sábado, 14 de julho de 2012

Por que apagar o nome tão tradicional ?


Está ali no Blog do Wenceslau – “Meu saudosista predileto” – quando na realidade procuro desenvolver um texto memorialístico, baseando-me em fatos passados que me ocorrem no momento, cujas lembranças ainda permanecem frescas no subconsciente, sem a necessidade de exercitar a imaginação. Busco testemunhar algumas histórias que vivenciei através desta passagem ainda não concluída pelo nosso planeta. Dos contatos estabelecidos com aqueles vultos que me impressionaram pela sua nobreza e vontade de contribuir com o desenvolvimento pleno de nossa sociedade.

Até me julgo demasiadamente conservador ao constatar as tradições desaparecendo à revelia de todos aqueles que esperam sua continuidade. Ou então quando elas são mantidas pelo desejo da comunidade como é o caso do Café Aquarius, de Pelotas, recentemente “imortalizado” pelo poder público. Suas dependências, resguardadas de outras finalidades que venham a conflitar com a sua velha utilização como “ponto de encontro”, resistem à especulação imobiliária para que gerações vindouras usufruam do hábito saudável de agregar pessoas num espaço comum.

Aqui, no Menino Deus, meu bairro, situa-se um dos bares mais tradicionais da Avenida José de Alencar, JA Lanches, onde se reúne democraticamente a qualquer hora do dia ou da noite, até com mesas na calçada, uma clientela de faixa etária heterogênea. E constato estarrecido que seu proprietário, após sete anos com o mesmo nome no capacho de entrada, em razão de ampliar suas instalações, achou por bem mudar a denominação do estabelecimento, para meu gosto nada afirmativa se comparada à anterior. E, como protesto, neguei-me a aceitar tranquilamente essa “arbitrariedade”.

Outro nome bastante sugestivo era o do antigo “Botequim”, também aqui do bairro, cujo dono resolveu alterá-lo devido estarem surgindo nas redondezas vários “butecos”. Porém, pura e simplesmente Botequim, discordo que por aqui ainda seja uma designação comum, apesar de evocar épocas da antiga cultura lusitana. Pode ser que muitos nem venham a ligar para o ocorrido, afinal esses proprietários têm se esmerado em caprichar nas instalações e atendimentos, o que importa mais na realidade. Agora, se me perguntarem como se passaram a chamar, vou dizer que desconheço.

Evidente que progresso e desenvolvimento de agrupamentos urbanos determinam começo e fim de ciclos visuais em nossas andanças através do cotidiano. E precisamos mudar as penas para dar asas ao mito liberal de aceitação a novos tempos, saudando aqueles melhoramentos que se fazem necessários ao nosso bem estar. Cada estabelecimento comercial mantém-se com dificuldade frente às oscilações de mercado. E essas crises muitas vezes obrigam a encerrar suas atividades, dando lugar a modernas e eficientes lojas que trazem consigo letreiros mais identificados com a futura clientela.

Sem querer, descobri um novo bar bem em frente ao JA, anunciando um “suculento mocotó às quartas e aos sábados”, e resolvi conferir a oferta. Associando a denominação Bar e Restaurante do Portuga a um velho conhecido, constatei que o estabelecimento já tinha percorrido vários endereços sem abandonar o antigo apelido de seu dono, Paulo Amorim, conhecidíssimo empresário de jogadores de futebol e agregador dos “boleiros” nos encontros fora das quatro linhas. Nem preciso falar da minha satisfação de rever a mesma marca sempre ostentada em toda peregrinação do Portuga por diferentes locais.

Finalmente, acuso uma “aberração”, no bom sentido, em plena Rua da Praia, onde se instalou a nova “Loja Renner” adotando o Memorial da Livraria do Globo.

3 comentários:

Academia de Letras de Crateús - ALC disse...

Meu caro José Alberto de Souza, é com alegria que o vejo emprestando sua preciosa verve em prol da memória e da preservação dos nomes Butequi, Buteco, Bodega, entre outros. O Rio Grande do Sul é conhecido como a Terra das Tradições, e o Poeta das Águas Doces com sua sensibilidade histórica não poderia ficar alheio a isso. Por sinal, foi através de uma BODEGA que nos tornamos amigos! Abraços.
Raimundo Candido

Cabeda disse...

Abraços, Souza
Vamos ficando só na saudade dos velhos nomes...

Helena Ortiz disse...

Querido Souza,
tens toda a razão nessa observação. Cá no Rio de Janeiro, a terra mais cheia deles, agora é tudo falso, arremedo de boteco. Botequim é coisa do passado, do nosso passado. Mas eles existem, é só procurar. Em alguma quebrada inimaginável, ali está ele, intocado, com um bolinho de bacalhau nunca dantes.
Quanto à Renner e Livraria do Globo, sem comentários.

grande abraço