Confetes à parte, constranjo-me
em revelar que tempos atrás apresentei um anteprojeto de estatutos para a
Associação de Funcionários, da qual era um dos integrantes. Premissa básica:
tornar esta entidade mais representativa dos empregados junto a Direção do
estabelecimento a que prestávamos serviços. A partir daí constituir uma
Diretoria mais atuante e eleita através de uma chapa constituída de elementos
realmente comprometidos com uma atuação conjunta, ao invés de se eleger um
único Presidente para que este nomeasse a posteriori seus colaboradores.
Na ocasião, chamava-me atenção
o recém-lançado modelo gestor do Grêmio F. B. Porto Alegrense, cuja Diretoria
se compunha de várias Vice-Presidências especializadas e autônomas que eram
coordenadas pelo Presidente e dirigente máximo, ao qual deveriam ser submetidos
para aprovação os planos daqueles seus colaboradores. Assim, ao invés de se
formar a chapa tradicional de Presidente, Secretário e Tesoureiro, estes dariam
lugar a Vice-Presidências Financeira, Administrativa, Patrimonial, Cultural,
Comercial, Social, Esportiva, responsáveis por suas respectivas áreas de
atuação.
Submetido a uma Comissão, foi
elaborado o projeto final, implantado e depois alterado para que voltasse a ser
apenas recreativa a referida Associação. Porém, permanece até hoje a filosofia
que descartava a figura do abnegado carregador de piano e concentrador de
decisões daquele Presidente de épocas passadas. Apesar de que nos dias atuais essa
entidade de classe ainda se ressente da renovação de seus quadros dirigentes, o
que obriga a que se perpetuem determinados grupos na administração, os quais
acabam se deteriorando e colocando em risco a própria sobrevivência da agremiação.
Idênticas dificuldades
acontecem nas reuniões para eleição de síndicos nos edifícios, em que muitos
condôminos se eximem de assumir sua parcela de responsabilidades em prol do bem
estar coletivo. Parece que vivemos um tempo de acomodados que só pensam em seus
direitos, esquecendo que têm deveres a cumprir na própria comunidade.
Figurinhas decorativas em cargos que jamais serão exercidos, julgam-se isentos
de obrigações por emprestarem graciosamente seus nomes para justificar uma
pseudo-organização. Eis que surge o polivalente, concentrando tarefas que não
lhes dizem respeito.
Em outras oportunidades,
participei de comissões para organização de almoços e jantares festivos,
encarregando-me de contatar pessoas interessadas em confirmar sua presença
nesses eventos com a devida antecedência. Era importante fazer uma estimativa
exata do número de adesões para que se providenciasse a contratação dos serviços
de atendimento nos restaurantes sondados. Terrivelmente frustrantes foram
minhas experiências nessa área, de vez que os elementos contatados raramente
tinham uma decisão pronta e nunca me avisavam do que tinham resolvido.
Para dar uma ideia dessa balbúrdia,
certa feita, obtive apenas 20 confirmações e, como eram poucas, terminei
contratando o serviço para 60 pessoas. E
não é que me aparecem 120 interessados, obrigando em pleno domingo o ecônomo da
sociedade que nos acolhia a buscar o fornecedor da alimentação na própria
residência para adquirir o que necessitava para completar aquilo que faltava!
Dessa forma, teve de improvisar seu atendimento em duas rodadas, sem contar com
a compreensão daqueles que foram preteridos, os quais protestavam batendo talheres
nos pratos, em barulheira infernal...
Poucos meses depois, nova
reunião de confrades e somente 20 se manifestaram favoráveis. Mesma estimativa
anterior, apenas contratei 60 talheres e desta feita apenas 40 estiveram presentes,
tendo de assumir o prejuízo do excesso no previsto. Ainda procurei
conscientizar todos os confrades, explicando essas faltas de comunicação que
nos angustiavam ante prováveis insucessos para o bom desempenho no recebimento
a todos convidados, mas esta providência resultou infrutífera. Gato escaldado,
larguei de mão toda e qualquer futura atividade em benefício daquela confraria.
Décadas atrás, “Eu Quero
Aplaudir” era um quadro humorístico da nossa televisão que bem representava a
alienação dessa gente irresponsável e postulante da lei da vantagem, a qual não
leva em conta a mínima colaboração com nosso esforço dispendido.
7 comentários:
Caríssimo amigo Souza,
Parabéns, por esta sua oportuna postagem. O seu cenário, aí no Sul, é igualzinho ao meu, aqui no Norte. E, pior, os traços que você destaca, parece que só tendem a crescer, frustrando, inclusive, esperanças futuras...
Como estou a ler um belo livro: "Sartre, Direito e Política", de Sílvio Luis de Almeida, junto, para você, esse trechinho, página nº 74:
"A alienação significa fundamentalmente a separação entre o indivíduo e a sua própria condição. A condição histórica é dada pelas determinações que fazem do indivíduo um ser em sociedade - e isso deveria significar a sua integração na comunidade a que pertence historicamente. As condições da sociedade burguesa se opõem a essa integração, que acontece, então, somente por acaso ou por esforço: portanto, o indivíduo vive a sua condição sócio-comunitária de maneira "acidental", como se a sua relação com a comunidade humana fosse extrínseca"...
Abraço,
Garoeiro
Amigo Souza,
Sou solidária e partidária das suas colocações. Verdadeiramente ingrata a função de organizador. Quando sobra, "que desperdício! Esse pessoal não sabe organizar." Quando falta, é pior: "Eu paguei e nem comi direito!". Grande abraço.
Amigo Souza! Este texto merece muita divulgação para reflexão de todos nós.
Passei por várias situações por ti relatadas. A pior, de longe, foi na gestão do condomínio em que no máximo 20% participavam eventualmente. Fico ainda impressionada com a omissão diante de fatos muito importantes. Pergunto-me ; em que mundo vivemos???
Comungo da tua desilusão .
O que nos resta fazer? Como bem o fazes; trazer o tema exaustivamente à reflexão!
Abraços
Caro Souza:
Sei bem dessa tua dedicação a esse respeito pelo menos nos encontros musicais que tu promovias. Admirava a tua persistência apesar de todos esses inconvenientes mas sabia que esse sacrifício se devia ao teu "amor a música".
Amigo Souza, quem se abalança a assumir responsabilidades (em qualquer área) de entidades sociais, culturais e recreativas irá enfrentar tudo isso que revelaste. Por isso, muitos fogem dos cargos como o diabo da cruz. E falo de experiência própria....
Caro José Alberto,
Lamento a tua desilusão com os eventos que preparastes e acabastes frustrado. Mas é assim memo. Comigo já aconteceu inúmeras vezes. Hoje não assumo mais nada para não adoecer. Um abraço e serenidade.
Querido Souza, é uma situação (são várias) por que passam os que querem realizar.
SÓ UMA TAÇA
As dores (além da poesia)
nos fazem singulares e criam
a bagagem de nossas vidas.
As maravilhas são todas parecidas,
e para elas quase sempre temos parceiros,
mas as dores, há sempre que bebê-las sozinhos.
Sem brinde,
sem abraço.
Postar um comentário