sábado, 6 de junho de 2015

A TÚLIO PIVA - O EMBLEMÁTICO CENTENÁRIO


  
Ele não nasceu no morro.

Nasceu em Santiago, região da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul. Nada a ver com samba. Mas incorporou em sua mente a poética dos morros cariocas de uma época mágica em que a pobreza das favelas era cantada de forma lírica em versos musicados, que desciam para a cidade grande aonde iam alegrar as ruas e os salões da velha Capital da República. Era o Rio Antigo, alegre, festivo e até ingênuo na forma de cantar os seus costumes. E a alma do nosso Túlio Piva foi impregnada daquele Rio de Janeiro tão diferente do de hoje.
E o que há de mais belo na obra e no pensamento do autor de Pandeiro de Prata é a sua fidelidade ao samba tradicional, ou de raiz - como se queira dizer - com comovida paixão. Em “Morro e Asfalto”, samba que Túlio gravou junto com Eneida Martins, no ano de 1977, para a antiga gravadora Chantecler, ele diz:
“Enquanto houver violão, cavaquinho e madrugada,
Uma lua no fundo da noite debruçada,
Enquanto houver um pandeiro batendo e um tamborim,
O nosso samba vai continuar assim
Histórias de morro,
Morro e asfalto,
Improviso de bambas cantando
Partido alto”.

Túlio não se conformava que o samba tivesse seu espaço ocupado por outros gêneros musicais. Que houvesse a concorrência, sim, mas nunca a substituição. Chegou até a admitir a bossa nova, quando compôs para Elis gravar “Silêncio” que dizia:

Mas para ele, a troca do samba pelo rock na programação das rádios soava como soa para qualquer cidadão brasileiro, hoje, a transformação do cenário poético dos morros cariocas em território de guerra de quadrilhas. Ou seja, o terror!
A bem da verdade, Túlio Piva também compôs outros gêneros, como sambas-canção, marchas carnavalescas, marchas-rancho, choros e até músicas tradicionalistas. Mas foi o samba a sua verdadeira identidade musical, a sua marca, com “Tem Que Ter Mulata”, o seu maior sucesso, gravado inclusive no exterior, além de “Gente da Noite”, de imensa popularidade regional, e “Pandeiro de Prata”. Este último classificado em primeiro lugar no Festival Sul Brasileiro da Canção, em 1969.
Túlio nos deixou uma vasta obra, com mais de trezentas composições. Muitas ainda inéditas para o grande público, mas que poderão ser resgatadas e conhecidas agora, graças à iniciativa de seu neto, Rodrigo Piva, talentoso compositor e intérprete, que produziu um excelente CD book intitulado “Pra Ser Samba Brasileiro”, contendo dois discos com 39 músicas gravadas, além do livro com poemas e crônicas de autoria do velho sambista.
GUILHERME BRAGA.

6 comentários:

Dicionário Cravo Albin MPB disse...

Em 2005, foi homenageado, nos 90 anos de seu nascimento, pelos netos Rodrigo Piva e Rogério Piva com o projeto "Túlio Piva - Pra ser samba brasileiro" que resultou num CD duplo que reuniu os quatro LPs lançados pelo compositor, além de um livro com poemas e aforismos. O lançamento do CD-book "Túlio Piva - Pra ser samba braliseiro" aconteceu no Teatro Renascença, em Porto Alegre com um show que contou com as preesenças do conjunto musical formado por Rogério Piva, no bandolim, Chico Camargo, no cavaquinho, Luiz Sebastião, no violão de sete cordas, e Giovani Berti e Eduardo Costa na percussão, além dos cantores Ana Maria Bolzoni, Guilherme Braga e Eneida Martins, a intérprete favorita do compositor. Na ocasião foram interpretadas, entre outras músicas os sucessos "Gente da noite", "Pandeiro de prata" e "Tem que ter mulata".

C.B.P. Cabeda disse...

Compositor e....farmacêutico (Farmácia Piva, Rua dos Andradas)

JASouza. disse...

Certa feita, estive na sua farmácia para aviar uma receita do Dr. Mazzei, encontrando lá o escritor Érico Veríssimo que tinha regressado de uma de suas viagens e fazia relato de suas impressões provavelmente dos Estados Unidos, onde costumava visitar sua filha Clarisse, ali residente. Sem dúvida, a Farmácia Piva era um dos pontos de encontro de intelectuais, na época...

Anônimo disse...

Convivi um bom pedaço com Túlio Piva, nas minhas constantes viagens a Porto Alegre, graças ao nosso comum amigo e também meu compadre, Jessé Silva.
Num inesperado sábado, logo pela manhã, apareceu em minha casa Túlio em companhia de sua esposa, aqui em São Paulo. Veio só para dar uma passadinha, cumprimentar. Amarrei-o no pé da cadeira. Almoçou, jantou e foi "simbora" de madrugada. (Não quis ficar para dormir).
Chamei gente da música e cantamos um bocado. Zé Festa do trombone o surpreendeu com os contracantos que fez. Nelsinho do cavaquinho ele já conhecia, mas não tão de perto para ficar encantado. Ele pôs uma música numa letra minha, mas não gravei. Foi-se, no ar.
Minhas invejas (no plural mesmo), ao bom Guilherme Braga pelo texto que escreveu sobre o Túlio e repeteco de admiração a José Alberto de Souza, por resgatar gente tão importante.
Baitabracito, Beijo, Bença e Tchau, aqui do velho amigo,
Aguinaldo Loyo Bechelli

Ellen Tanger Reis disse...

Sempre ligado , hem, José Alberto de Souza! Parabéns!!!!

Anônimo disse...

Amigo José Alberto vc.é um verdadeiro garimpeiro de pedras preciosas de nossa cultura.
clovis , o bispo