domingo, 25 de novembro de 2007

Como exercer a missão de educar?

Em 1956, estávamos no curso científico do Colégio Estadual Júlio de Castilhos, em Porto Alegre e, num dos intervalos entre dois períodos de aula, aguardávamos a chegada da professora de Desenho, discutindo sobre a mais rentável das profissões liberais.
Eis que a nossa mestra, Olga Paraguaçu, surge desapercebidamente, inteirando-se do teor da nossa polêmica e, para calar-nos a boca de uma vez por todas, sentencia do alto da sua cátedra - explorar um rendez-vous é muito mais negócio, vocês nem precisam estudar!
Decorrido meio século, ainda vivenciamos nos dias atuais a mesma mentalidade daquela época e a escola pública está aí formando alunos que só pensam no benefício próprio, sem oferecer nada em troca aos contribuintes que lhes custearam os estudos.
Em 1988, esteve em Porto Alegre a Doutora Pilar Quera Colomina, coordenadora do programa educacional implantado na Espanha - Vivendo Valores na Educação - para mostrar o mesmo a docentes da rede pública estadual.
Na ocasião enfatizou que, apesar de se ter a tecnologia à disposição e convivendo-se com uma gama imensa de informações, ainda não foram equacionadas questões primárias de relações humanas.
Para tanto, propunha-se uma reflexão na Escola sobre valores universais, tais como amor, felicidade, honestidade, humildade, liberdade, paz, respeito, responsabilidade, simplicidade, tolerância e unidade.
Infelizmente, nos dias de hoje, deparamo-nos com a dura realidade do descaso de nossos homens públicos na questão de serem alocados maiores recursos para investimentos em áreas altamente prioritárias como a saúde e a educação.
Dói-nos saber que os parlamentares brasileiros são os mais caros do mundo, chegando ao cúmulo de obterem, cada um, remuneração equivalente ao total acumulado de salários médios de 688 professores.
O exemplo que vem de cima é acachapante, de total desinteresse pelo bem público, desencantando ainda mais aqueles que batalham por condições mais dignas para exercerem a sua árdua missão no magistério.
Às vezes, o conhecimento intuitivo de muitas pessoas iletradas e bem intencionadas demonstra muito mais prudência face ao total despreparo de muitos bacharéis e diplomados, tão ignorantes no trato com as mais simples necessidades humanísticas.

5 comentários:

Anônimo disse...

Seu Souza: Trabalho em educação já faz um bom tempo! Posso dizer-lhe com grande pesar de que não há mais jeito para esta educação que está posta nas escolas de hoje! O maior problema que vejo não está só na falta de educação que os alunos não recebem em casa, mas na que os mestres perderam ao longo da jornada trazida pelo dia-a-dia escolar! O professor está desgastado, sem força, sem ânimo, sem entusiasmo! Não quer mais ensinar, até porque não tem a quem fazê-lo! O aluno não vai para escola atrás de conhecimento formal, mas sim atrás do social! Faz da escola uma extensão de sua casa, confundem tudo! Os pais também! Querem que a escola assuma a responsabilidade deles, que é educar e passar os primeiros valores para a gurizada. Agora quais? Estes também se perderam ao longo do tempo! Não sabem diferenciar o certo do errado e muitas vezes ensinam aos seus próprios filhos como enganar os professores, mentir... O sistema educacional está viciado. Os professores também! Inconscientemente caíram numa armadilha que favorece o sistema e que os enfraquece para lutar! O professor já não ensina mais com entusiasmo e paixão, porque será? É claro que isso não é geral, existem professores que continuam apaixonados pelo que fazem e que conseguem entusiasmar seus alunos, mas em algum momento este aluno terá um professor que não terá o mesmo ânimo e envolvimento. Aí estará a quebra do desenrolar do ensino formal e aparecerá o vício instalado. Desculpe o desabafo! Um abraço! Ellen Reis.

Anônimo disse...

Doutor Souza,
A crise de valores éticos por que passamos acarreta angústias, desilusões e sofrimentos sem fim. Quantas vezes, ao longo de nossa vida profissional, não nos sentimos injustiçados, preteridos e, até, alvo de gozação pelas nossas atitudes e comportamento ? Quantas vezes não assistimos à ascensão de indivíduos ética e moralmente duvidosos? No entando, se a formação moral recebida for sólida, tudo isso acabará sendo encarado filosoficamente, porque, no final do caminho, estaremos em paz com a nossa consciência e com a certeza do dever cumprido. E, cá entre nós, muita gente ficará com uma pontinha de inveja, porque não acredito que sejam mais felizes do que nós...
Abraços
Cabeda

Anônimo disse...

Tio Zézinho
Como professora sofro na pele esse descaso dos governos para com a Educação e fico indignada como os amigos que escreveram acima. Mas me orgulho da formação que recebi dos meus pais e tento passá-la aos meus alunos, pois não tem coisa melhor que não dever nada pra ninguém e conseguir vencer obstáculos com retidão de caráter. Isso não tem salário que pague. Beijos
Hilda

Anônimo disse...

Parabens. Está muito bom. Acabo de me emocionar ouvindo o canto jaguarense, com imagens da nossa inesquecível cidade.
Grato. Grande abraço. Pedro.

Nilton Correa disse...

Bom dia, Seu José! Desculpa a demora em retornar a tão lúcida e objetiva resenha sobre a educação pública no Brasil. É triste e desanimador ver que a educação, única forma de construirmos uma nação desenvolvida, justa e com qualidade de vida a todos, não tem nenhuma prioridade na agenda de nossos governantes, que de forma egoística e imediatista, só pensam em usufruir e se locupletar financeiramente, dos cargos e poderes que a sociedade, ingênua e esperançosa lhes confiou. Nunca teremos um Brasil desenvolvido, verdadeiramente democrático e justo, enquanto não tivermos uma educação qualificada, centrada no aluno, objetivando sempre, o desenvolvimento do potencial integral do aluno, no nível bio/psico/emocional e quiçá, espiritual. Seu José, muito obrigado por compartilhar comigo esta radiografia triste e realista sobre a educação no Brasil. Tem um dia tranquilo e abençoado. Estimo melhoras. Abraço.