sábado, 11 de abril de 2015

O SAMBISTA JORGE COSTA NO "PENA D'OURO"

Da esquerda para a direita: Bráulio de Castro, Raimundo Prates,
Noite Ilusrtrada, Luiz Américo, Túlio Piva e Jorge Costa.
“De passagem pelo Rio de Janeiro, frequentei poucas casas noturnas, mas em São Paulo fui assíduo nas de qualidade, chiques ou simples. Há que enaltecer: Arabesque. João Sebastião Bar. Vogue. Baiuca. Catedral do Samba. Igrejinha. Telecoteco da Paróquia. Viva Maria. O Jogral. Regine. Siroco. L’abissant. La Fontaine. Nick Bar. Terceiro Whisky. Ponto de Encontro. Open The Door e Rosa Amarela, na Galeria Metrópole. Em algumas eu era mais manjado e dava canja com meus instrumentos de percussão. Bom cliente. Ninguém pagava a minha conta. Eu sim, com prazer, convidei muitos artistas, intelectuais, durangos, a sentar na minha mesa. Alguns eu já levava na algibeira.”

De São Paulo, recebo quinzenalmente a publicação “Zingamocho/Coisas e Lousas”, gentilmente enviada pelo cronista Aguinaldo Loyo Bechelli, fruto de suas observações do cotidiano, de onde extrai o parágrafo acima transcrito. O que esse amigo escreveu me fez rememorar uma casa do Largo do Arouche, em São Paulo, com nome bastante sugestivo – PENA D’OURO –, onde Gislaine e eu comparecemos numa tarde de sábado a convite do saudoso Jorge Costa, autor do sucesso nacional “Triste Madrugada”, que ali se apresentava.
Muito bem recebidos pelo simpático compositor e demais frequentadores com uma salva de palmas ao ser anunciada a presença de um casal de Porto Alegre, que ali estava prestigiando o espetáculo, colocamo-nos inteiramente à vontade em agradável convívio. Mais ainda quando Jorge Costa e seu fiel escudeiro, o violonista Sergipe, sentaram à nossa mesa para um descontraído bate-papo, testemunhando a combinação deles a fim de animar o Carnaval em um dos hotéis de Águas de Lindóia. Chamava atenção no recinto lotado o chapéu de peão boiadeiro de um dos presentes.  
De repente, a companheira desse cidadão veio até onde estávamos e tirou da cabeça do Jorge seu tradicional boné branco e saiu a arrecadar gorjetas nas mesas do salão, voltando logo após para lhe entregar uma féria repleta de cédulas e moedas. Ficamos admirados quando assistimos “seu” Costa repartindo religiosamente, cédula a cédula, moeda a moeda, a quantia ali depositada e destinando exata metade a seu parceiro Sergipe. Era o que colhiam através de inesperado e voluntário “couvert artístico” da assistência como reconhecimento daquele maravilhoso show vespertino.
Em outra ida a São Paulo, tive oportunidade de almoçar com Jorge Costa, privando de algumas de suas confidências, entre as quais sua constatação de que morava no local errado, pois melhor seria residir no Rio de Janeiro, onde aconteceriam melhores contatos com artistas e intérpretes para divulgar as suas composições musicais. Este fato obrigava-o a contínuas viagens ao Rio, nem sempre bem sucedidas face ao desencontro com aqueles, muitas vezes ausentes pelos compromissos assumidos em shows e excursões por todo país. E as despesas de estadia não lhe compensavam qualquer espera.
Procurei-o à tarde, após encerrar seu expediente no escritório da SBACEM, situado na Barão de Itapetininga, dali nos dirigindo a um bar do Largo do Paissandu, onde encontramos um conhecido do Lupinho, e depois seguindo até outro ponto em que costumava se reunir com um grupo de amigos, entre eles o compositor Luiz Felipe. Então nos foi revelada a solidariedade existente naquela confraria, todos mostrando sua preocupação quando um de seus membros deixava de comparecer ao “hapy hour”, imediatamente buscando informações sobre essa baixa.
Nesta ocasião, Luiz Felipe contou que sua esposa financiou e produziu a fita K7 “Meu Testamento” de Lúcio Cardim, que este distribuiu entre seus amigos e que se difundiu pelo Brasil afora através de inúmeras cópias efetuadas na legião de seus admiradores. Essa senhora recebia fidalgamente os convidados de seu marido para almoços e jantares em sua residência, além de patrocinar eventos beneficentes que sempre contavam com graciosas apresentações de famosos artistas do círculo de amizades de Luiz Felipe, uma única vez negada participação de conhecida celebridade devido exigência de “cachê” pela sua empresária.

2 comentários:

Aguinaldo Bechelli disse...

Muito grato, bom José Alberto, por citar texto meu sobre o nosso saudoso amigo Jorge Costa. Tive inúmeras passagens com ele, frequentador assíduo da minha casa e tocatas noites afora. Levei-o à Porto Alegre para inaugurar o Bar Carinhoso do amigo Flavio Pinto Soares.
De certa feita, fomos à Igreja de S,Senhora da Aparecida para eu batizar um filho dele. Tinha muitos bares no caminho de São Paulo até Aparecida do Norte. Saímos de manhã e chegamos à tarde, numa viagem que não demoraria duas horas. O padre não quis batizar porque não levamos certidão de casamento, cursinho pro batismo e outras exigências. Ofereci uma nota preta para o famoso jeitinho, mas o padre era "carola" nem "petroleiro". Não topou. Jorge Costa então apelou: "Se o senhor não batizar agora, a gente vai pra Umbanda."

Academia de Letras de Crateús - ALC disse...

Poeta das águas doces do Sul, cada texto que leio de sua lavra atesta o requinte intelectual e o refinamento da alma da grande figura que você é. Um abraço.