A “pequena” Graciara de Fátima homenageou Florisbela e Cantalício
Resem, os avós que conheceu, postando foto no "face", onde aparece junto com
eles. Isto porque a vó Bela, na realidade sua tia-avó, era emprestada desde que
aquele seu avô materno, enviuvou da sua verdadeira avó Rosa, irmã de Florisbela
e grande paixão dele. Sua mãe Nilza era pequena quando ocorreu o surto de gripe
espanhola em Jaguarão e, junto com vô Cantalício, permaneceram acamados e
cuidados pela vó Rosa até ficarem curados daquela enfermidade. Após foi a vez
de Rosa ser abatida pela insidiosa doença, sem chances de recuperação.
A bisavó Delfina, mãe de Cantalício, então o aconselhava a procurar alguma outra
moça para casar, argumentando que não tinha certeza se teria condições de criar
a neta Nilza no seu tempo de vida restante – no entanto, longeva, conseguiu
vê-la casada. Nessa época, Cantalício costumava visitar os sogros como forma de
relembrar a sua efêmera felicidade. E, numa dessas vezes, enxergou a cunhada
recolhendo um balde d’água na cacimba, nos fundos da casa. Lembrando dos apelos
da sua mãe, aproximou-se dela sorrateiro, ganhou coragem e perguntou à queima
roupa: “Florisbela, queres casar comigo?” E ela nem titubeou: “Quero”.
E assim Florisbela contraiu matrimônio com Cantalício e passou
a cuidar da sobrinha Nilza como fosse filha verdadeira, além de aumentar a
família com Anysio e Lucy, estes sim seus filhos e, por que não dizer, primos
de Nilza, tornando-se pois a avó homenageada que Graciara conheceu pelo lado
materno. Dona Edina e Seu Tourinho, de Belém do Pará, foram outros avôs – já
falecidos quando esta nasceu - que deixou de conhecer por parte do pai coronel
Cesário. Esta “Vó Bela” foi o grande esteio de um clã de 15 netos e inúmeros
bisnetos e trinetos que forjou o carisma Resem através dessas sucessivas
gerações.
Esse casal também, ele e ela, foram os tios que me criaram
desde o falecimento de minha mãe Maria Francisca em consequência do parto (não
existia penicilina na época), aos treze dias de nascido. Meu pai, José
Dalberto, viúvo pela segunda vez e bastante abalado com mais esse golpe, não
encontrou forças suficientes para se recuperar e achou por bem apelar para a
solidariedade daqueles meus tios, sua irmã Florisbela e o cunhado Cantalício. Eles
se dispuseram a me acolher como tutores até que eu atingisse a idade adulta, o
fato vindo a se consolidar com o passamento de papai, após eu completar dois anos.
E eu acabei migrando para uma nova família, onde recebi a condição
de “reisinho”, mimado pelos tios que se tornaram pais adotivos e pelos primos,
os quais passaram a me tratar como irmão caçula. Nilza e seu noivo tenente Cesário
já treinavam comigo os cuidados que dispensariam a sua futura prole. Ali fui
crescendo cercado de regalias que Anysio e Lucy, mais graúdos, não dispunham.
Travessuras que eram perdoadas como aquela de escalar as prateleiras de uma
cristaleira desabando sobre mim e o susto que todos levaram até levantarem o
móvel e me constatarem são e salvo em meio aos cacos de jarras e copos.
Florisbela era mulher prendada, cheia de energia, que trazia
para si todos os encargos inerentes a uma administradora do lar, sem
arrepiar na beira de um fogão a lenha, mesmo quando a fumaça da chaminé se
voltava para dentro de casa. Pau para toda obra, fabricava em seus domínios produtos
caseiros como velas, sabões, pães, bolachas, massas, linguiças, compotas de
doces... Além de gerenciar a livraria e a tipografia “A Miscelânea” que passou
a sua propriedade, quando Cantalício assumiu funções de Juiz de Direito da Comarca,
intimado pelo Dr. Carlos Barbosa, então presidente do Estado.
Já
Cantalício era o intelectual autodidata, dado às lides jornalísticas, inclusive
atuando na área assistencial como colaborador da Associação Protetora dos
Desvalidos. Por muitos anos, dirigiu “A Folha”, um dos mais antigos jornais do
Estado que ele fundou, até passar às mãos de seu filho Anysio de Souza Resem.
Tinha uma chácara que dedicava especial atenção para abastecer sua residência
de leite, verduras e frutas. Mais dado ao diálogo, não acreditava em castigos infligidos
a seus descendentes e sim no exemplo de uma conduta ilibada que sempre soube
transmitir com carinho e respeito a todos aqueles que se afastassem dos rumos
traçados para um futuro ideal.