sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

O dilema de um inconsciente: desempenho ou desemprego?

Administração, marketing, psicologia, economia, política, literatura, o guri tinha empilhado toda essa formação cultural – afinal não ajudava mesmo – para negociar no sebo; em vão os pedidos do pai de mais empenho para superar a fase adversa.
Pensando no filho, desempregado desde a obtenção do diploma, Valdemar começa mais um dia de gerente de banco, enquanto decide com o funcionário da cobrança quais os títulos deverá encaminhar ao Cartório.
Mal escuta a história que o outro lhe conta, a choradeira do empresário suplicando para segurar a execução da dívida por mais alguns dias, a ameaça de demissões, um problema social para a comunidade.
Valdemar nem está ali, lembra do encontro com o amigo no supermercado, quando este dizia para não se culpar:
“A nossa juventude está sem rumo... estuda tantos anos e não tem acesso ao mercado de trabalho... em qualquer lugar onde se encontre bares noturnos, a magrinhagem aglomera nas calçadas, invade o leito das ruas e interrompe o trânsito... pura ociosidade e falta de perspectiva.”
O rapaz da cobrança acentua na reincidência do devedor que nunca cumpre esquemas de pagamento, tantas vezes combinado.
Valdemar não consegue desligar-se do filho: um empurrãozinho, alguém que lhe desse uma força, mas como, se não gosta de ficar devendo favores?
O outro fica aguardando uma decisão, deixa que o silêncio traga Valdemar de volta à realidade - então este, possesso, vocifera:
- Aquele desgraçado é um caso perdido, continua com a mania de chantagear a gente com questões sociais e ainda tenta nos subornar com uísque paraguaio, falta de empenho, bota no pau!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Copa de Literatura Brasileira: participando da Mesa Redonda

Em Música Perdida, senti a maldição do talento em que o potencial do indivíduo deixa de ser exercido em sua plenitude, justamente pelo receio de encarar a inveja e a agressividade dos medíocres, um tema tão atual que parece retratar metaforicamente este Brasil tão vilipendiado e explorado pelos aproveitadores de ocasião.
Nesse sentido, a aproximação de Mendanha com o Padre José Maurício não deixou de ser um freio nas aspirações do jóvem e talentoso maestro, influenciando-o negativamente.
Assim, também encaro as críticas contundentes expostas acima, tanto para um obra como para a outra.
Parabenizo aos finalistas desta primeira edição da Copa de Literatura e faço votos que sigam trilhando os caminhos a que se propuseram, aprimorando sempre a sua arte de escrever.
José Alberto de Souza comentou em 03/12/2007, às 10:51 am.
José Alberto de Souza, você falou sobre o Música Perdida o que eu não estava encontrando palavras para falar. Obrigada. Foi isso o que mais me impressionou no livro: há um talento que por ser tão imenso é a todo momento freado, desviado.
E claro que essa final serve muito para pensar que, sim, até certo ponto literatura pode ser questão de gosto. Argumentos existem para tudo, basta escolher os que mais lhe parecem justos.
Olívia comentou em 03/12/2007, às 4:08 pm.
Olívia, é isso aí, o grande mérito dessa obra está na leitura das entrelinhas que você percebeu muito bem e sentiu da mesma forma que nós sentimos.
Grato pela deferência a meu comentário.
José Alberto de Souza comentou em 03/12/2007, às 4:55 pm.
Lendo as resenhas dos jurados acima, comecei a desconfiar de que alguns estariam torcendo para que as obras que arbitraram individualmente chegassem à final da Copa, o que constatei nas opiniões emitidas por oito dos julgadores, os quais pareceu-me que choraram pelo leite derramado.
Cito apenas Renata Miloni, Jefferson Maleski, André Gazola e Jonas Lopes como exceções, imbuídos pelo espírito olímpico de que o essencial é competir, pela elegância com que aceitaram a eliminação das obras que passaram pelo seu respectivo crivo.
Que me perdoem as sumidades que desfilaram nessa Mesa Redonda se cometo a audácia de externar esta minha opinião de leitor comum.
Fã de carteirinha do Mestre Assis Brasil, já tenho lido e apreciado grande parte da sua obra e, como disse a colega Sabrina Schneider, a última trilogia desse autor reflete uma guinada na sua trajetória de escritor, agora publicando livros com capítulos mais curtos e que prendem o leitor até o final da obra, não lhe permitindo a interrupção na leitura, quer dizer, parece que descobriu o caminho das pedras.
De outra parte, apesar das críticas contundentes à imensidão das páginas do livro do outro concorrente, tal motivo apenas despertou-me o interesse em conhecer essa obra.
José Alberto de Souza comentou em 09/12/2007, às 12:39 pm.
Que pena eu ter tomado conhecimento dessa interessante competição após sua final (li pequena matéria no Prosa & Verso, de O Globo, em 08/12/2007).
Eu estava pensando em comprar o livro da A.M.Gonçalves para ler nas férias, mas, pelo que li nos vereditos dos jurados na final, acho melhor mesmo é ficar com o Assis Brasil, pois tenho apenas vinte dias de férias, e seu livro parece mais adeequado ao tempo que dispensarei à leitura.
Espero acompanhar cada jogo da próxima Copa, que tenho certeza que acontecerá.
Geraldo Rodrigues Pereira comentou em 09/12/2007, às 10:09 pm.
Geraldo, Música Perdida é um livro que prende o leitor da primeira à última página - eu não consegui interromper a leitura, que flui muito bem, capítulos curtos, não é cansativa, e no fim fica-se com aquela sensação de quero mais e inquieto dando asas à imaginação como se a gente quisesse completar a escrita.
Embora seja um livro de poucas páginas, parece-me que equivale a um registro de mil folhas caso se considere a história oculta nas entrelinhas.
Você vai ter que ler e reler essa obra umas vinte vezes para preencher o tempo de suas férias!
José Alberto de Souza comentou em 10/12/2007. às 12:26 pm.
Perfeito o que você disse, José.
Renata Miloni comentou em 10/12/2007, às 12:32 pm.
Renata, a sua concordância muito me honra e gratifica.
Aliás, gostaria de levar ao conhecimento do Geraldo, a observação da colega Sabrina Schneider sobre a contenção do texto em Música Perdida, que vem sendo adotada pelo autor em suas três últimas obras, as quais compõem uma trilogia de histórias diferentes de uma mesma época.
Assim, gostaria de lhe recomendar para suas férias, também, as outras duas: O Pintor de Retratos e A Margem Imóvel do Rio.
Eu se tivesse que levar comigo alguns livros para uma ilha deserta, tranquilamente levaria esses três.
José Alberto de Souza comentou em 10/12/2007, às 12:55 pm.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Assis Brasil: o grande vencedor da I Copa de Literatura Brasileira

De 03/09/2007 a 03/12/2007, desdobrou-se a I Copa de Literatura Brasileira, evento organizado por Lucas Murtinho, que contou com o apoio das editoras Companhia das Letras, LPM, Objetiva, Record, Rocco e Submarino.
O certame foi realizado no sistema mata-mata, típico de algumas competições esportivas, com eliminatórias nas fases oitavas, quartas, semifinais e final.
Portanto, inscreveram-se 16 concorrentes, a saber: Daniel Galera (Mãos de Cavalo), Cíntia Moscovich (Por Que Sou Gorda, Mamãe?), Antonio Fernando Borges (Memorial de Buenos Aires), Carlos Heitor Cony (O Adiantado da Hora), Michel Laub (O Segundo Tempo), Luiz Antonio de Assis Brasil (Música Perdida), Sérgio Rodrigues (As Sementes de Flowerville), Adriana Lunardi (Corpo Estranho), André Sant'Anna (O Paraíso É Bem Bacana), Flávio Braga (O Que Contei a Zveiter Sobre Sexo), Luiz Vilela (Bóris e Dóris), Antônio Torres (Pelo Fundo da Agulha), André Gazola (O Movimento Pendular), Roberto Pompeu de Toledo (Leda), Moacyr Scliar (Os Vendilhões do Templo) e Ana Maria Gonçalves (Um Defeito de Cor).
Na primeira fase, as contendas de cada dupla foram arbitradas individualmente pelos jurados
Renata Miloni, Jefferson Maleski, Olivia Maia, Doutor Plausível, Antônio Marcos Pereira, Eduardo Carvalho, André Gazola e Bruno Garschagen, passando nesta peneirada inicial as obras de Ana Maria Gonçalves, Cíntia Moscovich, Antônio Fernando Borges, Roberto Pompeu de Toledo, Luiz Antonio de Assis Brasil, Luiz Vilela, Sérgio Rodrigues e André Sant'Anna.
Na fase seguinte, também julgando individualmente cada obra, os jurados Leandro Oliveira, Marco Polli, Rafael Rodrigues e Jonas Lopes aprovaram os livros de autoria de Ana Maria Gonçalves, Roberto Pompeu de Toledo, Luiz Antonio de Assis Brasil e Sérgio Rodrigues.
Nas semifinais, os jurados Simone Campos e Luiz Biajoni apontaram os autores Ana Maria Gonçalves e Luiz Antonio de Assis Brasil como aptos a disputar a final da I Copa da Literatura Brasileira.
Comparecendo a totalidade dos jurados e mais Lucas Murtinho para a votação da obra escolhida, sob tremenda polêmica, terminaram acusando a vitória de Música Perdida (Luiz Antonio de Assis Brasil) pelo escore de 9 votos pró e 6 contra.
No sítio http://copadeliteratura.com/final/jogo15, também foi colocada, para votação popular, a pergunta "O resultado da final da Copa foi justo?" que atualmente marca 76% (44 votos) para "com certeza".
Também aberta ao público, a Mesa Redonda ensejou-nos a postagem de nosso comentário, que mereceu réplica da jurada Olívia.
Vale a pena acessar o portal da Copa da Literatura Brasileira a fim de verificar tais detalhes.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Reconhecimento mundial para Ivo Ladislau e nacional para Cléa Gomes

Desde o último dia 5/12/2007, encontra-se em nosso Estado, o Sr. Carlos Manoel Martins do Vale César, presidente do Governo Regional dos Açores, que aqui veio para inaugurar a Casa dos Açores do RS, bem como para abertura do Congresso Mundial das Casas dos Açores.
Neste sábado, dia 08/12/2007, está sendo programada a entrega da Medalha de Mérito do Conselho Mundial das Casas dos Açores ao pesquisador e compositor litorâneo Ivo Ladislau Janicsek.
Assim, pela primeira vez, será homenageada uma personalidade do Rio Grande do Sul com essa láurea cunhada pela Assembléia Legislativa dos Açores e destinada a premiar, a cada ano, todas aquelas pessoas que se destacam na preservação e resgate da cultura açoriana.
Há mais de vinte anos, esse consagrado letrista vem desenvolvendo um trabalho de pesquisa e resgate na região litorânea do nosso Estado, de grande importância para o conhecimento da herança açoriana espalhada no mundo inteiro.
Como núcleo inicial, contou com a parceria do compositor Carlos Catuype e da cantora Cléa Gomes, aos quais vieram agrupar-se, entre outros, Rodrigo Munari, Renato Júnior, Mário Tressoldi, reforçado ainda pelos Cantadores do Litoral, vindo a tornar-se referência fundamental na captação da influência afro-açoriana no Litoral Norte Gaúcho.
Desse modo, nota-se na obra de Ivo Ladislau um esforço de integração no contexto universal da cultura luso-brasileira, como bem o demonstra a canção Galpão Açoriano, vencedora da Linha de Manifestação Riograndense da 33ª. Califórnia da Canção Nativa.
Essa canção encontra-se gravada no CD Comunidades II, que ainda tem a participação de cantores e músicos açorianos, entre eles Zeca Medeiros, Susana Coelho, Luís Bettencourt e Pedro Coelho, além de Tânia Silva, cantora canadense de origem açoriana.
De outra parte, ainda temos a registrar que a cantora Cléa Gomes vem de se classificar entre as cinco vencedoras do projeto Talentos da Maturidade, patrocinado pelo Banco Real, interpretando Anitas (Ivo Ladislau/Catuype), devendo estar presente em Brasília, no próximo dia 11/12/2007, para receber o prêmio a que fez jus.