sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

UM ESCRITO DE CLÉO DOS SANTOS SEVERINO

C A N T A L Í C I O   R E S E M
(Retratado em 18/maio/1975, data comemorativa de seus 92 anos de idade).

Havia em Cantalício Resem o germe da cultura que se manifestou na atividade jornalística e na propagação de conhecimentos vários, através da Livraria “A Miscelânea”, que dirigiu por mais de 30 anos. E o mais curioso de tudo isso é que o nosso biografado nunca cursou uma escola. Aprendeu as primeiras letras por ensinamento de seu pai e foi através da leitura, de muita leitura, que sedimentou seus conhecimentos e estruturou sua cultura.
Venâncio Felix de Cantalício Vieira Resem nasceu na cidade de Jaguarão em 18 de maio de 1883. Era filho de Ângelo Resem e de Delfina Vieira Resem. Aqui viveu e labutou toda uma vida; 93 anos de profícua atividade em Jaguarão, digno exemplo de amor à terra e à sua gente. Já aos 16 anos, então na cidade de Melo, República Oriental do Uruguai, emprega-se em uma padaria. Bem cedo inicia a dura labuta pela vida. Com 16 anos era balconista da ferragem de Bernardino e Domingos Ribeiro (no local onde está hoje o Banrisul). Já maduro e experiente, estabeleceu-se, em 20 de julho de 1910, com a Livraria e Gráfica “A Miscelânea”, à Rua 27 de Janeiro, antes nº 39, agora nº 408, no edifício que hoje leva o seu nome, por uma deferência especial e justa do atual proprietário: Dr. Eduardo Alvares de S. Soares.
A Livraria “A Miscelânea” encerra todo um histórico de distribuição de cultura e saber. Foram ali vendidas as mais notáveis obras editadas no Brasil, desde as de cultura em geral às de ficção em todos os seus gêneros, bem como as didáticas empregadas em nossas escolas. Nela houve memoráveis reuniões informais, desde os intelectuais mais categorizados, as simples rodas de amigos do proprietário, simpático e atencioso. Na sua ampla sala, entre prateleiras de volumes os mais diversos, discutiram-se toda sorte de fatos, situações e problemas que agitavam o Brasil de então. Saudosos tempos aqueles em que se cogitava mais da cultura do que da economia.
Em 1911, casou-se com dona Rosa de Souza Resem, que veio a falecer sete anos depois, deixando-lhe uma filha: Nilza. Casou-se em segundas núpcias com dona Florisbela de Souza Resem (1920), com a qual teve dois filhos: Anysio e Lucy. Sua segunda esposa foi uma notável colaboradora, dirigindo por vários anos a Gráfica “A Miscelânea”, então a mais profícua e ativa da cidade; gerenciou também por nove anos o jornal “A Folha”, passando a direção do mesmo ao filho Anysio, em 1947.
Em 1926, Cantalício Resem passou a exercer o cargo de Juiz Distrital até 1938, quando foi aposentado pelo Artigo 177. A sua nobre figura, aliada ao simpático tratamento que dispensava a todos, faziam-no perfeitamente integrado à função que tão bem desempenhou. Bem caracterizava sua personalidade forte mas modesta a atitude que tomou quando foi convidado pelo Presidente do Tribunal de Justiça do Estado para exercer o cargo de Juiz Distrital, em Porto Alegre, pois era o primeiro da lista das 72 Comarcas do Estado. Agradeceu e rejeitou a deferência, informando que não era formado.
No campo jornalístico foi onde se revelou notadamente sua atividade cultural. Aos 18 anos idealizou e fundou um Jornal (o primeiro), todo ele escrito à mão, numa tiragem de 50 exemplares mensais. Realmente incrível. Foi por algum tempo redator de “A Ortiga”, jornal crítico, literário e noticioso, criado por Oscar de Oliveira, em 1903. Ainda nesse ano foi diretor e redator de “O Namoro”, hebdomadário literário e crítico.
Em 1910 foi redator do jornal “A União”, órgão da Sociedade União Caixeiral Jaguarense, pertencente ao Clube Caixeiral, sociedade recreativa da qual foi um dos fundadores, junto com Geraldo Piúma e outros. Foi um dos diretores de “A Situação”, jornal diário, órgão do Partido Republicano.
Em 1930, a Livraria “A Miscelânea”, então sob a direção de Florisbela S. Resem, fundou o jornal “O Comércio”, órgão de divulgação comercial que recebeu a ativa participação de Cantalício Resem.
Em quatro de dezembro de 1938, juntamente com Alfredo de M. Tinoco e Irany P. Ribeiro, fundou o jornal “A Folha”, que por 54 anos participa na construção e no progresso da Cidade Heroica.
Também na imprensa falada a contribuição de Cantalício Resem foi importante. Juntamente com um grupo decidido de pessoas, foi um dos fundadores da nossa Rádio Cultura.
No campo social e assistencial sua contribuição não foi menor. Com Dorval Santos e Francisco Nogueira Júnior, fundou o Colégio 20 de Setembro (1918), uma das primeiras escolas de alfabetização noturna para adultos no Brasil.
Foi por 33 anos secretário da Associação Protetora dos Desvalidos, hoje Sociedade Beneficente Augusto César de Leivas.
Ainda outros inúmeros benefícios trouxe a atuação de Cantalício Resem à nossa cidade, que o espaço desta crônica, já extensa, não nos permite citar. Era um homem de hábitos extremamente rígidos, de comportamento retilíneo, que pautava por uma dignidade a toda prova. Afável no trato, atencioso para com todos, com um permanente sorriso a espalhar-se-lhe pelo rosto, procurava servir sempre sem nunca se corromper. 93 anos de dignidade e trabalho, uma figura notável entre os construtores na nossa comunidade.
Jaguarão, 26 de março de 1992.
Cléo dos Santos Severino

(Publicado no jornal “A Folha”).

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

VOCÊ SEMPRE SERÁ UM ROSTO NA MULTIDÃO

Para ampliar, clique na imagem.

U M   R O S T O   N A   M U L T I D Ã O

Para mim
Você sempre vai ser
Um rosto na multidão
(pura ilusão)
Que de repente pode aparecer...

Numa busca desesperada,
Devo confundir pessoas e lugares,
Em tantos olhares posso distinguir
A realidade disfarçada
Das minhas miragens.

Quando você andar
Através de outras paragens,
Os seus passos também
Estarei imaginando
Como se caminhassem
Me procurando.

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

O FUNDO MUSICAL PARA AQUELA HORA FINAL


No cimo daquele morro
Aonde sopra o velho vento
Que tanto me desgrenhou
Esta crespa cabeleira,
Ainda quero contemplar
A paisagem dos meus sonhos:

O casario despencando,
Suave, pela encosta abaixo
Até chegar bem mais perto
Do meu caudaloso rio.

Então me permitirei
Uma derradeira lágrima
Como minha despedida
Neste caminho sem volta.


José Alberto de Souza.

domingo, 24 de setembro de 2017

EU SONHEI QUE AINDA PROCURAVA GISLAINE

A última fotografia de minha saudosa e querida esposa Gislaine Fagundes de Souza, na véspera de seu passamento.

Pode ser que a tristeza seja natural, mas quem aguenta a dor de uma saudade? Toda uma vida que se dedica a uma pessoa amada e, de repente, somos privados do seu convívio. Tudo ao nosso redor vira lembrança constante de uma sentida ausência. E haja força para se acostumar a uma nova rotina de quebra de hábitos arraigados. Como se fosse ainda aquela presença uma realidade que não aceitamos ser extinta. Tanto desejássemos proporcionar a qualidade de vida que lhe faltou para cumprir a derradeira missão.
Quanta coisa ficou pendente que planejávamos providenciar para seu conforto – atendimento domiciliar para coleta de exame de sangue, consulta médica agendada, tomografia da mandíbula completa, implantes dentários, continuidade de tratamento osteopático, troca de colchão para ortopédico, reforma do banheiro, – tanto que confiávamos na sua resistência até a conclusão dessas tarefas. Nem as lágrimas derramadas são capazes de compensar tantos adiamentos que foram processados.
Tentamos conscientizar nossos filhos de que eles sempre serão o fruto do nosso encontro conjugal, a verdadeira razão de suas existências, dando prosseguimento a futuros descendentes para consolidar uma modesta estirpe e encarando conflitos familiares como um necessário aprendizado para chegar a um entendimento dos valores afetivos. Ela que nem conseguiu enxergar a primavera florescendo, partiu em busca de suas origens, ao encontro daqueles outros entes queridos no plano espiritual.
Ela foi uma companheira das boas e más horas, uma esposa que ajudou a constituir um razoável patrimônio para nossa família, graças a sua noção de economia, garantindo um futuro pecúlio à nossa sobrevivência. E assim conseguimos enfrentar aqueles momentos tão difíceis que culminaram na recuperação plena da saúde de um dos nossos filhos. Agora recentemente tivemos a satisfação de ver o outro filho recomeçar a sua carreira profissional após dois anos desempregado com escassos recursos.
Ela era uma pessoa muito extrovertida, apesar de se tornar bastante carente com o passar do tempo que a imobilizava para se distrair naquelas atividades que lhe causavam prazer – foi colaboradora voluntária na Creche de Mães da Vila Lupicínio, aonde chegou a presidir essa entidade a pedido de seus beneficiários necessitados do recebimento de verbas municipais, E posteriormente veio a exercer ocupações como secretária do Clube da Melhor Idade do Menino Deus, braço direito do presidente Lourival Ávila. 
Gislaine Fagundes de Souza vinha tendo dificuldades para se movimentar com problemas nos joelhos bastante doloridos, definhava com dificuldades de alimentação e de beber água suficiente para estancar uma acelerada desidratação. Teve de ser removida para o Hospital Mãe de Deus, aonde veio a falecer em 21 de setembro de 2017, após três paradas cardíacas. Faltando 64 dias para completar oitenta anos do seu nascimento e deixando em nós esta imensa saudade da sua presença inestimável.

terça-feira, 12 de setembro de 2017

E SEMPRE NOSSOS ETERNOS ANOS DE PÉROLA

À direita, os "jubilandos" Vera Lúcia e José Alberto e, à esquerda, os outros "sobrinhos do Capitão" José Álvaro e Ana Lecy.

Anos de pérola separam jubileus de ouro e carvalho – o teu e o meu. Essas pérolas que nunca vão deixar de ser pérolas, mesmo com o passar do tempo. Todo ano, recebo esse presente como uma graça concebida no ventre de minha saudosa mana. Ela tinha um jeito diferente de ser carinhosa quando dizia que eu era um bom irmão ou que nunca a deixava de apoiar nos momentos difíceis. Nem as duas vezes em que nosso pai se tornou viúvo, deixando-a órfã de mãe na primeira e eu também órfão na segunda, conseguiram nos afastar do afeto que nutríamos um pelo outro, apesar de não habitar o mesmo teto.
Anos de pérola por toda eternidade para traduzir esse elo que sempre nos manteve unidos e que jamais se romperá embora esticado no espaço celestial. A presença dela se faz notar em cada gesto teu, em cada atitude que possa demonstrar a tua personalidade firme e amistosa. E eu ainda sinto o seu abraço carinhoso quando me enlaças naquelas saudações espontâneas de velhos amigos que caminham juntos numa mesma jornada deste planeta. Compartilho com teu marido e com teus filhos dessa imensa alegria de viver cada momento na plenitude de nossas existências enquanto persistirem de forma harmoniosa.
Anos de pérola tão esperados para que viessem ocorrer e sedimentar minhas lembranças dos teus pais queridos, dos teus irmãos que eu gostava de embalar sob os protestos de alguém – “Vais deixar essa guria manhosa!” – e daquela casa que era como se fosse prolongamento do meu próprio lar. Mesmo à distância, ainda estou observando a evolução dos teus passos que não se cansam para chegar de mansinho até onde tua presença se faz necessária, seja acompanhando a todos aqueles carentes do teu incentivo, seja demonstrando o teu orgulho com o sucesso alcançado por todos que tem o privilégio da tua amizade.
Quantas pérolas enfiastes no colar dos teus sentimentos, quantas voltas esse colar já não deu no repositório da tua humildade. Hoje estás nesse galho de ouro que logo vais trocar por outros ramos de símbolos diferenciados que nem galardões merecidos quando se vencem íngremes escaladas, a fim de se avistar no cimo da montanha aquele horizonte colorido e brilhante das tuas emoções. 

segunda-feira, 31 de julho de 2017

UM VARAL P'RA NOSSA CARA "MECENAS" (VII)

José Alberto de Souza
As asas de anjo de Jacqueline
Oito de fevereiro de dois mil e oito, logo, vamos completar uma década de sadio intercâmbio entre parceiros que jogam entre si, tendo as letras como lanças e escudos neste insólito tabuleiro cultural.
Ataque e defesa, avanços e recuos, chegamos a nos esgrimir com a força dos argumentos, de maneira leal, “pas de touché”, apenas exercitando o consenso das ideias para aquela postura de respeito mútuo.
Entender a diferença daquele que discorda, mas tem convicção do seu ideal, sem acomodar-se às conveniências sociais e nem tirar proveito do poder de influenciar nas decisões que causarem danos totais.
Pelo bem comum, eles não medem esforços para atingir seus objetivos, mesmo a custa de sacrifícios pessoais que se refletem no estado de espírito desse entorno onde impera uma generosidade sem limites. 
Embora invisíveis, suas asas de anjo se fazem sentir nas atitudes desprendidas beneficiando tantas pessoas, cujo reconhecimento pouco importava obter, a não ser a satisfação de abranger este universo.

domingo, 16 de julho de 2017

UM VARAL PARA NOSSA CARA "MECENAS" (VI)





PARA JACQUELINE

POR Lenival de Andrade 
em 15/07/2017 às 12h20





Foi num belo mês de Agosto
Que meu humilde trabalho foi ao mundo apresentado
Logo vi o resultado e fiquei emocionado
Falar bem dela falo com muito bom gosto
Para o progresso estou disposto
Sinto necessidade que ela me ensine
Pessoa muito bacana e de cultura sublime
Lançou-me numa boa na revista VARAL DO BRASIL
Assim logo minha moral subiu
Então receba de forma real e especial
Tornando tudo tão legal
Pois FIZ para você amiga Jacqueline

sábado, 15 de julho de 2017

UM VARAL PARA NOSSA CARA "MECENAS" (V)

COMENTANDO...

        Em 1976 pouco tempo após minha chegada a Florianópolis, num passe mágico entre muitos mais, fui admitida no antigo e extinto jornal A Gazeta. Comecei na função de revisora e acumulei a de repórter/redator.
Responsável por uma crônica diária criei o título “Comentando...” e nesse espaço eu ‘pintava e bordava’ os acontecimentos da antiga Florianópolis – que ainda não era Floripa.  Consequentemente comecei a participar da vida literária insipiente na pacata Capital.
Passaram-se muitos anos e a moderna Floripa cheia de prédios e aterros roubados do mar me acolheu como escritora. E, como tal, venho participando de encontros e associações literários e culturais.
Pois num desses movimentos, fiz um ‘plantão’ na Feira do Livro de Florianópolis, creio que há uns três ou quatro anos. Nessa ocasião conheci JACQUELINE. Confesso que não sabia de quem se tratava, mas aquela simpática e simples mulher carregava uma bagagem ímpar. Ali fiquei sabendo um pouco do trabalho que ela fazia com a ‘ponte’ Brasil/Suíça oportunizando aos escritores brasileiros a possibilidade de vencer distâncias com seu Varal Literário.
Creio que a simpatia entre nós duas foi recíproca e começamos a nos comunicar via Facebook. Numa de suas visitas ao Brasil tive a satisfação de reunir uns poucos escritores para recepcioná-la junto com o marido e o filho. Tivemos momentos muito agradáveis. Jacque fez um relato das atividades em Genebra e Paris e como os trabalhos que enviamos ao seu Varal foram bem recebidos.
Repentinamente, nossa querida amiga avisou que estava se retirando dessas valiosas atividades. Numa analogia, Jacqueline e a ponte Hercílio Luz “estavam fora de combate”... Mas, ainda nessa similitude: Jacque voltou e a ponte está se recuperando!!!
 Ivonita Di Concílio 
Florianópolis/2017

sexta-feira, 14 de julho de 2017

UM VARAL PARA NOSSA CARA "MECENAS" (IV)

MEU AGRADECIMENTO PARA JACQUELINE BULOS AISENMAN

Isabel  Cristina Silva Vargas


Alguns anos atrás estreei no Varal do Brasil, na Revista de número 8, revista literária virtual organizada por esta criatura incrível que saiu do Sul do Brasil para ganhar o mundo através da atividade literária própria e por sua atividade de gestora e produtora cultural, participando de feiras, organizando eventos, editando coletâneas ou antologias. 
Nas redes sociais criou um grupo com ativa participação nas atividades que propunha de criação de contos, crônicas, poemas, assim como outras formas de escrita.
Este constante encontro virtual possibilitou-me organizar várias destas atividades a fim de Jacqueline coloca-las no blog. Isso me deixava muito feliz pela sua confiança, assim como eu creio que deveriam ficar todas as outras participantes a quem ela solicitava esse apoio.
Em outra ocasião escrevi uma das orelhas do Varal Antológico.
Através das participações frequentes passamos a admirar e respeitar os trabalhos mútuos.
O encerramento das atividades do Varal do Brasil, em virtude dos problemas que acometeram Jacqueline causou profunda surpresa só ultrapassada pela preocupação com seu restabelecimento.
Tenho muito a agradecer a esta pessoa sincera, amiga, generosa que em vez de expor ao mundo sua competência e talento, unicamente, doou seu tempo para todos aqueles que chegaram até ela através do Varal.
Agora, no momento que lançou a edição zero de uma nova revista, a Veia, em proposta diferente do Varal que era gratuito, volto a agradecer por inclusão de meu trabalho nesta nova proposta literária.
A ela, mais uma vez, agradeço desejando muito sucesso nos novos caminhos a trilhar.

Sucesso!!! 

quinta-feira, 13 de julho de 2017

UM VARAL PARA NOSSA CARA "MECENAS" (III)

Maria (Nilza) de Campos Lepre.
Quero deixar registrada minha gratidão a uma grande mulher brasileira: Jacqueline Bulos Aisenman.
Ela fez de sua vida uma luta de levar novos escritores e poetas brasileiros a serem lidos e apreciados em todos os recantos do mundo, onde a língua portuguesa fosse compreendida e apreciada.
Meu coração esta sangrando de tristeza com o encerramento de suas atividades frente ao Varal do Brasil revista digital criada, dirigida e elaborada por ela sem nenhuma ajuda extra.
Você sempre foi nossa maestrina frente a esta revista nos orientando e fazendo com que nunca perdêssemos o tom, fazendo com que a sua obra permanecesse sempre no tom desejado. 
Sua revista conquistou a admiração de meus amigos e familiares, que esperavam com ansiedade a saída de um novo numero. Sei como é difícil organizar e tocar para frente um projeto tão grandioso como este. Você idealizou e conseguiu através de muita luta construir uma revista que ficará registrada para sempre na memória de quem as leu.
Pode se orgulhar, pois conseguiu seu intento, muitos escritores, poetas e poetizas passaram a ser conhecidos no Brasil e no exterior graças a este seu projeto. Não sei por qual motivo vai encerrar suas atividades, mas pode contar com minha amizade para sempre. Se precisar de mim pode pedir ajuda, pois estarei sempre ao seu dispor enquanto vida eu tiver.
Foi através de sua revista que nos conhecemos, por ocasião do lançamento de um dos Varais Antológicos, em Florianópolis. Desde este dia passei a te admirar, respeitar e amar como se ama a uma irmã ou mesmo filha, pois é como te sinto em meu coração.
Tenho orgulho de ter participado por vários anos de suas revistas e antologias.
Obrigado pela oportunidade que me proporcionou.
É muito triste, mas, nos veremos por ai.
Mil beijos e que Deus a proteja e acompanhe para sempre.

Maria (Nilza) de Campos Lepre.

quinta-feira, 6 de julho de 2017

UM VARAL PARA A NOSSA CARA "MECENAS" (I)

Jacqueline nos tempos de Laguna

Jacqueline, do Varal do Brasil - Uma entrevista imaginária (*) 
[ JAS & Garoeiro - 6 de julho de 2017 ]

JAS/Garoeiro – Caríssima Jacqueline, primeiramente, uma palavrinha de apresentação mesmo sendo você tão conhecida e amada por todo esse pessoal da blogosfera dos escritores “sem frescura”.

Jacqueline - Meu nome é Jacqueline Aisenman, sou brasileira de nascimento e suíça por adoção, residindo em Genebra (Suíça) há mais de vinte e cinco anos.
Sou uma apaixonada. Pela vida, pela arte, mas principalmente por papel, caneta e inspiração (Bem que hoje se pode acrescentar com certeza o computador, sua tela e seu teclado fazendo as vezes do papel e da caneta!
Desde 2006 escrevo na internet. Escrevi durante nove anos no meu blog Certas Linhas Tortas que continua no ar, mas já não está sendo atualizado, pois mudei para meu site pessoal e oficial, Coracional. Lá tenho mais de 800 artigos, entre contos, crônicas, poemas, pensamentos e etc. Lá também tenho meu novo blog. Coracional é minha residência virtual.
Nasci na cidade de Laguna, em Santa Catarina e vivi parte de minha infância no Paraná. Por todos os lugares pelos quais passei, fiz amizades que ficaram.

JAS/Garoeiro – E o Varal do Brasil?

Jacqueline - Minhas intenções com o Varal? Divulgar, mostrar, fazer desabrochar. Somos tantos a escrever e muitas vezes sequer mostramos para alguém dentro de nossa própria casa. Deixamos fluir nossas emoções, nosso olhar sobre a vida e guardamos tudo. Por medo, vergonha, baixa estima, deixamos de compartilhar com as outras pessoas nosso sonho ou simplesmente nossa maneira de ver e sentir a vida.
Pois é… Aqui está se concretizando um sonho meu. Estar junto com muitos que amam o mesmo que eu: escrever e ler. Não sou o que chamam de intelectual, nem sei exatamente o que quantifica ou qualifica as gentes para tanto. Mas com certeza sou uma “emocional”! Por isto, nem pensem em encontrar aqui o mundo muito perfeito e muito fino de uma revista literária comum.
Aqui, meus amigos, meus colegas de vida, vocês têm um varal de amor e amizade estendido completamente sem frescuras.
...

Pendurei o Varal pela primeira vez em 2009 com o objetivo de fazer “literatura sem frescuras” num mundo literário avesso à simplicidade e aos escritores “iniciantes”. Considero que fui longe, bem mais do que poderia sequer imaginar. A revista, as antologias, os concursos literários, as participações dinâmicas no Salão Internacional do Livro de Genebra, os eventos aqui na Suíça e no Brasil…. Tudo foi parte de um longo, frutuoso e feliz caminho, por onde fui encontrando pessoas que hoje são mais do que apenas pessoas conhecidas, são amigas que guardo no coração.
...

Porém, há dois meses antes de completar sete anos, o Varal do Brasil encerrou suas atividades, em 15 de setembro de 2016. Mas, com a seguinte mensagem: “Este site permanecerá no ar indefinidamente. Ficará como arquivo e como testemunho do que realizei junto a tantos escritores de tantos lugares do mundo. ”

JAS/Garoeiro – E como vai a Jacqueline de agora, depois do sonho do Varal do Brasil?

Jacqueline – Continuo escrevendo no Coracional.com. As coisas que vêm de dentro... Está bem registrado ali, meu nome é Jacqueline mas pode me chamar de poeta... Em setembro de 2016 tive um AVC, a descoberta de aneurisma e de uma insuficiência cardíaca relevante. O AVC mostrou-se regressivo e cá estou eu, recuperada... No caminho da Literatura, ando ao lado de poucos, mas destes poucos, sei o valor e reconheço o percurso realizado além de, sempre, guardar a amizade e admiração pessoal por todos eles.


(*) As “respostas” são autênticas, não imaginárias...V

segunda-feira, 3 de julho de 2017

CARLOS NEJAR: eis uma preferência do Garoeiro

Em 25 de maio último, recebi a seguinte mensagem do Poeta Garoeiro:
Segundo a Wikipédia, há uns anos atrás, Mário Quintana, Heitor Saldanha e Carlos Nejar seriam os três grandes poetas desse celeiro enorme chamado Rio Grande do Sul. Fiquei sabendo porque estava planejando uma semana em homenagem a Carlos Nejar, no Reblog do Poeta Garoeiro, em junho. Foi aí que descobri "A Hora Evarista", a coletânea de poesias de Heitor Saldanha! Grande Poeta, Grande Poesia! Por isso, antecipo ao Amigo Souza que a última semana de junho será a Semana Heitor Saldanha! Nejar, que está por aqui, ainda, poderá esperar...
Ou, não?
E agora chega às minhas mãos esta sua amostra sobre a obra de Carlos Nejar, na imagem acima reproduzida.

quinta-feira, 29 de junho de 2017

Poeta Garoeiro e a semana Heitor Saldanha (VII)

Os dois Rio Grande 
- o do Norte de JBS Garoeiro (seleção) 
e o do Sul de JAS das Águas Doces (repique) - 
acabam de estabelecer, nesta última semana, sua voluntária parceria com o fim de apresentar uma pequena mostra da obra de um dos mais importantes poetas modernistas da literatura brasileira.


Assim prefiro
Heitor Saldanha 
– A Hora Evarista – 1974 – p. 155.

Dizem os homens sábios
que a verdade começa no céu.
Eu vivo esta poesia ignorante
sem saber das virtudes do céu.
Pertenço a uma terra de vinganças
por pureza,
vingança de remorsos necessários.
Aprendi que as minas de carvão
são a concreta dimensão sem fuga.
Se eu soubesse rezar pedia a Deus
que conservasse a pureza.
Não.
Não pedirei ao Deus dos outros
que sofre gerações em um silêncio menor.
Enquanto houver injustiçados
na terra, não rezarei.
Depois,  também não rezarei.
Esta é a minha devoção:
abrir caminhos de luz
para encontrar meus irmãos.

quarta-feira, 28 de junho de 2017

Poeta Garoeiro e a semana Heitor Saldanha (VI)






Heitor Saldanha 
– A Hora Evarista – 1974 – p. 203.
 Só depois de sentir que o Belo é triste
é que se atinge a alma da Beleza.
De que vale saber se Deus existe
conhecendo a alegria da tristeza?

Em Quixote a sonhar de lança em riste
a desfazer agravos e torpezas
- a viva encarnação do Belo-triste –
existe um deus pagão por natureza.


Antes do balançar para o crescente
recebe-se o ingresso permanente
e se devolve a senha antes do tempo.

Depois, buscar a luz ventre de treva
da viva floração nunca se eleva 
que da germinação não houve exemplo.

terça-feira, 27 de junho de 2017

Poeta garoeiro e sua semana Heitor Saldanha (V)

5.1   S O N E T O
        Heitor Saldanha 
(A Hora Evarista, pag. 107)


Acordo-me outra idade e me renovo.
Sou minha antiguidade que festeja.
Acordo-me no ser que desaprovo:
abisbo-me de ver sem que outro veja.

Atingido de ser, lutoflutuo
pela luta de ser que em mim resiste,
e no descontinuar me continuo
que do meu alegrar me faço triste.

Já sou a sonolência de outra espera
onde dorme a consciência que nos gera
de onde nos chega o bem mais depurado.

Distendido e liberto me imagino
escutando a linguagem do menino
que vos fala por mim do outro lado.



5.2   T E M P O - I R A - T U R A
        Heitor Saldanha 
(A Hora Evarista - 1974, pag. 17)

Reler os meus poemas
me angustia
e no entanto insisto
no dilaceramento da matéria

arado
irado
contra o vento
apertarei o silêncio
as letras
as melodias
até que chegue a expressão
do verso que necessito
ou mesmo não necessito
exploro o pulso da forma
para poder deformá-la
e passo 
sou minha ultrapassagem

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Poeta Garoeiro e a semana Heitor Saldanha (IV)






Heitor Saldanha – A Hora Evarista – 1974 – pp. 54/55.

Em mim esse fulgor de alucinâncias
que paralisa os contrários
e reconquista um campo de batalhas
cansei de cruzar fronteiras
com passaporte lacrado
entanto não me projeto
somo um simples apelido
num alfabeto sincrônico
que há muito foi desusado
operário de impossíveis
trabalho sobre o imprevisto
escrevi cartas anônimas
à luz de velas mortiças
e minhas correspondências
chegavam sem endereço
...
mas não andei sobre as águas
não imitei Jesus Cristo
eu sou o lado contrário
e vou passar sem ser visto
...
sim meu trajeto é de longe
fazendo um curso de espasmos
com sombras de fuzilados
caindo dentro de mim
até chegar ao teu reino 
e te cantar   liberdade

domingo, 25 de junho de 2017

Poeta Garoeiro e a semana Heitor Saldanha (III)

Heitor Saldanha 
– A Hora Evarista – 1974 – p. 88.

Hoje enquanto tiver dinheiro beberei.
Depois entregarei ao garçom
meu relógio de pulso
meus carpins de nylon
meus óculos de tartaruga (que nome bonito)
minha caneta tinteiro
e continuarei bebendo
sem literatura
sem poema
sem nada.

Só.
Como se o mundo começasse agora.
Estou nesses conscientes estados de alma
em que não posso me salva
e nem salvá-la.