domingo, 17 de maio de 2015

AS PENÚLTIMAS ONDAS DE CERTA NOSTALGIA


                                           

Quando da estreia do filme “Buena Vista Social Club” aqui em Porto Alegre que assisti tão entusiasmado, lá por meados de 2000, em plenos estertores do século passado, não me fiz de rogado para intimar o cantor e compositor Guilherme Braga, uma das grandes vozes da época de ouro do rádio gaúcho, insistindo para que não deixasse de apreciar essa obra prima do cine-documentário internacional.
Pois, este meu caro amigo não tardou para manifestar sua opinião, na qual enaltece a redescoberta por um produtor de discos norte-americanos, Ry Cooder, e um cineasta alemão, Win Wenders, de velhos músicos e cantores cubanos. E ao ver emocionado as cenas que mostravam aqueles velhinhos fabulosos, redivivos e exuberantes na execução de sua arte musical – alguns com mais de oitenta anos de idade –, identificava-se durante a projeção, com aqueles personagens, pela semelhança com sua própria vivência como ex-cantor já conformado com o ostracismo, mas ainda capaz de sonhar com o milagre de um reencontro com o público e com ex-companheiros.
E assim recomendava a todos que ainda não tivessem assistido a essa fita emocionante, para não deixarem de vê-la. E todos que a viram, soubessem que aqui no Brasil, aqui em Porto Alegre, neste Sul do Mundo, existiam outros velhinhos com muito talento, capazes de reeditar grandes sucessos numa versão local de Buena Vista Social Club, que bem poderia se chamar Maipu, Marabá ou American Boite. Só faltando um Ry Cooder e um Win Wenders, produtores de talento e arrojo para bancar o espetáculo em grande estilo. (Da mensagem de Guilherme Stone Braga para José Alberto de Souza, em 5 de junho de 2000).

Apenas Guilherme deixou de fazer referência a algumas tentativas de revival em nível de Buena Vista ocorridas aqui neste Sul do Mundo, das quais inclusive teve participação destacada como no espetáculo “REENCONTRO (O show tem que continuar)”, levado a efeito em 16 de outro de 1991, na antiga Boite Le Club. Ao lado da eterna Rainha do Rádio Maria Helena Andrade e do saudoso astro Fernando Collares, com acompanhamento de Paulo Santos (violão/guitarra) e de Celso Lima (teclado), sendo apresentados pelo veteraníssimo Ary Rego, fez valer a mensagem – A gente precisa se reencontrar / Com os amigos / Com os músicos / Antes que tudo passe / Com a alegria de viver – inserida no convite. Este Reencontro voltou a ser levado à cena em 10 de julho de 2002, sob a direção de Silvana Prunes, ora com participação especial dos cantores Roberto Gianoni e Jussara Souza, dos bailarinos Paulo Pinheiro e Lisiane e mais os músicos José Moacir Vidal (teclados), Salvador Touguinha (guitarra), Wilmar Neto (baixo) e Dé Ribeiro (bateria).

Nesta ocasião em que alguns integrantes do Buena Vista se apresentaram a 13 do corrente, no Auditório Araújo Viana, com “Adiós Tour”, sua despedida de mais de mil turnês artísticas pelo mundo, permito-me a conjecturar: 1º) Ry Cooder precedeu Barak Obama na aproximação de Estados Unidos com Cuba; 2º) esse grupo musical desempenhou um papel de resistência pacífica tipo Gandhi e Mandela (afinal com sua atitude diplomática, eles atraíram a atenção mundial para o sofrido povo cubano), digno de merecer um Prêmio Nobel da Paz; 3º) Sem dúvida, Buena Vista Social Club merece o reconhecimento da UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade.  

7 comentários:

Anônimo disse...

Cumprimentos pelo texto, amigo Souza
Abraços, Cabeda.

Aguinaldo Bechelli disse...

Bem achado o tema, bom José Alberto.
Já "croniquei" sobre esse enfoque, em que cito o genial Mario de Andrade:
"Crônica é aquilo que você quer que seja crônica, e conto que deseja ser conto."

Fernando Rozano disse...

É como se faz necessário que mais encontros se tornem realidade. Depois do Buena Vista veio com o Gustavo Santaolalla o Café de lis Maestros, com os velhos tangueiros comovendo a todos. E fazes oportunas colocações. Abraço.

Ana Maria Silva disse...

Ótima publicação, parabéns.

Helena Ortiz disse...

Arriba Cuba!

EDEMAR ANNUSECK disse...

Grande Mestre José Alberto de Souza,
Já estava saudoso de seus textos e histórias. A cultura agradece sua lembrança, seu texto que retrata uma realidade talvez ausente na memória de muitos,

Parabéns e um forte abraço do seu amigo
Edemar Annuseck
Curitiba- PR

Helena Ortiz disse...

Oi Souza, parabéns pelo texto.
Estive em Cuba.
E Buena Vista Social Club continua pelas ruas, pelos bares, por Havana inteira.
grande abraço