De repente, ele viu se ruírem vinte anos
de experiência profissional, refletindo-se amargamente na própria existência
como um castelo de cartas que desaba num simples assopro. Era mais um nas
dezenas de milhões de desempregados brasileiros e, mesmo assim, buscava
alternativas para sobreviver e contratava consultora especializada em colocação
no mercado de trabalho. Explicava-me que nos dias atuais os currículos já eram
direcionados às empresas de acordo com o perfil do candidato para se evitar o
acúmulo de cadastros pessoais a serem examinados nas áreas de recursos humanos.
A consultora que contratara oferecia-lhe
ainda oportunidades de investir suas reservas societariamente em empresas
necessitadas de capital de giro, sem qualquer garantia de retorno financeiro,
porém, via-se forçado a desistir pelo risco da empreitada. Chegou a elaborar um
pequeno projeto de instalação de uma loja para comercializar jogos de
computador, analisando detalhes envolvidos no custo benefício de um lucro
razoável acima de 10% como rendimento satisfatório. E a concorrência do
comércio informal dos clandestinos vendedores ambulantes impedia-o de levar
adiante sua ideia.
Há pouco, surgiu-lhe oportunidade de
atuar como sócio numa firma que buscava explorar em Santa Catarina colocação de
máquinas de cartão de crédito no mercado local. Tudo levava a crer num investimento
bem sucedido para que providenciasse sua inclusão no contrato social da
empresa, além de contratar pessoal habilitado, com carteira assinada, na função
de promotores de venda. Eis que, já obtendo algum retorno, compensando a
representação do fabricante, este transfere seus direitos de manufatura a outro
concorrente e acarreta o distrato como consequência da inviabilização do
negócio.
De maneira que hoje ele está ai,
batalhando novamente para reestruturar sua carreira profissional e esperando
resultados de concorridas entrevistas adequadas a seu perfil de candidato para
a função ofertada. Ansioso e abalado por essa situação degradante do país, ele transfere
suas expectativas para o exterior, para o Chile em particular mais próximo de
sua origem, apesar de se constituir numa aventura em que necessitaria custear
um longo período de adaptação e prova de capacitação até encontrar um lugar que
o acolha definitivamente, com sua cidadania estrangeira assegurada.
Sempre me senti frustrado e de mãos
amarradas quando algumas pessoas me solicitavam colocação para seus parentes e
amigos, numa época em que não se acumulava uma grande demanda por postos de
trabalho. E agora mais ainda observando essa debacle do nosso sistema social, a
falta de solidariedade para com nossos “refugiados” sem qualquer perspectiva de
melhoria em suas condições de vida, a ganância daqueles desprovidos de um
mínimo pingo de consciência. Mas não deixo de enxergar o mérito no
empreendedorismo de quem se dispõe a gerar novos empregos.
Creio-me um privilegiado chegando a um
patamar difícil de ser alcançado por uma grande parte de nossa comunidade,
porém, não me envergonho de minhas origens a percorrer uma trajetória de
algumas conquistas a base de humildes meios de afirmação. E tenho compartilhado
muito de meus ganhos com gente mais necessitada como se me exigissem um direito
adquirido. Constranjo-me em dar “graças a Deus” por uma situação confortável em
meio a uma multidão de miseráveis, sem um teto para se abrigar, sem recursos
para se manter com dignidade como vem ocorrendo até hoje.
Enfim estamos vivendo
um tempo em que mais vale “ter” do que “ser”, em que competir se sobrepõe a
cooperar, onde a corrupção ativa anda de mãos dadas com a passiva, causando
grandes transtornos para nossa economia e exigindo cada vez mais o sacrifício
da população mais humilde, continuamente afrontada com a ostentação de riquezas
dos mais poderosos. Já é hora de ser implantada uma política de mais
austeridade com melhor distribuição de renda e com uma efetiva assistência a
todos os excluídos, principalmente moradores de rua, visando um objetivo de
mobilidade social por meio de educação para que se libertem da apatia e do
desânimo em evolução.
3 comentários:
Bom dia! Excelente texto que compartilhei há pouco no facebbok. parabéns Zé Alberto. bjs boa semana. Fatima desde Laguna/SC
Você,bom José Alberto, enfoca o "óbvio ululante", como diria Nelson Rodrigues.
E o conserto de toda essa afanação, corrupção geral, não será resolvida com prisões pelo malfeito. Continuará tudo a mesma merda se as causas não forem combatidas. Os poucos homens notáveis que ainda existem não têm meios, estrutura. E O povo revolta-se de uma forma burra, apelando para a violência, que nada tem a ver com a coragem e a competência.
Mas a sua denúncia é válida. Como na oração, de repente haverá solução.
A minha acho que você já conhece: É chover um dia de gasolina e meio dia de fósforo aceso. Depois, eleições gerais, impedindo toda essa corja de se candidatar.
Baitabracito / Aguinaldo
Muito bem tio!!!!
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