domingo, 24 de setembro de 2017

EU SONHEI QUE AINDA PROCURAVA GISLAINE

A última fotografia de minha saudosa e querida esposa Gislaine Fagundes de Souza, na véspera de seu passamento.

Pode ser que a tristeza seja natural, mas quem aguenta a dor de uma saudade? Toda uma vida que se dedica a uma pessoa amada e, de repente, somos privados do seu convívio. Tudo ao nosso redor vira lembrança constante de uma sentida ausência. E haja força para se acostumar a uma nova rotina de quebra de hábitos arraigados. Como se fosse ainda aquela presença uma realidade que não aceitamos ser extinta. Tanto desejássemos proporcionar a qualidade de vida que lhe faltou para cumprir a derradeira missão.
Quanta coisa ficou pendente que planejávamos providenciar para seu conforto – atendimento domiciliar para coleta de exame de sangue, consulta médica agendada, tomografia da mandíbula completa, implantes dentários, continuidade de tratamento osteopático, troca de colchão para ortopédico, reforma do banheiro, – tanto que confiávamos na sua resistência até a conclusão dessas tarefas. Nem as lágrimas derramadas são capazes de compensar tantos adiamentos que foram processados.
Tentamos conscientizar nossos filhos de que eles sempre serão o fruto do nosso encontro conjugal, a verdadeira razão de suas existências, dando prosseguimento a futuros descendentes para consolidar uma modesta estirpe e encarando conflitos familiares como um necessário aprendizado para chegar a um entendimento dos valores afetivos. Ela que nem conseguiu enxergar a primavera florescendo, partiu em busca de suas origens, ao encontro daqueles outros entes queridos no plano espiritual.
Ela foi uma companheira das boas e más horas, uma esposa que ajudou a constituir um razoável patrimônio para nossa família, graças a sua noção de economia, garantindo um futuro pecúlio à nossa sobrevivência. E assim conseguimos enfrentar aqueles momentos tão difíceis que culminaram na recuperação plena da saúde de um dos nossos filhos. Agora recentemente tivemos a satisfação de ver o outro filho recomeçar a sua carreira profissional após dois anos desempregado com escassos recursos.
Ela era uma pessoa muito extrovertida, apesar de se tornar bastante carente com o passar do tempo que a imobilizava para se distrair naquelas atividades que lhe causavam prazer – foi colaboradora voluntária na Creche de Mães da Vila Lupicínio, aonde chegou a presidir essa entidade a pedido de seus beneficiários necessitados do recebimento de verbas municipais, E posteriormente veio a exercer ocupações como secretária do Clube da Melhor Idade do Menino Deus, braço direito do presidente Lourival Ávila. 
Gislaine Fagundes de Souza vinha tendo dificuldades para se movimentar com problemas nos joelhos bastante doloridos, definhava com dificuldades de alimentação e de beber água suficiente para estancar uma acelerada desidratação. Teve de ser removida para o Hospital Mãe de Deus, aonde veio a falecer em 21 de setembro de 2017, após três paradas cardíacas. Faltando 64 dias para completar oitenta anos do seu nascimento e deixando em nós esta imensa saudade da sua presença inestimável.

terça-feira, 12 de setembro de 2017

E SEMPRE NOSSOS ETERNOS ANOS DE PÉROLA

À direita, os "jubilandos" Vera Lúcia e José Alberto e, à esquerda, os outros "sobrinhos do Capitão" José Álvaro e Ana Lecy.

Anos de pérola separam jubileus de ouro e carvalho – o teu e o meu. Essas pérolas que nunca vão deixar de ser pérolas, mesmo com o passar do tempo. Todo ano, recebo esse presente como uma graça concebida no ventre de minha saudosa mana. Ela tinha um jeito diferente de ser carinhosa quando dizia que eu era um bom irmão ou que nunca a deixava de apoiar nos momentos difíceis. Nem as duas vezes em que nosso pai se tornou viúvo, deixando-a órfã de mãe na primeira e eu também órfão na segunda, conseguiram nos afastar do afeto que nutríamos um pelo outro, apesar de não habitar o mesmo teto.
Anos de pérola por toda eternidade para traduzir esse elo que sempre nos manteve unidos e que jamais se romperá embora esticado no espaço celestial. A presença dela se faz notar em cada gesto teu, em cada atitude que possa demonstrar a tua personalidade firme e amistosa. E eu ainda sinto o seu abraço carinhoso quando me enlaças naquelas saudações espontâneas de velhos amigos que caminham juntos numa mesma jornada deste planeta. Compartilho com teu marido e com teus filhos dessa imensa alegria de viver cada momento na plenitude de nossas existências enquanto persistirem de forma harmoniosa.
Anos de pérola tão esperados para que viessem ocorrer e sedimentar minhas lembranças dos teus pais queridos, dos teus irmãos que eu gostava de embalar sob os protestos de alguém – “Vais deixar essa guria manhosa!” – e daquela casa que era como se fosse prolongamento do meu próprio lar. Mesmo à distância, ainda estou observando a evolução dos teus passos que não se cansam para chegar de mansinho até onde tua presença se faz necessária, seja acompanhando a todos aqueles carentes do teu incentivo, seja demonstrando o teu orgulho com o sucesso alcançado por todos que tem o privilégio da tua amizade.
Quantas pérolas enfiastes no colar dos teus sentimentos, quantas voltas esse colar já não deu no repositório da tua humildade. Hoje estás nesse galho de ouro que logo vais trocar por outros ramos de símbolos diferenciados que nem galardões merecidos quando se vencem íngremes escaladas, a fim de se avistar no cimo da montanha aquele horizonte colorido e brilhante das tuas emoções.