Vez que outra, aparece algum trovador costurando rimas e entortando verdades como se o passado, a memória fossem o mais descartável dos lixos. O que vale é o atual, o moderno, a ideologia da moda. Confesso que essa gente que costuma falar sem papas na língua e muito menos conhecimento de causa me irrita bastante. Hoje, por exemplo, se desconstroi uma figura importante da nossa história, nascido aqui em nossa região do extremo sul do país, não por acaso patrono da nossa indústria – o Visconde de Mauá – rotulando-o de defensor dos interesses britânicos na Guerra do Paraguai como se não bastasse o seu pioneirismo na implantação de fábricas e de estradas de ferro que facilitaram o escoamento da incipiente produção da época.
Esse pessoal ignora as realizações dos nossos antepassados que deram grande impulso ao progresso da nossa cidade no início do século passado, quando findava o ciclo do charque na economia gaúcha, resultando dessa época o nosso tão decantado patrimônio arquitetônico. Carlos Barbosa Gonçalves, presidente do Estado que interrompeu a gestão de Borges de Medeiros, ainda é reverenciado nos dias atuais como visionário que se antecipou ao próprio tempo pelos documentos do Museu de sua Fundação, trazendo para Jaguarão as primeiras instalações de água e esgoto e o ramal ferroviário até Basílio.
Que leiam a obra de Eduardo Álvares Souza Soares para se ilustrarem melhor, em especial “Um Século de Beneficência” e tomem conhecimento do capítulo dedicado a seu fundador Augusto César de Leivas, outro dos grandes empreendedores que se destacou no cenário nacional. Citamos a Associação Protetora dos Desvalidos (Asilos de Órfãos e Idosos, Cidade dos Meninos) que resiste heroicamente na sua finalidade filantrópica como uma das suas iniciativas marcantes em nossa comunidade.
Era criança e me criei assistindo como exemplo de abnegação todo empenho do meu tio Cantalício Resem como um dos grandes esteios na concretização desse ideal. Autodidata, arrimo de família, caixeiro da firma de Domingos Ribeiro, situada onde hoje se encontra o Banco do Estado do Rio Grande do Sul, foi o precursor do curso de alfabetização 20 de Setembro que possibilitou uma grande mobilidade social e alavancou o crescimento de muita gente batalhadora. Jornalista panfletário dos tempos de “A Situação”, legou-nos o semanário “A Folha” que vem sobrevivendo bravamente enquanto outras publicações sucumbiram nos 75 anos de sua existência.
Como técnico do BRDE, nas inúmeras viagens através desse nosso Rio Grande durante a década de 70, pude constatar a inexistência de hotéis que super!ssem nosso “Sinuelo”, construído com recursos próprios de sociedade de empreendimentos jaguarenses, a qual também nos brindou com o moderno Cine Regente, é bem verdade hoje inativo mais por causa do advento da televisão. E se hoje outras cidades gaúchas já dispõem de hospedarias condignas deve-se à concessão de incentivos da Embratur, cujos cronogramas físicos de execução tive oportunidade de acompanhar.
Essa “burguesia” que é taxada como retrógrada, foi responsável pela implantação de três cooperativas – de Carnes, Lãs e Arroz - que geraram impostos e empregos, mas que infelizmente não tiveram condições de subsistir face às crises econômicas que tragaram e continuam tragando tantos outros empreendimentos similares. E a nossa Santa Casa de Misericórdia, que até pouco tempo era tida como modelo de boa gestão financeira, está ai reivindicando uma saída para o abandono a que se encontra relegada a rede hospitalar sucatada pela incúria de nossos governantes.
Há pouco tempo criou-se no Instituto Estadual de Educação Espírito Santo o memorial do Ginásio de Jaguarão/IPA, onde se pode verificar a história desse Educandário e da batalha que se travou para a fundação do mesmo em Jaguarão, congregando todas as forças vivas do município nesse intento, coroado de êxito graças à pertinácia do prefeito Carlos Alberto Ribas, contando com o apoio do nosso conterrâneo General Cordeiro de Farias, então interventor do Estado, para sensibilizar o Reitor Oscar Machado, em Porto Alegre. E se falarem em faculdade, não deixem de mencionar o nome deste grande idealista que foi o major Nelson Wortmann.
Um comentário:
Caro amigo Jose Alberto,
Me confesso um grande admirador do Barão de Mauá. O livro do Jorge Caldeira, o Empresário do Império, que inspirou um belo filme sobre essa figura exponencial da nossa história, redime o passado desse grande brasileiro, que por força da elite entreguista da época praticamente foi levado à falência.
Realmente não creio que nenhum jaguarense ignore as realizações dos antepassados ilustres, e por elas temos muito respeito, tanto que as obras de preservação e restauração do patrimônio arquitetônico estão sendo lideradas pelo atual governo. Ao dedicado Major Wortmann, o reconhecimento pelo trabalho prestado na área da educação privada, porém não há como negar que a implementação de uma Universidade Pública em Jaguarão é de importância primordial. Sabe-se que os governos do PSDB não primam pela educação pública, muito pelo contrário, são sabidamente privatizadores.
Portanto, não só olhamos para o passado, quando Jaguarão teve seus áureos tempos, mas também somos da geração que viu nossa cidade só ser lembrada pelo "Já Teve", conseqüência de estagnação econômica e visão retrógrada.
E agora podemos dizer com orgulho que temos uma Unipampa, temos um teatro sendo preservado, temos um Museu do Pampa que será um marco que nos colocará no centro dos estudos Pampeanos , temos um projeto para revitalização do Mercado público entre outras obras que fortalecerão o turismo e a imagem de nossa cidade frente ao Brasil e ao mundo.
Abraço
Jorge Passos
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