sábado, 26 de março de 2011

Exercendo proselitismo pragmático

Meu tio Cantalício Resem, casado com Florisbela, irmã de meu pai José Dalberto de Souza, ficava chateado porque meu irmão (por parte de pai) Marçal Garcia de Souza “omitia” o sobrenome paterno. Na época, até que concordava com aquele tio, também meu pai de criação. Porém, com o passar do tempo, fui conhecendo outras pessoas que “assim procediam” e cheguei à conclusão do ato involuntário resultante da ”lei do menor esforço” que fazia a gente abreviar o nome completo do indivíduo. Como exemplo cito meu conterrâneo Luiz Marques Machado, raramente reconhecido como Machado.
Minha esposa Gislaine Fagundes de Souza, filha de João Fagundes da Silveira e Alba Pahim da Silveira, não conseguia me explicar porque apenas o seu irmão mais velho João Paulo Fagundes da Silveira tinha esse último sobrenome, enquanto ela e os outros irmãos foram registrados como Pahim Fagundes. Terminei decifrando o enigma quando descobri que meu sogro era descendente de uruguaios, João Fagundes e Maria Francisca da Silveira. Assim, ao se casar, minha sogra adotou esse último sobrenome, reservando Fagundes para os três filhos menores.
Permito-me essas digressões genealógicas a fim de opinar sobre a praticidade do sistema nominal que os povos de língua espanhola adotam, ou seja, o sobrenome paterno antecede o materno, mais coerente com a “lei do menor esforço” acima referida, evitando qualquer omissão imprópria. Já as filhas, quando casam, perdem o sobrenome da mãe e abrem espaço para introduzir o do marido, antecedendo o do pai, ordem essa que pode permanecer legada a seus descendentes diretos, Se não predominar uma orientação “machista” que despreza a origem da mãe.
Por falar na cultura “machista”, recorro aos nomes de meus pais, José Dalberto de Souza e Maria Francisca de Souza. Ele filho de José Vieira de Souza e Joaquina Teixeira de Souza, e ela de Jerônimo Vieira de Souza e Pacífica Silva de Souza, ambos ele e ela com sobrenomes maternos ocultos, um costume português muito comum que meu pai, brasileiro, acatou quando me registrou como José Alberto de Souza. Podia ser Souza de Souza ou então de Souza e Souza, até aceitaria o Vieira de Souza de meus avós, irmãos portugueses. Mas não – meu carma foi encarar as inúmeras justificativas para limpar meu nome nos Cartórios...
A propósito, lembro de um colega na Ford em São Paulo, Francisco de Assis Filho, que o pai, segundo me disse, assim o registrou para que também passasse pelos percalços de quem carregou um Francisco de Assis por toda vida. Na ocasião, sua esposa esperava o primeiro filho e eu o doutrinava para que não omitisse o nome dela. Assim que a criança nasceu, perguntei-lhe como tinha registrado o rebento. Francisco de Assis Neto, mas como? A maldição continua? E o nome da tua mulher? “Ora, ora, Francisco Tripiana de Assis, fica muito feio, vai ter que pagar os pecados que ainda estou pagando!”
Ainda acho a maior frescura essa da mulher não permanecer com seu nome de solteira quando casa e me parece que se submete a um título de propriedade. E nos dias de hoje, com esse "casa-descasa", mais uma tremenda burocracia que constrange a mulher moderna num mundo que se ressente tanto da paternidade, no sentido de se dividirem as tarefas domésticas, em consequência de um orçamento cada vez mais dependente da contribuição feminina. Afinal “até que a morte nos separe” só funciona quando os parceiros têm o seu relativo grau de liberdade, respeitados os espaços de cada um.
E. T.: Nossos filhos chamam-se Jerônimo e Gilberto Fagundes de Souza. Este último e Marylene Fernandes Vieira geraram nossa neta Mariana Vieira de Souza.

4 comentários:

Carlos José de Azevedo Machado disse...

Não pude deixar de colocar um comentário, pois o texto está muito legal, além de percorrer rápidamente um período histórico sobre a colocação dos sobrenomes. Sempre questionei esta história das mulheres colocarem o nome do marido (principalmente se observarmos a origem desta tradição). Quando casei, graças a Deus, o nome da Vera Lucia seguiu o mesmo, o qual adoro. Parabéns e obrigado por nos brindar com seus textos. Abraços. Carlos José de Azevedo Machado(Maninho).
Obs: O cognome entre parenteses não fez parte da certidão.(rss)

Anônimo disse...

Muito oportuno esse assunto tio, também sempre tive essa indignação quanto a mudança de nome ao casar. Achei interessante que sua neta voltou às origens com o Vieira de Souza he, he. Beijão.
Hilda

Fernando Rozano disse...

Gostei de ler sobre os sobrenomes.....muito bom mesmo e oportuno. Grande abraço.

Helena Ortiz disse...

Muito bons, o texto e a mensagem.
Não se concebe que ainda hoje a mulher mude de nome ao casar. Exatamente como dizes: é um registro de propriedade.
Somente estando ao lado da mulher, e não sobrepondo-se a ela é que o homem a estará respeitando.
(E ela a si mesma)
Grande abraço, amigo