domingo, 20 de outubro de 2013

CALOU A VOZ DESTA CORRESPONDÊNCIA !

Alcides Carlos de Moraes (N.24/05/1916 - F.19/10/2013)

Meu caro poeta e amigo José Alberto,

Com o velho Mandarino, muito tênis joguei nas minhas idas a Jaguarão. O Rubem, o  conheci em um torneio de golfe na cidade gaúcha de Santana de Livramento, do qual tomamos parte. Era simpático como o  pai.
Um grande abraço do Alcides.



Boa noite, caro amigo Alcides:

Não sei se poderá lhe interessar, mas estou repassando mensagem que acabo de receber de Douglas, cujo personagem cheguei a conhecer e que era muito amigo do meu tio Cantalício. Grande desportista, teve um filho nascido em Jaguarão, campeão de tênis José Edson Mandarino. Outro de seus filhos Rubem Mandarino, também residiu em Jaguarão e estudou no IPA. Apenas isso, uma pequena recorrida ao nosso torrão natal.

Grande abraço,
José Alberto de Souza.



Olá, caro amigo Sr. Jose Alberto!
 Casualmente achei no livro Futebol e Reminiscências do autor Hermito L. Sobrinho, página 170, relato sobre um cidadão que nasceu ou morou em Jaguarão; trata-se do goleiro JACOMO MANDARINO, assim diz o livro:

-Jacomo Mandarino jogava futebol, boxe e tênis. Conheci Mandarino como delegado da policia de Jaguarão. Rubem Mandarino, seu filho, estudava no IPA  de Jaguarão e jogava numa equipe daquela localidade. Alem das funções de delegado de policia, ele era encarregado de vigiar exilados políticos. Viajava constantemente a Montevidéu, Buenos Aires e Santiago do Chile, sempre com sua raquete embaixo do braço. Dizia-me que a raquete era seu cartão de visitas junto aos desportistas destas localidades.
Outro trecho diz que Mandarino pai morava com seu filho Edson Mandarino, campeão de tênis, que conheceu em Jaguarão, com apenas um ano de idade. Fala de tal de Rubem Mandarino que jogou no Cruzeiro de Porto Alegre, em Rivera e Livramento.
Ainda na época do livro (1989) Rubem teria dito que seu pai Giacomo ainda jogava tênis aos 87 anos na cidade de Madri onde residia, apos isso ainda no mesmo trecho de noticia o autor afirma que ainda em 1987 acabou sendo surpreendido que Giacomo havia falecido em Madri como bem gostaria em quadra jogando tênis. sem mais.

At. Douglas

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Fantasmas, lembranças, por que estou aqui?



Às vezes, fico pensando que estamos chegando numa idade onde começam a partir as pessoas mais jovens e que ficamos para cumprir nosso carma.

Quantos de nossos ascendentes já não embarcaram no veículo celestial que os conduziu para outras paragens, após cumprida a sua proba missão.

Acredito que essa inconformidade parece acentuar-se quando nos vemos privados intempestivamente de nossos contemporâneos ainda tão outonais.

E as recordações começam a fluir de forma intensa e tão real em todo nosso cotidiano, levando-nos a duvidar da inexorabilidade d’um destino.

Luiz Fernando Mello de Almeida (primo em segundo grau) era filho de minha prima Hilda Mello de Almeida, casada com o general Ociran Sebastião de Almeida; neto de minha tia Maria José Souza de Mello, casada com Joaquim Luiz de Mello; bisneto de meus avôs Joaquina Teixeira de Souza e José Vieira de Souza, tendo assim ligações familiares em Jaguarão.
Sempre admirei o ramo Almeida dessa família por incutir em seus descendentes a aproximação de todo tipo de parentesco, gente que nunca deixava de procurar em qualquer de seus destinos. Como agora me comunica o filho Luiz Eduardo Fontes Mello de Almeida a missa de primeiro ano de falecimento de seu pai, atitude típica de seus saudosos avôs Hilda e Ociran e de seus tios Eduardo Ubirajara e Regina.
Ainda tenho na lembrança a vez em que prima Hilda, então residente no Rio de Janeiro, foi visitar seu pai, tio Joaquim, em Jaguarão, lá pelos anos cinquenta. Foi quando encontrou a prima Nilza, casada com o major Cesário, na época servindo no Regimento local, botando a conversa em dia nas tardes hibernais, ambas sentadas numa mesma cama e entrouxadas até a alma para resistir o frio intenso.
Cadetes da Marinha, tanto Luiz Fernando quanto Eduardo Ubirajara, não deixavam de atender os apelos da mãe, no sentido de procurarem parentes nas cidades onde aportavam em suas viagens de estudo como tripulantes do navio-escola Cisne Branco. Depois ambos decidiram se fixar mais em terra para estar bem próximos da família, formando-se em Engenharia Naval e passando a exercer atividades civis.

Aqui em Porto Alegre, Luiz Fernando chegou a ocupar a Diretoria de Informática do Grupo Ipiranga e implantou todo o banco de dados dessa empresa, atuando de terça a quinta-feira e passando fins de semana com a família no Conjunto Residencial Itaipu, em Niterói-RJ. Como trabalhava perto do BRDE, algumas vezes costumávamos almoçar juntos no restaurante do Palácio do Comércio, trocando ideias e noticiando atividades. Depois, soube que tinha deixado a Ipiranga para se integrar em consultoria na construção do novo aeroporto do Rio.

domingo, 6 de outubro de 2013

PERCURSO DE UMA LEITURA

“Eu sou de uma terra de imaginação. O gaúcho, aquela vida segregada na estância, com um convívio muito limitado, aquilo leva às fantasias, aos sonhos, ao conto, à história... De muito cedo, a gente está neste mundo de ficção. Eu penso que foi isso que me levou. Minha cidade, Quarai, é um lugarejo de três mil habitantes. Era aquela solidão numa savana, uma casa a léguas de distância da outra, naquele campo. Aquela solidão leva ao sonho, tem que se conviver com alguma realidade e a realidade que está mais à mão é o sonho, é a ficção” (final da entrevista concedida por Dyonélio Machado a Ivan Cardoso e Décio Pignatari em 1978, publicada na Folha de São Paulo de 21.12.1991).
Da obra de outro quaraiense, Cyro Martins, em “O Príncipe da Vila” (3ª. edição, Movimento/Curso Pré-Universitário, 1987) à página 18, transcrevemos: “Uma casa aqui, outra lá, tão distantes uma das outras que as vizinhas precisavam sair do seu pátio para ir encontrar a comadre, porque de janela a janela não se ouviam”.
Parece-nos que tais trechos podem servir de ponto de partida para entender Brandino, personagem no qual se centra o desenrolar desta novela. Lendo em voz alta, escutamos o ritmo da narrativa, muito semelhante ao de qualquer causo contado nas rodas de galpão. Floreios, detalhes, associação de idéias, histórias emendadas, fatos paralelos – recurso típico do narrador que escamoteia os rumos, espicha as falas, mantém os ouvintes atentos e ansiosos enquanto não lhes desvenda o desfecho. Apesar de se reconhecer, pag. 74: “Causos que se passavam na campanha, mas que não refletiam necessariamente a alma da campanha, isto é não eram campeiros”.
“Filho de uma penca de pais e de meia dúzia de mães” (pag.14), Brandino se torna resultante de uma época de farranchos que glorificavam coronéis e estancieiros, quando as carretas ainda cumpriam a sua função no transporte de mercadorias. E o trem – antecedendo o rádio e o telefone – era a marca mais evidente do progresso: ”Era uma festa quando o estafeta chegava, de quinze em quinze dias, trazendo jornais – o Correio do Povo, a Gazeta do Alegrete, o Diário Popular de Pelotas e o Correio do Sul de Bagé” (pag. 68). Cultura tosca formada em leituras esparsas, gerando confusões na semi-intelectualidade do autodidata: “Só que não foi o Bilac que esteve no Cati, foi o Coelho Neto” (pag. 40).
Por obras e artes do galo-músico Príncipe, da casamenteira dona Pitoca, do amigo Cardosinho, do padre José e da prostituta Dulce, o personagem se encaminha ao fatalismo da própria existência, conforme prenúncios da mãe Luzia (pág. 46): “Não atinava com o porquê, mas Brandino desde que viera ao mundo, lhe pareceu fadado a um destino estranho”. Brandino renuncia à acomodação de Nossa Senhora do Rosário, às suas origens, à mácula do seu passado e se auto-exila no Paraíso, a estância-herança da mulher Teresa, onde tenta repetir a simplificação do seu antigo ofício na Prefeitura: – desça à comissão de pareceres (o capataz Floriano), suba a instância superior (o próprio). Mas ai ele vai dar um novo sentido à sua vida, a do itinerante tio Brandino - missionário, curandeiro, pregador, conselheiro, artista, aglutinador, milagreiro -  preenchendo lacunas na solidão do pampa, compensando carências – ou (pag. 68): “Mais que isso, descobrindo parentescos, pelo lado paterno, dos quais não tinha bisca de notícias”.
O desfile de 66 personagens, quase uma lista telefônica local, a princípio estranho numa história que se desenvolve em 84 páginas, justifica-se como representação fiel de uma cidadezinha de onde todo mundo conhece todo mundo. E assim se nominam costureiras, parteiras, lavadeiras, carpinteiro, hoteleiro, barbeiro, dono da venda, dono da loja, dono do colégio, delegado e ordenanças. Também comum numa localidade do interior gaúcho, o tratamento respeitoso na época – comadre Luiza, compadre Anselmo, coronel Sabino, dona Santinha, seu Ataliba, dona Margarida, dom Alberto, dueña Ângela. A linguagem é autêntica na medida em que reproduz o toque regionalista desta narrativa, apesar de não se constatar nenhum abuso em termos que dificultem a compreensão do leitor – afora 35 palavras, algumas de nítida influência fronteiriça. As referências históricas (revolução de 1893, tratado de Pedras Altas em 1923) e geográficas (o Passo, Alegrete, Santa Maria, Uruguaiana, Porto Alegre) delimitam com precisão tempo e espaço.

Em suma, uma narrativa extremamente densa e de considerável fluidez na leitura.