quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

* CARO AMIGO SOUZA - Helena Ortiz *

(Crõnica em Panorama - jornal de literatura - número 2 - ano I - maio de 1999)
Uns dois dias depois de sair o panorama ensaiei uma carta para ti, escrita à mão, mas não cheguei ao final. Fiquei com um complexo bobo, depois de uma coisa que me escreveu um poeta famoso a quem mandei meus livros: que uma carta escrita em computador não tinha alma. Fiquei triste dele dizer isso. Afinal eu não o tinha conhecido por meio da palavra impressa? E todo o mundo de palavras que conheço hoje, não foi lendo os manuscritos, pois não? Mas deixa pra lá. Vou de computador mesmo, que minha letra começa  bem mas depois não se aguenta, aqui posso aumentar o tamanho da fonte e te facilito a leitura com esses óculos.
A verdade é que naquele dia estava vivendo uma alegria infantil, mas mais que isso. De mãe, mesmo. Coisa difícil de explicar. Estava em casa vendo na TVE um filme sobre Geraldo Pereira, feito por gente de Juiz de Fora. Muito bom, e eu ria à vezes, de contente por ser brasileira e viver num país em que se produz arte assim, com tanta naturalidade. É a mesma coisa que eu sinto quando vejo Antônio Nóbrega. Naquela noite rodava o panorama. Era 23 de abril (1999). Depois eu vim saber, também era dia de São Jorge e aniversário de Pixinguinha. Com esses padrinhos, o panorama tem chance de ser imortal, não acha?
Eu via o filme e pensava no jornal que estava rodando em Cabuçu, que, se não sabes, é muito no fim de Nova Iguaçu que, como sabes, é longe pra burro.
Claro, passaram-se os dias. O jornal está de novo na rua e já estou vivendo o próximo. Sartre disse que somos nós e as circunstâncias. Eu já acho que somos mais os nossos erros.
Ouvi várias observações. A todas acatei. Problemas? Não são dele. São da mãe. Freud bem que ajudou, e ajuda ainda, mas a culpa nos persegue. O pecado continua original. O sonho indica a causa das nossas angústias. Mas quem não sabe interpretar os sonhos? A ciência e o conhecimento não servem a todos. E de que vale o conhecimento quando se é capaz de produzir a guerra, de não aceitar o outro? O lado da sombra também se vale dela para a execução – uma nova religião. (Estou saindo do Evangelho de Saramago e me dou conta do pouco valor de nossas pequenas vidas.
Destinados a glória
 os homens
 jogam fora as trombetas?
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A tua poesia tá no jornal. Verso que vem em sonho é palpite bom. Gostei muito de saber dos progressos do teu projeto musical. Conta mais.
Da situação geral, é bom nem falar, não é, Souza? Eu disse para minha amiga Vera Lopes que Fhc me lembrava Luiz XVI e ela me corrigiu  “Luiz XVI com repentes de Maria Antonieta”. Até minha mãe, que é resistente, acha que ele não se aguenta nas pernas. A propósito, meu poema O Última Dia foi feito a partir dele. Tenho vários, mas O Último Dia é que gosto mais. Tá no nº. 1, lê de novo. (Pena que não tenho um chargista).
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Da guerra dos Balcãs, falar o quê? Se o próprio general da OTAN reconheceu que a campanha não atingiu os seus objetivos? Depois, a gente sabe, é preciso testar novas armas. Inventa-se um milosevic e pronto: é só apontar. Aliás, com um serviço secreto tão eficiente (ou era só nos filmes?) podiam matar só um e resolver. Mas o que se vê é morte, degradação, impotência – a hipocrisia sustenta a guerra. O resto fica por conta da televisão, que dá sentido ao que não tem. Que as pessoas precisam morrer, disso não há dúvida, mesmo porque o mundo não daria para todas. Mas por que de maneira tão brutal? Isso é Saramago ainda que não literal. Leio Clarice e ela diz: “Enquanto eu inventar Deus, Ele não existe”.
Te abraço e a Gislaine, desejando alegrias nos intervalos. E esse é Gabriel pra te dar um sinal e já nada mais precisar dizer:
Seja como for
Estamos no planeta
Eu e meu amor.
Obs: O Henfil também era Souza. Daí também eu ter me lembrado de escrever esta carta, que no próximo jornal pode de novo virar uma crônica, porque também Clarice permanece, e Rubem Braga, Drumond, Carlinhos Oliveira, Sérgio Porto e não terminamos.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

MÃOS QUE OFERECEM ROSAS (Judite Junqueira Vilela)

 Fica sempre um pouco de perfume nas mãos que oferecem rosas,
Nas mãos que sabem ser generosas.
Dar um pouco que se tem aos que tem menos ainda,
Enriquece o doador, faz sua alma ficar mais linda.
Fica sempre um pouco de perfume nas mãos que oferecem rosas,
Nas mãos que sabem ser generosas.
Dar ao próximo alegria parece coisa singela,
Aos olhos de Deus, porém, é das artes a mais bela.
Fica sempre um pouco de perfume nas mãos que oferecem rosas,
Nas mãos que sabem ser generosas.

“Olá,
O autor não é desconheciodo. Aliás, é uma autora, a irmã Judite Junqueira Vilela, de Ituiutaba MG, ainda viva. Escreveu em forma de poema, que, de tão lindo, logo virou uma bela e inspiradora música.
Nós brasileiros precisamos aprender a dar crédito a quem é de direito, não é mesmo?
:)Evelyne”

No dia 2 do corrente, fui surpreendido com esse comentário postado em http://poetadasaguasdoces.blogspot.com.br/2010/10/maos-que-oferecem-rosas.html, cuja importante informação ali contida agradeço e procuro divulgar. Porém, devo esclarecer que, na época, andei buscando no Google e apenas encontrei escrito, através de várias referências, como sendo “canção gospel de autor desconhecido”.

Tais desinformações são muito comuns, conforme tenho constatado em várias mensagens que me chegam através do correio eletrônico com a troca de nomes de autores e até de desconhecidos que se valem de textos apócrifos para circulação na Internet. Esse assunto foi abordado na matéria publicada em: 

Provavelmente, essa nossa complementação venha a trazer algum esclarecimento acerca da autoria da irmã Judite Junqueira Vilela nas referências do Google sobre o poema “Mãos que oferecem rosas”, graças a gentil colaboração de nossa cara leitora Evelyne.