quarta-feira, 19 de novembro de 2008

CROMOSSOMOS

Livre arbítrio ou prisão / Genealogia de exclusão /
Tanta coisa já contida / e o exemplo ao longo da vida /
Espécie de bagagem / Um dia sempre pesa na viagem /
(Pitty: Malditos Cromossomos).
********************************************** Papeleiro tem família? Pense num deles morando debaixo da ponte com uma mulher eventual, talvez ganha na troca por um trago de cachaça. Mau negócio, logo deve passar adiante. Assim, deixará de disputar no tapa a coxa de galinha rejeitada no lixo do restaurante. Calor humano tanto faz, afinal a cachorrada está ali para isso mesmo. Mais tranquilidade no prazer solitário. **************************************************** Vê se me garante esse resultado. Três a três me interessa e muito. Assim livro a minha equipe do rebaixamento para a Terceira Divisão. Apesar de toda aquela bebedeira de ontém à noite, ainda fui te buscar lá na zona. Eu compreendo: pai para o filho daquela empregadinha que diz ser teu, tem por aí aos montes. Penalti? Tudo contigo. Goool... Frangueiro, corno, bem mereces sustentar a cria dos outros!
**************************************************** O macho pronto para colocar o instinto em dia. Pega de surpresa, negaceia. Bofetadas estalando na noite escura. Local ermo. Possuída contra vontade. Sem apelação. Dias e mais dias escondendo a entrega humilhante. Enjôos, desejos inesperados. Ventre tomando forma. O emprego ameaçado. A insensibilidade da patroa. Aborto? Filho perdido, remorso, nem pensar. Mil vezes parir o fruto daquele ódio. **************************************************** Todos o conheciam no Mercado Público. Músculos salientes, roupas grossas e encardidas, o colete inseparável. Ganhava dinheiro por todos os poros e perdia boa parte no jogo de dados escondido no depósito das frutas. Festejado pelos amigos bebendo às suas custas, não se continha nas fanfarronices com mulheres. Apenas se punha possesso quando falavam da mulata lavadeira, sua perdição. **************************************************** Todo o dia a gente se vira no tanque, entrega roupa lavada na cidade e o dinheiro cada vez mais curto. Tinha tanta esperança no salafrário daquele português, que ele me tirasse do barraco, enfim me desse uma casa decente. Se já é um caro custo arrancar algum para o sustento do menino, imagina se ele ia ter miolo para dar jeito nesta miséria. Desabusado, nem se importa com o moleque vadiando por aí. **************************************************** O sol se pondo, ele voltava da roça. A mulher vinha ao seu encontro dizer que um casal estivera no povoado procurando uma moça para trabalhar na cidade. Sua filha? Jamais.
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Conhecia bem o marido. Cabeça dura, manobrava-o a seu gosto. Convenceu-o falando da ajuda vindo de fora. O futuro da menina? Não se preocupasse, gente fina tinham garantido.

6 comentários:

JASouza. disse...

Gostaria de comunicar aos caros amigos que, além da opção ANÔNIMO, também se pode postar como Nome/URL, não sendo necessário colocar URL.
Assim, ficaria bastante satisfeito em identificar a autoria do comentário, mesmo que fosse uma crítica.
JASaudações

Anônimo disse...

Caro Souza:

Embora criativo achei muito amargo esses contos. Talvez porque já esteja mais acostumado a te ver com uma inspiração mais bem humorada.

Anônimo disse...

É a pura descrição do mundo em que vivemos. A miséria, o abandono, a falta de amor ao próximo, a vontade de se dar bem às custas dos outros. É a realidade nua e crua. Parabéns Tio, gosto muito desse bolg.
Hilda

Anônimo disse...

Amigo José Alberto de Souza

Lamentávelmente esta é a realidade nua e crua em que muitos vivem não só no Brasil. Veja a miséria nos países asiáticos, sem querer descrever quais. São tantos como ou mais que em nosso país. E as "otoridades" o que tem feito. Eles estão querendo vetar a correção que se fez necessária no salário dos Aposentados. Agora quando é para aumentar os seus, os políticos votos mais do que depressa.
Um grande abraço e parabéns,

Edemar Annuseck - Curitiba (Até Dezembro)

Anônimo disse...

Infelizmente, vivemos num mundo onde os valores e as pessoas na sua integralidade valem pelo que representam e não pelo que são. Lamentável. Parabéns. Um abraço. Hunder.

Anônimo disse...

Souza

Isto tudo aqui escrito é a nossa realidade, mas não combina contigo,
estas palavras estão muito pesadas.

Um abraço.
Diná