da Prais Foi Assim (Hélio Ricardo Alves), Porto Alegre: 48 Horas Sob Terror (J.R.Rosito e Diego Casagrande), O Caminho de Santiago (Sergio Reis), em não ficção. Conclui-se que daqueles 1/3 diferenciados, sobraram aproximadamente 4% (quatro por cento) felizardos ganhadores nessa roleta de autógrafos.
Entre muitas novidades, salientaram-se Inteligência Emocional e Memórias de Ernesto Geisel. Ainda figuraram com boa vendagem algumas promoções para reduzir estoque (O Mundo de Sofia, A Era dos Extremos, Verdade Tropical e Chatô, O Rei do Brasil). O desempenho da L&PM foi, disparado, o melhor entre as editoras, emplacando quinze títulos, cinco dos quais em livros de bolso.
A promoção da Xerox do Brasil deixou a desejar, distribuindo gratuitamente cento e cinquenta exemplares aos primeiros da fila, nas sessões de autógrafos do Autor do Dia, no Clube do Comércio - um tremendo constrangimento para os escritores que tiveram de dar explicações àquelas pessoas frustradas em seu objetivo de conseguir a obra ofertada. A multinacional valeu-se da parceria com a Câmara Riograndense do Livro e com a Secretaria Municipal de Cultura para demonstração da nova impressora digital, tecnologicamente mais avançada, que viabiliza menores tiragens - não precisava exagerar em número de exemplares tão reduzido.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

CROMOSSOMOS

Livre arbítrio ou prisão / Genealogia de exclusão /
Tanta coisa já contida / e o exemplo ao longo da vida /
Espécie de bagagem / Um dia sempre pesa na viagem /
(Pitty: Malditos Cromossomos).
********************************************** Papeleiro tem família? Pense num deles morando debaixo da ponte com uma mulher eventual, talvez ganha na troca por um trago de cachaça. Mau negócio, logo deve passar adiante. Assim, deixará de disputar no tapa a coxa de galinha rejeitada no lixo do restaurante. Calor humano tanto faz, afinal a cachorrada está ali para isso mesmo. Mais tranquilidade no prazer solitário. **************************************************** Vê se me garante esse resultado. Três a três me interessa e muito. Assim livro a minha equipe do rebaixamento para a Terceira Divisão. Apesar de toda aquela bebedeira de ontém à noite, ainda fui te buscar lá na zona. Eu compreendo: pai para o filho daquela empregadinha que diz ser teu, tem por aí aos montes. Penalti? Tudo contigo. Goool... Frangueiro, corno, bem mereces sustentar a cria dos outros!
**************************************************** O macho pronto para colocar o instinto em dia. Pega de surpresa, negaceia. Bofetadas estalando na noite escura. Local ermo. Possuída contra vontade. Sem apelação. Dias e mais dias escondendo a entrega humilhante. Enjôos, desejos inesperados. Ventre tomando forma. O emprego ameaçado. A insensibilidade da patroa. Aborto? Filho perdido, remorso, nem pensar. Mil vezes parir o fruto daquele ódio. **************************************************** Todos o conheciam no Mercado Público. Músculos salientes, roupas grossas e encardidas, o colete inseparável. Ganhava dinheiro por todos os poros e perdia boa parte no jogo de dados escondido no depósito das frutas. Festejado pelos amigos bebendo às suas custas, não se continha nas fanfarronices com mulheres. Apenas se punha possesso quando falavam da mulata lavadeira, sua perdição. **************************************************** Todo o dia a gente se vira no tanque, entrega roupa lavada na cidade e o dinheiro cada vez mais curto. Tinha tanta esperança no salafrário daquele português, que ele me tirasse do barraco, enfim me desse uma casa decente. Se já é um caro custo arrancar algum para o sustento do menino, imagina se ele ia ter miolo para dar jeito nesta miséria. Desabusado, nem se importa com o moleque vadiando por aí. **************************************************** O sol se pondo, ele voltava da roça. A mulher vinha ao seu encontro dizer que um casal estivera no povoado procurando uma moça para trabalhar na cidade. Sua filha? Jamais.
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Conhecia bem o marido. Cabeça dura, manobrava-o a seu gosto. Convenceu-o falando da ajuda vindo de fora. O futuro da menina? Não se preocupasse, gente fina tinham garantido.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

DISCONTUS : XVII, XVIII, XIX & XX

*************************************************DISCONTUS XVII Setenta por cento: a probabilidade. Os outros trinta, o médico não garante. A estatística pende para o lado certo, acredito, levo fé. Encho-me de esperança, flutuo na minha paz. ************************************************DISCONTUS XVIII Cada vez que passava na plantação, aquela melancia piscava-lhe o olho, provocante... **************************************************DISCONTUS XIX Vê se pode: a gente curtir transa mais legal mais adoidada do que essa aí da magrinha - haja saco - a morar no papo aqui do coroa! ***************************************************DISCONTUS XX Quando descia na sua parada, o menino tomou a iniciativa de apresentá-la ao amigo motorista do ônibus: - Esta é a minha mãe!