quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Uma Legenda Viva do Futebol Gaúcho


Alcides Carlos de Moraes nasceu em Jaguarão, no dia 24 de maio de 1916. Começou jogando, aos 12 anos como “filhote”, de centro-avante no Esporte Clube Cruzeiro do Sul, de sua cidade natal. Em 1936, jogou no Clube Atlético Bancário, de Pelotas. No ano seguinte, estreava no Esporte Clube Pelotas, no qual foi campeão em 1939 (triunfo de 3x1 sobre o Brasil). Chegou a ser pretendido pelo Botafogo, do Rio de Janeiro, sem avançar nas negociações pela necessidade de abandonar o futebol devido a um emprego que lhe ofereceram de Fiel de Armazém, quando da inauguração do Porto de Pelotas em 1940. Como não emplacou nesse cargo, também perdeu aquela oportunidade de atuar no futebol carioca. 
Legenda viva do futebol gaúcho, entre 1940 e 1941, Alcides Moraes deixou marcante passagem como goleiro titular do selecionado do Rio Grande do Sul. Defesas arrojadas e incrível senso de colocação foram evidentes qualidades que levaram esse craque do interior a ser convocado para aquela seleção, onde pontificavam nomes como Tesourinha, Rui, Massinha, Foguinho, Carlitos, Noronha, Alvim, Dario, Vaz, Tavares e o treinador Telêmaco Frazão de Lima. “Quanto ao Massinha fomos moleque em Jaguarão” – assim ele se refere ao conterrâneo e acirrado rival em vários clássicos Bra-Pel. Também foi Diretor de Futebol do E. C. Pelotas em 1945, sagrando-se bicampeão citadino (na final com o Brasil, de virada por 2x1), campeão do interior e vice do Estado.
Era um excelente cobrador de faltas, numa época em que os arqueiros não se arriscavam muito fora da sua área. No dia 30 de março de 1941 realizava-se um Bra-Pel, válido pelo Torneio Início, que terminou empatado em 0x0, com a decisão indo para os pênaltis. Ramon, pelo Brasil, fez quatro golos e Alcides defendeu o quinto pênalti. Na sua vez, o Pelotas desperdiçou a primeira cobrança e então Alcides pediu para bater e marcou os outros quatro, empatando a série que na época não era alternada como agora. Na decisão de três pênaltis para cada lado, mais uma vez esbanjando categoria, esse nosso conterrâneo não perdoou com três acertos e ainda defendeu os dois pênaltis do Brasil, garantindo para o Pelotas o título daquele Torneio. Alcides Moraes certamente deveria ser o Rogério Ceni daqueles tempos.
Encerrou a carreira esportiva em abril de 1942 para assumir suas funções na Secretaria da Fazenda do Rio Grande do Sul. Transferido para São Luiz Gonzaga em 1943, chegou a jogar de atacante no Ipiranga, daquela cidade. Como passatempo, dedicou-se aos campos de golfe e ao tênis. Casou-se, em Pelotas no dia 23 de junho de 1944, com Dª. Alda Oliveira de Moraes (de quem enviuvou em 2008),  tendo dois filhos desse matrimônio, Luiz Fernando e José Carlos, o primeiro deles advogado e aposentado como procurador do Ministério da Fazenda, e o segundo médico e professor titular de patologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Este, com 25 anos em 03/12/1972, foi vítima de um assalto que o deixou paraplégico, quando fazia residência médica na capital fluminense. Com licença especial, o casal foi ao Rio para acompanhar a reabilitação desse filho e como esta demorasse, Alcides teve de voltar para reassumir o cargo no Estado.
José Carlos Oliveira de Moraes ainda é jogador de basquete em cadeira de rodas, tendo participado das paraolimpíadas de 1986, em Atlanta nos Estados Unidos, e com Celso Lima, introduziu o tênis para cadeirantes no Brasil, em que se disputa anualmente um torneio de caráter nacional. E Alcides, aposentando-se em junho de 1976, retornou definitivamente ao Rio de Janeiro, onde se mantém exilado do nosso frio, apenas vindo a Pelotas na temporada de veraneio, sempre marcando religiosamente seu ponto no tradicional Café Aquarius. Cativando a todos com seu carisma, sua simpatia e memória privilegiada.

domingo, 23 de setembro de 2012

M*e*r*g*u*l*h*o***p*r*i*m*a*v*e*r*i*l

Recebi da ilustre retratista Maria de Fátima Barreto Michels, de Laguna-SC, o belíssimo ensaio fotográfico acima intitulado, que reproduzo para justa e merecida divulgação.

A abelhinha chegando...
Sobrevoando...
Fez  pouso e...
Mergulhou...
...total.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O Campeonato Farroupilha de Futebol



Todos os dados aqui apresentados nos foram fornecidos, com espantosa riqueza de detalhes, pelo Sr. Douglas Marcelo Rambor, notável pesquisador do futebol sul-riograndense.

Comemorando o centenário da Revolução Farroupilha em 1935, a Federação Rio Grandense de Desportos (atual F.R.G.F.) resolveu denominar o certame gaúcho de futebol daquele ano como Campeonato Farroupilha.  Esta competição abrangeu 6 zonais, compreendendo 15 regiões, nas quais foram inscritas 34 agremiações representando 29 Ligas municipais. Teve início em 30 de junho, findando a 27 de outubro da referida temporada.

Zonal Centro

1ª. Região – representada pelo Campeão Metropolitano de Porto Alegre (Grêmio F.B.P.A.)
2ª. Região – participaram S.C. Juventude e G.S. Flamengo (Caxias do Sul) e F.B.C. Montenegro, saindo campeã a primeira das referidas agremiações.
3ª. Região – participaram S.C. Nacional e G.S. Leopoldense (São Leopoldo), S.C. Taquarense e G. Ferroviário (Taquara) e S.C. Brasil (Canoas), saindo campeão o primeiro dos referidos.
No confronto entre os vencedores da 2ª. e 3ª. Regiões, saiu vitorioso o S.C. Juventude (6x0), habilitando-se a enfrentar o Grêmio F.B.P.A. na final, sagrando-se este (6x2) Campeão desta Zonal.

Zonal Noroeste

4ª. Região – representada pelo Campeão Citadino de Novo Hamburgo (S.C. Novo Hamburgo)
5ª. Região – participaram F.B.C. Santa Cruz (Santa Cruz do Sul), Couto F.B.C. e América F.B.C. (Rio Pardo), sendo vencedora regional a primeira destas agremiações.
6ª. Região – participaram S.C. Brasil e S.C. Guarani (Minas de São Jerônimo) e C.S. Lajeadense (Lajeado), em que saiu o primeiro dos referidos como vencedor da região.
Os primeiro colocados da 5ª. e 6
ª Regiões disputaram entre si e o S.C. Brasil (3x1) teve a primazia para decidir com o S.C. Novo Hamburgo, pelo qual foi vencido (8x2) na final da Zonal.

Zonal Serra

7ª. Região – Disputaram Riograndense F.B.C. (Santa Maria) e Tamandaré A.C. (Cachoeira do Sul), saindo vencedor o primeiro.
8ª. Região – G. Riograndense F.B.C. (Cruz Alta), Riograndense F.B.C. (Passo Fundo), G.A. Glória (Carazinho) e 19 de Outubro (Ijuí), o primeiro dos quais vencedor dessa região.
Na final zonal entre os vencedores dessas regiões, sagrou-se Campeão da Serra o Riograndense F.B.C., de Santa Maria, que derrotou (6x2) o seu homônimo de Cruz Alta.

Zonal Sul

9ª. Região – Disputaram G.S. Duque de Caxias (Dom Pedrito) e G.S. Militar (São Gabriel), o primeiro somando mais pontos.
10ª Região – Também com dois participantes, Guarani F.B.C. (Bagé) e G.S. General Osório (Jaguarão), confronto decidido a favor do primeiro.
O Guarani F.B.C. obteve a conquista do certame desta Zonal (6x1) no embate entre vitoriosos regionais. 

Zonal Litoral

11ª. Região – Com dois participantes, G.A. 9º Regimento de Infantaria (Pelotas) e S.C. São Paulo (Rio Grande), vencida pelo primeiro. 
12ª. Região – representada pelo Campeão Citadino de Santa Vitória do Palmar (S.C. Rio Branco).
Na final zonal entre os representantes dessas regiões, vencendo seu oponente por 6 a 4, o G.A. 9ª Regimento de Infantaria trouxe para si a decisão dessa fase.

Zonal Fronteira

13ª. Região – decidida entre dois homônimos S.C. 14 de Julho (de Itaqui e São Borja) a favor do primeiro.
14ª. Região – representada pelo Campeão Citadino de Uruguaiana (Operário F.B.C.)
15ª Região – vencida pelo G.F.B. Santanense (Santana do Livramento) que derrotou (3x0) a equipe do Militar (Quarai).
Operário F.B.C. (14ª. Região) passou (4x0) por S.C. 14 de Julho (13ª. Região), porém, foi batido, pelo mesmo escore, diante do G.F.B. Santanense.

Em classificatórias à Fase Final, aconteceram os seguintes cotejos de campeões zonais:
Fronteira/Serra – G.F.B. Santanense 3 x Riograndense F.B.C. 1
Nordeste/Litoral – S.C. Novo Hamburgo 8 x Guarani F.B.C. 3

Classificados os representantes da Fronteira e do Nordeste, ocorreram as semi-finais:
Grêmio F.B.P.A. 6 x G.F.B. Santanense 0 e G.A. 9º Reg.de Infantaria 3 x S.C. Novo Hamburgo 2.

Prepararam-se assim os palcos para as grandes finais de Pelotas e Porto Alegre, vencidas respectivamente por Grêmio F.B.P.A. (1x3) e G.A. 9º R.I. (0x3), o que levou a mais um jogo para desempatar.

E às 16 horas do dia 27 de Outubro de 1935, as duas equipes voltaram a se defrontar na Chácara dos Eucaliptos, diante de um público de aproximadamente 15.000 pessoas, com a arbitragem do Sr. Manoel Silva, desta vez o placar acusando o triunfo da equipe de Pelotas por 2 tentos a 1, gols assinalados  Cardeal a 1’ e Cerrito aos 18’ e por Russinho (Grêmio) aos 35’ do primeiro tempo, alinhando as equipes da seguinte forma:
Grêmio Foot Ball Porto Alegrense: Chico, Dario e Gonzaga; Jorge, Mascarenhas e Sardinha II; Lacy (Artigas), Russinho, Veronese (Torelly), Foguinho e Divino

Grêmio Atlético 9º Regimento de Infantaria: Brandão, Jorge e Chico Fuleiro; Ruy (Folhinha), Itararé e Celistro; Birilão, Bichinho (Coruja), Cerrito, Cardeal e Gasolina. 





Assim o G.A. 9º Regimento de Infantaria, fundado em 26 de abril de 1926. veio a ser considerado “Campeão por 100 anos” e, em razão de decreto assinado pelo então presidente da República, Getúlio Vargas, em 1941, que proibia as unidades militares emprestar o seu nome a associações civis, surge o Grêmio Atlético Farroupilha, denominação adotada em referência ao principal título de sua história.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

> VOLTANDO AO TÚNEL DO TEMPO


Edição do Diário de Notícias, constante do acervo do Sr. Carlos Alberto Machado Neves, filho do craque cruzeirista Alberto Neves.

A alma entusiasta do elemento cruzeirista, comemorou no dia 27 de abril último, por entre manifestações de alegria o décimo ano de pugnas do Esporte Clube Cruzeiro que tantas e tão grandes glórias tem alcançado nas lutas futebolísticas, Esse acontecimento foi, sem dúvida, a prova mais eloqüente do quanto de simpatia souberam granjear todos os elementos que pertencem ao Cruzeiro, simpatia que se robustece cada vez mais, ante lauréis conquistados por ocasião de lutas memoráveis.
Desde a sua fundação até os nossos dias, o Cruzeiro, pelo esforço e dedicação dos seus componentes, tem sabido corresponder com alto grau de merecimento a simpatia que desfruta em nosso mundo desportivo, contando sempre com elevado número de torcedores, que não lhe regateiam aplausos nos lances empolgantes das partidas que emocionam.
Reputado como clube possuidor de homogêneo conjunto do desporte bretão, tem realizado partidas memoráveis com quadros da vizinha república e cidades limítrofes, cabendo-lhe todas as vezes a vitória consagradora como um prêmio ao estímulo e galhardia de cada um dos seus jogadores.
Fundado que foi no dia 27 de abril de 1924 á Rua Aquidabã pela boa vontade e esforço dos Srs. Cristovão Neves, João Correia da Silva, Pedro Correia da Silva, Dorval Knorr, Marçal Dias, Valter Jardim, Nésio Miranda, João Nunes Filho, Rubens Gerundo e Tomaz Miere, solidificou-se desde logo com a adesão de outras pessoas, marchando até agora de maneira modesta e brilhante, pela camaradagem desportiva que reina entre os velhos membros fundadores
Teve como iniciadores, formando a primeira diretoria, as seguintes pessoas: presidente, Lourival Tavares Leite; vice-presidente, Venceslau Garcia; 1º.secretário, Gabriel E. Correia; 2º. secretário, João Miranda; tesoureiro e capitão geral, Cristovão de Almeida Neves; capitão de quadro, Rubens Gerundo; orador, Luiz Dorval Lopes; guarda-desporte, Nepomuceno Larrosa. Conselho consultivo: presidente, Rosalino Lopes de Moura; relator, João Nunes Filho.
Presidindo a primeira diretoria provisória do Cruzeiro, deixou desde logo patenteado o seu grande interesse como responsável dos destinos do mesmo o incansável desportista Cristovão Almeida Neves, tendo mesmo depois de entregado a direção, se interessado e trabalhado com afinco destacado, merecendo-lhe agora a recompensa de ter sido aclamado sócio benemérito por grande número dos denodados cruzeiristas, que testemunharam assim um ato de inteira justiça aos seus serviços sempre empregados com interesse pelo bom nome do Cruzeiro.
Quando em 1927 inaugurou-se sob a responsabilidade do Sr. Claudino Neves, o seu campo de futebol, outro esforçado desportista da velha guarda do Cruzeiro, que tudo tem feito e se empenhado pelo brilho da existência de tão útil como simpática agremiação, ainda Cristovão Neves, secundando o seu parente e consócio não mediu sacrifícios, ora contribuindo com parcelas, ora trabalhando ele próprio com outros entusiastas elementos do alinhamento e marcação do campo.
Vem depois Lourival Tavares Leite, primeiro presidente eleito por grande maioria que, dirigindo de maneira admirável o futuro do Cruzeiro, demonstrou muito tino e capacidade no espinhoso cargo, procurando por todos os meios solucionar os problemas intrínsecos desde que os mesmos se movessem de acordo com a recomendação valorosa do clube da camisa tricolor. Merece portanto nossos aplausos o correto desportista que é, sem dúvida, Lourival Leite.
Seguindo os seus antecessores, não se tem descuido pelos destinos do glorioso Cruzeiro, Felipe Giozza, que há pouco deixou o cargo, entregando a Valter da Rocha Passos, conceituado cavalheiro e comerciante desta praça. Felipe Giozza foi incansável e um sincero amigo dos seus consócios.
Empregando como os demais o tempo em bem salvaguardar os interesses do clube, ele tem sido sempre o reparador para que nada falte de necessário nos dias de grande partida, tornando-a, por isso, esplendente a grandes elogios.
Haja vista quando foi da partida internacional realizada a 28 de outubro entre uruguaios da cidade de Vergara e o Cruzeiro, ficou maravilhosamente acertado um pacto admirável de camaradagem desportiva, graças ao empenho e boa vontade que empregou desde a recepção até o final das festas, das quais ficaram radiantemente demonstrada a educação e lealdade que possui Giozza.
Pelo Cruzeiro tem trabalhado um pugilo de homens dedicados, destacando-se tudo que diz respeito à glória da vida desportiva de Jaguarão: Luiz Dorval Lopes, orador; Rubens Gerundo, Tomaz Miere, Antônio Pinto Ribeiro, Alcides Moraes, Peri Moreira, Plínio Gomes, Julio Proença, Alcides Palma Pereira, irmãos Alcindo e João Amaro, José Pinto de Carvalho, Orestes Bezerra, Pedro Correia Silva e outros muitos que aparecem no plano onde figura a lista dos que se interessam do pujante e glorioso campeão. O primeiro desses foi agraciado com o título de sócio honorário, estimulando assim os grandes e inestimáveis serviços prestados àquele.

(Publicado no Diário de Notícias, em 24 de maio de 1934, cuja edição consta do acervo do Sr. Carlos Alberto Machado Neves, filho do saudoso craque cruzeirista Alberto Neves).