terça-feira, 30 de setembro de 2014

PARA QUEM É PARTE DESTA MINHA HISTÓRIA



O Varal do Brasil tem a honra e a alegria de anunciar os vencedores e as menções honrosas do II Prêmio Varal do Brasil de Literatura (edição 2014).

Nossa comissão julgadora foi formada por: Clevane Pessoa de Araújo Lopes, Luiz Carlos Amorim, Maria de Fátima Barreto Michels, Sabrina Bulos e Valdeck Almeida de Jesus.

Os vencedores!
Primeiro lugar em:

- CONTO:  Título, por Rui Pedro Pinheiro
- INFANTIL: Tavito, um Sapinho Diferente, por Flávia Assaife
- POEMA: De vida, mágica e mistério, por Gaiô
- CRÔNICA: O velho Chateau daqueles rapazes de antigamente, por José Alberto de Souza

Menções honrosas: (sem ordem de classificação ou categoria)

- No Face, por Ana Polessi
- Fatalidade, por Rossana Aicardi Caprio
- Preta, por Maria Luiza Vargas Ramos
- A aura do Varal, por Gladis Deble
- Salão de Beleza, por Magda Resende
- Será que pode?, por Joana Puglia
- Rato Zé, por Edna Barbosa de Souza
- O dia em que perdi perdão a Leonardo da Vinci, por Isis Berlinck Renault
- Aribelo, por Anette Apec Barbosa
- Cinema, por Marco Miranda
- A Mulher no espelho, por Tulia Lopes
- Harmonia, por Sonia Cintra
- Auréolas, por Sandra Berg
- O encontro dos rios, por Isis Dias Vieira
- Louvor à Mulher, por Isis Dias Vieira
- Meia mulher, por Geni Pires de Camargo
- A dançarina, por Julia Rego
- Cinema, por Marco Miranda
- Não me abandone ela, por Igor Christiano Buys
- Amor Real, por Vera Salbego
- Dentro da gente, por Nelci Back Oliveira
- O Beija-Flor e o Violinista, por Juliano Sotti
- As Máscaras da Dor, por Vicência Jaguaribe
- A Phil Spector, por Sandra Nascimento
- Violão Amante, por Aglae Torres

O Varal do Brasil agradece profundamente a todos os participantes pela valiosa participação de cada um. Os textos enviados estão todos de parabéns pela qualidade e criatividade!

Transcrito: http://varaldobrasil.blogspot.com.br/2014/09/resultados-do-ii-premio-varal-do-brasil.html

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

O PRELÚDIO PARA AQUELA ALMA ILUMINADA


Na baixada daquela rua, cheia de buracos e cascalhos, fazendo esquina com o caminho que vinha do Asilo, situava-se um pequeno sobrado. A umidade constante do local, encravado naquele canto por uma sanga rodeada de taquarais correndo pela divisa do terreno, retocava de um rosa esmaecido a sua pintura mais que descascada. A fachada principal se recuava dando espaço para um roseiral a separá-la da mureta com o portão de madeira em frente ao íngreme barranco, no cimo do qual se avistava hospital e capela da Santa Casa. Na lateral, possuía ainda um avanço de um só piso e pé-direito de pouca altura e uma pequena porta a entestar com a Rua da Baixada. Por ali se entrava no humilde estabelecimento daquele sapateiro que se fizera respeitar pela clientela das redondezas com a qualidade dos seus serviços.
Lá dentro, Alemão, como era conhecido no lugar, mantinha-se ligado ao movimento da rua, enquanto amaciava alguma sola de couro batendo diligente com o martelo num dos suportes do tripé acomodado entre os joelhos dobrados e cobertos pelo avental ensebado, a se equilibrar sentado numa rústica banqueta. Dali ele enxergava, no sol a sol das suas lides, o monótono cortejo das mesmas caras que se repetiam a cada dia, nas rotineiras passagens das idas e vindas dos locais de trabalho. Sentidos aguçados, tanto podia reconhecer o passo marcial do sargentão se dirigindo apressado ao Quartel como o perfume adocicado das prostitutas, perambulando ali perto, a catar os últimos raios solares para se arejarem um pouco do mofo da Pensão.
 - Seu Alemão! Seu Ale... mão... – o guri entrou na sapataria tropeçando desavisado no falso degrau, pois não atinara em desacelerar a corrida desabalada em que vinha rua abaixo, quase expelindo os bofes boca a fora, resultado do atropelo da fala com a respiração.
- Te acalma, moleque! Afinal por que toda essa correria? – parecia que Alemão, a entrada imprevista, fora pego de surpresa.
- Foi a filha do Maestro, seu Alemão... Ela me pediu para lhe chamar o mais rápido possível. E que é para o senhor levar o instrumento... Entendeu? – o guri deu o recado e se mandou porta afora sem dar mais explicações, tão estabanado como entrara.
A situação inusitada, logo foi se desvencilhando do avental que lhe protegia a roupa do uso diário, ao mesmo tempo em que gritava para a mulher lá na cozinha preparando o almoço:
- Me alcança o “cachimbo”... Vamos, rápido, que eu estou precisando ir à casa do Maestro!
Não precisou falar a segunda vez, em seguida a esposa já lhe trazia o seu carinhoso “cachimbo”, um inestimável sax-tenor. Apanhou-o já dentro do estojo e saiu apurado para a rua, sem dar ouvidos à mulher sugerindo que levasse algum casaco ou qualquer outro abrigo para se proteger da garoa fina que caía lá fora.
Enquanto subia a Rua da Baixada a passos resolutos, começou a lembrar como o Maestro se apegara a ele a ponto de o considerar um discípulo predileto. O Maestro apreciava a obstinação com que ele se dedicava a ensaiar, tentando aperfeiçoar a sua maneira de tocar o instrumento que lhe havia sugerido aprender. Os outros componentes da Banda até que tinham mais facilidade em assimilar de pronto as instruções do Maestro, porém, a tranquilidade com que se detinha numa constante busca de perfeccionismo na execução musical era motivo daquela admiração. Se bem que custasse mais a fixar as notas de uma partitura, tornava-se impecável após dominá-las por completo.
Lépido, duas quadras acima, já dobrava à direita quando se deu conta de que desconhecia a razão do chamado do Maestro. Apenas sabia que este se encontrava adoentado há alguns dias, recente ainda era sua última visita. E lhe chegavam as notícias dizendo que o Maestro passava bem, em franca recuperação. Mas que diabo ser chamado àquela hora da manhã sem mais delongas. A dúvida se instalava em seu pensamento: e se fosse coisa grave? Ah, se fosse, deveriam ter chamado o médico e não ele! Não, não pode ser.
Ai sua atenção se voltou para o outro lado da rua, um casarão de linhas clássicas, aqueles janelões antigos, sitos dois a dois de cada lado da enorme porta de carvalho, entalhes em relevo que combinavam com a eclética fachada, na qual ainda se viam as discretas aberturas destinadas a ventilar o amplo porão abaixo do pavimento principal. À entrada entreaberta, já o aguardava a filha do Maestro, logo veio a seu encontro assim que o avistou.
- Que bom, Alemão, que vieste em seguida. Papai está lá dentro, ansioso por te falar alguma coisa, insistiu muito para que te chamasse. - Ele nem conseguiu dizer qualquer palavra, apenas se limitou a ser conduzido pela jovem senhora, subindo os cinco degraus do hall de entrada, passando da sala de visitas ao aposento em que se encontrava recolhido o Maestro.
O ambiente refletia uma tranquilidade aparente através da relativa imensidão daquele espaço onde se alternavam harmoniosas as tonalidades claras e escuras das paredes e dos móveis do austero dormitório. Numa cama de casal, obra artesanal de madeira maciça, enfiava-se na cabeceira a tela do mosquiteiro pendente do teto. Ali estava o Maestro, cabeça recostada num amontoado de travesseiros e os braços soltos sobre lençóis e cobertas limpas e arrumadas. Os olhos dele ganharam novo brilho com a chegada do bom amigo e um sorriso feliz se estampou naquela face desgastada pelo tempo.
- Aqui estou, Maestro, pronto para lhe atender... – nem concluiu a frase, pois reparava o enfermo fazendo sinal com a mão para que se aproximasse mais como se quisesse comunicar algo. E ele não hesitou em chegar até a beira do leito a fim de escutar melhor aquela voz sussurrante.
- Te lembras, meu filho, daquela Ave Maria que te ensinei para tocares junto com o Coro da Igreja? Pois bem, eu gostaria que a executasses agora no teu virtuoso sax.
Alemão nem titubeou, retirou o “cachimbo” do estojo e destampou o bocal, aproximando-o dos lábios já prontos para aquela interpretação. De leve, os dedos ainda estavam engraxados e as unhas encardidas pelo serviço interrompido em questão de instantes. Sentiu-se embaraçado com a grotesca aparência, mas mesmo assim procurou esquecer, soltando o ar que percorria aquele labirinto de carnes e metais, lá do fundo das suas entranhas para se lançar na graciosa revoada do som, lá do âmago da sua sensibilidade a se espalhar livre pela atmosfera.
Entrementes, o Maestro se enlevava numa sensação de paz e conforto aliviando o corpo combalido. Fechava os olhos e ficava assistindo à retrospectiva da sua vida. O lugarejo onde nascera, encravado nas montanhas da longínqua Veneto. As horas em que se detinha sentado na cerca de pedras, pastoreando as ovelhas no vale acidentado, onde a campina surgia do solo rochoso. A sinfonia da natureza, o vento soprando nas grotas e a água do riacho correndo entre os cascalhos do seu leito. A longa caminhada de todos os dias em gélidos amanheceres rumo à Escola. O pífaro jogando melodias na estrada de chão batido, conforme a imaginação criava. O sonho de chegar ao Liceu de Música e se tornar regente de uma grande orquestra. De um dia se apresentar no Scala de Milan. O grande conflito mundial, países arrasados, populações inteiras na busca de um destino mais alentador. A chegada ao Brasil, uma aventura que modificou todos os hábitos da sua existência. A retomada de antigos anseios dos quais jamais abdicou. Sempre investindo em sua verdadeira vocação, o remanescente que fora realizado compensava amplamente o empenho nessa árdua batalha. No final, a balança pendia a seu favor.

No ambiente, pairava o sobre-humano esforço do saxofonista para não interromper a execução daquela peça instrumental.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

* TREZE * OITO * DOIS * ZERO * ZERO * QUATRO


Sexta feira, treze de agosto
Deste ano de dois mil e quatro,
Não vai ser dia de desgosto
Aqui neste nosso teatro.
Dim-dim... Dim-dim...
Saravá, Pai Joaquim!
Um banho de ervas vamos tomar,
Se benzer com galho de arruda.
Para este nosso corpo fechar,
Queremos pedir tua ajuda.
Dim-dim... Dim-dim...
Saravá, Pai Joaquim!
Muita cachaça com pipoca
Para nosso santo saborear
E também a galinha choca
Na encruzilhada vamos deixar.
Dim-dim... Dim-dim...
Saravá, Pai Joaquim!
Ele vai nos dar bastante sorte
Para o resto da nossa vida.
Como nosso santo forte,
Responderá a nossa batida,
Dim-dim... Dim-dim... 
Saravá, Pai Joaquim!

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

PARA SER APRECIADA: "PAISAGEM INTERIOR"

Recebo da promotora do evento, Regina d’Azevedo, solicitação para agendar show de lançamento do CD “Paisagem Interior”, no qual Marco Aurélio Vasconcellos interpreta composições de nossos conterrâneos Paulo Timm, Martim Cesar e Alessandro Gonçalves, além de sessão de autógrafos de “Sobre Amores e Outras Utopias”, último livro de Martim Cesar.
 A quem interessar possa:
Quando: 12 de setembro (sexta-feira), às 20 horas.
Onde: Livraria Cultura, Bourbon Country/Porto Alegre.

Em Julho de 2010, tive oportunidade de assistir a apresentação de “Da Mesma Raiz”, disco anterior do mesmo grupo no Teatro Bruno Kiefer, da Casa de Cultura Mário Quintana, aqui em Porto Alegre. A casa totalmente lotada e eu tive a grande frustração de ser o único jaguarense ali presente, apesar de amplo anúncio na época entre os conterrâneos da Capital. Confesso que a minha cara caiu no chão e, daí em diante, desisti de me fazer agregador. O fato é que Marco Aurélio Vasconcellos é um artista consagrado, de grande carisma e público fiel que sempre atende sua chamada.
Agora mesmo estive dando uma olhada em seu primoroso site , que mostra todos os detalhes de sua carreira artística, quase impossível de sintetizar em poucas linhas e que muitos “medalhões” devem invejar. E, no entanto quem priva da amizade e do convívio desse notável cantor, músico e compositor sabe muito bem que se trata de uma personalidade extremamente simples e cativante, jamais afetada por qualquer estrelismo. De comportamento afável, deixa muito à vontade quem dele se aproxima.
Posso dizer que fui apresentado espiritualmente a Marco Aurélio através de uma composição de sua autoria “Conselhos”, mostrada pelo reitor do IPA, Prof. Oscar Machado Filho, em sua residência, por se considerar sua origem como filho de peão. Vim a tomar conhecimento de sua pessoa como colega da Oficina Literária do escritor Laury Maciel, escamoteando sua condição de sumidade do nativismo gauchesco. Sou testemunha de seu relacionamento franco e cordial com todos os companheiros de aprendizado na arte do bem escrever. E depois tinha aquelas caronas, quase um “city-tour”, para prolongar o papo com este filho daquela terra que tanto admira e gosta.
Por isso não me canso de celebrar o caráter desse tremendo boa gente que é meu apreciado amigo Marquinho pelo muito que aprendi com sua sabedoria inata, mais ainda não se fazendo de rogado para me brindar com um generoso prefácio, expondo seu julgamento em meu modesto trabalho “O Velho Chateau Daqueles Rapazes de Antigamente”, que lhe custou uma visita minha a seu Haras, em Eldorado do Sul, onde cria aqueles garbosos cavalos da raça Morgan que me encantaram, assim como aquele saboroso salmão por ele preparado com toda maestria e que ainda aguardo repetição...

SOLIDÃO NO PAMPA (Marco Aurélio Farias de Vasconcellos)
O céu, até bem pouco antes azul, num repente se povoou de nuvens negras, ameaçadoras. Ventos sibilantes surgidos dos confins passaram a açoitar a planície crestada do pampa, levantando em redemoinhos poeira dos corredores e trilhas. Na tapera próxima, um umbu majestoso se encolheu todo como que procurando se abrigar do vento arrasador, até que um grande galho da velha árvore estalou e se soltou do tronco com um ruído seco.
Em seguida, a chuva começou a desabar em grossos pingos, impregnando o ar com o cheiro característico da terra úmida. Já não mais se ouviam os trinados da passarada e o mugir do gado disperso. Somente emolduravam a acústica daquele ambiente desolado o sibilar do vento, o farfalhar das folhas nos capões de mato e o ribombar dos trovões.
A planície estava deserta. O gado desaparecera. Talvez tivesse procurado abrigo no mato denso que margeia o rio lá embaixo.
Subitamente, o grito de um quero-quero ecoou estridente. Viria alguém?
Logo a estampa negra de um cavaleiro solitário apontou numa curva do caminho. A grande capa escura do gaúcho envolvia seu corpo e a anca do alazão, enquanto o vento e a chuva vergastavam sem piedade o rosto acobreado do viandante que, no tranquito e indiferente a tudo, avançava pela trilha enlameada e tortuosa a se perder na vastidão da planície.
Dentro em pouco, apenas o vulto sombrio e quase indistinguível do cavaleiro, como que perdido naquele imenso quadro cinzento, via-se ao longe diminuindo, diminuindo...
O que pensaria ele na sua solidão?


segunda-feira, 1 de setembro de 2014

#TWITADAS# PARA AQUELE SAUDOSO AMIGO



(Produção de vídeo: Jorge Luiz Neves Passos)

Ele foi pro Porto dos Casais, foi rever os lampiões, aquelas coisas passadas de um tempo que deixou saudade e que se congelou na sua espera.



Ele foi singrando no Guaíba, conduzido pelos ancestrais que vieram tão alegres recebê-lo ali no parque da Redenção, onde ele sempre pairava.


Os velhos fundadores desse nosso Alegre Porto jamais deixaram  de ser gratos pelas lembranças dele, de vivas memórias e ainda tão iluminadas.

Vai pro porto antigo das eras coloniais a ajudar os que fizeram a América dos seus sonhos se tornar nesta realidade por demais esplendorosa.