segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Churrasco: cadê a moderação, hein?

No Instituto de Cardiologia de Porto Alegre, conheci um cidadão recém safenado que me contava das agruras conseqüentes do abuso da carne gorda e do sal na alimentação. Ele nos dizia que era seu hábito saborear todas as noites com os amigos um churrasco, regado a caixas de cerveja. A princípio, o organismo tolerava razoavelmente a façanha, porém, o efeito cumulativo foi-se acentuando através de indisposições sintomáticas do coração, as quais abreviariam o seu tempo de vida, não tivesse adotado os corretivos imediatos. Gordura, sal e álcool, uma mistura explosiva.
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Frequentemente, constato essa prática arraigada entre os nossos jovens. Altas horas da noite, com o fim de prolongar um papo gostoso, eles decidem churrasquear no pátio ou na garagem da casa de um dos companheiros. E se cotizam para levantar a verba necessária que lhes possibilite adquirir carne, sal, carvão e bebidas, facilmente encontráveis em qualquer mercadinho generoso no expediente noturno. Sem pressa, ao redor do fogo, proseando e bebericando, nem sentem as horas passar até o momento de forrar o estômago.
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Na década de 70, viajei muito pelo interior de Santa Catarina e Rio Grande do Sul a serviço do BRDE e, na época, era muito comum a falta de opções quanto aos restaurantes existentes, na grande maioria churrascarias tipo espeto corrido. Sobremesa só mesmo de compota, vivia suspirando por um pudim de leite ou uma torta de requeijão. Numa cidade gaúcha, fui convidado para um churrasco que declinei, enjoado que estava da iguaria. O anfitrião achou por bem determinar à esposa que preparasse um arroz-com-galinha para este vivente saudoso da comidinha caseira. Só que esta teve de se virar numa segunda rodada, já que os demais apreciadores do assado nem se dignaram a provar do mesmo, queimando além da conta...
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Em qualquer residência, já se tornou acessório indispensável para a gastronomia dos donos de casa a instalação de uma churrasqueira completa para receber convidados em reuniões festivas. Não dá muito trabalho de se preparar um bom assado e a limpeza se processa de maneira expedita, poupando um maior esforço feminino. Que me perdoem os tradicionalistas, churrasco não tem segredo, é comida de malandro, para mim, um prato rústico, mais apropriado para servir em galpões de estância. E as vezes um costume bárbaro quando assado no couro.
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Bufê com espeto corrido a preço fixo e módico, haja desperdício, e quem se importa com o custo variável e agregado pelas bebidas. E depois se queixam de valores inflacionados, que se cortem outros itens da alimentação e se poupe a costela e a picanha como essenciais. Num mercado assim tão promissor, não admira que se tenham proliferado as churrascarias pelo mundo inteiro. Até mesmo na Índia, onde a vaca é animal sagrado, com carne importada do Brasil, já existe esse famigerado estabelecimento destinado a atender a demanda de turistas e estrangeiros.
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A pecuária de corte e a extração de madeira são hoje as grandes responsáveis pela dizimação sem controle das nossas áreas florestais, ocupando espaços indispensáveis à preservação do meio ambiente. O aquecimento global está sendo apontado como a grande consequência desse desequilíbrio ecológico que vem causando catástrofes inimagináveis à sobrevivência humana. Diante dessas evidências, atrevo-me a bradar que churrasco é droga, é praga que se alastrou pelo planeta em proporções tão avassaladoras quanto o álcool e o cigarro, gerando prejuízos imensos ao sistema de saúde com o seu consumo sem moderação.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

E agora só resta o amor sublimado!

Ano passado, alguns amigos meus perderam filhos justamente na idade em que atingiam o apogeu de suas capacidades. Fiquei imaginando o quanto eles tiveram de suportar essa dor que considero a mais profunda para um ser humano diante de uma situação de absoluta impotência. E uma das mães me falou que encontrou forças na fé nos desígnios do Criador. Ou como me escreve um outro amigo em recolhidas lágrimas amorosas – “pôs-se pronto pra Nossossinhô, deu tchauzinho não adeus”.
Em 03/09/2010, recebi mensagem urgente e pessoal de Guilherme Braga informando de campanha para doação de medula óssea para a sobrinha da nossa professora de informática Lúcia Cuervo, na qual perguntava que mais poderia fazer além de incluir em suas orações um pedido de pronto restabelecimento para a enferma. E a resposta da nossa mestra me levou a postar dois textos sobre a referida campanha, inclusive disponibilizando o link para acompanhamento da evolução do tratamento a que se submetia a jovem Mariana Cuervo Eidt.
Confesso que me emocionei na ocasião com a desprendida declaração de Mariana para seu pai quando entendeu que se uma das irmãs fosse compatível com ela se faria o transplante e pronto: “Mas, pai, acho que Deus assim determinou para que essa campanha que tu e o Thiago estão fazendo alcançasse outras pessoas que estão na fila à espera de um transplante”. Logo em seguida, tivemos oportunidade de acessar os primeiros resultados desse esforço concentrado – o número de coletas no Hospital Dom Vicente Scherer que era de 10 por dia, já não baixava de 50. E a nossa torcida, a esperança, se robustecia.
No twiter TODOS_POR_UM, sucediam-se as notícias divulgando os altos e baixos ocorridos durante o tratamento que dependia fundamentalmente daquela doação. Impressionou-me a assistência do marido de Mariana, Thiago Eidt, com suas intervenções bem humoradas, sempre animando o estado de espírito da sua amada guerreira. Papai Noel não lhes trouxe o presente milagroso, aguardavam o Coelhinho. Apesar do tempo implacável, sem tréguas, eles precisavam chegar à barreira de 3 meses com a solução definitiva, nunca se abateram ou fugiram do árduo combate.
Uma intensa comoção tomou conta de todos seus amigos e parentes com o desfecho que sepultou os últimos anseios de Mariana, internada no Hospital Ana Nery de Santa Cruz do Sul, na sua renhida luta contra a Leucemia Linfóide Aguda. Porém, seu nome se tornou símbolo de resistência com o exemplo legado para tanta gente marcada pela fatalidade e ainda vive no amor imortal de seu esposo que continua a frente daquela campanha sem sofrer solução de continuidade - liderança e experiência para todos que se ressentem de uma melhor orientação.
Mariana Cuervo Eidt, 27 anos, faleceu em 02/02/2011. Era filha do juiz da Vara da Infância e da Juventude de Santa Cruz do Sul, Breno Brasil Cuervo. Não obstante a doença ter se revelado em 2000, conseguiu se recuperar com o tratamento de oito meses em Porto Alegre, o que lhe deu condições de trabalhar na Procuradoria Geral do Estado, onde foi aprovada em concurso público. Em julho de 2010, voltaram as complicações de saúde, necessitando de um transplante de medula com a possibilidade de um indivíduo ser compatível a cada 100 mil.
Complicações pulmonares, baixa imunidade, coma, a fatalidade se consumava. As palavras de Thiago em mensagem através do twiter traduzem o perfil que ela nos passou: “A Mari deixa um exemplo de força de vontade, garra, fé e esperança”.