domingo, 29 de maio de 2011

E a vendinha de Dona Alexandrina?

“Às vezes, no rústico balcão
De velha tábua enegrecida
O tempo parava...
Às vezes, o vento passava
E o papel de embrulho acenava
Convidando o cliente...”

Fátima Michels me confunde com o autor de “Bodega”, Raimundo Cândido Teixeira Filho, de Crateús-CE, e diz que gostou muito do poema. Mas ele está ali a meu lado e corrige o equívoco: “A Bodega é minha!” E tinha que ser mesmo, mas me chama atenção pela temática. Mais tarde, leio a obra poética e me emociono com a beleza dos versos de uma sintética tranqüilidade ao transmitir com imagens felizes o humilde cotidiano que ainda subsiste apesar dos avanços tecnológicos. E nos transporta para aquelas paragens isoladas que se congelam na espera dos transeuntes.
Dou-me conta dos tempos decorridos e dos espaços ocupados nesta minha jornada de tantas vidas. Lugares por onde andei, saindo de Jaguarão, passando em Porto Alegre (Partenon, Centro, Bonfim e Menino Deus), São Bernardo do Campo (Jardim do Mar), São Paulo (Vila Prudente, Jardim da Saúde) e Florianópolis (Capoeiras, Agronômica). Em todos eles ainda rememoro a existência de uma “bodega”, ali na esquina ou no meio da quadra, que ainda hoje teima em manter a sua caderneta de fiados para os clientes relutantes em ingressar na era das compras facilitadas pelos cartões de crédito.
E o vento vai passando e me jogando meninote naquela chácara do meu tio Cantalício, em Jaguarão, naquela estrada que me parecia não ter fim até chegar lá, deixando a cidade, avistando a Igreja Matriz, a Santa Casa, o Quartel, o Curtume e o caminho longo até o Corredor das Tropas. Logo ali, a casa dos Machado, atravessava-se o Passo dos Corrêas, um fiapo de arroio que não dava passagem nas chuvaradas, e a estrada seguia na direção da Capela São Luiz. Bem antes eu descia do “carrinho” puxado a cavalo e abria a porteira para trilhar a íngreme ladeira de terra escorregadia até as casas.
Ranchos, galpões, currais, baias, tambos, galinheiros, chiqueiros, açudes, sangas, mato, campos, potreiros, cacimba, bomba d’água, plantações, hortas, pomares, taquarais, um mundo de solidões para mim. Aves, bovinos, eqüinos, suínos, caninos eram seres alienígenas num deserto humano. Meu tio reinava ali absoluto e ditava suas leis: “na minha propriedade é proibido caçar passarinho”. Os estilingues eram apreendidos sem qualquer apelação. Não deixava de verificar e determinar as tarefas do chacreiro, “seu” Dema, que a toda hora precisava ser lembrado da forma de executá-las.
Para melhor ocupar esse tempo arrastado, lá ia eu pegar no arado e tanger os bois no vai e vem da terra lavrada ou então rolar a pipa para buscar água na cacimba. Montava na égua zaina e saia a recolher as reses espalhadas pelo campo. Enchia balaios de laranja, vergamota, peras, goiabas para devorá-las ali mesmo, levando o resto para casa. Antes do almoço, o banho recreativo na sanga, seguido de causos contados na roda do mate, enquanto “seu Dema” aprontava a bóia e eu sugeria um angu de sobremesa: “mas não tem o fubá, a farinha de milho...” Fácil, só ir lá na Dona Alexandrina que ela tem...
E nós saíamos transpondo aramados e cruzando campos afora, a pé naquela longitude, para chegar na venda da Dona Alexandrina e gritar da porteira: “Ó de casa, queremos meio quilo de fubá!”

domingo, 22 de maio de 2011

Estendidos no Varal em Floripa/SC

EM PÉ: Icléia, Sandra, J.Machado, Flávio, Jacqueline, Dulce, Valdeck, Márcio, Júnior e Raimundo; SENTADOS: Verônica, José, Fátima, Zuleide, Walnélia Corrêa Pederneiras, Vó Fia, Irineu, Santhiago e Maerki (O TIME DOS SONHOS).

Dia 13 de maio último, estive em Florianópolis-SC participando do lançamento do livro “Varal Antológico”, na Livraria Catarinense do Beiramar Shopping. Esta obra reunia 38 autores do site Varal do Brasil, editado em Genebra (Suíça) e organizado pela escritora Jacqueline Aisenman, Embaixatriz da Paz, que também ali se fez presente para autografar os títulos de sua autoria “Lata de Conserva” e “Poesia nos Bolsos”. Noite de congraçamento e encontro com os leitores que não se furtaram a atender o convite para comparecer e prestigiar esse brilhante evento de Santa Catarina.
Poetas, contistas, ensaístas, literatos em geral, marcaram seu ponto de representação de alguns estados brasileiros, a saber: BAHIA – Waldeck Almeida de Jesus (Jequié): CEARÁ – Raimundo Cândido Teixeira Filho (Crateús); MINAS GERAIS – Irineu Baroni (Belo Horizonte) e Maria Aparecida Felicori/Vó Fia (Nepomuceno); RIO GRANDE DO SUL – Icléa Inês Ruckhaber Schuwarzer (Gramado) e José Alberto de Souza (Porto Alegre); SANTA CATARINA – Dulce Claudino, J. Machado, Jacqueline Aisenman, Maria de Fátima Barreto Michels, Mário José Rodrigues, Rita de Oliveira Medeiros, Souza Júnior, Suyan de Mello, Thiago Santhiago, Verônica dos Santos Silva e Zuleide J. Coral (Laguna); Flávio Goulart Barreto, Luiz Carlos Amorim e Walnélia Corrêa Pederneiras (Florianópolis) e Sandra Helena Queiroz Silva (São José);
SÃO PAULO – Thiago Maerki (Guarulhos).
A capa do livro foi um dos pontos altos destacado pelos inúmeros apreciadores desta arte projetada a partir de fotografia colhida por Maria de Fátima Barreto Michels sobre um banco de pedreiro.
Na ocasião, distribui como brinde aos confrades antologistas “Lá pelas tantas”/ crônicas e “Para Não Dizerem Que Passei em Brancas Nuvens”/ contos, de minha autoria, tendo recebido retribuição de Dulce Claudino (“Vidas em Versos”) e Luiz Carlos Amorim (“Borboletas nos Jacatirões”).
Muito gratificante para mim foi receber abraços e cumprimentos do amigo Ernani de Moraes Kurtz e da sobrinha Hilda Terezinha de Souza Pacheco, esta acompanhada pelas filhas Isabele e Alicia, compartilhando comigo dessa imensa alegria.
Para dar uma idéia da afluência do público às dependências da Livraria Catarinense, recomendo ver a ampla cobertura fotográfica de Dulce Claudino: http://duinha-dulce.blogspot.com/2011/05/lancamento-livro-varal-antologico.html.
Abaixo transcrevemos a introdução do poeta catarinense Alcides Buss nesse "Varal Antológico:
IDADES DE SER FELIZ Se você tem quinze anos não esqueça: esta é a melhor idade! Dos 15 aos 30, tudo é ainda propício à felicidade. Ao fazer 40, pense nisto: cheguei à metade da vida mas tenho outra metade pela frente. Depois dos 40, leve em conta: o que importa é cada momento!

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Não é que eu queira me gabar...

Alguém me disse uma vez que só é escritor aquele que tem livro publicado. Palavra, que jamais tive essa pretensão de editar qualquer obra. Porém, em novembro de 2009, o meu sobrinho “emprestado” Carlos José de Azevedo Machado (esposo de Vera Lúcia Souza Pacheco, esta sim legítima), então titular da Secretaria Municipal de Cultura me intimou a lançar no ano seguinte uma publicação de minha autoria na II Feira Binacional do Livro, de Jaguarão-RS. E se agora me invisto dessa condição, devo única e exclusivamente àquele seu estimulante desafio.

No mês passado, fui colhido de surpresa ao me deparar com postagem referente à minha pessoa no blogue “Talentos Jaguarenses: do passado ao presente”, a qual foi motivo de divulgação através de mensagem aos contatos mais chegados com os seguintes dizeres: “Não é que eu queira me gabar, mas me colocaram nesta galeria http://talentosjaguarenses.blogspot.com/2011/03/jose-alberto-de-souza.html. Diante de tantas manifestações de júbilo, resolvi transcrevê-las nos comentários abaixo, bem como enumerar todas as postagens publicadas naquele diário eletrônico até o momento:

01. Músicos Jaguarensses;

02. Escritores Jaguarenses;

03. Artistas Plásticos Jaguarenses;

04. Artesões Jaguarenses;

05, Joaquim Caetano da Silva;

06. Dr. Carlos Barbosa Gonçalves;

07. Eduardo Nadruz – o Edu da Gaita;

08. Sérgio da Costa Franco;

09. Aldyr Garcia Schlee;

10. Martim César Gonçalves;

11. Hélio Ramirez;

12. Gilberto Isquierdo;

13. José Alberto de Souza;

14. Eduardo Álvares de Souza Soares;

15. Marilu Duarte;

16. Carlos Heráclito Mello Neves (Kalunga);

17. Jaguarenses Ilustres Que Fizeram História;

18. Lau Siqueira;

19. Osvaldo Cordeiro de Farias;

20. Lau Siqueira lança livro em Porto Alegre, Curitiba e João

Pessoa;

21. Satyro Agenor Garcia;

22. Paulo Timm;

23. Alesssandro Gonçalves;

24. Maristel Pereira Mainardi;

25. Hermes Pinto Affonso;

26. Carlos Alberto Ribas;

27. Tempo, Espaço e Máscaras – Exposição da Artista Ana Izabel

Bretanha na Galeria de Artes da UCPEL;

28. Jerônimo Jardim – Um Grande Artista Jaguarense.

Evidente que me sinto bastante honrado com essa deferência, apesar de um pouco constrangido por anteceder inúmeras personalidades bem mais merecedoras de constarem nesse rol de notáveis, alguns ainda não acolhidos mas que por certo terão a sua vez com o decorrer do tempo e a ampliação do espaço desse resgate histórico.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Ele revela que nasceu em Jaguarão

Na 56ª. Feira do Livro de Porto Alegre, estive na sessão de autógrafos de lançamento de “In Extremis – Na Alça da Mira”, novela de Jerônimo Jardim. Quando o avistei, ele caminhava de vagar, apoiado numa bengala, ainda convalescente de enfermidade que o manteve em prolongada quarentena. E qual não foi a minha surpresa ao me deparar no saguão do Teatro Bourbon Country, prestigiando os 20 anos do Prêmio Açoriano de Música, com sua presença simpática e saudável, aparência de impressionante recuperação e desenvoltura no andar. Ah, e mais aquela sua marca registrada num flamante “Ramenzoni”!
Dia 4 de maio último, assistimos no Teatro Renascença (CMC) ao espetáculo de lançamento do último título da Virtual Musix/Mídia. – “De Viva Voz” – em que esse cantor e compositor se fazia acompanhar de um seleto grupo integrado por grandes astros da nossa constelação instrumental: Toneco da Costa (direção musical, arranjos, cifras e violão), Pedrinho Figueiredo (produção artística, vocal, sopros e arranjos para flauta e sax soprano), Fernando do Ó (percussão), João Vicente (violão de 7 cordas) e Luís Arnaldo (cavaquinho), além da participação especial da cantora Greice Morelli.
Abrindo a cena, JJ apresentou a primeira faixa do disco “Violão, Meu Violão”, samba de sua autoria que começa “a capela” e vai adquirindo balanço cada vez mais crescente. Segue-se a melodia título do trabalho “De Viva Voz” em que JJ dá o seu tom seresteiro, sob a brilhante moldura musical do sax de Pedrinho Figueiredo. Chega a vez do samba rasgado “Minha Nega”, em boa marcação do cavaquinho de Luís Arnaldo, e a platéia assiste atônita a invasão do palco por um cidadão trajando preto que arrasa com sua intervenção de harmônica – era o músico Xandy Vieira que se apresenta cantando e tocando no Sargent Peppers.
Embora lenta, uma batucada, “Perdoar”. A dor de cotovelo chega e aparece a flauta de Figueiredo, uma valsa “Cama Desfeita”. Em dueto com Greice Morelli, apresentação dos músicos, a gafieira de “É Isso Aí”. As firulas do Pedrinho na flauta, o agito de “Se Eu To na Boa”. O soprano do homem, vou te contar, boa de sair no sereno esta valsa “Não Há Mais Chão”. Jerônimo diz que é de dois lugares – “Nasci em Jaguarão, meu pai era militar, estava em trânsito, mas me considero de Bagé” – a sua origem familiar, ali descobre o choro da dupla Ciro Vaz & José Ducos, “Aconteceu em Madureira”.
Logo vem as suas parcerias que tem início com Greice Morelli, chamada ao palco, surge extasiante num longuinho vermelho e interpreta “Sinto Muito”, um samba-choro de fé. Poesia de Luiz Coronel que musicou e interpreta “O Amor é Assim”, dolente canção. Um título curioso “Amsterdã”, a letra repassada pelo jornalista Timóteo Lopes em relevo numa melodia singela, metáfora perfeita de amantes encarando horrores para mostrar que o amor supera a guerra. E até a esposa Clair Jardim colabora nos créditos de “Cartas Digitais”, valsa onde sobressai o sopro de Figueiredo.
Encerrando, apresenta novamente em dueto com a “melindrosa” Greicinha o agitado frevo “Lenha na Fogueira”, outra de suas parcerias com Clair Jardim. Em suma, Jerônimo Jardim esbanjou todo seu carisma romântico e alegria de viver em cena sem maiores sofisticações mas de grande identidade e sintonia com o público, que o aplaudiu delirantemente durante toda apresentação. Isabela e José Fogaça, Gelson Oliveira, Ayrton dos Anjos, Luiz Coronel e Luiz Mauro entre muitos que ali estiveram prestigiando o espetáculo.
“De Viva Voz” teve captação fonográfica ao vivo nos dias 6 e 7 de janeiro últimos, na Sala Álvaro Moreira do Centro Municipal de Cultura de Porto Alegre. Este show será reprisado no Sargent Peppers, no próximo dia 1º de junho às 22h30min. Conheçam melhor o artista em: http://www.jeronimojardim.com/.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Mais reconhecimento a Glênio Reis

Dia 26/04/2011, fui intimado pelo radialista Glênio Reis, a comparecer no Teatro Bourbon Country, a fim de acompanhar a cerimônia de entregas dos troféus relativos à 20ª. Edição do Prêmio Açorianos de Música (2010), no qual recebeu Menção Especial por seu expressivo desempenho como mais antigo comunicador gaúcho na área musical. Também receberam essa premiação Ayrton dos Anjos, renomado produtor fonográfico do Rio Grande do Sul; Carlos Branco, produtor musical; OSPA 60 Anos e Revista Noize. Os Homenageados do Ano foram Kleiton e Kledir pelo conjunto da obra.
Em sua fala de agradecimento, este filho de “seu” João dos Reis e de Dona Carolina Tanger dos Reis salientou a sua plena disposição de continuar atuando à frente dos microfones, faça frio ou faça calor, sem ligar para o avançado de seus 83 anos recém completados. Mantém-se ativo enquanto sua saúde permite para dar continuidade na apresentação do seu consagrado programa Sem Fronteiras das noites de sábado e, às vezes, das madrugadas de domingo – “sem preconceitos, onde a mediocridade não tem vez” – sempre na sintonia da Rádio Gaúcha, de Porto Alegre.
Com emoção referiu-se à presença de seus familiares na primeira fila da platéia de que muito se orgulhava – suas filhas Ellen e Rosy, ambas professoras como sua saudosa esposa Anésia Pereira dos Reis, e mais a neta Carolina, a quem nutria esperança de que se tornasse um dia como ele radialista. Ao final de sua oração, o público levantou-se para aplaudi-lo em demorada salva de palmas, como testemunha desse ato de reconhecimento a quem vem se dedicando com notável pertinácia à missão de levar entretenimento e cultura ao nosso povo.
A família Ramil, de Pelotas, teve bons motivos para comemorar, além de Kleiton e Kledir como Homenageados do Ano que tiveram suas músicas interpretadas por vários cantores gaúchos participantes da apresentação como Thedy Corrêa, Serginho Moah, Claus & Vanessa, Tati Portella, Neto Fagundes e Carlinhos Carneiro: a performance do irmão mais novo Vitor que arrebatou o principal prêmio da noite, Melhor Disco do Ano para “Délibáb”, cujo álbum ainda recebeu os troféus de DVD do Ano, Instrumentista (Carlos Moscardini) e Disco na categoria MPB.
Tive oportunidade de ser apresentado pelo professor Glênio à conterrânea Dª. Dalva, matriarca do clã Ramil. Nesse contato, inteirei-me do seu ramo materno Del Pino, cujas irmãs Diva e Dalva Del Pino Alves conheci como professoras do antigo Grupo Escolar Joaquim Caetano da Silva, em Jaguarão. E fiquei sabendo que era sobrinha do Sr. Abade Del Pino, dono de armazém naquela cidade, pai do ex-colega do Ginásio Estadual, Derly Del Pino, vozeirão dos programas locais de calouros, onde era apresentado como o “Vicente Celestino dos Pampas”.
Entre as inúmeras personalidades ali presentes, encontrei os conterrâneos Jerônimo Jardim, acompanhado da esposa Clair, e Martim César Gonçalves, concorrente a Melhor Compositor na categoria Regional com o disco “Da Mesma Raiz”. Cumprimentei ainda o amigo Marco Aurélio Vasconcellos e sua esposa Regina, ele postulando o prêmio de Melhor Intérprete pelo referido disco, também indicado para Melhor Instrumentista (Carlitos Magallanes). Bem que mereciam qualquer um desses troféus, considerando a concentração de prêmios alcançada por alguns agraciados.
A família Reis me proporcionou uma festa maravilhosa, senti-me bastante honrado com o convite deles e apreciei muito essa agradável companhia como se fosse um de seus membros.