sábado, 28 de julho de 2007

Um rico desaforo

Hoje, vinte e cinco de dezembro, / Mil novecentos noventa e nove, / Dessa confraria, como já sou membro, / Faço da fé que montanhas remove, / Humilde maneira de manifestar / Esta minha prece a Nosso Senhor / De gratidão por me proporcionar / Imensa alegria de sempre dispor / Da amizade de todos companheiros / Que tanto me ajudaram na missão / De resgatar ritmos brasileiros / Esquecidos há mais de uma geração.
Por Amor à Música, nosso lema, / A bandeira do nosso entusiasmo, / Nunca esmorecemos nesse tema, / Procurando sempre sair do marasmo.
Assim ficou registrado momento / Tão importante da vida musical / Que não podia cair no esquecimento / Da população da nossa Capital.
Trabalho feito com muito carinho, / Muito desprendimento e garra, / Que abre mais este longo caminho / A romper, do estrangeiro, a amarra.
Recém saímos do primeiro combate, / Mas já temos nossos gloriosos heróis, / Estão aí prontos, nada os abate, / Com suas lindas coroas de girassóis.
Temos o pioneiro Jorge Machado, / Com a sua tradição, a sua história, / Vem mantendo este pessoal agrupado, / Da saudosa boemia, viva memória.
Temos Paulo Sarmento, violonista / Habilidoso, grande entusiasta, / Os cabelos brancos de estadista, / Que honra a sua estirpe, sua casta.
Temos o gaiteiro Paulo Barbosa, / Com seus dedos pesados de camponês, / Mas delicados na poética prosa / Com minúsculos botões, a polidez.
Outro Paulo, de sobrenome Santos, / Com sua moderna guitarra, continua / Jogando melodias por todos cantos, / Avança, insiste e nunca recua.
Temos nosso canhoto Luiz Fonseca, / Leva Cebolinha por apelido, / Tira acordes duma terra seca / Com o cavaquinho tão conhecido.
Palmeira de sobrenome, Luiz outro, / Faz miséria no violão sete cordas, / Artista igual ainda não encontro / Para encher música pelas bordas.
Jota Campelo, o bamba Ceará, / É um percussionista de mão cheia, / Cantando tanto em fá com em lá, / Não compromete na seara alheia.
No pandeiro, temos André Rocha, / Idade de vinte e poucos anos, / Toca serelepe e não atocha, / Grande promessa, sem quaisquer enganos.
Do Paulinho, temos suave surda, / Marcação do ritmo matemática, / Aquela firmeza que não aturda / Quem está ligado na temática.
Também pandeirista, temos Soleno, / Que bate no couro com destreza, / Naquele seu costume tão ameno / De expressar a mais pura beleza.
Teclado e piano, Marco Farias, / Profissional que veste camiseta, / Enriquecendo as nossas melodias, / As cifras marcadas pela caneta.
Ainda o garotão Henry Lentino, / O violão balançando no colo, / Interpreta como um paladino, / Qualquer choro, inesquecível solo.
Arthur de Faria, arranjador maestro, / No piano fez-se presente, brilhou, / Tornou-se na intervenção um destro / Instrumentista, que todos encantou.
Washinton Moreira, no violoncelo, /E Rômulo Chimelli, no oboé, /Só de pensar naqueles dois, me gelo, /Na música clássica, a minha fé.
Temos a voz de Marília Benites, / Gostosa por demais para se ouvir, / Sem que nunca possamos estar quites / Com essa difícil hora de partir.
Temos o grande Fernando Collares, / Esbanjando a sua jovialidade, / Que vem contagiando tantos pares, / De romântico, a habilidade.
E o compositor Guilherme Braga, / Notável cantor dos anos sessenta, / Nestas canções que falam de sua saga, / Desta bonança depois da tormenta.
Maria Teka Terezinha Silva / Representou Jessé, o Magnífico, / Como a envolvente madressilva, / Aceitou o desafio pacífico.
Temos este seresteiro Norberto, / Que se diz Peres, de voz empostada, / A cantar, de peito todo aberto, / Sucessos duma época passada.
Autor do clássico Porto dos Casais, / Que correu Brasil de ponta a ponta, / Sua voz nunca foi gravada, jamais, / É Jayme Lubianca quem desponta.
Do Fernando Rozano, que não falei, / Apresento excelente amigo, / Comentarista, a palavra de lei, / A idéia, muito discutiu comigo.
Do Glênio Reis, não vou deixar de falar, / Comunicador que não se intimida, / Abre espaço, o programa no ar, / Divulga música desconhecida.
Marcelo Sfoggia, o velho mago / Desta captação fonográfica, / Merece o registro, com afago, / Por decodificar nossa África.
Os Gonçalves, Alcides e Antônio, / Jessé Silva, Francisco Campos também, / Que os tenha Deus e não o demônio, / Saudades, nos fizeram imenso bem.
Para todos eles batamos palmas, / Riqueza de caráter, o decoro, / Por terem lavado as nossas almas, / Obrigado pelo RICO DESAFORO (*).
(*) Expressão criada por Luiz Mauro Pinto da Costa.

Um comentário:

Anônimo disse...

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abração
Antunes Severo