segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A PASSARELA DO CONSUMISMO

“Não mandem flores” é uma frase bastante comum que aparece em alguns convites de enterro divulgados na imprensa. Dizem que se deve destinar os gastos dessas gentilezas às instituições de caridade. Muita gente tem a convicção de que as flores não devem ser arrancadas, pois estão enfeitando jardins e caramanchões. Até mesmo os românticos são criticados pela sua propensão de homenagear suas amadas com artísticos ramalhetes. Se todos pensassem assim, o que seria da floricultura e daqueles que vivem dessa atividade. Mais um problema social?
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E lá se foi o Natal com a sua febre de consumismo, com o tremendo estresse que provoca nas pessoas condicionadas na troca de presentes que ocorrem nas reuniões com familiares e amigos. O décimo terceiro salário injeta renda no mercado para movimentar uma economia que se manteve estável no restante do ano. Nos jornais, os classificados apregoam as vagas oferecidas para empregos temporários. A publicidade volta-se criativa visando o aumento das vendas nas lojas. Desta forma, somos bombardeados pela oferta de tantos produtos supérfluos.
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Escolher um presente já é uma tarefa deveras espinhosa para quem se coloca numa posição de querer agradar, ficando na dependência de atingir o seu intento. Que o digam aqueles que recebem um brinde nem sempre necessário, muitas vezes repassado em outras ocasiões, alimentando assim o ciclo dessas trocas. Por que não se institui uma campanha de doações dessas novas roupas e alimentos que vão atulhar os nossos armários, quando há carência dos mesmos em outras prateleiras? Será que é tão difícil de conciliar essa tendência ao desperdício com algum sorriso sincero de gratidão?
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E ainda tem aquelas visitas que não dispensam trazer alguma “lembrancinha” toda vez que chegam a nossa casa, como se não bastasse o prazer de recebê-las. Ou então aquelas vizinhas que copiam os filmes americanos, trazendo alguma torta para o chá da tarde. A propósito, lembro-me de um primo que foi visitar um conhecido e, na saída, este quis lhe obsequiar com uma lata de Marrom Glacê que tinha recebido de outro convidado, pois nessa casa ninguém gostava da guloseima. Só que não se deu conta de estar devolvendo o presente justo a quem lhe havia ofertado.
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Ficamos sabendo há pouco que o carro modelo Corolla é um dos mais caros circulando nas ruas e estradas do nosso país, cujo preço ultrapassa os cem mil reais no mercado nacional, o dobro do custo médio no exterior. Tem gente que se queixa da carga tributária que não chega a impedir a desenfreada demanda para veículos de qualquer espécie, os quais vem atravancando as nossas principais vias de circulação e pressionando uma crescente dívida pública para atender os gastos com a infra-estrutura necessária. E pelo visto parece que essa ostentação se torna cada vez mais contagiosa.
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A mobilidade social é um fato indiscutível que vem ocorrendo numa evolução impressionante, gerando novas expectativas graças às novas tecnologias disponíveis e ao marketing desenvolvido para dar sustentabilidade a esse processo. O “ter” tem-se tornado mais importante do que o “ser”, muitas vezes a custa do crédito facilitado através das financeiras, pouco interessando a capacidade de pagamento dos mutuários. E vão desfilando na passarela do consumismo celulares, computadores, eletrônicos, carros último tipo, toda engrenagem que move o mercado.
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Enquanto isso, presenciamos nas ruas do nosso bairro, dezenas de sem-teto nos atacando para obter a migalha de uma “moedinha” sobrando em nosso bolso e vão juntando uma a uma para depositar essa “féria” nas farmácias, padarias, lojas e bares necessitados de troco. Noite avançada, alguns somem das nossas vistas quando não se acomodam entre jornais e caixas de papelão, debaixo de alguma marquise para se abrigar das intempéries. E esta legião de excluídos sempre acorre a “Sopa dos Pobres” de alguma instituição filantrópica, em busca da sua única alimentação diária.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Vergara Marques sempre agregador

O nosso conterrâneo Luiz Carlos Vergara Marques que se notabilizou pela criação do programa Turfe & Boa Música na extinta Rádio Itaí, costuma promover todos os meses um encontro dos veteranos radialistas que atuaram nas principais emissoras do nosso Estado. Grande agregador, ele convoca toda a Velha Guarda para relembrar os bons tempos da época áurea da nossa radiofonia, quando saúda um a um todos os presentes, salientando da sua importância como referenciais dos meios midiáticos.
Atendendo honroso convite de Vergara Marques, em companhia de Hunder Everto Corrêa, outro jaguarense ilustre, comparecemos nessa emocionante confraternização e pudemos testemunhar esse exemplo de união e de ideais consolidados na experiência classista de cada um dos seus integrantes, depoimentos imprescindíveis ao balisamento das novas gerações de comunicadores que dão continuidade a essa extraordinária jornada em busca de uma melhor dignidade profissional.
Nesta última terça-feira dia 14, tradicional restaurante Forno & Fogão, ao lado do glorioso Estádio dos Eucalitos na rua Silveiro, tivemos oportunidade de conhecer e cumprimentar grandes personalidades do antigo rádio gaúcho, tais como Salomão Ainhorn, Pedro Amaro, Batista Filho, Sergio Bechelli, Vanize Brown, Beatriz Correa, Arnaldo da Costa Filho, Sergio Dillenbourg, Marisa Fernandes, Lauro Hagemann, Lucio Hagemann, Cleomar Pereira Lima, Cláudio Medina, Leo Pagano, Elisabeth Passos, Antonio Carlos Porto, Antonio Carlos Resende, Aldo Rosito, Rocco Rosito, Sergio Schüller e outros mais.
Muito dessa gente tem aqui chegado oriunda do nosso Interior, em cujas emissoras e jornais ganharam formação para se desinibir e aprender a falar em público, exercitando a oratória e a escrita e consequentemente adquirindo mobilidade social em sua árdua carreira. Eram os conhecidos “bicos” de que se dispunha na época para arranjar uma renda extra afim de custear estudos e até atender caprichos próprios como pagar o cinema ou o guaraná para a namorada, normalmente dependurados na conta dos pais.
Luiz Carlos Vergara Marques, há duas décadas estacionado nos 64 - resultados de uma providencial amnésia – foi um dos que descobriu a sua vocação, graças a um concurso de oratória promovido pelo Grêmio Literário Castro Alves, no Ginásio IPA de Jaguarão. Em sua primeira tentativa, traído por excessiva timidez, teve de encarar tremendo fiasco. Por isso mesmo resolveu se empenhar no aprimoramento do seu desempenho até o próximo concurso, quando então atingiu o seu propósito e se revelou como brilhante locutor, cujo vozeirão conserva até hoje.
Em Porto Alegre, não lhe foi difícil percorrer todas as rádios locais, onde deixou passagem marcante, notadamente na emissora do Edifício do Relógio (Chaves Barcelos), no Largo do Medeiros, a qual alavancou com a notável audiência do seu programa Turfe & Boa Música, que se caracterizava por preencher com espaços melodiosos ininterruptos o intervalo entre um páreo e outro do Hipódromo, o que não acontecia nas outras emissoras, interrompendo a programação normal para irradiação daqueles páreos. E o nosso herói não ficou só nisso, chegando a narrar em plena Gávea vários Grandes Prêmios do Brasil.
Aposentado como Diretor da Rádio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ai está o nosso Vergara abrilhantando almoços e jantares e, por puro diletantismo, tirando sua casquinha como apresentador oficial de muitos Bailes das Debutantes, como tem ocorrido em sua terra, onde é bastante requisitado nessa função.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Afabre promove no BRDE Cultural o lançamento de "Lá pelas tantas"





De 13 de outubro a 23 de novembro, andei encarando quatro sessões de autógrafos, a saber: Centro Municipal de Cultura (13/10) – lançamento de “Para Não Dizerem Que Passei Em Brancas Nuvens”; Espaço Cultural do BRDE (28/10) – lançamento de “Lá pelas tantas”; Feira do Livro de Porto Alegre (09/11) – lançamento de “Para Não Dizerem Que Passei em Brancas Nuvens”; Feira Binacional do Livro, em Jaguarão (23/11) – idem, o mesmo livro. Nesta última, cheguei a promover o Compre 1 / Leve 2, ou seja, quem adquiria o de contos, levava também o de crônicas grátis. Desses eventos, faltou-me comentar o realizado no Espaço Cultural do BRDE, sem dúvida, onde obtive os melhores resultados, tendo em vista ali se encontrar o meu público alvo, antigos colegas de serviço, além de aproveitar a data do 17º aniversário da nossa Associação de Aposentados – AFABRE.
Com salgadinhos bastante apreciados e encomendados pela gerente da cantina local, Rejane Macedo, que se esmerou junto com o “Maître” Miguel Venceslau no atendimento aos convidados, os quais tiveram oportunidade de degustar e apreciar um vinho branco italiano, servido na temperatura ideal, por sinal, muito elogiado pelos presentes. Um clima excelente para o desenrolar de um memorável Happy Hour no 14º Andar do Edifício Comendador Azevedo, sede do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul, onde todos puderam assistir a transformação diurno-noturna da cidade numa paisagem de tirar o fôlego com destaque para a vista do nosso Mercado Público.
O presidente da AFABRE, Renato Albano Petersen, aproveitou a ocasião para salientar o desempenho que a entidade vem obtendo no decorrer da sua existência, além de dizer da sua satisfação em promover o lançamento de “Lá pelas tantas”, de autoria de um associado. De minha parte, agradeci o apoio recebido para a realização desse acontecimento que fiz questão coincidisse com a importância da data para ser marco de congraçamento entre colegas ativos e inativos. Mais tarde, percebendo a chegada do jornalista Marcello Campos, da Rádio Guaíba, pedi licença para dirigir algumas palavras de saudação ao novel conviva que era o responsável pelo trabalho caprichado e competente de dar forma ao volume, desde a revisão, a diagramação até a arte da capa, incluindo o prefácio.
Marinheiro de primeira viagem é fogo, tem que contar tim-tim por tim-tim todas suas façanhas, que dirá um escriba bissexto apontando presenças no primeiro lançamento: Luiz Felipe Badia, Jaqueline e Carlos Bezerra, Valdeci Bezerra, Coralio Bragança Pardo Cabeda, Luis Alberto Calazans, Maria Beatriz Perla de Camargo, Marcello Campos, Gladis Maria Crespan, Nadir José Damo, Alda e Wenceslau Gonçalves, Ottoniel Gomes da Rocha Júnior, Fabrício Schirmann Leão, Regiane Silva Macedo, Rejane Silva Macedo, Vivian Marques, Alberto Leite de Castro Neto, Regina Nunes, Argus Ruy Guex de Oliveira, Maria Leonora Oliveira, Renato Albano Petersen, Erci Adevico Pias, Frederico Hoffmeister Poli, Adriana Réus, Walmor Salami, Antonio Sidinei Scarparo, Marlow Maria Caon Schenato, Egon Pedro Scherer, Ivete Suzana Selbach, Ana Maria Silva, Joelci de Souza Alianello, Zelinda Celina Rubin Soares, Luiz Carlos Teixeira, Nelson Teixeira, Miguel Venceslau e Kie Yamamoto – graças à divulgação dentro do BRDE feita pelos colegas Antonio Roberto Arena e João Francisco Sattamini.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Na chuva : 56ª Feira do Livro POA

No Jornal Escola IIIª Lâmina, de Carazinho e Passo Fundo (Ano 01 – Número 04 – Dezembro de 1997), publiquei artigo intitulado “A Roleta dos Autógrafos na Feira do Livro de Porto Alegre”, no qual abordava o grande afunilamento a que foram submetidos os lançamentos de novos títulos na 43ª FLPA, conforme transcrevo a seguir: “Nas sessões de autógrafos, fizeram-se presentes algumas centenas de autores, tentando não só expandir suas inquietações literárias como também obter o reconhecimento da crítica e da mídia nem sempre generosas, já que ignoraram 2/3 desses lançamentos, conforme se pode constatar através das coberturas jornalísticas do evento. Mais impiedosa ainda a repercussão entre o público leitor, peneirando aqueles que se fizeram merecedores de sua preferência:...(best sellers do momento) – ou seja: Conclui-se que daqueles 1/3 diferenciados, sobraram aproximadamente 4% (quatro por cento) felizardos ganhadores nessa roleta de autógrafos”.
Dia 9 de novembro, tocou-me a vez de trocar de posição na 56ª FLPA, assinando autógrafos no lançamento do livro “Para Não Dizerem Que Passei em Brancas Nuvens”, de minha autoria. Foram quase 30 caneteadas no período de 18h30min ás 19h45min (um livro a cada 2, 3 minutos), até me disseram que eu estava com a fila mais comprida entre os autores desse horário (Benedito Saldanha, Cícero Galeno Lopes/Maria Cristina França/Zilá Bernd, Maria Berenice Dias, Maria do Carmo Campos/org. e José Carlos Teixeira Giorgis). Prejudicados que fomos por uma chuvarada que ocorreu naquele momento, além de ser ignorado na mídia local, conseguimos esse resultado através de 100 mensagens enviadas pelo correio eletrônico e mais 100 convites personalizados que foram remetidos pelo correio comum, alcançando um retorno de 15%, bastante razoável.
Soleno José Ribeiro de Almeida, Nilo de Los Angeles, Pedro Fagundes de Azevedo, Zilda Azevedo, Ruth e Guilherme Braga, Hunder Everto Corrêa, Eulálio Delmar Faria, Geraldo Guilherme de Freitas, Alda e Wenceslau Gonçalves, Tereza Goulart, Ermínia Mayer, Vera Lúcia da Silva Moraes (Dª. Marietina), Rogério Medeiros Ilha Moreira, Carlos Alberto Neves, Lucien Bittencourt Pires, João Pompílio Neves Pólvora, Sérgio Roberto Corrêa Reggio, Fernando Rozano, José Brignol Sanchez, Cláudia e Plínio Schererschewsky, Ana Maria Silva, José Maria Antunes da Silva, Sérgio Souza Amaro da Silveira, Blau Fabrício de Souza, Ibanez Vasco de Souza, Zinaida Tscherdantzew, Darcy Coelho Vieira, Kie Yamamoto – que me perdoem se me estendo nessa nominata, mas não poderia deixar de registrar aqui essa gente destemida que se dispôs a encarar um imprevisto aguaceiro, proporcionando-me uma confraternização inesquecível.

domingo, 28 de novembro de 2010

Vivenciando instante privilegiado

Da esquerda para a direita, Orceli, Alencar, Carlos José, Souza,
Heriberto (em pé) e Álcio Riccordi, nosso querido Gaita (sentado).

Grande ator do teatro riograndense, natural de Jaguarão, Joberto Teixeira levou à cena, no Teatro Esperança, o monólogo “As Mãos de Eurídice”, a mesma peça com que foi aplaudido de pé no principal palco do nosso Estado – o São Pedro, de Porto Alegre. Fiquei sabendo, através de uma emocionante crônica do Professor Cléo dos Santos Severino publicada no jornal “A Folha”, lá pelo fim dos anos cinqüenta, que o espetáculo foi realizado para uma restrita platéia, mas que no dizer desse cronista com a presença de um casal de idosos, nada mais nada menos que os pais daquele artista, lotavam todo o espaço vazio daquela casa, dada a feliz oportunidade deles assistirem a magistral interpretação do seu talentoso descendente.
Outro momento mágico do nosso Cine Teatro Esperança me foi relatado pelo saudoso amigo Newton Silva, quando ali se apresentou o notável cantor e compositor Rubens Santos, já falecido, um dos parceiros de Lupicínio Rodrigues, então cumprindo uma turnê artística patrocinada pelo Governo do Estado, provavelmente agendada pelo conterrâneo Danilo Brum, o qual integrava o Conselho Estadual de Cultura. Pois o Newton me enfatizou que esse espetáculo foi dirigido a uma meia dúzia de assistentes, os quais chegaram a sentir pena de tantos ausentes que deixaram de conferir um dos mais abalizados intérpretes do velho Lupi. Compreendi perfeitamente essa colocação, tendo acompanhado o veteraníssimo Rubens em inúmeras performances no antigo restaurante do CIB – Centro Ítalo Brasileiro, situado na Rua João Teles, bairro Bonfim, que costumava reunir às segundas-feiras a nata da música riograndense, ocasiões em que abusava de sua potência vocal, sem utilizar qualquer microfone.
Estive em Jaguarão para autografar “Lá pelas tantas” e “Para Não Dizerem Que Passei em Brancas Nuvens”, livros de minha autoria na II Feira Binacional do Livro e 27ª da Câmara Júnior de Jaguarão e senti o acentuado movimento cultural em nossa terra, destacando-se o espaço destinado a “Associación de los Escritores de Uruguay”, bem como a grande diversidade de títulos oferecidos nas bancas ali instaladas, uma das quais ocupada pela Livraria Contexto local. Agradecendo a apresentação que me foi contemplada pelo Professor Carlos José Azevedo Machado, da comissão organizadora do evento, procurei salientar a coragem e o pioneirismo de uma nova loja de livros que se instalou na cidade, buscando resgatar atividades anteriormente desenvolvidas pelas antigas “A Miscelânea” e “Apolo” e até lembrei da fantástica figura do carpinteiro Seu Guimarães, leitor compulsivo que algumas vezes recebia obras literárias como paga por serviços prestados.
Faço questão de nominar – perdoem-me alguma omissão – a todos aqueles que testemunharam o meu instante privilegiado: artista plástico Cleber Carvalho; professora Roseli Calveti, secretaria-adjunta de Educação; Fernanda Cassel, diretora de comunicação da Casa de Cultura; Hilda e Cladistone Arruda Dias, suas filhas Alicia e Isabele (representados); Escola Pio XII; Alda e Wenceslau Gonçalves; Maria Alice e Udo Kercher, seus filhos Aline e Pedro (representados); Vera Lúcia e Carlos José Machado, seus filhos Vinicius e Érico; professor Heriberto Machado; Luiz Inácio Machado (representado); escritor José Nunes Orcelli; Ana Lecy Pacheco; Carmem e José Álvaro Pacheco, seus filhos Matheus e Álvaro (representados); Jorge Luiz Neves Passos, mentor da Confraria dos Poetas de Jaguarão http://confrariadospoetasdejaguarao.blogspot.com/2010/11/o-poeta-das-aguas-doces-na-feira.html; Maria Fernanda Passos, diretora da Casa de Cultura; Fabiana e Alencar Porto, ele secretário de Cultura e Turismo;
professor Cláudio Ely Rodrigues; Beatriz e Álcio Riccordi, suas filhas Patrícia e Cátia; escritor Eduardo Álvares Souza Soares.
A essa gente fidalga dedico preito de gratidão pelo prestígio que me distinguiram.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

MÃOS QUE OFERECEM ROSAS

Fica sempre um pouco de perfume nas mãos que oferecem rosas,
Nas mãos que sabem ser generosas.
Dar um pouco que se tem ao que tem menos ainda,
Enriquece o doador, faz sua alma ainda mais linda.
Fica sempre um pouco de perfume nas mãos que oferecem rosas,
Nas mãos que sabem ser generosas.
Dar ao próximo alegria parece coisa singela,
Aos olhos de Deus, porém, é das artes a mais bela.
Fica sempre um pouco de perfume nas mãos que oferecem rosas,
Nas mãos que sabem ser generosas.
Não tenho a mínima idéia de quando o mestre Glênio Reis me enviou uma fotografia da sua saudosa esposa, Dª. Anésia Pereira Reis, em que ela aparecia junto a uma das belíssimas telas de sua autoria. Deveria tê-la reservado para uma homenagem que lhe pretendia prestar em vida, mas por um ato de negligência terminei perdendo a mesma nos escaninhos informáticos. Agora, diante dessa adversidade que se abateu sobre todos nós, animei-me a solicitar à sua filha, professora Ellen Rosa Reis, que me resgatasse esse precioso retrato.
Pois o amigo Glênio me comunicou nas primeiras horas do último sábado o passamento da sua amada Anésia, no Hospital Mãe de Deus, onde se encontrava internada há algum tempo, tentando minorar o sofrimento de uma insidiosa moléstia. Também me informava da cerimônia fúnebre que seria realizada às 9 horas do dia seguinte no Crematório Metropolitano de Porto Alegre. Por um dever de solidariedade à enlutada família, lá compareci e presenciei as mais comoventes manifestações de despedida àquele ente querido, coroadas pela sentida interpretação de seus familiares com a canção gospel, de autor desconhecido, Mãos que oferecem rosas.
Então fiquei pensando naqueles slides que Glênio me enviou contando a história de um senhor que mantinha sua fidelidade junto ao leito da esposa adoentada, acompanhados de um comentário seu: “esse velhinho sou eu!” Já ele confessava na postagem de 17 de fevereiro de 2008 em seu blogue quando completavam suas bodas de ouro: “A ela, simplesmente a ela, as glórias desta longevidade conjugal. Outra teria desistido no outro dia do sim. Sou um homem feliz, por causa dela; tenho uma família apaixonante, por causa dela e se cheguei à idade de 80 anos de vida, é única e exclusivamente, por causa dela.” Na ocasião, cheguei a comentar: “Não concordo quando você coloca o corpo fora, atribuindo toda a responsabilidade de um casamento duradouro única e exclusivamente para Dª. Anésia, uma pessoa extremamente compreensiva e incentivadora das suas iniciativas. Há que considerar ainda a química de uma união onde íons e cátions se atraem de uma maneira harmoniosa e, portanto, mérito seu também por cimentar tijolo a tijolo a construção de um lar feliz”.
Tive sempre a felicidade de ser muito bem recebido nas inúmeras vezes em que entrei em contato com esse pessoal extraordinário, tanto por parte das professoras Anésia (mãe) e Ellen (filha) como do próprio Glênio e da outra filha Rosy e a neta Carolina, e posso testemunhar da extrema gentileza e educação forjadas em ambiente harmonioso e pleno de edificantes exemplos. Com eles, obtive o privilégio de trocar várias mensagens através de nossos endereços eletrônicos, as quais Dª. Anésia costumava corresponder em generosos comentários. Nela que esbanjava cultura de maneira humilde, constatei um grande amor pelas artes nas primorosas telas que decoravam seu meio doméstico.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Para não dizerem que passei em ****** BRANCAS NUVENS ******

Carlos José Azevedo Machado, casado com a minha sobrinha Vera Lúcia Souza Pacheco, até pouco tempo como Secretário Municipal de Cultura e Turismo de Jaguarão, por ocasião da I Feira Binacional do Livro realizada nessa cidade, intimou-me: “Ano que vem quero lançar um livro seu na II Febil”.

Aceito o desafio, empenhei-me em juntar alguns artigos postados nesse blogue e mais outros perdidos em nossas gavetas para formar um livro de crônicas que intitulei “Lá pelas tantas...” que o meu caro amigo Marcello Campos, jornalista da Rádio Guaíba, dispôs-se a projetar revisão, diagramação e confecção da capa, além de me brindar com um generoso prefácio. Profissional competente está ai, demonstrando sua versatilidade.

Enquanto Marcello executava essa tarefa nas horas disponíveis em sua jornada de trabalho intensivo, comecei a catar vários escritos de ficção de antes, durante e depois da participação na Oficina Literária do Professor Luiz Antonio de Assis Brasil, a maioria deles já postada em nosso blogue. Estabeleci então a meta de completar 96 páginas, para mim um número emblemático, múltiplo de oito, de fácil costura.

Procurei WS Editor, dirigida pelo escritor Walmor Souza Santos, também formado numa das oficinas do Professor Assis, apresentando-lhe os originais de “Para Não Dizerem Que Passei em Brancas Nuvens” a fim de que orçasse uma edição de 500 exemplares. Custo razoável, logo fechei o negócio e aproveitei toda infra-estrutura da editora que me proporcionou a revisão dos originais através da Profª. Maria de Lourdes Vernet Machado e a arte do capista Gustavo Demarchi, além de providenciar no local para lançamento da obra.

Para fazer o prefácio, convidei o grande amigo e escritor Fernando Neubarth, autor de “Olhos de Guia” e “À Sombra das Tílias”, que em 1983 me incentivava com um gentil comentário – “Aguardo o long play” – sobre um escrito meu publicado na revista Continente Sul Sur, do Instituto Estadual do Livro. Agora estou me dando conta do fato que este modesto livrinho reúne editor (Walmor), revisão (Maria de Lourdes), prefácio (Fernando) e mais o autor (Souza), um grupo de “oficinossauros” para encher de orgulho o nosso querido Mestre Luiz Antonio de Assis Brasil.

Nesta última quarta-feira, dia 13 de outubro, tive a felicidade e a honra de autografar os primeiros exemplares de “Para Não Dizerem Que Passei Em Brancas Nuvens” para um seleto grupo que compareceu, às 19h30min, no Centro Municipal de Cultura “Lupicínio Rodrigues”, aqui em Porto Alegre. Ali se fizeram presentes Luiz Ângelo Giacobbo e Antonio Roberto Arena, colegas do BRDE; minhas sobrinhas Lorena Brandt e Maria da Luz Magni; a secretaria executiva da nossa Associação de Aposentados, Regina Nunes; Marta, a jovem representante do Mestre; o amigo Carlos Bittencourt, acompanhado de seu filho Artur; com sua esposa, o meu “guru” Mauro Castro, colunista do Diário Gaúcho; o reumatologista Fernando Neubarth, e meus filhos Gilberto e Jerônimo, este em companhia de Marlene, sua colega do Cartório Eleitoral de Canoas.

Alguns convidados prometeram que deveriam me procurar no próximo lançamento, às 19h30min do dia 9 de novembro, na Praça de Autógrafos da Feira do Livro de Porto Alegre. Já estou ansioso para receber e abraçar fraternamente todos esses companheiros, compartilhando com eles dessa imensa alegria, Afinal foram eles que sempre me deram o incentivo necesssário para concretizar este sonho acalentado durante mais de 20 anos como escriba bissexto.

domingo, 10 de outubro de 2010

Por favor, não pise no meu poncho !

Vez que outra, aparece algum trovador costurando rimas e entortando verdades como se o passado, a memória fossem o mais descartável dos lixos. O que vale é o atual, o moderno, a ideologia da moda. Confesso que essa gente que costuma falar sem papas na língua e muito menos conhecimento de causa me irrita bastante. Hoje, por exemplo, se desconstroi uma figura importante da nossa história, nascido aqui em nossa região do extremo sul do país, não por acaso patrono da nossa indústria – o Visconde de Mauá – rotulando-o de defensor dos interesses britânicos na Guerra do Paraguai como se não bastasse o seu pioneirismo na implantação de fábricas e de estradas de ferro que facilitaram o escoamento da incipiente produção da época.
Esse pessoal ignora as realizações dos nossos antepassados que deram grande impulso ao progresso da nossa cidade no início do século passado, quando findava o ciclo do charque na economia gaúcha, resultando dessa época o nosso tão decantado patrimônio arquitetônico. Carlos Barbosa Gonçalves, presidente do Estado que interrompeu a gestão de Borges de Medeiros, ainda é reverenciado nos dias atuais como visionário que se antecipou ao próprio tempo pelos documentos do Museu de sua Fundação, trazendo para Jaguarão as primeiras instalações de água e esgoto e o ramal ferroviário até Basílio.
Que leiam a obra de Eduardo Álvares Souza Soares para se ilustrarem melhor, em especial “Um Século de Beneficência” e tomem conhecimento do capítulo dedicado a seu fundador Augusto César de Leivas, outro dos grandes empreendedores que se destacou no cenário nacional. Citamos a Associação Protetora dos Desvalidos (Asilos de Órfãos e Idosos, Cidade dos Meninos) que resiste heroicamente na sua finalidade filantrópica como uma das suas iniciativas marcantes em nossa comunidade.
Era criança e me criei assistindo como exemplo de abnegação todo empenho do meu tio Cantalício Resem como um dos grandes esteios na concretização desse ideal. Autodidata, arrimo de família, caixeiro da firma de Domingos Ribeiro, situada onde hoje se encontra o Banco do Estado do Rio Grande do Sul, foi o precursor do curso de alfabetização 20 de Setembro que possibilitou uma grande mobilidade social e alavancou o crescimento de muita gente batalhadora. Jornalista panfletário dos tempos de “A Situação”, legou-nos o semanário “A Folha” que vem sobrevivendo bravamente enquanto outras publicações sucumbiram nos 75 anos de sua existência.
Como técnico do BRDE, nas inúmeras viagens através desse nosso Rio Grande durante a década de 70, pude constatar a inexistência de hotéis que super!ssem nosso “Sinuelo”, construído com recursos próprios de sociedade de empreendimentos jaguarenses, a qual também nos brindou com o moderno Cine Regente, é bem verdade hoje inativo mais por causa do advento da televisão. E se hoje outras cidades gaúchas já dispõem de hospedarias condignas deve-se à concessão de incentivos da Embratur, cujos cronogramas físicos de execução tive oportunidade de acompanhar.
Essa “burguesia” que é taxada como retrógrada, foi responsável pela implantação de três cooperativas – de Carnes, Lãs e Arroz - que geraram impostos e empregos, mas que infelizmente não tiveram condições de subsistir face às crises econômicas que tragaram e continuam tragando tantos outros empreendimentos similares. E a nossa Santa Casa de Misericórdia, que até pouco tempo era tida como modelo de boa gestão financeira, está ai reivindicando uma saída para o abandono a que se encontra relegada a rede hospitalar sucatada pela incúria de nossos governantes.
Há pouco tempo criou-se no Instituto Estadual de Educação Espírito Santo o memorial do Ginásio de Jaguarão/IPA, onde se pode verificar a história desse Educandário e da batalha que se travou para a fundação do mesmo em Jaguarão, congregando todas as forças vivas do município nesse intento, coroado de êxito graças à pertinácia do prefeito Carlos Alberto Ribas, contando com o apoio do nosso conterrâneo General Cordeiro de Farias, então interventor do Estado, para sensibilizar o Reitor Oscar Machado, em Porto Alegre. E se falarem em faculdade, não deixem de mencionar o nome deste grande idealista que foi o major Nelson Wortmann.

domingo, 26 de setembro de 2010

Vamos mostrar a nossa indignação: ******** PETIÇÃO AERUS - VARIG

REPASSANDO... Oi gente, vamos colaborar! Repassem.
Assine (eletronicamente) a Petição que será encaminhada aos ministros do STF - Supremo Tribunal Federal. Por favor, engrosse o grito. Precisamos da força de todos nós para tentar reverter esta covardia que todos nós, ex-funcionários da VARIG, estão sofrendo. Seus familiares e amigos também serão muito bem-vindos. Se precisar de um incentivo, dê uma olhada em quem já assinou e verá centenas de colegas conhecidos.
Precisamos de 10 mil assinaturas.
Para assinar são precisos apenas três passos: Colocar seu nome, seu e-mail (não será divulgado se não quiser) e clicar no botão. O site é seguro e não há risco para você:
Agradeço a atenção, Suzana

sábado, 18 de setembro de 2010

PRÊMIO BLOG DE OURO

Recebemos da escritora Jacqueline Aisenman, através do site Coracional – Genebra/Suíça, o selo que muito nos honra e, por tal motivo, agradecemos a sua gentil lembrança.
Como todo selo, este traz a seguinte recomendação:
O Prêmio Blog de Ouro pede então que se indique 10 blogs ou sites para que a corrente de gentilezas passe adiante.
De nossa parte, resolvemos destacar aqueles que nos tem prestigiado, a saber:
01. Comece lendo quem me indicou http://www.coracional.com/
02. Passe adiante e visite http://artedeluizmauro.blogspot.com/
03. Para quem gosta do ritmo http://cantoverso.blogspot.com/
05. Importante presença http://www.edemarannuseck.blogspot.com/
06. O mago da linguagem http://frozzano.blogspot.com/
07. O poetinha da terra natal http://martimcesar.blogspot.com/
10. Onde nos encontramos sempre http://www.varaldobrasil.ch/

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Blogueiros em alerta: *** 3 meses para achar um doador compatível!

Transcrevemos na íntegra o seguinte comunicado da professora Lúcia Cuervo:
Amigos, estou passando a informação que
na sexta feira próxima, dia 10 de setembro
no FÓRUM CENTRAL de Porto Alegre,
das 9 s 12 hs e das 13 as 16 hs
haverá coleta de sangue feita pelo Hemocentro
para cadastramento de possíveis doadores de medula.
Por favor divulguem para o maior número de pessoas,
pois estamos correndo contra o tempo.
Abraços a todos, Lúcia e Mariana.
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Uma ÓTIMA notícia sobre a campanha...
Segundo informações do banco de cadastro de Medula
do Hosp. Dom Vicente Scherer...
o número de coletas era de 10 por dia
e desde o início da campanha
esse número não baixa de 50 POR DIA!
Graças a ajuda de todos vcs! Obr! about 14 hours ago via web
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Boa noite meu amigo. Acesse o link abaixo onde estão as novidades do tratamento da Mari. Abração, Lúcia http://twitter.com/statuses/user_timeline/184067726.rss

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Na fila à espera de um transplante

Transcrevemos a seguir mensagem recebida pelo amigo Guilherme Braga da nossa professora de informática Lúcia Cuervo, sem maiores comentários:
"Querido amigo, obrigada por responder. Além de preçes para que os amigos espirituais dêem consolo a essa família, infelizmente nada mais podemos fazer.
Por favor, acesse o link abaixo se quiser se inteirar desta campanha que tanto o marido da Mariana como o pai dela (meu irmão) estão fazendo.
E incrível a solidariedade do nosso povo! Hoje a tarde, um parente nosso (juiz) foi ao hospital para fazer o teste de compatibilidade e desatou a chorar ali mesmo, emocionado ao se deparar com uma fila enorme de pessoas - algumas muito humildes, outras nem tanto, todas elas dizendo à enfermeira, que ali estavam para fazer o teste para a "guriazinha advogada".
A Mariana disse hoje ao pai dela que entendeu agora porque as irmãs não eram compatíveis com ela. Disse ela:- " Se as gurias fossem compatíveis comigo, faríamos o transplante e pronto. Mas pai, acho que Deus assim determinou ( a incompatibilidade das irmãs) para que essa campanha que tu e o Thiago estão fazendo alcançasse tantas outras pessoas que estão na fila a espera de um transplante".
E importante salientar que os testes que estão sendo feitos NÃO SÃO DIRECIONADOS apenas para a Mariana. As pessoas estão sendo cadastradas no Cadastro Nacional de Doadores de Medula".
Vale muito a pena acessar o link

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Para Não Esquecer Edu da Gaita

O monstro sagrado Glênio Reis, querido patrono desse blogue, manda pautar uma matéria sobre um ilustre conterrâneo e glória da nossa MPB: Edu da Gaita. Este celebre instrumentista, nascido em Jaguarão a 13 de outubro de 1916, recebeu na pia batismal o nome de Eduardo Nadruz. Apresentado em 1934 a César Ladeira, da Rádio Mayrink Veiga/Rio de Janeiro, este lhe propôs o nome artístico pelo qual é conhecido até hoje, por ser anti-radiofônico o de nascimento. Contratou-o na ocasião para fazer o prefixo de um novo programa, cujo tema escolhido foi o de “O Gordo e O Magro”.
Aos 10 anos, família radicada em Pelotas, arrebata um concurso promovido pela fábrica de gaitas Hohner, onde participaram cerca de 300 alunos dos colégios Gonzaga e Pelotense, sendo premiado com 200 mil réis. Dos 15 finalistas que realizaram o espetáculo no Teatro Guarani, Edu foi o último a se apresentar, quando então se consagrou praticamente com uma gran finale de trechos de ópera, começando com a Tosca, seguindo-se Fausto, Rigoleto, Madame Butterfly, La Traviata, Cavalaria Rusticana e arrematando com a protofonia de O Guarani para delírio do público.
Com a crise em seus negócios, Aref, o pai de Edu, viu-se forçado a encaminhá-lo em 1933 para São Paulo a fim de conseguir emprego e ajudar nas despesas da família. Com o capital de 300 mil réis desembarcou primeiramente em Santos e depois se dirigindo a São Paulo, na famosa rua 25 de março, reduto da colônia árabe paulistana, onde teve de encarar o clima de animosidade contra os gaúchos desde a revolução de 32. Tantas dificuldades e sem recursos para seu sustento, Edu teve de abandonar a pensão onde morava, perambulando em pânico e sem destino pelas ruas centrais de São Paulo.
Nessa caminhada, acontece de avistar dois mendigos, um deles tocando gaita enquanto o outro arrecadava as esmolas dos passantes. Dá-se um estalo na cabeça dele que logo acorre à tradicional casa Manon, situada ali perto, e pergunta ao gerente se tem gaita para vender. Este lhe diz que não consegue negociar um estoque antigo. Sem vacilar, Edu faz uma proposta e acerta uma comissão de 30% caso vendesse as mesmas. E ele escolhe uma das gaitas entre as duas dúzias encalhadas e começa a tocar na porta da loja, iniciando a sua carreira de músico ambulante. Em duas horas, liquida a fatura.
Em 1937, é convidado a participar de espetáculo no cassino Copacabana, porém, teve de apresentar carteira profissional e para isso providenciou o encaminhamento no Ministério do Trabalho, cuja burocracia não define a sua profissão, terminando por lhe enquadrar como músico “excêntrico”. Daí em diante, passou a viver uma estranha dicotomia em que era considerado um “popular atrevido” para a área erudita e, ao contrário, “erudito” na área popular.
No Brasil, a harmônica de boca não possuía cátedra, razão pela qual nosso personagem tanto se empenhou em vida por elevá-la ao seu justo patamar, atingido com a sua pioneira execução do Moto Perpétuo, de Paganini (http://www.youtube.com/watch?v=KrriLcEPiOk). Tanta dedicação só poderia resultar mesmo num prêmio inesperado, quando a 22 de novembro de 1958 se viu coroado de sucesso com sua execução acompanhado pela Orquestra Sinfônica Brasileira , em primeira audição mundial, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, do “Concerto para Harmônica e Orquestra de Câmera”, de Radamés Gnattali, sob a regência do autor.
Ressalte-se o grande amor pela sua pátria que jamais pensou deixá-la, apesar dos conselhos dos amigos e das inúmeras oportunidades conquistadas no exterior. Preferiu ficar aqui, esquecido e pobre, conforme veio a falecer em 23 de agosto de 1982.

sábado, 14 de agosto de 2010

UMA MADRUGADA DAQUELAS

O elevador demora. Ela se impacienta. Corre de um lado para outro. Sobe e desce as escadas do prédio. No corredor de entrada, acelera e desacelera a moto. Uma Yamaha 1100 cilindradas. Presente do pai fazendeiro no Mato Grosso. Logo ela sai para a rua. Freadas e desviadas bruscas. Cortadas de frente e cavalos-de-pau. Jaquetão preto de couro, calça de brim desbotado, fita vermelha na testa, cabelos longos se enroscando ao vento, ela desafia os passantes soltando as mãos do guidom, braços rasgando o ar, aos guinchos como no caratê.
Ela providencia assim todos os detalhes de um ambicioso projeto: produzir um vídeo clip do ensaio da sua banda de rock no JK onde mora. O namorado arranja as três rodinhas para adaptar numa banqueta alta, nesse tripé deve colocar a câmera de vídeo. Persistente, ela consegue ensinar ao namorado o manuseio da filmadora e se libera para tocar o seu contrabaixo. Ao anoitecer, cessa toda essa movimentação. Algumas horas de calmaria. Além da entrada do namorado no elevador mais cedo que o normal, o porteiro nada constata. Porém, passada a meia-noite, começa a notar um trânsito incomum de gente, carregando caixas dos mais diversos tamanhos e formatos.
Em estreitos limites, ela faz de tudo para racionalizar o espaço. No banheiro, almofadas, se amontoam em cima do vaso sanitário. Roupas, cobertas, toalhas, fogão, panelas, colchonete e outras miudezas estão atulhadas no box. Para o namorado dispor do máximo de movimento livre para as filmagens. As últimas instruções são dadas, ela testa a calma do corredor. Então se volta para dentro: “Vamos lá, pessoal!”
Ela faz gemer as cordas do contrabaixo, agita os quadris jogando as pernas como potra selvagem. A turma não fica para trás, aquece o mais que pode o ritmo ensurdecedor. A princípio, o namorado tenta focalizar as evoluções dela. Mas com o passar do tempo, ele se perde de tal forma que acaba estatelado no banheiro, a câmera voando por cima das panelas. O tripé da banqueta enfiado na cabeça, ele berra. Os metaleiros se assanham ainda mais. Uma madrugada daquelas, o porteiro roncando atrás do balcão, ninguém no Edifício que se animasse a dar um basta.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

AS FLORAIS DE DONA MARTA

Eu também já pedi para publicar uma das crônicas de Marta Medeiros num Jornalzinho. Até concordo: ela é bárbara, escreve bem paca.
Necessita de adivinhação, pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia.
A distinta vai enfileirando as palavras e, de repente, como num passe de mágica, deixa-nos encantados na fumaça desse caldeirão.
Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão, é fácil.
Viram só que receita a feiticeira vai compondo com o seu sopão literário.
Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible do trabalho.
A fórmula é completa, não tem como errar.
Não tem namorado quem não sabe o valor... de ânsia enorme de viajar para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico, bugre, foguete interplanetário ou carrossel de parque suburbano.
Nem mesmo Ana Maria Braga conseguiria guardar tantos ingredientes em sua televisiva cozinha.
Não tem namorado quem não redescobre a criança e vai com ela ao parque, fliperama, beira d’água, show de Milton Nascimento, bosque enluarado, rua de sonho ou soltar pipa e passarinho de gaiola.
Abre a bolsa e larga tudo o que tem dentro, em cima da mesa, parece até bolso de moleque.
...ponha a saia mais leve, aquela de renda de harpa e passeie de mãos dadas com o ar.
Não é moleza produzir em série tanta beleza.
Enfeite-se com as margaridas e escove a alma com leves fricções de esperança.
Daí a gente sai mais atrapalhado do que quando termina de ler um livro de auto-ajuda.
De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesma e descubra o próprio jardim.
E a caixa registradora vai tilintando, tilintando...
Acorde com o gosto de caqui e sorria lírios para quem passar debaixo da sua janela.
Nunca que Madame Dilly conseguiria arrancar tantos suspiros das moiçolas.
Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada.
Você já leu a sua MM hoje?
Ande como se o som soasse a flauta e do céu baixasse uma nuvem de borboletas, cobertas de frases sutis e palavras de galantearia.
Tanto romantismo que, se a velha Bibiana escutasse, na certa era bem capaz de largar mais uma daquelas famosas tiradas:
Aperue-se, mia fia, aperue-se!

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Massageando o ego da nossa gente

Na quarta-feira, dia 21/07/2010, às 19 horas, na jaguarense Casa de Cultura, aconteceu o lançamento da coletânea “Olhares sobre Jaguarão”, organizada pelos escritores Eduardo Álvares de Souza Soares e Sérgio da Costa Franco. Na ocasião, fizeram-se ouvir, além de Souza Soares, as palavras da vereadora Thiara Gimenez Oliveira, atual presidente da Câmara Municipal daquela cidade, ressaltando a importância para a cultura local dos depoimentos inseridos naquela obra.
Apesar da impossibilidade de comparecimento do conterrâneo radicado em Porto Alegre, Costa Franco, foi muito concorrida a sessão de autógrafos com o outro organizador Eduardo Álvares Souza Soares, que se desdobrou incansavelmente para atender a extensa fila de pessoas procurando registrar dedicatória na obra distribuída gratuitamente a todos que se fizeram presentes na cerimônia.
Composta de duas partes, a primeira intitulada “O Olhar dos Forasteiros” trata da passagem de ilustres viajantes por Jaguarão, enquanto a segunda “O Olhar dos Conterrâneos” diz respeito às impressões de nascidos naquela localidade ou que lá estiveram radicados há algum tempo. Nas páginas desse livro, desfilam nomes conhecidíssimos como Gastão de Orléans (Conde D’Eu). Canto e Mello, Rachel de Queiroz, Carlos Raphael Guimaraens, Lothar Hessel, Barbosa Lessa, Luiz e Pedro Vergara, Carlos Barbosa Gonçalves, Pedro Leite Villas Boas e outros tantos.
Há tempos, Souza Soares me solicitou para que descobrisse uma crônica publicada na Última Página da revista O Cruzeiro, então redigida pela escritora Rachel de Queiroz, na qual externava seus encantos por Jaguarão na “Viagem de Volta” da Argentina. Primeiramente, andei navegando pela Internet e cheguei a encontrar algumas edições digitalizadas daquele semanário, porém, em nenhuma delas aparecia esse escrito.
Já tinha até desistido dessa busca, quando decidi contatar Sérgio da Costa Franco que me deu a sugestão de procurar na coleção existente no Museu Hipólito José da Costa. Inclusive situando a época do presidente Perón, com o peso baixo causando grande afluxo de turistas brasileiros àquela república do Prata. Comecei folheando, trimestre a trimestre, de trás para diante, a partir de 1953, até que me deparei com a data de 12/07/1952. Por fim apareceu a margarida e só foi o trabalho de copiar e mandar para o Eduardo que não prescindiria da mesma, de jeito nenhum, para concluir a coletânea.
Além disso, tive o grande prazer da acolhida por parte dos organizadores da coletânea de duas crônicas que me pareciam se encaixar perfeitamente no espírito da obra e que mereciam ser analisadas para publicação. Uma delas intitulada “Reminiscências”, manuscrita, chegou às minhas mãos ofertada pelo grande amigo Sheldon Neves e a outra “Jaguarão do Passado”, de autoria do velho companheiro das grandes noitadas Pedro Bartholomeu Ribeiro, chamou-me atenção quando da sua publicação original, em dezembro de 1978, comemorativa do 40º. Aniversário do jornal “A Folha”, pela riqueza dos fatos pitorescos relatados.
A idéia da Câmara de Vereadores de Jaguarão foi de patrocinar “Olhares sobre Jaguarão” para distribuição às bibliotecas e escolas, não obstante já se avente uma nova edição para venda ao público em geral, o que fazemos votos para que se concretize o mais breve possível, pois se trata de um excelente resgate para levantar a auto-estima dos conterrâneos, hoje tão orgulhosos pela repercussão da nossa urbe como modelo de patrimônio arquitetônico preservado.

sábado, 26 de junho de 2010

COMO SE VENDE UMA COMENDA

Chegava em casa após o expediente no trabalho e minha esposa Gislaine me dizia que me ligara uma pessoa querendo falar comigo, apenas se identificando pelo primeiro nome. Isso aconteceu, em 1997, duas ou três vezes e me deixou fazendo conta de cabeça para que pudesse dar o retorno ao telefonema. Até que um dia esse cidadão conseguiu entrar em contato comigo quando estava em casa e me pediu para receber um representante de uma entidade de funcionários executivos, da qual ele era diretor-presidente. Concordando com a solicitação, marquei esse encontro na repartição durante o horário do almoço.
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Na ocasião em que fui procurado, foi-me entregue um ofício assinado pelo presidente daquela congregação de executivos. Nessa correspondência, falava-se da ampliação do seu quadro social “abrangendo outros altos titulares do Estado e de repartições da União e dos Municípios gaúchos, assim como eminentes personalidades do setor do profissionalismo liberal, empresários (do Comércio, Indústria e Serviços), além de pessoas gradas”. Também me era comunicado que (sic) “em decorrência de especial indicação, resolveu destacar o seu Nome, para atribuir-lhe, por decisão da cúpula da Entidade, o título de sócio EMÉRITO COLABORADOR... Isto em reconhecimento ao desempenho profissional marcante de Vossa Senhoria junto à comunidade”...
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Confesso que, ao tomar conhecimento dos termos daquele ofício, senti o ego massageado, porém, mesmo assim tentei declinar da honraria por não me julgar merecedor da mesma, ao que o meu interlocutor replicou dizendo que eu não imaginava a minha relevância nos círculos dirigentes do Estado. Após, apresentou a amostra de um Certificado de Adesão – um quadro enorme - que me seria concedido em sessão solene daquela entidade. E que, para confirmar essa adesão, eu deveria pagar uma jóia de doze mil reais, a qual poderia ser parcelada em seis mensalidades.
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Espantado, argumentei que não tinha recursos para arcar com essa despesa, enfatizando o meu desinteresse pela proposta, não obstante os rogos do corretor que tinha sido orientado a não voltar sem a adesão do Souza. Sem alternativa, deixei a frustração a quem de direito. No dia seguinte, o Senhor Presidente me telefonou, querendo saber das razões dessa negativa. Respondi-lhe que não estava interessado e pronto. Mas como? Precisava ver a fúria com que esse Diretor reagiu a minha réplica, chegando a bater o telefone na minha cara. Eu, heim, um pobre e humilde marquês?
Foto L.A.Assis Brasil - Museu Episcopal Anna de Souza - Évora Fev/1993

sexta-feira, 11 de junho de 2010

TAÍ, VIU? AGORA DEU...

- Onde vais botar?
- Na frente.
- Não dá.
- Então atrás.
- Será que cabe?
- Sob medida.
- Cuidado para não arranhar.
- Assim estiradinha bem no comprido.
- E as pernas onde coloco?
- Passa por cima.
- Estou escorregando.
- Enfia o pé aqui.
- Assim me dá cãibra nas nádegas.
- Relaxa.
- Vai ficar aberta?
- Deixa que eu fecho por fora.
- Anda, entra duma vez.
- Calma, vou passar para o outro lado.
- Te manda logo que eu não agüento mais.
- Rapidinho, tu nem vais sentir.
- Mas vê se te apuras.
- Estou fazendo tudo para acabar logo.
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- Aiii... Parada brusca não vale.
- Taí, viu? Agora deu...
- Não precisavas exagerar.
- Já, já tiro para fora.
- Cuida para não esfolar.
- Imagina a gente de a pé por aí.
- Não tinha graça.
- De táxi é muito mais moleza...
- Toda vida!
- Para carregar uma geladeira.