terça-feira, 6 de maio de 2014

A COMOÇÃO DE IMOLA SEGUNDO R. MOREAU

Uma das coisas que mais me irritava, há pouco tempo atrás, quando ia visitar algum conhecido, amigo ou parente, era ficar olhando para a televisão ligada e só ter oportunidade de conversar no intervalo dos comerciais. E ainda hoje não consigo entender como não se pode marcar qualquer compromisso noturno num horário mais cedo, pois o pessoal só começa a aparecer depois que termina a novela.
Assim é que fui pegando certa ojeriza pela telinha e acabei redescobrindo o prazer de ouvir o rádio do meu carro, como se estivesse conversando com algum companheiro de viagem, não obstante o protesto daqueles que reclamavam do volume alto do som, imprescindível para a empatia nessa comunicação. Principalmente, aos domingos pela manhã, quando tomava o rumo da casa da minha irmã Lucy que morava no Partenon, a fim de esvaziar uma térmica com água quente na cuia do chimarrão e jogar conversa fora nas horas mais quietas desse dia.
Nesse trajeto, deveria gastar mais ou menos uns quinze minutos na ida e outro tanto na volta, tempo suficiente para curtir a prosa que me chegava através das ondas hertzianas. Desta forma, eu dialogava com Raul Moreau que então apresentava o Manhã de Domingo, pela Rádio Pampa, e algumas vezes, ao chegar na volta, corria ao telefone para entrar em contato com a produtora do programa, a sua esposa Dª. Bete.
Certa feita, o nosso amigo Raul explanava sobre o desmascaramento da criatura do Lago Ness, falando da armação montada por uma equipe náutica, a qual havia confeccionado a cabeça do monstro com material plástico, isso lá pelo século XIX. Pois eu tive o desplante de ligar para Dª. Bete, perguntando se naquela época já existia o plástico, que ela encaminhou ao Raul e ele respondeu que não poderia responder naquela hora, solicitando a sua produtora que providenciasse a compra imediata de uma enciclopédia para ficar à sua disposição já a partir do próximo domingo. Aí, caiu-me a ficha e, na mesma hora, fiz a pesquisa em casa, onde constatei que o plástico era uma invenção bastante antiga, embora alcançasse recentemente a sua aplicação mais generalizada – sem querer, provoquei uma polêmica desnecessária.
O Raul Moreau era admirador incondicional do Ayrton Senna e das corridas de Fórmula Um, que acompanhava através dos bilhetes da produção do programa informando os resultados parciais, como naquele dia em que se preparava para entrevistar o cantor e compositor Rubens Santos, parceiro de Lupicínio Rodrigues. Só que, nessa ocasião, passaram-lhe a notícia do terrível acidente que vitimou o Ayrton Senna, deixando-o completamente abalado, sem condições de prosseguir apresentando o restante da programação, a qual perto do seu final teve de apelar ao Rubens Santos para que fizesse o encerramento, conseguindo este levá-la a bom termo.
Outro momento marcante do programa aconteceu no dia em que completou um ano a cirurgia em sua esposa, Dª. Bete, processada pelo espírito do Dr. Fritz, incorporado no médium e médico pernambucano Dr. Edson Queiroz, a qual descreveu em detalhes tendo como fundo musical No Llores Por Mi, Argentina, a mesma melodia ambiental tocada enquanto era realizado aquele procedimento que restaurou a saúde da paciente.
Durante a semana, na parte da tarde, o Raul também ocupava espaço na Rádio Pampa, com ótima audiência, tendo em vista a sua programação de variedades, misturando cultura e entretenimento. Então eu participava do Grupo Fábula, supervisionado pelo escritor Luiz Antônio de Assis Brasil, que estava lançando uma antologia de contos intitulada Mais Ao Sul do Que Eu Pensava e fazia a divulgação da obra, junto com as colegas Jane Thompson Brodbeck e Patsy Ceccato, quando nos ocorreu contatar com a produtora Dª. Beth que imediatamente disponibilizou-nos a entrevista com Moreau. Lá comparecemos, justo no dia de seu aniversário, expondo a estrutura do nosso livro, onde cada um tinha um miniconto na abertura do seu capítulo. Espirituosamente, ele deu-nos a sua versão do gênero – uma professora passou para a classe como tema de redação Divindade, Realeza e Sexo, não demorando muito para que um dos alunos levasse o seu trabalho, onde estava escrito: “Ai, meu Deus – disse a princesinha – que bom!”

Por onde andará Raul Moreau? Há pouco tempo, tinha o seu espaço em nossa televisão através do Canal 20. Também publicitário, um profissional competente, carismático, mases de prosseguir apresentando o restante da programaçompletamente abaladose preparava para entrevistar o cantor e compositor Ru que, infelizmente, parece que não teve seu reconhecimento de parte das nossas emissoras. Que falta ele nos faz para animar as nossas manhãs de domingo!

3 comentários:

Clarice Villac disse...

Interessante crônica, Amigo José Alberto !

Realmente, a telinha da tv tem ocupado demasiado espaço nas vidas das pessoas, e o rádio pode sim ser mais abrangente, ao permitir que seus ouvintes se encontrem com maior liberdade de atenção.

Este livro é sobre as ondas de rádio, as transmissões esportivas de Braga Jr, foi bom revisá-lo, conhecer as peripécias, talvez o Amigo aprecie também:

"No ar", de Braga Junior :

http://www.intermeioscultural.com.br/#!no-ar/cm0l

E viva a conversa com chimarrão !

Hunder Everto Corrêa disse...

Parabéns, José Alberto. Também gosto muito do rádio.Durmo e acordo com ele. Gostaria de saber, também, por onde anda Raul Moreau. Conheço-o há mais de quarenta anos, desde quando atuávamos na publicidade.Um abraço.

Anônimo disse...

Blog do Wenceslau disse...
Souza,
Rádio é o meu chão. Eu também fico ligado o dia inteiro. No entanto, infelizmente, para mim, que não curto futebol, tenho o incômodo de ter que desligar o aparelho seguidamente...O artigo é uma preciosa "sessão nostalgia" em que, aliás, o senhor é um mestre. Cumprimentos.
2 de maio de 2014 18:27