Obs.: Não conseguimos registrar a faixa 2 - "Pode Voltar" - deste disco.
terça-feira, 14 de abril de 2015
domingo, 12 de abril de 2015
CHICO BUARQUE JÁ INSPIROU JORGE COSTA
![]() |
1968 - Abertura do Carnaval do cinquentenário de Catanduvas-SP em baile realizado no Clube dos 300. Na foto o compositor Jorge Cosra, a Rainha do Carnaval Amália Marangoni e o cantor Wilson Simonal. |
Oriundo das Alagoas, a pequenina
e simpática terra dos marechais, de lá saindo como expedicionário – “Graças a
Deus, não embarquei para a Itália, me escapei de uma”! – e radicado há mais de
34 anos na São Paulo da Garoa, Jorge
Costa é uma dessas criaturas predestinadas a encarar grandes desafios. É
bem provável que o Senhor lhe tenha poupado de sentir na própria pele os
horrores apocalípticos de uma convulsão mundial, reservando-lhe uma missão mais
nobre. Truncada a carreira na caserna, nem por isso deixou por menos o destino
de seus conterrâneos, galgando através do talento e do carisma que lhe são
peculiares, a mais alta patente da nossa genuína música popular, qual seja, a
de Marechal do Samba.
Cidadão do Brasil, Jorge Costa veio dar com os costados
aqui pelos pampas e, na sua meteórica passagem entre nós, foi “sequestrado” por
Jessé Silva, o “magnífico” do violão
e seu particular amigo, que o colocou em contato com o “xará” Jorge Machado,
outro de nossos grandes violonistas. Isto no fim de uma manhã ensolarada do
sábado 9 de agosto de 1986, só poderia resultar num churrasquinho amigo.
Telefona para o Admar do Cavaquinho, disposto a bancar a recepção, e estava
formado o pagode.
Cidadão do Brasil é isso mesmo,
não precisa ensaiar e se faz entender facilmente, pois a linguagem é a mesma,
ainda mais através da comunicação fluente de Jorge Costa, identificando-se na grande capacidade de improvisação,
na competência e na versatilidade dos talentosos músicos gaúchos Jorge Machado
e Jessé Silva (violões), Admar
Rodrigues (cavaquinho), Geraldo Majela
(timba), Aroldo Dias e Cláudio Braga
(cantores).
Jorge
Costa é uma satisfação e um privilégio
continuar privando do seu convívio. Que esse salutar intercâmbio prossiga, pois
esta batalha não podemos perder. Índio, negro e português, estas são as raízes
reais da nossa mais autêntica cultura musical, o resto é enxerto. Volte sempre,
um abraço e até de repente. (Jorge Costa no pagode do Xará / J.A.S.)
Antes de falecer em 1995, Jorge Costa
ainda esteve em Porto Alegre em outras oportunidades, nas quais não deixava de
procurar seus amigos aqui residentes, chegando a ser contratado para longa
temporada na Boate Carinhoso, de Flávio Pinto Soares, que lhe proporcionava
hospedagem num apartamento situado nas proximidades do seu famoso cartório da Ladeira.
Inclusive Jorge chegou a comemorar seu aniversário de 70 anos naquela afamada
casa noturno, deixando gravada essa apresentação em fita cassete e me brindando
gentilmente com uma cópia referente ao acontecimento.
Quando ouvi “Triste Madrugada” pela
primeira vez, logo me ocorreu Haroldo Lobo: - “Eu fiz serenata pra ela/ Cantei
uma linda canção/ Ela não veio à janela/ Quebrei meu violão”. E eis que o destino
me reserva ser apresentado a Jorge Costa (“Triste madrugada foi aquela/ Em que
perdi meu violão/ Não fiz serenata pra ela/ E nem cantei uma linda canção”).
Atrevi-me apontar essa coincidência nas duas letras, ao que ele me esclareceu como
se nada tivesse a ver, revelando a fonte de inspiração após encontro com Chico
Buarque de Holanda num bar da Galeria Metrópole, em São Paulo.
Na saída, aproveitou carona
em taxi com Chico e foi prolongando o papo até que, lá pelo meio da viagem, essa
celebridade deu-se conta que tinha esquecido naquela Galeria seu inestimável
violão, e decidiu voltar ao local para recuperar o valioso instrumento. Mas
cadê? Lá ninguém viu, ninguém sabia... Quase clareando o dia, na volta para sua
casa em Taboão da Serra, estalo na cachola de Costa: “Ora, vejam só, nesta
madrugada Chico perde mais um de seus violões, sabe que isto dá samba...” E nem
poderia dar outra, pronta, Triste Madrugada virou sucesso nacional em 1967.
sábado, 11 de abril de 2015
O SAMBISTA JORGE COSTA NO "PENA D'OURO"
![]() |
Da esquerda para a direita: Bráulio de Castro, Raimundo Prates, Noite Ilusrtrada, Luiz Américo, Túlio Piva e Jorge Costa. |
“De passagem pelo Rio de Janeiro,
frequentei poucas casas noturnas, mas em São Paulo fui assíduo nas de
qualidade, chiques ou simples. Há que enaltecer: Arabesque. João Sebastião Bar.
Vogue. Baiuca. Catedral do Samba. Igrejinha. Telecoteco da Paróquia. Viva
Maria. O Jogral. Regine. Siroco. L’abissant. La Fontaine. Nick Bar. Terceiro
Whisky. Ponto de Encontro. Open The Door e Rosa Amarela, na Galeria Metrópole.
Em algumas eu era mais manjado e dava canja com meus instrumentos de percussão.
Bom cliente. Ninguém pagava a minha conta. Eu sim, com prazer, convidei muitos
artistas, intelectuais, durangos, a sentar na minha mesa. Alguns eu já levava
na algibeira.”
De São Paulo, recebo quinzenalmente a publicação
“Zingamocho/Coisas e Lousas”, gentilmente enviada pelo cronista Aguinaldo Loyo
Bechelli, fruto de suas observações do cotidiano, de onde extrai o parágrafo
acima transcrito. O que esse amigo escreveu me fez rememorar uma casa do Largo
do Arouche, em São Paulo, com nome bastante sugestivo – PENA D’OURO –, onde
Gislaine e eu comparecemos numa tarde de sábado a convite do saudoso Jorge
Costa, autor do sucesso nacional “Triste Madrugada”, que ali se apresentava.
Muito bem recebidos pelo simpático compositor e
demais frequentadores com uma salva de palmas ao ser anunciada a presença de um
casal de Porto Alegre, que ali estava prestigiando o espetáculo, colocamo-nos
inteiramente à vontade em agradável convívio. Mais ainda quando Jorge Costa e
seu fiel escudeiro, o violonista Sergipe, sentaram à nossa mesa para um descontraído
bate-papo, testemunhando a combinação deles a fim de animar o Carnaval em um
dos hotéis de Águas de Lindóia. Chamava atenção no recinto lotado o chapéu de
peão boiadeiro de um dos presentes.
De repente, a companheira desse cidadão veio até
onde estávamos e tirou da cabeça do Jorge seu tradicional boné branco e saiu a
arrecadar gorjetas nas mesas do salão, voltando logo após para lhe entregar uma
féria repleta de cédulas e moedas. Ficamos admirados quando assistimos “seu”
Costa repartindo religiosamente, cédula a cédula, moeda a moeda, a quantia ali
depositada e destinando exata metade a seu parceiro Sergipe. Era o que
colhiam através de inesperado e voluntário “couvert artístico” da assistência
como reconhecimento daquele maravilhoso show vespertino.
Em outra ida a São Paulo, tive oportunidade de
almoçar com Jorge Costa, privando de algumas de suas confidências, entre as
quais sua constatação de que morava no local errado, pois melhor seria residir
no Rio de Janeiro, onde aconteceriam melhores contatos com artistas e
intérpretes para divulgar as suas composições musicais. Este fato obrigava-o a
contínuas viagens ao Rio, nem sempre bem sucedidas face ao desencontro com
aqueles, muitas vezes ausentes pelos compromissos assumidos em shows e
excursões por todo país. E as despesas de estadia não lhe compensavam qualquer
espera.
Procurei-o à tarde, após encerrar seu expediente no
escritório da SBACEM, situado na Barão de Itapetininga, dali nos dirigindo a um
bar do Largo do Paissandu, onde encontramos um conhecido do Lupinho, e depois
seguindo até outro ponto em que costumava se reunir com um grupo de amigos, entre
eles o compositor Luiz Felipe. Então nos foi revelada a solidariedade existente
naquela confraria, todos mostrando sua preocupação quando um de seus membros
deixava de comparecer ao “hapy hour”, imediatamente buscando informações sobre
essa baixa.
Nesta ocasião, Luiz Felipe contou que sua esposa financiou e produziu a
fita K7 “Meu Testamento” de Lúcio Cardim, que este distribuiu entre seus amigos
e que se difundiu pelo Brasil afora através de inúmeras cópias efetuadas na
legião de seus admiradores. Essa senhora recebia fidalgamente os convidados de
seu marido para almoços e jantares em sua residência, além de patrocinar eventos
beneficentes que sempre contavam com graciosas apresentações de famosos
artistas do círculo de amizades de Luiz Felipe, uma única vez negada
participação de conhecida celebridade devido exigência de “cachê” pela sua
empresária.
Assinar:
Postagens (Atom)