sexta-feira, 29 de maio de 2009

UM POEMA QUASE CANÇÃO

Com a vontade da minha vontade,
eu cultivava como flor
esta ternura quase amor.
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Com a vontade da minha vontade,
eu buscava compreensão
para este amor quase paixão.
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Com a vontade da minha vontade,
eu esperava renascer
esta paixão quase querer.
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Com a vontade da minha vontade,
eu suplicava justiça
para este querer quase cobiça.
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Com a vontade da minha vontade
eu espantava com um sino
esta cobiça quase desatino.
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Imagem: Fernando Rozano.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Porto Alegre já tem Orquestra de Espetáculos!

A primeira vez que ouvi falar no maestro Garoto foi quando o meu grande amigo Jorge Machado, compositor e violonista autodidata, falou-me da sua vontade de contratá-lo para produzir a gravação das músicas de sua autoria, o que vem contemporizando até o presente momento. Dizia-me então o Jorge que se tratava de um investimento bastante vultoso, mas que valia a pena dada a grande competência daquele maestro, cuidando dos mínimos detalhes da produção, tais como elaborar os arranjos necessários, contratar músicos e cantores, dirigir o processo de captação fonográfica até o lançamento da obra.
Por uma destas quebradas do destino, vim a topar-me cara a cara com Altivo da Luz Penteado, seu nome de batismo, quando se encontrava batendo papo com um fiscal da Ecad, antes de sua apresentação no piano-bar do antigo Alfred Palace Hotel, situado ali no começo da Avenida Alberto Bins. Apenas cumprimentei-o sem maiores formalidades.
Posteriormente, tornei a deparar-me com o ilustre maestro no programa da Rádio Gaúcha Sem Fronteiras, apresentado pelo meu caro confrade Glênio Reis. Na ocasião, o eletrizante Garoto fazia a divulgação da sua Orquestra Porto Alegre de Espetáculos, com o Glênio rodando algumas faixas do disco que trazia para demonstração. Este decano da nossa comunicação esmiuçava a carreira do entrevistado desde os tempos em que integrava o juvenil do extinto Nacional F.C., onde atuara junto com os craques e irmãos Ercílio e Miroca. Pois o Glênio ainda o provocava, perguntando se esse negócio de grandes orquestras já não se tinha perdido na poeira do passado e o baixinho eriçava-se todo ao responder – o senhor está muito mal informado – defendendo com ênfase a sua posição. Mais ainda se contrariava quando o Glênio se referia à sua “banda” - não é banda, é ORQUESTRA PORTO ALEGRE DE ESPETÁCULOS!
É, meus amigos, o homenzinho é uma fera. Também esbanjando experiência e versatilidade por todos os poros, não é de se admirar da sua segurança para superar qualquer barreira. Para tanto transita com desenvoltura em qualquer meio de comunicação desde o rádio até a televisão, passando pelo cinema, casas de espetáculos e publicidade. Especialista em piano e vibrafone, ex-integrante do Breno Sauer Quinteto, tem rodado por este Brasil e além fronteiras, participando de shows e turnês artísticos ao lado de gente da pesada como Gilberto Gil, Tim Maia, Maysa e Dick Farney.
Plantando pertinácia e ousadia, está ai o Maestro Garoto colhendo estrondosos sucessos em eventos que nem o Prêmio Gaúcho de Qualidade e Produtividade na Fiergs, Clássicos do Cinema na Associação do Ministério Público, apresentação na Casa de Cultura Mário Quintana, comemoração dos 40 anos da RBS, jantar anual da AGAS no Leopoldina Juvenil, Feliz Natal no Praia de Belas Shopping, festa de 80 anos da Grande Loja Maçônica/RS na Sogipa, jantar de gala no aniversário da Associação Leopoldina Juvenil, Beatles in Concert no Abbey Road Pub e a recente exibição, dia 6 de maio, no Espaço Vonpar do Teatro São Pedro, em que testemunhamos e aplaudimos de pé a qualidade do espetáculo.
Luizinho Santos, Tito, Guinther, Rafael Lima e Rodrigo Santos (saxofones), Boquinha, Celso, Serginho e João Paulo (trombones), Renato, Anjinho, Wainer e Azambuja (trompetes), Beti Griger (piano), César Audi (bateria), Diego (baixo e guitarra) e os cantores Marcelo Quadros, Ana Paula Lonardi e Stephani, sob a regência do maestro Garoto e direção artística de Pedro Amaro, esta a formação atual da Orquestra Porto Alegre de Espetáculos, verdadeira plêiade de músicos e artistas diferenciados.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Cuando sus padres no se conocían...

Encontro o Laerte Antonio e Silva. Estou ansioso por lhe contar as minhas andanças pelo Prata. Que tal um chope? Topo. Espero que ele toque no assunto. Falamos da corrupção pandêmica, da violência que grassa nas ruas e nos lares, ensaia-se até um tratado sobre a crise atual de valores. Ele psicólogo, jovem e talentoso escritor, bom partido, e eu aposentado, filhos independentes e neta bastante crescidinha, ficamos na dúvida sobre a sobrevivência de nossos descendentes nestes tempos bicudos. Angustio-me. Lá pelas tantas, aparece A Trégua, novela de Mário Benedetti, aquele autor uruguaio recentemente falecido. Finalmente, a minha deixa: pois é, acabei de chegar de Montevidéu. Aquelas fotografias, te lembras? Tu me dizias que eu deveria me haver topado algumas vezes com o Martin Santomé. Até fizestes as contas: as cartas de Isabel de 1942, mais os quinze anos passados, fechavam bem com a época. O Laerte lembra o episódio, nem engole o chope; os músculos faciais contraem-se com o riso solto, não contém o esguicho que borrifa a minha camisa de seda comprada na Deciocho de Julio. Aí lembramos do desfecho da novela que ninguém aceitou na Oficina Literária, até tentei explicar um surto de gripe asiática, houve mais de mil mortes no Uruguai. Assim fiquei sabendo, na ocasião, por correspondência de lá. Desta vez, nada fotografei; pretendia apenas relatar a viagem, comparar as impressões atuais com as antigas lembranças.
Chamava-se Florángel e tínhamos trocado cartas durante quatro anos. Julho de 1957, havíamos combinado nos encontrar em Montevidéu. Agora estive na Plaza Independenzia, onde visitei o panteão que foi colocado sob a estátua do General Artigas. Perto dali, avisto o Victoria Plaza Hotel, moderno cinco estrelas que confundo com o antigo Palacio Florida Hotel, onde me hospedara. Perguntei ao guia da excursão sobre o que fora alterado; respondeu-me que en aquél tiempo, mis padres recién habían se conocido, apenas sabia que a construção daquele hotel datava de 1960. Parece-me que ficava naquele edifício lá na esquina. Bien probable. Na chegada, a ligação telefônica, não estava na cidade. A frustração. Mandariam chamá-la. A esperança. Atento, o Laerte nem pisca. Dá uma boa história, diz ele.
Aquelas fotografias, revejo-as como cenas de um filme de antanho. A experiência de dar vida às figuras que cada um concebia no retrato do outro. Uma tarde ensolarada, passeávamos por La Rambla Costanera, a orla do rio da Prata, la pequena Copacabana. O melhor ângulo para a fotografia? Aqueles edifícios e casarões tradicionais. Aquella punta perdida en el horizonte se pone más bien con la Naturaleza. Junto os dois instantâneos, eles se emendam, formam uma vista panorâmica. Voltei a Montevidéu e, no City Tour, meu olhar brilhou de emoção reconhecendo a paisagem.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

67 anos do Ipinha de Jaguarão

A 11 de maio de 1942, foram iniciadas as atividades do Ginásio de Jaguarão - Departamento do Instituto Porto Alegre (IPA). Esse estabelecimento de ensino funcionou sob a orientação ipaense até fins de 1951, sendo encampado no ano seguinte pelo Estado, ocasião em que passou a se denominar Ginásio Estadual de Jaguarão.
Nestes quarenta anos que são decorridos, vem-nos à mente toda uma geração de colegas, os quais ai estão espalhados por todo esse imenso mundo de Deus, aplicando de forma admirável os inesquecíveis ensinamentos da filosofia metodista, norteadora da orientação pedagógica do IPA. E, acreditamos, os mestres que lançaram a semente da cultura a germinar no solo fértil daquelas mentes ávidas de saber estarão jubilosos por verem aquela semente hoje transformada na árvore frondosa da grande família ipaense dos seus antigos discípulos. Que dá a sombra do amor e do respeito ao próximo. Que dá o fruto da participação comunitária.
Recordamo-nos saudosos daquela década inteira de trabalho e dedicação à causa do ensino, onde pontificavam as figuras ímpares de um Oscar Machado da Silva, o fundador daquele Departamento e Reitor do IPA na ocasião; de um Sebastião Gomes de Campo, o primeiro Diretor do Ginásio de Jaguarão; de um Samuel Antônio de Figueiredo, de um Wilson Fernandes, de um Eurípedes Fachini, de um Jorge Abel Neto e tantos outros professores que deixaram a marca de suas presenças indelevelmente marcada na história daquele Educandário.
Justa e merecida a homenagem que, a 21 de abril último, vem de lhes ser prestada na reunião-almoço promovida pelo Centro Jaguarense desta Capital, na qual estiveram presentes, além de grande número de ex-alunos do Ipinha de Jaguarão, os professores Sebastião e Samuel, acima citados, Déa Rodrigues de Figueiredo, Clotilde Ordóvas Santos, Selma Kras Soares, Silvio Santos e Celses Português Soares. Reunião esta que foi temperada pela palestra brilhante e fluente do colega Aldyr Garcia Schlee, advogado, jornalista e escritor radicado em Pelotas, logo sucedida pelo pronunciamento oficial da atual Reitoria do IPA, ali representada através do Prof. Celses, e coroada pela eloquência do Prof. Sebastião.
Portanto, só mesmo um Encontro de Ex-Alunos e Professores, como o que está sendo programado para 15 de maio vindouro em Jaguarão, complementaria este marcante evento de confraternização a fim de que pudéssemos expressar condignamente nosso preito de reconhecimento e nosso tributo de gratidão e carinho aos velhos mestres por tudo que nos proporcionaram e que jamais poderemos lhes retribuir como o merecem.
(Publicado no CORREIO do Leitor/Porto Alegre, em 6 de maio de 1982).

sábado, 9 de maio de 2009

IMAGEM ESQUECIDA

Como o cego
Ante a luz que lhe restaura
A visão perdida,
***
Como o surdo
Ante o som que lhe propaga
A melodia proibida,
***
Como o mudo
Ante a ocasião de murmurar
A palavra refletida,
***
Assim eu
Oxalá pudesse
Tornar a minha mente
A imagem esquecida
No momento em que,
Na encruzilhada da vida,
Nos separamos
Eu e minha mãe querida.
***
(Publicado no jornal A Fôlha, de Jaguarão, em 02/06/1956)

domingo, 3 de maio de 2009

DISCONTUS : XXV, XXVI, XXVII & XXVIII

DISCONTUS XXV
Um cartão de Natal chegou no presídio. Um só destinatário, mas correu de mão em mão que nem uma célula: quanto mais se fragmentava, mais crescia.
DISCONTUS XXVI
O Poeta (um olhar opaco, o cigarro apagado): Ao infinito do meu amor, tentei me dividir...
O Matemático (acendendo o isqueiro, a chama na ponta do nariz): ...e terminaste reduzido a nada.
DISCONTUS XXVII
De madrugada, pé ante pé, apanho o jornal, vou ao banheiro. Topo-me com ele.
A reunião marcada, estou convocando o pessoal, chamam-me ao telefone. È ele.
Preciso buscar o carro na oficina, espero taxi. Ele está na fila.
À noite, deito na hora de sempre, minha mulher lembra:
"Temos hóspede!"
DISCONTUS XXVIII
Inteiramente à mercê da cúmplice, ele já se habituara a mandar seu recado. Nem se preocupava com a escolha -
crisântemos....................................................................otimismo,
rosas vermelhas.....................................................amor e desejo,
violetas..............................................................eu-te-farei-amar...
Discreta, a florista parecia premeditar algum desfecho para aquele caso.