segunda-feira, 23 de julho de 2007

Qual a razão deste meu gosto pela música? (XI)

Em Jaguarão, lá pelos anos cinqüenta, o nosso contemporâneo no Ginásio – Pedro Jayme Bittencourt, filho da professora Delícia e do jornalista Guadil Bittencourt – poeta, jornalista, escritor, boêmio e ativista político como todo estudante, era um dos intelectuais que mais se destacava no cenário cultural da cidade.
Duma feita, chegou-me às mãos um de seus poemas em que senti a musicalidade latente:
Eu bem sei que esta vida/ é falsa, é fingida
é cheia de mal,
mas eu sei que meu sonho, / embora tristonho
não morre banal.
O meu sonho é mais forte/ que o pranto, que a morte
e que a vida também.
O meu sonho mais terno/ nasceu no inverno
ao lado de alguém.
O meu sonho é uma história/ das muitas sem glória
que o tempo escreveu.
O meu sonho tão lindo/ que ergueu-se sorrindo.
chorando morreu.
O meu sonho é na vida/ a ilusão de um suicida
que nada mais tem.
O meu sonho é a esperança,/ é uma velha lembrança,
é a saudade de alguém.
Palavra que eu cantarolava essa letra e tinha vontade de colocar uma música na mesma, se tivesse competência para tanto.
Falecido há pouco tempo, o Pedro Jayme exerceu advocacia em Pelotas, deixando sua marca em vários julgamentos que participou.
Cheguei a lhe telefonar uma vez, recitando O Meu Sonho: perguntei-lhe se conhecia tais versos e de quem era a autoria dos mesmos; como desconhecesse, surpreendeu-se quando lhe revelei o próprio nome e me agradeceu por tê-los guardado na memória durante tanto tempo.