terça-feira, 29 de março de 2011

Pois até o carteiro se atrapalhou...

É do meu tempo uma canção que os “mariachi” costumavam entoar nos filmes mexicanos (http://www.youtube.com/watch?v=v4U_zP4qCoo): “Te llaman Rodriguez por parte de padre, te llaman Fernandez por parte de madre, Tu nombre es Maria, Maria del Carmen, Maria del Carmen Rodriguez Fernandez.”. Para mim, este é um exemplo clássico do sistema nominal adotado pelos povos de língua espanhola que caracteriza bem a prioridade do nome paterno, além de ressaltar a trindade Pai, Mãe e Filho como entidades totalmente distintas interligadas entre si.
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Já tinha falado na postagem anterior sobre a “lei do menor esforço” que nos leva a abreviar o nome de uma pessoa omitindo o sobrenome paterno, justamente por causa da orientação adotada em nossa língua. Porém, deixei de abordar o fato de que muita gente prioriza o materno propositadamente em detrimento da outra origem – Silva e Souza então nem se fala. Acham mais elegante ostentar o mais sofisticado ou o tradicional menos comum. Pura esnobação, resultante de uma “nobreza arruinada” que valoriza mais os anéis do que os dedos.
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Prosseguindo nesse meu proselitismo, não me agrada esse costume de se batizar uma criança com nomes duplos. Digo isso com conhecimento de causa devido à péssima memorização de muita gente para meu nome. A toda hora tenho de corrigir aqueles que me chamam de Luiz Alberto, Carlos Alberto, João Alberto, José Roberto, José Carlos e tantos outros equívocos. E para evitar os mesmos, venho me apresentando tão somente como José Souza para facilitar futuras lembranças. Inclusive omito o “de” que representa origem, como Tales de Mileto, filósofo nascido em Mileto, na Grécia Antiga. Em suma, exemplifico com o nome extremamente prático de meu sogro João Fagundes (paterno) da Silveira (materno), o “seu” João Fagundes, sem maiores problemas.
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Certa vez, a serviço do BRDE, inspecionando uma indústria de laticínios no interior do Estado, apresentei o cartão de visitas na recepção. “Pode aguardar um tempinho que já vai ser atendido, estão terminando a reunião, Dr. Roberto”. Era cafezinho para cá, água mineral para lá – “Com gás ou sem gás? Quer olhar o jornal de hoje?” - o funcionário não sabia mais o que fazer para me agradar. Duas horas depois, toda a Diretoria do estabelecimento, sediada em Porto Alegre, veio me atender. “Pronto, Dr. Roberto, estamos às suas ordens” e lá fomos nós visitar a fábrica e após me levaram para almoçar num luxuoso restaurante da cidade. Depois vim a descobrir que um colega de serviço havia embaralhado a minha caixinha de cartões, com alguns do Chefe.
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Mas ainda tenho que contar uma do saudoso Nego Eli, estafeta do Correio em Jaguarão, gente finérrima apesar de dado a um trago, que “lavrava” as calçadas na nossa frente e depois se levantava para nos dizer: ”Não vão pensar que estou bêbado, eu só caí aqui para cumprimentar vocês”. Eli era useiro e vezeiro em comunicar oralmente o teor da mensagem antes de ser aberta. Meados do século passado, foi entregar um telegrama para o Marçal Dutra Rodrigues, um dos que não eram reconhecidos pelo último sobrenome. Este, olhou o envelope e se deu conta: “Mas não é para mim, é para o outro Marçal”. E lá se foi Eli em busca do meu irmão Marçalzinho a fim de dar a notícia. O mano abalado se mandou para casa da nossa irmã Ivanira para preparar seu espírito. Naquele dia o cunhado José Pacheco tinha viajado de madrugada para Porto Alegre. E ele, Marçal Garcia de Souza, dizendo que “o gato tinha subido no telhado”. Ivanira lhe arrancou o telegrama da mão e leu: “Comunico falecimento hoje seu genro José acidente de carro”. Sem querer. ela verificou o destinatário: MARÇAL DIAS. O “genro” era o capitão José Braga, casado com Dª.Gessy, residente na capital do Estado.

sábado, 26 de março de 2011

Exercendo proselitismo pragmático

Meu tio Cantalício Resem, casado com Florisbela, irmã de meu pai José Dalberto de Souza, ficava chateado porque meu irmão (por parte de pai) Marçal Garcia de Souza “omitia” o sobrenome paterno. Na época, até que concordava com aquele tio, também meu pai de criação. Porém, com o passar do tempo, fui conhecendo outras pessoas que “assim procediam” e cheguei à conclusão do ato involuntário resultante da ”lei do menor esforço” que fazia a gente abreviar o nome completo do indivíduo. Como exemplo cito meu conterrâneo Luiz Marques Machado, raramente reconhecido como Machado.
Minha esposa Gislaine Fagundes de Souza, filha de João Fagundes da Silveira e Alba Pahim da Silveira, não conseguia me explicar porque apenas o seu irmão mais velho João Paulo Fagundes da Silveira tinha esse último sobrenome, enquanto ela e os outros irmãos foram registrados como Pahim Fagundes. Terminei decifrando o enigma quando descobri que meu sogro era descendente de uruguaios, João Fagundes e Maria Francisca da Silveira. Assim, ao se casar, minha sogra adotou esse último sobrenome, reservando Fagundes para os três filhos menores.
Permito-me essas digressões genealógicas a fim de opinar sobre a praticidade do sistema nominal que os povos de língua espanhola adotam, ou seja, o sobrenome paterno antecede o materno, mais coerente com a “lei do menor esforço” acima referida, evitando qualquer omissão imprópria. Já as filhas, quando casam, perdem o sobrenome da mãe e abrem espaço para introduzir o do marido, antecedendo o do pai, ordem essa que pode permanecer legada a seus descendentes diretos, Se não predominar uma orientação “machista” que despreza a origem da mãe.
Por falar na cultura “machista”, recorro aos nomes de meus pais, José Dalberto de Souza e Maria Francisca de Souza. Ele filho de José Vieira de Souza e Joaquina Teixeira de Souza, e ela de Jerônimo Vieira de Souza e Pacífica Silva de Souza, ambos ele e ela com sobrenomes maternos ocultos, um costume português muito comum que meu pai, brasileiro, acatou quando me registrou como José Alberto de Souza. Podia ser Souza de Souza ou então de Souza e Souza, até aceitaria o Vieira de Souza de meus avós, irmãos portugueses. Mas não – meu carma foi encarar as inúmeras justificativas para limpar meu nome nos Cartórios...
A propósito, lembro de um colega na Ford em São Paulo, Francisco de Assis Filho, que o pai, segundo me disse, assim o registrou para que também passasse pelos percalços de quem carregou um Francisco de Assis por toda vida. Na ocasião, sua esposa esperava o primeiro filho e eu o doutrinava para que não omitisse o nome dela. Assim que a criança nasceu, perguntei-lhe como tinha registrado o rebento. Francisco de Assis Neto, mas como? A maldição continua? E o nome da tua mulher? “Ora, ora, Francisco Tripiana de Assis, fica muito feio, vai ter que pagar os pecados que ainda estou pagando!”
Ainda acho a maior frescura essa da mulher não permanecer com seu nome de solteira quando casa e me parece que se submete a um título de propriedade. E nos dias de hoje, com esse "casa-descasa", mais uma tremenda burocracia que constrange a mulher moderna num mundo que se ressente tanto da paternidade, no sentido de se dividirem as tarefas domésticas, em consequência de um orçamento cada vez mais dependente da contribuição feminina. Afinal “até que a morte nos separe” só funciona quando os parceiros têm o seu relativo grau de liberdade, respeitados os espaços de cada um.
E. T.: Nossos filhos chamam-se Jerônimo e Gilberto Fagundes de Souza. Este último e Marylene Fernandes Vieira geraram nossa neta Mariana Vieira de Souza.