segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

As negras rosas crianças

Uma rosa.
Qual a cor de uma rosa?
Rosa? Amarela? Vermelha?
Engraçado...
Existem crianças
Que dizem ser a rosa preta.
Porque elas não tem capacidade
De enxergar outra cor.
Suas mentes somente captam a escuridão.
Pois a fome escurece tudo, sabiam?
E a fome vive nessas rosas-crianças.
Todas as crianças são rosas.
Só que em algumas a fome está sempre presente.
Conduzindo-as e exterminando-as.
E estas rosas estão escurecendo;
Estão murchando
E despetalando.
Seus pólens não exalam mais o perfume que toda rosa-criança deve ter:
O perfume-alegria.
Há no ar apenas um cheiro de vazio
E um perfume-agonia...
As crianças-rosas-negras
Estão tombando
Uma a uma...
Mas as hastes que as seguram
Permanecem de pé,
Para lembrar a todos
Que ali, naquele lugar,
Uma rosa-criança viveu.
Uma rosa-criança sentiu fome.
Uma rosa-criança sofreu.
Uma rosa-criança murchou.
Uma rosa-criança morreu.
O poema acima foi escrito em 10/11/1979 pela jornalista de Brasília, Carla Fagundes Lebre, na ocasião ainda adolescente, o que me impressionou pelo seu conteúdo de profunda reflexão social.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

SEM MEDO DE SER NOSTÁLGICO

O meu amigo Antunes Severo, diretor geral do Instituto Caros Ouvintes, criou uma expressão – sem medo de ser nostálgico – a qual considero genial e bastante feliz para ser aproveitada até como jargão publicitário. e que ele precisa registrar urgentemente para que outros aproveitadores não se adonem da mesma.
Nos dias atuais, somos constantemente bombardeados pela filosofia de sempre louvar a Deus pela graça de estar vivendo no presente, deixando de lado os tempos idos que não voltam mais e também desconsiderando o futuro desconhecido e ainda iminente.
Um pouco de romantismo e nostalgia não faz mal a ninguém – assim eu parafraseio um título de uma crônica anterior para justificar esse nosso apego pelas coisas de outrora, cujas recordações, boas ou ruins, representam uma fonte de experiência e resguardo da memória coletiva.
Um exemplo concreto que nos ocorre está aí representado pela fidelidade para com seus antigos admiradores do pianista Norberto Baldauf em manter o seu Conjunto Melódico por mais de meio século na ativa, realizando bailes memoráveis para surpresa e gáudio de todos aqueles românticos incuráveis.
O assunto já foi tema do livro, recentemente lançado na praça, de autoria do jornalista Marcello Campos intitulado Week-End no Rio que conta a trajetória desse Conjunto através de um século e meio de existência.
Ricamente ilustrado, chamou-nos atenção uma das fotos dos anos cinqüenta em que aparece a formação original do Melódico, composta por Raul Lima (violão elétrico, guitarra), Victor Canella (acordeom), Léo Velloso (contrabaixo, empresário, showman), Fausto Touguinha (ritmo), Wilson Baraldo (bateria), Norberto Baldauf (piano) e Luiz Octávio (crooner), todos eles englostorados, com gravatinhas borboletas, os cinco primeiros na vestimenta característica de casacos azuis.
Já em 17 de setembro de 1983, quando se realizou a Noite do lembra? nos salões da Sogipa, marcando o reencontro dos componentes do grupo, desta vez não contando com a presença do saudoso Léo Velloso, a nova fotografia mostrava a equipe enxertada de outros elementos posteriores como Heitor Barbosa (vibrafone), Sadi Silva (baixo), Carlos Calcagnoto (bateria) e Edgar Pozzer (crooner).
Victor Canella, Léo Velloso, Fausto Touguinha, Wilson Baraldo e Léo Belloni foram desfalques de saudosa memória, enquanto Luiz Otávio, Heitor Barbosa, Sadi Silva e Carlos Calcagnoto afastaram-se por vontade própria; portanto, Raul Lima, Norberto Baldauf e, eventualmente, Edgar Pozzer, são os remanescentes que atuam no Conjunto Melódico, presentemente apresentando-se em eventos como o da recente reunião dos colecionadores de carros antigos, comemorativa dos 28 anos do Veteran Car Club do Brasil-RS.
Zé Vidal (teclado), Vilmar Neto (contrabaixo), Marcelo Quadros (crooner, violão), Norberto Baldauf (teclado, piano), Zé Carlos (percussão, voz), Daniel Lima (bateria) e Raul Lima (guitarra) estão aí para o que der e vier, conseguindo emplacar um baile a cada mês.
E o nosso jovem Raul Lima que hoje assopra 84 velinhas no bolo da sua existência, é dos mais entusiastas nessa continuidade do espetáculo, apesar das inúmeras defecções por que já passou o Melódico Norberto Baldauf, uma verdadeira instituição da nossa cultura musical.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Será que a humanidade é viável?

Naquele trecho da estrada, a pista apenas dava passagem para um veículo. Metade ruíra com a erosão da ribanceira. Eram cinquenta metros até o plano mais abaixo. A camioneta virada com as rodas para cima. Um deles com a perna esquerda imobilizada sob o teto da cabina, pensava na sua impotência para resolver a situação. O outro jazia todo ensangüentado ali dentro, coberto de bancos e vidros partidos, parecendo não dar sinal de vida. Lá estavam repartindo a solidão com a neblina da madrugada. As luzes dos faróis perdiam-se no espaço como tramas de uma tela absurda.
Gritava. Lançando a sua dor no vazio da semi-escuridão. As mãos apoiadas atrás para se manter sentado. O pé livre fazia apoio na coluna tentando arrancar-se do jugo. O resto do corpo já tinha esfriado, iniciava-se o sofrimento: a falta de circulação do sangue, a iminência da gangrena. O outro companheiro podia estar vivo, como providenciar socorro? Ficasse a outra perna ali enterrada, ele se arrastaria mesmo mutilado naquele rasto da ferida aberta da Natureza.
O acidente acontecera na estrada deserta. O cansaço da viagem, a sinalização deficiente, tudo tão rápido, nem se dera conta. Chamara o companheiro, não conseguira resposta. Estivesse apenas desacordado: sua esperança. Ele, lúcido, amaldiçoava o Destino pelo castigo imerecido, por não lhe abreviar aquele desespero que ia tomando conta de toda sua consciência. Os vidros quebrados, a solução, cortaria os pulsos. Ouviu o ronco dos motores intensificando-se com o clarear do dia. Alguém poderia avistá-los lá de cima.
No posto da Polícia Rodoviária, um telefonema anônimo avisava de haverem testemunhado a queda de um veículo na pista interditada. Os carros em fila, as pessoas correndo para verem o desastre. Os patrulheiros tentando disciplinar a confusão. A solidariedade fluindo ao natural. Dedos mexendo-se num corpo inerte. Respira. Arrastam-no para fora. Retoma a consciência, senta na terra solta. A camioneta é desvirada. O outro ainda consegue levantar-se, não falta quem o apoie. A gangrena fica na ameaça, os pulsos estão intactos. A dor dilui-se na alegria do salvamento. Alguém observa ao longe, mostra-se aliviado.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Navegando pela rota de Porto Alegre a Genebra com escala em Laguna

Jacqueline Bulos Aisenmann, na residência do Embaixador Celso Lafer, então representante do Brasil junto à ONU, quando da recepção ao Presidente (na época) Fernando Henrique Cardoso.
Feitas as apresentações pelo confrade Agilmar Machado na postagem anterior, registro aqui a gentil acolhida do nosso blog de parte de Jacqueline Bulos Aisenmann, a qual vem de motivar intensa troca de mensagens e recomendações mútuas de acesso, tanto a Coracional (procure conhecer na barra direita ao lado), o jornal eletrônico que divulga a memória da cidade de Laguna-SC e que é editado por essa nossa e mais recente aquisição virtual, como também a Caros Ouvintes e Poeta das Águas Doces, que passam a ser conhecidos a partir de Genebra, na Suiça.
Objetivos idênticos, Coracional é um líbelo de saudade e amor à terra natal de Jacqueline e seu esposo, Paulo Roberto, a histórica e tradicional urbe que viu nascer Anita Garibaldi; já o nosso Poeta das Águas Doces procura resgatar a vivência nostálgica desse gaudério desgarrado do seu rincão, há muito considerado como Cidade Heróica.
Laguna está ali à beira do mar, esbanjando as suas belezas naturais e lindíssimas praias, atraindo turistas dos mais variados recantos, muitos deles cruzando a Ponte Internacional Mauá, obra de arte que orgulha e une dois povos irmãos - Brasil e Uruguai, em direção ao litoral catarinense.
Laguna e Jaguarão, separadas por algumas centenas de quilômetros, tem em comum a sua origem no povoamento da gente portuguesa e açoriana e a sua memorável participação na Revolução Farroupilha, hábitos primitivamente arraigados na passagem dos tropeiros de mulas que expandiram as fronteiras do nosso país a partir daquele ponto limítrofe determinado pelo Tratado de Tordesilhas para chegarem até Colônia do Sacramento, portanto, guerreiras por natureza.
E quem se acostumar na observação do patrimônio arquitetônico dessas duas cidades, deverá ainda notar a afinidade de gostos artísticos, refletidos no estilo clássico de suas casas antigas.
A partir deste momento, a nossa ligação passa a ser mais elástica para que chegue num instante até Jacque e Paulo o nosso abraço gauchesco e brasileiro.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Agilmar Machado levanta taça no Carnaval de Laguna/SC

Nesses dias de Carnaval, saiu em Caros Ouvintes artigo de Agilmar Machado, intitulado Moacyr Franco - Mito da Canção Romântica, que foi objeto do nosso modesto comentário, prontamente replicado pelo autor, seguindo-se a minha tréplica e finalizando com os confetes que me foram jogados por este amigo virtual e boêmio regional, jornalista, radialista, escritor, meu padrinho Agil, a quem eu considero como responsável por estar colaborando naquele sítio de Santa Catarina, que vem se alastrando Brasil afora.
Assim, permito-me reproduzir esta troca de farpas, no bom sentido, é claro:
josé alberto de souzaEscrito por Visitante Grande lembrança, o Moacir Franco merece, ainda hoje ecoam-me os acordes de Suave é a Noite, uma das melodias inesquecíveis para mim. Aliás, a letra de Balada Número Sete, que você transcreveu lembrou-me o encontro de Guilherme Braga, um dos Cantores do Rádio remanescentes hoje em dia, com Gilberto Andrade, antigo ponta esquerda do Esporte Clube Internacional, já falecido, relembrando os tempos em que ambos tentavam a sorte em São Paulo - o Guilherme fazendo a divulgação do seu primeiro disco e o G.Andrade atuando na Portuguesa de Desportos. Na ocasião, Guilhesrme Braga homenageou Gilberto Andrade cantando essa comovente música do nosso cancioneiro. JASaudações.
AgilmarEscrito por Visitante Oi, JA! Obrigado pela visita e pelas amáveis palavras, além das lembranças ternas e amargas (doce amargura) idas e vividas por amigos teus do peito. Aqui hoje (a até o dia 4) não dá nem para se concentrar no computador: Laguna é uma loucura no Carnaval e eu moro em plena avenida principal (João Pinho) no Balneário Mar Grosso, que é o foco dos blocos jovens. Haja ouvidos e paciência prá segurar esta barra por aqui!!! Um abraço velho guerreiro e também ao nosso estimado Glênio (que deveria estar aqui, mas perdeu a coragem de enfrentar a folia geral). Aquele "menino" não é de carnaval, só de cavaquinho e seresta... Teu Amigo Agilmar
josé alberto de souzaEscrito por Visitante Chegamosi hoje de Termas do Gravatal, onde fomos fugindo do Carnaval e chegamos a fazer um passeio até Vale dos Cedros - por pouco pouco, não conhecemos o Carnaval da Psicodalia, não nos deixaram entrar porque o nosso cabelo era curto. Para ontém, estava programado passeio a Laguna que foi cancelado por que o micro-ônibus não podia entrar na cidade do melhor Carnaval do Sul do Brasil, todas as ruas intransitáveis e apinhadas de gente. JASaudações
AgilmarEscrito por Visitante Mas JA, essa não dá prá te perdoar! Oh, velho, estar pelas periferias de Laguna e não vir até o centro prá me dar um abraço é dose. Acho que o motorista desse micro te chutou essa história porque queria voltar prá casa. Pô, podias ter dado uma chegada até no Sambódromo (até ali não tem nada que atrapalhe, pois fica em um dos acessos ao centro e às praias), pelo menos prá me ver levantar o troféu de escola campeã. A festa foi uma apoteose: Os Democratas(aos 50 anos), pela qual fui homenageado em lugar de destaque no carro principal como único fundador vivo, faturou o concorrido Carnaval lagunense. Ainda estou meio zonzo de tanta festa até a madrugada de hoje, tanto na nossa imponente sede e pavilhão, como na volta ao Sambódromo, como Escola Campeã de 2008. Um abraço...e da próxima vez me dá um alô que te mando um "guia" lá na entrada da cidade!!! Um abraço, Amigão, Agilmar
Pode ficar certo, meu caro Agilmar, ilustre detentor da cadeira nº 21 da Academia Criciumense de Letras, que não faltará oportunidade para consolidar essa amizade recomendada pelo nosso patrono Glênio Reis, mas por enquanto vou deixando aqui os meus cumprimentos pela brilhante atuação da sua escola na passarela do samba aí de Laguna