Uma das coisas que mais
me irritava, há pouco tempo atrás, quando ia visitar algum conhecido, amigo ou
parente, era ficar olhando para a televisão ligada e só ter oportunidade de
conversar no intervalo dos comerciais. E ainda hoje não consigo entender como
não se pode marcar qualquer compromisso noturno num horário mais cedo, pois o
pessoal só começa a aparecer depois que termina a novela.
Assim é que fui pegando
certa ojeriza pela telinha e acabei redescobrindo o prazer de ouvir o rádio do
meu carro, como se estivesse conversando com algum companheiro de viagem, não
obstante o protesto daqueles que reclamavam do volume alto do som, imprescindível
para a empatia nessa comunicação. Principalmente, aos domingos pela manhã,
quando tomava o rumo da casa da minha irmã Lucy que morava no Partenon, a fim
de esvaziar uma térmica com água quente na cuia do chimarrão e jogar conversa
fora nas horas mais quietas desse dia.
Nesse trajeto, deveria
gastar mais ou menos uns quinze minutos na ida e outro tanto na volta, tempo
suficiente para curtir a prosa que me chegava através das ondas hertzianas.
Desta forma, eu dialogava com Raul Moreau que então apresentava o Manhã de Domingo, pela Rádio Pampa, e
algumas vezes, ao chegar na volta, corria ao telefone para entrar em contato
com a produtora do programa, a sua esposa Dª. Bete.
Certa feita, o nosso
amigo Raul explanava sobre o desmascaramento da criatura do Lago Ness, falando
da armação montada por uma equipe náutica, a qual havia confeccionado a cabeça
do monstro com material plástico, isso lá pelo século XIX. Pois eu tive o
desplante de ligar para Dª. Bete, perguntando se naquela época já existia o
plástico, que ela encaminhou ao Raul e ele respondeu que não poderia responder
naquela hora, solicitando a sua produtora que providenciasse a compra imediata
de uma enciclopédia para ficar à sua disposição já a partir do próximo domingo.
Aí, caiu-me a ficha e, na mesma hora, fiz a pesquisa em casa, onde constatei
que o plástico era uma invenção bastante antiga, embora alcançasse recentemente
a sua aplicação mais generalizada – sem querer, provoquei uma polêmica
desnecessária.
O Raul Moreau era admirador incondicional do Ayrton Senna e
das corridas de Fórmula Um, que acompanhava através dos bilhetes da produção do
programa informando os resultados parciais, como naquele dia em que se
preparava para entrevistar o cantor e compositor Rubens Santos, parceiro de
Lupicínio Rodrigues. Só que, nessa ocasião, passaram-lhe a notícia do terrível
acidente que vitimou o Ayrton Senna, deixando-o completamente abalado, sem condições
de prosseguir apresentando o restante da programação, a qual perto do seu final
teve de apelar ao Rubens Santos para que fizesse o encerramento, conseguindo
este levá-la a bom termo.
Outro momento marcante
do programa aconteceu no dia em que completou um ano a cirurgia em sua esposa,
Dª. Bete, processada pelo espírito do Dr. Fritz, incorporado no médium e médico
pernambucano Dr. Edson Queiroz, a qual descreveu em detalhes tendo como fundo
musical No Llores Por Mi, Argentina, a
mesma melodia ambiental tocada
enquanto era realizado aquele procedimento que restaurou a saúde da paciente.
Durante a semana, na
parte da tarde, o Raul também ocupava espaço na Rádio Pampa, com ótima
audiência, tendo em vista a sua programação de variedades, misturando cultura e
entretenimento. Então eu participava do Grupo Fábula, supervisionado pelo
escritor Luiz Antônio de Assis Brasil, que estava lançando uma antologia de
contos intitulada Mais Ao Sul do Que Eu Pensava
e fazia a divulgação da obra, junto com as colegas Jane Thompson Brodbeck e
Patsy Ceccato, quando nos ocorreu contatar com a produtora Dª. Beth que imediatamente
disponibilizou-nos a entrevista com Moreau. Lá comparecemos, justo no dia de
seu aniversário, expondo a estrutura do nosso livro, onde cada um tinha um miniconto
na abertura do seu capítulo. Espirituosamente, ele deu-nos a sua versão do
gênero – uma professora passou para a classe como tema de redação Divindade,
Realeza e Sexo, não demorando muito para que um dos alunos levasse o seu
trabalho, onde estava escrito: “Ai, meu Deus – disse a princesinha – que bom!”
Por onde andará Raul
Moreau? Há pouco tempo, tinha o seu espaço em nossa televisão através do Canal
20. Também publicitário, um profissional competente, carismático, mas que, infelizmente, parece que não teve seu reconhecimento
de parte das nossas emissoras. Que falta ele nos faz para animar as nossas
manhãs de domingo!
3 comentários:
Interessante crônica, Amigo José Alberto !
Realmente, a telinha da tv tem ocupado demasiado espaço nas vidas das pessoas, e o rádio pode sim ser mais abrangente, ao permitir que seus ouvintes se encontrem com maior liberdade de atenção.
Este livro é sobre as ondas de rádio, as transmissões esportivas de Braga Jr, foi bom revisá-lo, conhecer as peripécias, talvez o Amigo aprecie também:
"No ar", de Braga Junior :
http://www.intermeioscultural.com.br/#!no-ar/cm0l
E viva a conversa com chimarrão !
Parabéns, José Alberto. Também gosto muito do rádio.Durmo e acordo com ele. Gostaria de saber, também, por onde anda Raul Moreau. Conheço-o há mais de quarenta anos, desde quando atuávamos na publicidade.Um abraço.
Blog do Wenceslau disse...
Souza,
Rádio é o meu chão. Eu também fico ligado o dia inteiro. No entanto, infelizmente, para mim, que não curto futebol, tenho o incômodo de ter que desligar o aparelho seguidamente...O artigo é uma preciosa "sessão nostalgia" em que, aliás, o senhor é um mestre. Cumprimentos.
2 de maio de 2014 18:27
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