Uma fotografia da
turismóloga Elisângela Costa Barcellos me provoca o que pensar, pois ali se
encontram alinhadas imagens da pira da Pátria, da estátua da Liberdade e da
Igreja Matriz de Jaguarão. E eu fico pensando se na genialidade desse ângulo de
focagem não estaria implícita uma premeditada escolha na construção do mais importante
monumento situado na antiga Praça 13 de Maio (hoje denominada Doutor Alcides
Marques). Mário Maestri já elaborou artigo transcrito na Confraria dos Poetasde Jaguarão, abordando sua inconformidade ao se privilegiar 20 de novembro em detrimento
daquela data histórica que marcou o resgate nacional da cidadania do afro
descendente. Essa inquietação me motivou a buscar dados históricos acerca
daquele obelisco e, como não dispusesse de imediato dessas fontes, vali-me de
consulta ao notável historiador rio-grandense Dr. Sérgio da Costa Franco, que
me respondeu nos seguintes termos:
“Prezado conterrâneo: Na
coleção do jornal jaguarense "A Ordem", de que existe uma coleção no
Museu Hipólito da Costa, há várias referências à Estátua da Liberdade. Como o
projeto nasceu ainda no tempo da Monarquia, para celebrar a abolição da
escravatura e a Princesa Isabel, o jornal, que era do Partido Republicano
hostilizou a idéia, já a partir de 24-01-1889. A pedra fundamental foi lançada
em 3 de fevereiro daquele ano e a proposta da ereção do monumento foi do vereador Antônio
da Costa Silveira.
- Depois do advento da
República, em janeiro de 1890, a Junta Municipal resolveu alterar as placas da
base da coluna, certamente para retirar louvores à Monarquia e implantar
homenagem à proclamação da República. A construção foi demorada e, por algum
tempo, existia apenas a coluna com uma haste de ferro, onde deveria ser fixada
a estátua de mármore. O cronista de "A Ordem" considerava isso
ridículo, e, no Carnaval de 1890 houve gozações em torno disso, e o jornal
republicano chegou a sugerir a demolição. Porém, em julho de 1891, a Junta Municipal mandou completar o monumento,
encomendando a estátua e determinando providências para o acabamento. Daí em
diante, o jornal não toca mais no assunto, induzindo à conclusão de que tudo
foi concluído.
Restaria examinar outras
fontes, lá mesmo em Jaguarão.
Um abraço do Costa Franco.”
Evidente que nossa querida artista jamais imaginaria o feliz achado da sua composição e que esta imagem viesse a confirmar o velho jargão “vale mais que mil palavras”. Quanta gente não andou ali pelo entorno desse monumento sem enxergar aquele alinhamento. Parece até que ditas construções quisessem nos transmitir alguma mensagem que permaneceria oculta na passagem do tempo. Eis que estas visuais palavras afloram através de um momento privilegiado e vivido pela sensibilidade de quem as soube auscultar.
Embora semi-oculta no recanto sombrio, pode-se perceber ainda a Pira antecedendo a figura do obelisco e caracterizando o patriotismo do povo brasileiro. A Estátua ali erguida homenageando a redentora Princesa Isabel a fim de comemorar a Abolição da Escravatura -posteriormente obscurecida com a Proclamação da República – deve significar os anseios desse mesmo povo de atingir os ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, então o clamor universal da época. Em posição discreta, ao fundo, dividida ao meio nos hemisférios da razão e da emoção, a nossa Igreja Matriz lança suas bênçãos divinas de inspiração para essa perfeita harmonia entre símbolos.
Ao menos, divulgando essa magnífica obra da artista conterrânea , emoldurada pelo conhecimento daquele ilustre escritor jaguarense, contribuímos para despertar o interesse sobre a importância desse belo monumento da nossa terra.
8 comentários:
Caro Souza:
Sempre leio tuas postagens, mas poucas vezes teço comentários, pois enfrento alguma dificuldade para identificação.
Neste caso, faço um breve comentário, ressaltando tuas belas palavras e de teu conterrâneo Sérgio
Franco, bem como o amor que nutrem pelo seu torrão natal.
Destaco que minha esposa, Doris, esteve neste último final de semana visitando Jaguarão e Pelotas. Gostou muito dessa bela e abandonada cidade. Espero visitá-la um dia.
Fraternalmente,
Teixeira.
Poeta das Águas Doces, fiquei muito entusiasmado com este texto. Quando me perguntavas sobre o monumento, não tinha informações além das corriqueiras, e buscastes justamente em um dos lugares mais preciosos para abrir os caminhos de nossa curiosidade, nosso conterrâneo Sergio da Costa Franco. Parabéns pelo resultado. Grande abraço.
Carlos José (Maninho)
Seu Souza,quem sou eu para tecer qualquer comentário!
Tudo o que o senhor escreve é dito com tanta correção, exatidão e de forma tão verídica que fica difícil escrever qualquer comentário.
Simplesmente, adoro ler o que o senhor posta!
Ainda mais quando demonstra pesquisa e apresenta curiosidades de nossa terra.
Só acho que tem produzido pouco...
Vamos lá, o senhor deve ter muitas coisas para contar... seja de Jaguarão, Porto Alegre ou de suas lembranças...
Bjão!!! Saudades, Ellen!
Amigo José Alberto.
Muito obrigado pelas referências generosas.
Se eu soubesse que minha informação seria divulgada no teu blog, eu teria caprichado mais no estilo.
E se estiveres interessado em mais alguma informação do jornal A Ordem, posso repassar.
Essa artista tem o "faro" dos grandes fotógrafos.
Só uma pessoa iluminada, com a câmera na mão, poderia buscar esse ângulo que alinha a Pira da Pátria, o monumento à Liberdade e a sempre majestosa catedral da Cidade Heróica.
Lindíssima foto, plena de fatos históricos e patrióticos.
E, por certo, única também, porque duvido que alguém, anteriormente, tenha vislumbrado e documentado esse fantástico alinhamento.
Os ensinamentos do sempre atento Sérgio da Costa Franco vieram colorir ainda mais essa magistral foto.
E, por fim, meu caro Souza, teu belo e inspirado texto reflete tudo o que penso a teu respeito e que transcrevi naquelas descompromissadas mas sinceras linhas que me encomendaste.
Abraço imenso.
Marco
Amigo Souza:
Sou admirador do teu aguçado senso de pesquisa.
Mais não posso dizer além de pedir licença ao Marco Aurélio.
Para fazer minhas as palavras dele.
GBSaudações.
Meu caro José Alberto,
parabens pelas belas reflexões.
Que bela foto, nunca havia observado.
Um abraço e obrigado, Hunder.
Caro sr. José.
Obrigada por usar esta minha imagem e ilustrar com esse belo texto sobre um pouco da história do monumento.
No começo dessa semana fiz uma imagem da mesma a noite. Vou enviar por e-mail ao senhor. Um grande abraço
Elisangela Barcellos
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